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Central Park

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Central Park

Mensagem por Oráculo de Delfos Dom Out 09, 2022 12:01 am

Central Park
⁘ Nova York ⁘
O Central Park é um grande parque dentro da cidade de Nova York. Possui uma área de 3,41 km² e está localizado no distrito de Manhattan. Foi o primeiro parque público nos Estados Unidos, inaugurado em 1857, e é considerado, por muitos nova-iorquinos, um oásis dentro da grande floresta de arranha-céus existente na região. É um lugar onde as pessoas podem diminuir o ritmo frenético de Nova York. Embora o parque pareça natural, ele é, na verdade, ajardinado quase inteiramente e contém diversos lagos artificiais, trilhas para caminhadas, duas pistas de patinagem no gelo, um santuário vivo e campos diversos.

O Central Park é limitado, ao norte, pela West 110th Street, ao sul pela West 59th Street, ao oeste pela Eighth Avenue. Ao longo das margens do parque, essas ruas são conhecidas como Central Park North, Central Park South, e Central Park West respectivamente. Somente a Quinta Avenida, que margeia o parque ao leste, não muda de nome. Entre as principais atrações turísticas do parque estão: Arsenal, Castelo Belvedere, Terraço e fonte Bethesda, Teatro Delacorte, Lasker Rink e o Zoológico do Central Park.
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Re: Central Park

Mensagem por Convidado Sáb Dez 31, 2022 2:27 am


Breakfast at Central Park's
Deitado de costas na terra, olhando para o céu claro entre as copas das árvores de uma área isolada do Central Park; sua espada jogada a alguns centímetros de distância ao seu lado; sangue escorrendo do queixo do chute que acabara de levar nos lábios… Killian estava tendo o café da manhã perfeito. Estava prestes a sorrir, mas teve de agir rápido e alcançar sua espada - Agonía - para bloquear o golpe duplo e cruzado de duas longas lâminas que miravam seu pescoço. Com algum esforço, Killian conseguiu forçar sua espada contra seu agressor e arremessá-lo para uma distância que tornasse seguro ele se levantar rapidamente. Olhando ao redor, viu não muito distante dali, Miles ainda dormindo feito um rato maltratado encostado em uma das árvores do parque, com uma sacola branca ao seu lado. “Você vai pagar pelo o que fez, semideus”. Killian teve a atenção chamada para seu inimigo. Um motoqueiro com um moicano vermelho vivo e jaqueta, calças e botas pretas. Um punk qualquer, caso um mortal olhasse para ele. Mas o que os ingênuos mortais não conseguiriam ver era o fato de, no lugar de dois braços, aquele sujeito tinha duas longas lâminas prateadas.  — Se vocês continuarem aparecendo um por vez, eu dúvido que isso vá acontecer. — O motoqueiro veio na direção de Killian tentando atingi-lo com dois golpes na direção da cabeça do semideus, os quais Killian conseguiu bloquear com sua espada. Na vez de Killian atacar, ele girou a espada na horizontal, na direção da barriga do oponente, fazendo-o pular para trás. O golpe diagonal de cima para baixo foi bloqueado pelo motoqueiro, mas o que Killian diferiu de baixo para cima fez um rasgo em seu peito. O inimigo tombou para trás já sentindo os primeiros efeitos da lâmina mágica de Agonía. — Mande lembrança pro seu amigo que eu já enviei para o Tártaro — disse, olhando para o motoqueiro deitado no chão, em um semblante de horror. — Logo mando o restante dos seus amigos pra fazer companhia para vocês. — E assim, Killian ergueu sua espada o máximo que pôde e a desceu com violência, cravando a lâmina, levemente avermelhada, no peito do motoqueiro. Em um redemoinho de pó dourado, o monstro se desfez na ponta da espada de Killian.

Killian fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, puxando uma enorme lufada de ar pelo nariz, que soltou em seguida pela boca de forma prazerosa. Ele se voltou para onde Miles estava deitado e viu que o rapaz já estava acordado, de pé, olhando confuso para Killian, não sabendo o quanto da briga Miles havia presenciado. O filho de Ares abriu um largo sorriso e acenou para o colega. — Finalmente acordou! — Killian caminhou até ele ainda sorrindo e limpou o sangue do queixo. — Esse foi só o primeiro daqueles que te falei. Mas logo os outros vão nos encontrar. Isso se a gente não encontrar eles primeiro — o sorriso de Killian agora era malicioso, mas satisfeito com a possibilidade imaginada. Miles ainda cheirava a limão, o que mantinha Killian mais vivo do que a batalha recém enfrentada. — Por ora, vamos comer. — Killian se ajoelhou na frente da sacola branca e tirou de lá dois bagels e dois sucos de laranja de caixinha. Killian percebeu que Miles ainda parecia extremamente confuso e não dava a entender que sabia o que eles estavam fazendo ali. Ou sequer como haviam parado ali. — Você lembra de como viemos parar aqui, né? — o sorriso de Killian se desfez. Ele abaixou a cabeça, fingindo focar na função de separar um bagel e um suquinho para Miles, para que o outro não visse a preocupação e a tristeza no rosto de Killian. Sera que ele esqueceu tudo? Tudo mesmo?!, pensou. — Nós tivemos uma longa noite, e comemos muitos nachos — finalizou dando um mordida em seu bagel, não mais sentindo que aquele seria um café da manhã tão especial.


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Re: Central Park

Mensagem por Miles O'Connell Qui Jan 05, 2023 9:08 pm

Uma manhã meio... diferenciada
Sério, que confusão danada. Primeiro que acordar no central park já não era normal, segundo que… observar Killian lutando contra um motoqueiro punk com duas lâminas no lugar de seus braços me deixou atônito. De uma forma boa. Quando é que comecei a sentir atração por lutas ou algo semelhante? Tipo, eu curtia combate, muito embora não levasse taaanto jeito pra isso - modéstia à parte -, não era a coisa que mais me interessava dentro do Acampamento. Existiam outras atividades e tal… mas depois de vê-lo naquela luta árdua, talvez eu pudesse começar a me envolver mais com isso, hm? A dor de cabeça era impiedosa. Meus neurônios pareciam latejar constantemente e eu me perguntei que raios de nachos eram aqueles que comi de Killian na noite passada. Se bem que eu me lembrava de pouca coisa, na verdade absolutamente nada, um apagão imenso na cachola… então a probabilidade de termos enchido a cara com alguma bebida barata era consideravelmente grande. Suspirei, quando Killian cravou sua lâmina no peito do seu "inimigo", arqueei as sobrancelhas e tratei de me recompor do sono da beleza. Ou desbeleza, porque minha situação era meio crítica no momento… enfim, seu confronto tinha acabado e agora sua atenção era voltada para a minha pessoa. Minha expressão de que porra tá acontecendo era notória, sem falar no trapo que meu corpo estava. Meu cabelo então… se é que dava pra chamar aquilo de cabelo.

Quanto tempo eu fiquei apagado? – Perguntei pela forma como ele me abordou, ao comemorar meu despertar. Todavia, meu semblante de confusão aumentou pelas palavras do filho de Ares, ele conversava comigo como se eu realmente estivesse sacando a situação. Ops… primeiro de que? Outros? Hein?! Levantado ao lado da sacola branca próxima a árvore onde eu estava escorado, coloquei uma das mãos na cintura e cocei a nuca, fechando uma das pálpebras. O sol não era tão bruto no momento, mas a claridade já me deixava brevemente incomodado. Observei Killian se apossar de dois bagels e dois suquinhos de laranja em caixinha, nosso café da manhã ao que deduzi, mas caras, meu estômago estava tão zoado no momento que o único barulho que ouvi foi uma reclamação da minha barriga. – Não consigo me lembrar de bolhufas nenhuma… - Digo ainda perdido, observando Killian amassar o bagel como quem tinha enfrentado um exército inteiro. Se bem que era quase por aí mesmo, se fosse levar em consideração. Mas enfim. - O que rolou, afinal? - O questiono me sentando ao lado dele, jogando meu corpo ao gramado. O cansaço me consumia estranhamente. - Eu já ganhei um beijo seu ou isso não aconteceu... ainda? - Pergunto jogando a cabeça para trás exibindo um bico nos lábios, observando as folhas da árvore que nos refrescava em sua sombra. Encaro Killian, estico minha mão em sua direção e roubo um pedaço do seu bagel, nem me importando se ele me socaria por isso. Eu, por exemplo, brigava muito por comida. - Você pode ficar com o meu se quiser. Meu estômago tá meio… lascado.
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Re: Central Park

Mensagem por Convidado Dom Jan 22, 2023 7:24 pm


Breakfast at Central Park's
Killian ficou calado por vários segundos. Ele não sabia como iniciar aquela conversa - como e por onde começar a narração dos acontecimentos da noite passada. Estava se sentindo sujo, ainda que tivesse respingos de sangue de monstro pela roupa e pela pele, não se comparava a sujeira na consciência dele. Miles não lembrar de nada o tornava uma vítima de Killian? Eram questionamentos profundos demais para uma noitada qualquer. Bom, pelos para um semideus, aquela seria uma noitada qualquer. — Depois que comemos os nachos, a gente meio que foi convidado a se retirar. Ou não nos sentimos mais bem-vindos na festa. E fomos para a estrada na entrada do acampamento. — Killian começou o relato tentando ignorar a pergunta sobre o beijo. Mas após o momento em que deixaram a festa, não falar sobre era quase impossível. Ele deu uma grande mordida no bagel e seguiu o relato falando de boca cheia. — E, sim. Nós nos beijamos. O que agora parece meio irrelevante já que você nem se lembra — ele deu de ombros. — Na verdade… — Killian corou ali. O que para alguém de pele pálida como a dele, era muita coisa. — Na verdade, nós fizemos muito mais do que nos beijar. Ou, quase, na real — se apressou a acrescentar, dando ênfase ao “quase”. — A gente já estava sem camisa quando os dois monstros chegaram — outra mordida grande no bagel. Killian seguiu falando de boca cheia, ficando quase impossível de ouvir o que ele dizia. — Nós nos vestimos, e… você praticamente vaporizou o primeiro deles. Eu peguei a moto daquele que você matou, você montou na garupa da moto que peguei e fugimos. Conseguimos despistar o segundo monstro, eventualmente. Até horas depois ele encontrar a gente aqui… — Killian engoliu seco o enorme naco de bagel que ainda mastigava. —, … enquanto eu trazia o café da manhã. Depois do…  — Killian sugou o suco de laranja da caixinha como um vampiro bebendo o sangue de uma virgem. Killian teria mais a acrescentar, mas não se sentia mais tão íntimo de Miles como na noite anterior. Depois de esvaziar sua caixinha de suco, ele a jogou longe. — Enfim. Eu te contei ontem quem são esses monstros e como os conheci pela primeira vez. É uma história longa e um pouco pesada, então, é bom que você tenha esquecido. Mas, pelas minhas contas, ainda deve ter uns três deles atrás de mim. — Killian virou o rosto para Miles, mas evitou olhá-lo nos olhos. — Desculpa ter te metido nisso. Incluindo o lance dos nachos. Eu posso te levar de volta pro acampamento se você quiser. —

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Re: Central Park

Mensagem por Miles O'Connell Qua Fev 01, 2023 1:51 pm

Uma manhã meio... diferenciada
Fiquei um pouco chocado com o dramalhão do filho de Ares. Irrelevante? Só porque eu não me lembro por conta de um notório coma alcoólico? Revirei os olhos. Eu não tinha muita paciência para essas coisas e ele logo descobriria isso, mas, enquanto eu permanecia calado apenas o ouvindo com atenção, mantive uma expressão neutra para que ele não pensasse que eu estava tirando sarro de tudo ou que simplesmente era realmente algo irrelevante. Afinal de contas, não era. Não pra mim. Então estávamos empenhados mesmo…pensei com a sobrancelha arqueada, assim que ouvi Killian comentar que fizemos bem mais do que nos beijarmos. Hm… interessante. Uma pena termos sido interrompidos pelos monstros, pelo jeito! Mas foi interessante ouvir dele o contexto todo da história. Um pouco de sangue, beijo, realmente muito interessante. Não que eu fosse uma pessoa acostumada a beijar todo lambuzado de um líquido férreo vermelho, mas por alguma razão, aquilo me deixava com um certo fogo nas partes baixas. Ora, pense só… Killian era quente. Ele me atraía, ainda mais sendo como é. Todo fechado, caladão, na dele. Com seu bagel. — Acha mesmo que estou chateado ou algo do tipo? — Questiono ele dobrando um dos joelhos, apoiando o braço sobre ele conforme eu observava o filho da guerra com atenção. — Acha também que quero voltar para o Acampamento? Mas nem a pau! — Digo suspirando, ajeitando os cachos que caiam em cima do meu rosto. Então, virei-me para ele e estendi meu corpo para perto do seu rosto, ficando milímetros a distância da sua boca, permitindo que eu pudesse observar seus lábios aveludados com atenção bem de pertinho. Se ele iria recuar eu não sei, mas… ali estava eu, sorrindo enquanto fitava sua boca meio suja do lanche que ele devorou anteriormente, o gosto do suco de laranja certamente também estava presente em seu paladar. — Eu não gosto da ideia de não me lembrar de nada. — Falo sincero com o semblante meio chateado. Comigo mesmo, óbvio. Meu organismo era meio fraco para essas coisas… — Mas… se me permitir… eu queria matar a curiosidade. De novo. — Estreito os lábios ansioso, olhando-o fixamente nos olhos. Minhas bochechas se tornaram vermelhas e eu apertei os dedos nas gramíneas do parque. Se ele quisesse me bater, tudo bem, eu até que iria gostar disso.
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Re: Central Park

Mensagem por Owen Ziani Montecchio Dom maio 14, 2023 2:00 am

Figuring out a new world and getting screwed
Missão One-Post | Hades | Nova York, Central Park

Minha vida estava uma merda. Sim, essa era a palavra. Eu nunca imaginei que fosse ser capaz de dizer isso um dia, sendo que eu sempre me acostumei com meu próprio caos e estava tudo bem. Eu nunca fui uma pessoa normal e mesmo que as pessoas achassem que eu fosse uma pessoa perturbada com uma vida sem jeito, estava tudo bem. Era o meu normal, mesmo com Angelina nela. Pelo menos, era isso que eu tinha montado na minha cabeça... ou na cabeça dela. Eu estava vivendo uma farsa e, pela primeira vez, me senti perdido. Nem na época quando eu a conheci e entendi que nossa relação era pura toxicidade, eu cheguei a me sentir de uma forma tão estranha. Eu queria sair do meu corpo, eu não me sentia eu. Quando eu soube de toda a verdade, eu nem consegui entender o que estava acontecendo ao meu redor. Eu tinha a ira, mas ao mesmo tempo, um vazio. Era um vazio incapaz de ser preenchido e eu não sabia como alimentá-lo. Eu era uma quebra-cabeça no qual a última peça havia sumido para nunca mais ser achada. Era essa a sensação e era essa a sensação causada por Angelina. Para ser bem franco, eu até poderia ainda estar sentido, sendo afetado pelo turbilhão de sentimentos negativos que nos fazem nem conseguir ser racional de verdade. Justamente por isso, eu poderia estar tendo pensamentos falsos e imaginativos, completos produtos da minha profunda decepção, ou seja lá o que fosse o que eu estivesse sentindo. Mas se existia algo que eu estava tendo certeza a cada dia, era do meu ódio... por ela. O nível dele? Eu pelo menos tinha senso para entender que, mais uma vez, pudesse ser resultado da minha cabeça ainda quente, afinal, a descoberta de tudo ainda era muito recente. Ainda assim, se me perguntassem o nível do meu ódio... ele ultrapassava todos os limites. Eu estava terrível, incondicional e assustadoramente perdido, impotente e me sentindo inválido. Esse último era algo diferente, algo que eu nunca tinha me permitido conhecer. Era como chegar no fim do poço. Eu não queria morrer, eu não tinha esse tipo de desejo, eu só estava desesperançoso... dormente. Era difícil chegar numa resposta exata, mas se eu fosse fazer uma comparação, talvez chegasse próximo do que se imagina acontecer com alguém num estado vegetativo. Talvez eu até estivesse exagerando, porque eu andava, eu pensava, eu refletia e eu sentia. A diferença era que eu não era mais eu. Owen não era ninguém, ele era um fantoche na mente transtornada e traumatizada de alguém... de Angelina.

Fato era que eu estava distante agora, morando numa espécie de galpão. Eu não sabia descrever aquele lugar, mas parecia bem abandonado quando o encontrei. O momento que eu vivia me fazia lembrar da minha época de nômade, vivendo pelas ruas e hostels da Europa, antes mesmo de ter entrado para o esquadrão de mercenários. Lembrar disso agora não era mais uma felicidade... era só falso. Eu nunca tinha vivido aquilo de verdade e a sensação de nostalgia fazia parte de um sonho. Por vezes, eu ainda me sentia um pouco incomodado ao ter memórias do passado. Eu me forçava a me desgarrar delas, deixando-as trancada numa parte bem obscura e intocável da minha mente. Eu agora estava conhecendo um novo Owen, uma nova pessoa. Eu não sabia quem eu era. Minha morada era em Nova York, próximo do Central Park, mas o mais estranho era ser um trouxa. Eu era normal. Não existia magia... ou será que existia e eu desconhecia? Será que ela funcionava de uma forma diferente nesse mundo? Eu não tinha noção, eu não sabia nada da vida. Eu estava renascendo e isso me enfurecia. Sem pensar, eu me vi socando a parede de um edifício qualquer. Era tarde da noite quando eu estava voltando para minha “casa”, o que fazia a cidade já estar praticamente vazia, especialmente pelo clima de chuva. Eu havia ficado o dia inteiro perambulando pelas ruas e esquinas, totalmente sem rumo. Quando eu olhei para o céu, vi a lua... cheia. Confesso que eu até me senti nervoso, imaginando o que estaria por vir a qualquer momento, mas eu não senti nada. O mais estranho era que, no fundo, eu sentia algo diferente. Havia sensações meio desconhecidas, mas eu ainda não conseguia ter nenhum acesso a elas, eu simplesmente não sabia como. Talvez fosse assim que trouxas se sentiam. Talvez não houvesse absolutamente nada a mais e era eu estranhando um corpo sem magia. De certa forma, eu ainda tinha minha faca preferida, apesar de ainda não entender como ela havia parado ao lado da minha maca naquele mundo novo. Era como ter uma lembrança em forma de objeto. Eu queria esquecer o que eu era, porque eu sabia que era irreal, mas ainda existia uma parte dentro de mim apegada à vida que eu conhecia. Aquela faca era um símbolo disso.

Assim que eu abri a porta do galpão, pronto para ser envolvido pela solidão, a poeira e o silêncio pesado daquele lugar, eu ouvi uma voz. Ela ecoou por todo o ambiente escuro, mas assim que eu me aproximei do colchão que eu estava chamando de cama, consegui ver quem estava ali. A luz do luar transpassava as janelas no alto do galpão, iluminando o homem sentado onde eu dormia. Ele analisava uma faca e mencionava sobre alguém que gostava de mim. Ele estava falando... de Angelina? Por um momento, eu imaginei que a arma que ele segurava era a minha. Felizmente, eu estava enganado. A minha ainda estava no bolso da calça - Quem é você? – até fui estranhamente bem tranquilo no tom de voz. Quando eu dei um passo para frente, a fim de enxergá-lo ainda melhor, eu me surpreendi com almas penadas vagando dentro de suas vestes pretas. Dificilmente aquilo me assustava, eu já havia visto muita coisa. Foi então que eu lembrei da magia. Então... ela também existia naquele mundo? Seus olhos finalmente encontraram os meus e a minha mandíbula se enrijeceu. Era raro estar diante de alguém com a mesma energia que a minha. Uma energia intimidadora. O que quer que ele fosse fazer, eu estava preparado. Então, ele se levantou, ainda mencionando sobre a pessoa que gostava de mim. Sua filha. Espera... - Hades? – assim que eu acordei de toda a farsa que eu tinha vivido, uma mulher não-humana havia me contado por alto sobre a realidade daquela vida. A mitologia grega era algo real. Admito que eu me forcei a esquecer essa ideia, me parecia a coisa mais absurda que pudessem cogitar. Só me faltava dar de cara com a chapeuzinho vermelho e o lobo mau. Mas ver aquele ser ali na minha frente era realmente algo inexplicável. Ele tinha uma aura macabra e uma energia densa, não era nada humana e isso eu podia garantir. Mas será que era isso mesmo? Hades, o grande deus do Mundo Inferior, irmão de Poseidon e Zeus? Só podia ser brincadeira. Ele se aproximou e me entregou a faca que segurava, me dizendo que não havia vindo por sua filha. Ele tinha era um serviço para mim. “Sua filha”. Angelina? Angelina era filha de Hades? Que porra é essa?!

O homem passou por mim e deu início ao que seria uma história. Eu me mantive intacto, de costas para ele agora, mas atento. O mito de Orfeu e Euridíce tinha saído de sua boca. Havia uma passagem onde Orfeu encontrou no Mundo Inferior e que, recentemente, tinha sido descoberta por um filho do deus dos céus para trazer sua falecida esposa de volta à vida. Não olhando para trás, o indivíduo conseguiu o que queria. O problema era que Hades estava bastante insatisfeito com isso e agora, cabia a mim efetuar a tarefa de matar a mulher para que voltasse ao seu lugar. Eu enfim me virei para ele e o encarei confuso, mas desconfiado. Seu olhar era severo, mas em nenhum momento aquilo me intimidou. Minha atenção persistiu fixa nele por outra coisa... era Angelina ali. Ele estava me pedindo para matar alguém. Angelina me pedia para matar. Eu estava sendo requisitado para fazer os mesmos tipos de serviço que eu fazia para Angelina. Foi então que um flashback logo surgiu, me remetendo ao olhar duro da mulher quando me passava um contrato. Eu estava olhando para Hades, mas também para Angel... a minha Angel. Piscando algumas vezes, eu mantive a postura e voltei para o momento presente. Quando eu abri os lábios para questioná-lo, ele já havia sumido. “Dê a eles os mais nobres cumprimentos do deus dos mortos”, tinha sido essa a sua última frase. Minha risada anasalada foi curta, mas eu rapidamente me virei e encontrei um papel em cima da minha cama. Quando fui pegá-lo, entendi que se tratava de um endereço. Era aonde eu deveria ir para encontrar a minha vítima. Eu balancei a cabeça meio cansado, ainda rindo baixo em deboche. Eu tinha acabado de acordar de um sonho para fazer exatamente o que eu fazia nesse sonho. Era muita ironia. Sentindo minhas pálpebras pesarem, eu deixei meu peso cair no colchão e deixei o papel de lado por um momento, me lembrando de que ainda segurava a faca de Hades... ou não. Ali, algo louco ocorreu. Eu já tinha tido flashbacks algumas poucas vezes depois de acordar do meu coma, no que eu fui encaixando as peças e supus que poderia se tratar de memórias daquele mundo. Eu não me lembrava de viver aqueles momentos, ainda mais quando em um deles, eu me sentia com uma força descomunal ao lutar com alguém que eu também não conhecia. Ali, naquele flashback, eu via exatamente a faca que eu segurava agora. Era minha. Como minhas facas estavam surgindo do nada?! Com força, eu a cravei em parte do colchão e a arrastei de pouco em pouco como se estivesse extravasando minha raiva. Eu estava tremendo de fúria, o que era bom. Eu estava sentindo algo intenso depois de muito tempo. Mas eram minhas facas... e elas estavam parando nas mãos de outras pessoas.

[...]

No dia seguinte, eu havia acordado um pouco em dúvida se cumpriria com a missão de Hades. Eu considerei ignorá-lo, mas existiam muitos outros pensamentos que me faziam lembrar das possíveis consequências se eu decidisse fazer outra coisa. Estranho, não? Logo eu que tinha sede de matança e aproveitava qualquer desculpa para arrancar a cabeça de alguém. Confesso que fiquei quase a manhã inteira ponderando, mas resolvi sair de casa. Foi me preparando e me assegurando de que eu tinha tudo para qualquer eventual caso, que eu descobri algo a mais na minha calça. Considerando que eu ainda vestia a mesma roupa desde que abri os olhos pela primeira vez naquele universo, ainda não tinha parado para vasculhar os bolsos das minhas vestes. Era uma corrente prata. Nela havia três pingentes: um machado, uma lança e uma espada. Um presente de Angelina? Hades? De qualquer modo, eu o prendi ao redor do meu pescoço e segui para fora do balcão. Eu deveria ir para Greenwich Village, mas eu ainda não sabia se deveria seguir ordens do deus do Mundo Inferior. Se existia algo que eu odiava era ser pau mandado de alguém e eu já havia esgotado meu estoque de paciência com Angelina ao aceitar fazer serviços para ela. Eu havia a visto apenas uma vez naquele mundo, antes de decidir partir. Às vezes, eu imaginava o que ela poderia estar fazendo. De alguma forma, eu acreditava que ela pudesse estar me espionando em algum canto. Eu a conhecia perfeitamente para saber do que ela era capaz. Mesmo assim, eu não me importava se isso estivesse acontecendo de verdade. Se ela estivesse à espreita, que ela continuasse. Quando eu a tirei da minha cabeça, me concentrei no caminho. Eu estava sem rumo, mas já que tinha roubado uma boa quantia de dinheiro dentro de um armário daquela casa onde tinha acordado, eu pensei em ir até uma cafeteria como uma pessoa comum. Era a primeira vez que eu me sentia como alguém normal... eu iria experimentar coisas normais então. A única coisa fora do habitual, ou não, já que eu estava acostumado com galeões, era que além de dólares, eu e Angelina aparentemente tínhamos guardado moedas exóticas dentro daquela casa - Me vê um cappuccino – disse ao atendente assim que entrei no primeiro estabelecimento que vi. O movimento não era tanto - Não, um café preto. Forte. Bem forte – levantei as sobrancelhas, já separando o dinheiro rapidamente e pagando pelo pedido. Quando me afastei do balcão, meus olhos pairaram no barista cheio de braços preparando diversos tipos de café. Eu não me assustei, mas não tive reação. Eu apenas me virei lentamente para reparar na clientela que mais parecia tranquila por ali. Era normal ter anomalias assim? As pessoas não... estranhavam? O governo deixava? Existia um ministério ali? A população sabia da existência de deuses?

Eu logo ouvi o mesmo barista avisar que meu café estava pronto, mas antes de segurar o copo grande de isopor, ele me olhou sereno, sussurrando se eu queria adicionar uma essência de néctar na bebida - O quê? – seus olhos rolaram para o meu colar, como se quisesse fazer referência a algo, mas eu ainda o esperei dizer mais. Ele repetiu a palavra, mas eu só espreitei as pálpebras em sua direção. Tudo parecia confuso demais para eu me adaptar. Então, um casal adentrou o local num comportamento estranho. Eles olhavam de um lado para o outro, como se estivessem querendo se esconder de alguém. A mulher se sentou em uma mesa vaga, enquanto o homem foi direto até o balcão fazer seu pedido. Eu já tinha experiência e treinamento o suficiente para suspeitar de algo. Ainda assim, eu não tinha motivos para fazer alguma coisa e logo me sentei numa outra mesa. Se quer saber, eu não estava com intenção nenhuma de saber sobre a vida alheia, mas assim que o homem voltou ao encontro da mulher, eles logo pareceram discutir. Ambos estavam um pouco exaltados, mas à medida que levantavam a voz, era difícil não prestar atenção. Eu estava de frente para os dois, mas ainda numa certa distância. Embora eu me esforçasse para cuidar da minha vida, seus cochichos despertaram a minha curiosidade. Eu levantei os olhos discretamente, tentando fazer uma leitura labial, mas eu talvez estivesse muito tempo fazendo aquilo e a mulher notou. Eu baixei os olhos e beberiquei meu café. Pelo meu histórico, não era de esperar que eu estivesse disfarçando. Eu sempre fui um cara observador, sabendo identificar perfeitamente quando algo estava errado ou era duvidoso, mas dessa vez eu, de fato não estava interessado na conversa do casal. Eu só tinha abaixado o olhar por educação. Quando eles pareceram ficar mais à flor da pele, foi mais forte do que eu e não consegui conter uma outra olhada. O homem tentava tranquilizar a mulher, mas ela estava começando a ficar bem mais nervosa do que o normal. Ok, claramente aquilo era estranho. Eles estavam sendo perseguidos? Suas peles estavam sujas e suas roupas rasgadas. O mais esquisito era que a mulher possuía uma energia meio única... macabra, para ser honesto. Eu passei a analisar os dois por um longo tempo, até sentir o ímpeto de checar o pedaço de papel que Hades havia me entregado.

O endereço era situado em Greenwich Village, um pouco longe dali, considerando que eu estava em frente ao Central Park. A ideia de que aquele casal fosse exatamente o meu alvo, me passou pela cabeça, mas eu não agi. Eu guardei o papel e continuei com meu café, mas quando eu voltei a direcionar meu olhar curioso para ambos, foi quando a mulher me encarou assustada. Ela disse algo para o homem ao seu lado e ele me olhou por um segundo para então se levantar e puxá-la junto. Era a confirmação da minha dúvida. Os dois se retiraram com pressa do estabelecimento e eu então os segui, ainda que com cuidado. Eu não queria atrair olhares para mim, não sabia de nada daquele lugar ainda. Mas assim que saí pela porta, os vi cruzar a rua e correr justamente para o parque. Dois minutos depois, eu já estava atrás deles, esperando para ver até onde aquilo ia chegar. Como ela tinha suspeitado de mim? Magia? Passávamos por várias pessoas, visto que ainda era de manhã e havia movimento. Vez ou outra, o filho de Zeus olhava para trás para se certificar do meu paradeiro. Eu ainda não tinha pegado minha arma, mas continuei no mesmo caminho. Estávamos entrando cada vez mais no parque e, se Nova York era igual em qualquer universo, então eu sabia que alguma hora ficaríamos mais isolados. O Central Park era tão imenso que até se perder era fácil. Dito e feito. Eu os vi apressar o passo assim que avistaram a Bow Bridge e não perdi tempo em fazer o mesmo. Até que eles contornaram a ponte no final dela e eu os perdi de vista por apenas um segundo. No entanto, uma voz me ameaçou e assim que segui na direção de onde ela vinha, finalmente interagimos. A mulher estava atrás do homem, enquanto ele se mantinha numa postura tensa e de ataque. Eu o deixei falar, afinal, eu não era o tipo de pessoa que fazia discursos, longe de mim. Não havia necessidade, eu só fazia meu trabalho e pronto. Nem se quer me aproximei, só me mantive imóvel e com a expressão neutra. Medo? Essa palavra nunca existiu no meu dicionário... não quando se tratava de fazer meu serviço. Foi durante aquele breve momento, que eu percebi como o corpo do tal filho de Zeus reagia. Eram faíscas que estavam saindo dele? É... essa coisa de mitologia grega era real - Calma – levantei as mãos, mas ele sacou uma caneta de seu bolso e a apertou rapidamente. Uma espada surgiu em suas mãos. Eu desviei os olhos de um lado para o outro. As pessoas estavam vendo o que eu estava vendo? Isso era aceitável naquele mundo?

A voz da mulher entoou. Ela ainda me olhava com receio, mas agora queria saber quem eu era, dizendo que tinha ciência de que eu conhecia Hades - Como sabe disso? – então, seus olhos se suavizaram, mas o silêncio dominou - Você é legilimente? – o homem a olhou de relance, como se esperasse que sua mulher entendesse do que eu estava falando - Você lê mentes – disse baixo, era mais um pensamento alto. Automaticamente, eu dei um passo para frente. Foi muito mais instintivo do que racional, mas essa atitude também teve consequência. O homem nem hesitou em atacar, lançando a espada exatamente no meu rosto. Se eu não tivesse tentado me esquivar, o corte seria muito mais profundo. Quando eu me dei conta do que tinha acabado de acontecer, eu rolei os olhos com calma até o filho de Zeus e suspirei profundamente. Eu levei o dedo até o corte e confirmei que era uma gota de sangue escorrendo pelo meu rosto - Foi você que escolheu isso – e era verdade. Dificilmente as pessoas encontravam um Owen tão tranquilo e disposto a não fazer nada. Era até raro, quase impossível. Aquele não era o dia de sorte dele. Eu senti a raiva subir e, pela primeira vez, eu literalmente a senti. Eu o encarei e uma energia fulminou dos meus olhos, fazendo o casal vacilar e se amedrontar. Era uma dose extra de adrenalina percorrendo minhas veias e fazendo meu sangue ferver. Eu me senti vigorado, mas de uma maneira completamente ensandecida. Quando eu me senti verdadeiramente fora de mim, foi quando eu me tornei lobisomem pela primeira vez. A sensação era única, mas dessa vez, eu estava a sentindo de uma forma bem diferente. Eu me descontrolei num nível muito alto, mas eu ainda estava tendo noção das coisas. No entanto, meu corpo se moveu muito antes do que eu intentei. Eu avancei como um animal, mas assim que ele se defendeu com a sua espada, eu o impedi... com a minha própria mão. O fio de corte da arma afundava na minha pele, fazendo sangrar, embora eu não estivesse sentindo quase nada naquele momento. Meu corpo estava quente, eu estava em fúria. Qualquer sensação seria abafada pela minha raiva. Com uma força repentina, eu consegui empurrar e tirar a arma da frente de seu rosto, me virando e rodando para surpreendê-lo com um chute no abdômen. Quando me livrei temporariamente do indivíduo, eu parei em frente à mulher e a fitei com gana. Ela sabia que eu iria matá-la.

Eu entendia que se conseguisse acabar com o filho de Zeus, então conseguiria finalizar aquela missão. O homem era o obstáculo, era ele o grande problema daquilo tudo. Então, quando eu me aproximei dela com sangue nos olhos, o semideus surgiu me impedindo de uma forma completamente inimaginável. Um raio saiu de suas mãos na minha direção, me fazendo voar, batendo no vão da ponte. Eu senti minha coluna estalar numa sequência, principalmente quando eu caí no chão pela violência do ataque. Assim que eu fiz menção de me levantar, senti os pingentes da minha corrente baterem contra meu rosto. Eu dedilhei os três, escolhendo segurar a pequena espada, no que eu arranquei e a lancei no ar. Eu estava agindo irracionalmente, seguindo meus próprios instintos consumidos por uma ira que era inexplicável até para mim. O pequeno acessório logo se tornou uma espada de verdade. Ao longe, eu encarei meu inimigo e finquei a arma no chão. Um rombo começou a ser feito. O solo abria uma rachadura que cada vez mais, se aproximava do casal. O filho de Zeus foi pego de surpresa, mas conseguiu se livrar quando decidiu voar. A semideusa, no entanto, acabou sendo afetada com a potência daquele estrago, caindo na fenda, mas ainda se segurando e conseguindo subir. Estávamos em uma ponte. A Bow Bridge tinha sido destruída. Foi nesse momento que eu ouvi gritos de pessoas ao nosso redor, mas que rapidamente começaram a correr para tentar se livrar da situação. Eu tirei a espada do lugar e corri na direção do homem, sacando minha faca com a outra mão. Enfim, uma luta começou a ser travada, na qual o barulho agudo de lâminas era quase que infinito. Ele era habilidoso, mas cada vez que tentava sair do chão, ganhava mais força e até agilidade. Eu estava concentrado em derrotá-lo e quando consegui me livrar novamente dele, foi o tempo que eu percebi que a mulher tentava escapar. Eu grunhi e a persegui, mas tão logo, ela se virou e lançou uma bola de fogo na minha direção. Eu joguei o corpo para trás, caindo e arrastando os joelhos, mas foi difícil me esquivar totalmente. O calor já foi capaz de me queimar antes mesmo de eu ser atingido pelo seu poder. Parte do meu rosto se queimou e eu finquei a espada no chão para me apoiar na hora e não cair por completo. Mais um flashback. Angelina.

Eu já tinha a queimado com um isqueiro, mas aquela lembrança... aquela lembrança era nova. Fazia parte daquele novo mundo. Ela estava presa, o fogo prestes a consumi-la. O medo em seus olhos era angustiante. Aquele momento foi tão rápido dentro da minha mente que eu não me permiti ser tocado por ele, eu só segui para avançar na semideusa a minha frente. Eu então a vi desviar os olhos para algo atrás de mim e sem pensar duas vezes, eu me virei para encontrar o filho de Zeus pronto para tentar algo. Eu ergui minha espada contra a sua. Aquilo durou uns cinco segundos, onde nossos braços tremiam pela força exercida, mas ao fuzilá-lo com os olhos, eu fui cada vez mais ganhando potência. No instante que eu o senti vacilar, impus mais força e fiz sua arma cair. Com mais um chute, ele caiu com brutalidade, gritando de dor. Ainda assim, ele levou sua mão até a espada e conseguiu buscá-la. Dessa vez, eu foquei na faca que eu ainda segurava e a girei no ar, pronto para fincar em seu peito. Foi justamente nesse exato momento que ele tentou me acertar. Eu paralisei, baixando o rosto para ver a espada rente à lateral do meu corpo. Ele tinha me cortado... mas não tinha sido tão superficial assim. Vagarosamente, meus olhos voltaram até os seus e eu gritei. O som foi tão alto e estridente que eu mesmo senti a vibração. Sangue escorreu rápido dos ouvidos do filho de Zeus, que parecia ter perdido sua energia. Ele praticamente se encolheu, tentando se proteger do barulho. Em seguida, sendo movido por uma ira que até eu acreditava ser impossível aumentar, eu finalmente o esfaqueei. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez vezes, até que a imagem de Angelina perfurada com uma lança me ocorreu. Porém, foi a lembrança de esfaquear um dos invasores da Casa do Deserto numa sequência de vezes, que inundou minha mente. Aquilo estava se repetindo. O sangue do semideus respingava no meu rosto, ele estava morto. Eu ouvia os gritos pavorosos da mulher atrás de mim, mas assim que pararam, eu tinha certeza do que se seguiria. Eu me virei, erguendo a minha espada em sua direção. Ela iria me atacar por trás - Tenta – o tom na minha voz era baixo, mas carregado de puro ódio. Eu estava cego, incontrolável e com sede de vingança. Muita vingança.

Me levantando, eu caminhei na sua direção, enquanto ela recuava. A mulher dizia que não tinha como Hades conseguir levá-la de volta para o Mundo Inferior. Eu persisti calado, mas após uma pausa de sua parte, ela mencionou Angelina... meu ponto fraco. Ela tinha lido minha mente anteriormente. Foi inevitável ela perceber a mudança na minha expressão. Ali, já não havia mais necessidade alguma de seguir lendo meus pensamentos, bastava me olhar. Todavia, meu corpo ainda estava rígido e eu inclinei o pescoço ameaçadoramente. Percebendo que eu não responderia, a semideusa continuou no assunto. Admito, em parte, aquilo era inteligente, porém escolher ir por esse lado também tinha suas desvantagens. Despertar minha fraqueza também significava aumentar minha raiva. Apesar disso, era torturante, ainda mais quando eu precisava me forçar a pensar em outra coisa. Mencionar Angelina, era abrir uma porta para descobrir muita coisa. A mulher me tinha na mão. Ainda assim, eu continuei me aproximando com a arma bem erguida, mas um pequeno sorriso no canto de seus lábios denunciava o que ela parecia descobrir a cada segundo que se passava. Eu cessei os passos, fechei os olhos para tentar me acalmar por um instante, mas logo eu a encontrei bem mais confiante. Da sua boca, ela narrava todas as minhas memórias com Angelina, me deixando mais vulnerável, porque era inevitável não pensar nelas. O poder de alguém que lia mentes era algo grandioso demais - Você não sabe do que está falando – ela me ignorou - Cala a boca – o episódio da lança, meu primeiro contrato, o sequestro de Thora, nossa primeira vez, o jantar surpresa na sede dos mercenários, a tortura nas celas, a primeira vez que ela me viu lobisomem, o episódio em que eu a queimei, a primeira vez que eu disse que a amava, nossa primeira briga, a batalha com o grupo inimigo, o momento em que eu quase morri, quando eu soube que ela tinha tentado tirar sua própria vida, a viagem para a Ilha de Hydra... não tinha fim - CALA A BOCA! – gritei, mas era possível ver um traço de melancolia em meu olhar. Até que a mulher descobriu o que tinha acontecido para eu estar ali. Ela citou sobre eu ter fugido, sobre eu ter matado a criatura que havia cuidado de mim e de Angelina durante todo esse tempo e sobre a mentira que havia sido criada, mas quando mencionou o nome de Poseidon, a minha respiração se tornou falha. Angelina não se lembrava daquela história e eu preferi omitir aquilo para ela. O silêncio perdurou. A mulher me encarou como se estivesse tendo noção de que tinha me ganhado, mas sua próxima pergunta foi como me entregar.

Ela queria saber onde Angelina estava. Eu fiz o possível para lutar contra a minha mente. Eu tentei focar em qualquer outra coisa, mas o poder de uma legilimente era desesperador. Eu estava preso a ela. Eu fui incapaz de me bloquear e assim ela obteve sua resposta. Inesperadamente ou não, já que ela poderia prever meus movimentos a partir da minha mente, eu rodei para me agachar e lhe dar uma rasteira, mas ela pulou. Quando eu tentei cravar a faca em sua perna, ela segurou meu pulso e o torceu. Eu gritei, mas tentei chutar sua lateral em seguida, no que ela se afastou e saltou por cima de mim, piorando ainda mais minha mobilidade, já que ela ainda me segurava. A mulher tomou minha faca e assim que eu me lembrei da espada jogada no chão, ela simplesmente a chutou para longe. No entanto, eu ainda não tinha me dado por vencido, e tentei me levantar para a atacar com um soco. Ela se desviou, me chutou para que eu caísse e montou sobre mim. Logo, fitou minha faca e voltou os olhos até os meus, para eu perceber que a lâmina da arma agora ardia em chamas. Eu sabia perfeitamente qual era sua intenção e assim que eu notei o movimento do seu braço, eu a segurei pelo pulso. O calor estava bem rente ao meu rosto. O fogo próximo de me queimar mais uma vez. Era inacreditável como eu tinha perdido a força tão rápido, mas era mais inacreditável o poder que Angelina tinha sobre mim sem nem sequer estar presente. Eu senti a mão da semideusa descer um pouco mais e então eu virei o rosto, passando a sentir o calor próximo ao meu ouvido. Meus olhos se fecharam e então eu senti a faca grudar no meu rosto, exatamente onde já existia a marca da queimadura da bola de fogo. Eu berrei. Era como estar sendo marcado e foi quando eu me recordei novamente do dia em que queimei Angelina. Por causa disso, a mulher se sentiu mais vitoriosa e voltou a mencionar sobre como eu estava levando o troco por ter feito o que eu tinha feito com a minha mulher. Eu me esforcei para ignorá-la. Agora eu entendia que meu ponto fraco não conseguia ser motivo o suficiente para me deixar com raiva. Era justamente o contrário. Depois de anos, eu finalmente entendia que eu tinha algo para me deixar impotente. Era ela, era Angelina. Ainda assim, eu tentei me concentrar, usando da força dos meus inferiores. Com as pernas, eu as levantei de forma que eu conseguisse empurrá-la para o lado, mas a mulher ainda parecia mais forte. Como agir sem pensar antes?

Eu precisava tomar atitudes ao mesmo tempo que pensava nelas, era essa a única solução. O fogo ainda estava ali queimando mais e mais o meu rosto. Meu grito ficava mais alto e mais agoniante. Eu ainda tinha a raiva dentro de mim, ele só não era mais o suficiente para conseguir vencê-la. Ao menos, não naquele momento. Eu já não era mais o Owen de antes, eu estava num mundo paralelo. Eu precisava me adaptar a uma realidade completamente desconhecida. Eu não sabia quem eu era. O pensamento de farsa tinha me ganhado e se estabelecido como uma grande verdade agora. Eu estava vulnerável, mas naquele momento, eu estava ainda mais. Foi então que eu ouvi uma voz masculina soar dentro da minha cabeça. “Ela é uma vampira”. Era como se alguém estivesse me lembrando o que Angelina era. Obviamente, a semideusa também ouviu, mas dessa vez, ela ficou confusa. Essa era a hora. Eu já estava sendo queimado, não iria piorar a situação se eu virasse o rosto para ela novamente. Assim que o fiz, eu aproveitei para abocanhar seu pulso e mordê-lo com toda a raiva que ainda estava existindo dentro de mim. Eu ouvi a faca cair ao meu lado e o fogo se extinguir. A mulher soltou um berro estridente, ainda mais quando eu forcei mais a mandíbula e senti sua pele ser arrancada lentamente. Ela até tentou sair de cima de mim, mas eu a impedi, conseguindo finalmente virá-la. Meus lábios estavam molhados e sangue pingava do meu queixo. Aquela mesma energia no meu olhar voltou e com uma encarada, eu a vi se amedrontar e implorar para que eu não continuasse. Dessa vez, eu fiz uma pausa proposital para que a minha mente fosse lida e imediatamente enterrei o rosto no seu pescoço, mordendo-o com tamanha brutalidade que eu não só fui capaz de sentir o gosto metálico de seu sangue, mas também suas veias se arrebentando. Eu abri um rombo naquela região, mas só fui me dar conta quando não existia mais nenhum barulho ali. Não havia mais gritos. Eu ergui o tronco, a olhei cansado e cuspi no chão ao seu lado. Agora sim eu tinha tempo para recuperar o fôlego, deixar a adrenalina baixar e entender o que tinha acabado de acontecer. Foi quando eu também me lembrei de que estava num local público e ainda de dia. Depois do que tinha ocorrido com a ponte, era difícil que houvesse testemunhas naquela área. Contudo, eu imaginava que uma hora ou outra, alguém fosse acionar um corpo de bombeiros ou uma viatura de polícia. Alguma autoridade iria estar a caminho. Era assim que o mundo funcionava, não à toa que eu tinha me tornado procurado na Bulgária no passado. Eu me levantei, recolhi minha faca e segurei minha espada, vendo-a voltar a se tornar um pingente que logo guardei dentro do bolso da calça. Quando eu me virei para correr dali, dei de cara com um policial. Merda, eu estava sendo preso.
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Re: Central Park

Mensagem por Mia Lynn Sparkle Sex Jul 14, 2023 11:18 pm

A Volta de Uma Traição
Missão de Serviço de Zeus - Parte 8
Depois de muito andar pelas ruas da cidade em busca de mais marcas de pneu, cheguei até o Central Park - bem longe de Coney Island, diga-se de passagem. Ainda bem que faço exercício. O que acontece é que as marcas de pneu só apareciam perto de curvas, era sempre o mesmo padrão: linha reta seguida de uma curva. Sempre as mesmas marcas, o mesmo queimado. O caminho que fizeram foi até o Central Park, o qual eu entrei sem me preocupar muito, olhando em volta e desconfiando até da minha sombra. Não havia sinais de pneu queimado ali, pelo menos não de maneira visível, porque o cheiro forte de borracha queimada continuava. Olhando em volta, no entanto, via todos ali agindo normalmente, como se o cheiro não os incomodasse, e isso me levou a pensar, será que só eu estava sentindo. Disfarçadamente, observei ao redor, buscando por mais alguém que expressasse qualquer reação com o odor, quando vi um senhorzinho passando por mim e esboçando um sorriso que, juro pelos deuses, me fez estremecer. Arregalei os olhos com aquela expressão, e então o vi mexer o nariz, como se algo o incomodasse. — O cheiro… — Sussurrei para que só eu fosse capaz de escutar.

A partir daquele momento, o frio na barriga foi forte e fez com que eu lentamente, de início, começasse a me afastar dali, até perceber que o velho começava a me seguir. — Droga. — Resmunguei, já deixando de agir devagar e começando a andar mais rápido, até praticamente começar a correr para algum lugar mais vazio. Naquele instante, porém, não percebi o que me atingiu, apenas caí no chão rolando para o lado, batendo as costas em uma lixeira. Com dificuldade, olhei para a direção de onde o ataque veio e encarei o senhor que aos poucos deixou de ter uma imagem humana… Ele tinha pelos pelo corpo e… Suspirei forte, fazendo bastante esforço para me levantar e então tirei a espada da bainha, erguendo-a na direção dele. Uma fobia, era claro. — Eu sabia que encontraria um de vocês uma hora ou outra. — Bradei, girando minha espada e me preparando pra lutar. O problema naquilo é que a maldita fobia começou a se duplicar de uma maneira nojenta. Esbocei uma careta de enjoo, mas mantive atenta ao que viria. — Onde aquele filho da puta se escondeu, hein? Vai mandar os cachorrinhos de novo? — Ri, avançando contra uma fobia quase no mesmo instante, dando a ela apenas a oportunidade de desviar, mas não de atacar. Eu não poderia abrir nenhuma brecha, eram duas contra uma. E então comecei a invocar nuvens que me dariam uma vantagem maior na batalha… Aquilo me acobertaria, mas por outro lado, eu precisava achar uma brecha para acertá-las, então no momento em que as nuvens apareceram, eu dei um carrinho no chão, dando uma rasteira em uma das fobias e acertando a espada em seu peito, e depois novamente em seu estômago. Levantei dali antes que fosse tarde, e quando as nuvens se dissiparam, só havia uma pronta para lutar. Gritei de dor ao sentir suas garras acertando meu braço, mas eu a segurei por ali, pouco me importando com a textura de sua pele e a chutando para longe, fazendo um movimento circular com o corpo e movimentando a espada, acertando-a em cheio. — Eu não vou mais deixar aquele babaca do Fobos mexer comigo. — Alertei em voz alta. Se ele estivesse por ali, queria que escutasse. Ele queria me dar um desafio? Que fizesse isso melhor, então.
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Re: Central Park

Mensagem por Cole Dawson Bryce Sáb Ago 26, 2023 2:11 pm

A mission for the history books
Eu seguia rumo ao Punho de Zeus, onde um deus me esperava. Uma águia havia me trazido um bilhete da pessoa, o que na hora, devo admitir, soube ser do próprio Zeus. Não eram muitos os deuses que faziam esse tipo de coisa, considerando que o rei do Olimpo mal aparecia para semideuses e nunca de uma forma convencional. Eu logo estranhei o que ele poderia querer comigo e, coincidentemente, como se fosse um sinal do universo, Mia apareceu. Ela queria saber o que eu lia naquele pequeno pedaço de papel, mas eu desconversei antes de pedir que nos encontrássemos em outro momento. Eu odiava fazer isso com alguém, especialmente com a loira, mas fazer seu pai esperar era a última coisa que eu desejava. Além do mais, eu sabia que ele estava por aí observando tudo, vide sua águia que havia demorado para ir embora. Com um pedido bem demorado e sincero de desculpas, eu corri até a floresta. O que eu não sabia era que mais alguém havia sido convocado junto: Ariel - Ei cara... o que você está fazendo aqui? – com a expressão de preocupação ainda presente no semblante, eu quis me certificar de que ele também estava indo para o mesmo lugar que eu. O garoto me entregou seu bilhete, dizendo que o remetente era desconhecido. As mesmas palavras que as do meu papel. Ariel, por sua vez, acreditava ser de um admirador secreto e até cogitou Maysilee, embora logo tenha voltado atrás na ideia - Não, eu também recebi o mesmo – e mais uma pergunta do filho de Deméter saiu para tentar entender quem poderia ser a pessoa que nos procurava. Eu o ignorei, era um pouco difícil relaxar quando se sabia que estávamos indo de encontro a Zeus - Vem – dei dois leves tapinhas em seu ombro e seguimos caminho. Felizmente, não estávamos tão distantes e assim que nos aproximamos de nosso destino, o homem de cabelos ruivos nos fitou sisudo. Para ser sincero, eu o percebi seguir seus olhos de Ariel até mim, enfim o sustentando por longos e intermináveis segundos. Diferente dele, eu não consegui suportar e desviei o olhar acanhado.

Meu amigo estava bem à vontade, tendo um total de zero noção de com quem ele interagia. Zeus, por sua vez, deu de ombros, como era de se esperar, e indagou algo sobre uma antiga inimiga ter se regenerado - Ah, não – meu sussurro foi tão baixo que ninguém ouviu. Fechando os olhos, eu voltei a abri-los para buscar entender melhor a situação. Eu já imaginava que o rei dos deuses quisesse nos mandar para um serviço, no entanto, quando foi confirmado, a sensação de desconforto aumentou. Zeus, aparentemente, queria que déssemos conta do recado, ou seja, matá-la. Campe era a inimiga, o que me fez engolir em seco. Passando por um dos portais do Mundo Inferior, deveríamos esperá-la para então enfrentá-la. Eu revirei os olhos com cuidado para não parecer uma reação ao deus, estava sendo um pouco difícil de me controlar diante de todas aquelas informações. Era quase uma sentença de morte, se quer saber. Ariel, tentando não chamar atenção, mas já chamando, uma vez que ele me chamava bem na frente do olimpiano, perguntou quem era o homem de cabelos ruivos. Engolindo mais uma vez, eu hesitei, mas tentei me manter calmo e centrado para respondê-lo - Zeus – pronto, eu já esperava um surto. Ariel se ajoelhou, quase caindo no chão e se reverenciando. Fechando os olhos e buscando um pouco de ar, eu cocei a testa e esperei que aquela cena acabasse. Quando os abri, o deus já havia ido embora, deixando a informação de sermos recompensados assim que derrotássemos o monstro - Sim, é, você está certo – fui sarcástico ao comentário do garoto sobre termos que demonstrar respeito à divindade. Sem dizer mais nada, eu dei meia-volta e saí dali de volta ao acampamento, ouvindo a voz de Ariel pedindo para que eu o esperasse.

━━━━━━◇◆◇━━━━━━

Era o mesmo dia quando nós dois saímos do acampamento até o Central Park em busca da Porta de Orfeu. Héstia havia nos concedido a permissão, uma vez que essa era uma ordem expressa do rei dos deuses. Precisei ser rápido para conseguir sair de lá sem que alguém me encontrasse, afinal, eu não queria que Mia ou Chrissy, que estava alguns dias “de visita”, soubessem daquela missão. Sunny foi a única com quem eu resolvi compartilhar a informação, uma vez que era costume deixá-la a par de tudo e, além do mais, sabia ser uma boa conselheira-chefe temporária do chalé 12. Sendo assim, eu segui Ariel pelo local até o suposto portal do Mundo Inferior. Ele e Maysilee já haviam tido a experiência de estarem no submundo, portanto, o garoto realmente facilitaria as coisas. O problema é que agora precisávamos que a entrada se abrisse e para isso, seria necessário música - E por que você não me disse isso antes? – o questionei, mesmo já estando acostumado com a lerdeza natural do filho de Deméter. Ele lamentou, enquanto eu observava as duas rochas - Por que você não canta? – sugeri ainda sem olhá-lo. Mesmo tendo tido algumas aulas de teatro musical, minha irmã era melhor do que eu e além do mais, todos sabiam que minha especialidade envolvia instrumentos e não a voz. Ariel quase riu das minhas palavras, acreditando que eu pudesse estar brincando, mas então eu lhe lancei um olhar mais sério - Você sabe cantar, Abernathy – eu não estava mentindo. Quantas vezes o próprio roubava minha guitarra para arriscar algumas músicas de rock e fazer alguns showzinhos para amigos? Ele, por sua vez, fez uma piada sobre minha paternidade e a minha loucura. Cedendo, o garoto se aprontou para cantarolar e isso incluiu uma preparação vocal. Após uma demora e com uma pose, ele começou e... uma ruga brotou entre as minhas sobrancelhas. A seleção da música foi inacreditável. Apesar disso, aquilo foi fluindo e eu não contive uma risada baixa até acompanhá-lo com uma dança improvisada e palmas. No final, eu já estava fazendo um beatbox.

O som das rochas foi o que me despertou - Abriu, cara! – bati no peito dele algumas vezes. Uma grande escadaria estava diante de nós dois e eu nem perdi tempo para finalmente adentrar a Porta de Orfeu, sendo seguido por Ariel. Era uma vasta quantidade de degraus, o que certamente demoraria pouco mais de um minuto até chegarmos ao Mundo Inferior de fato. Se aproveitando disso para uma conversa, a voz do meu amigo soou numa curiosidade sobre como eu já sabia que os bilhetes tinham vindo de Zeus. Quando pensei em responder, ele também citou sobre o clima tenso que havia acontecido entre mim e o homem. Embora aquelas palavras tivessem sido acompanhadas de uma piada, eu parei a descida e o encarei na esperança de que com apenas isso, ele fizesse a matemática. Talvez eu estivesse sendo inocente demais, afinal, Ariel não era a pessoa mais esperta. Para falar a verdade, seu problema era delay para captar as entrelinhas. Quando ele demonstrou ter entendido, eu até me surpreendi, mas não, Ariel acreditou que eu havia feito alguma coisa para o desagrado do deus ao invés de fazer a relação com Mia. Ele queria uma confirmação - É, eu me apaixonei pela filha dele – pensei alto, apesar de ter falado mais para mim mesmo do que para o meu amigo. Acho que era a primeira vez que eu dizia aquilo em voz alta, ou melhor, passava a considerar. Até então, eu entendia que havia sido um interesse, nada muito compromissado, mas tanta coisa havia acontecido nos últimos meses, que eu não iria negar e dizer que era somente uma atração. Acho que diante de todas as circunstâncias, eu já havia passado disso há muito tempo. Assim, eu continuei o caminho. Eu senti a aproximação do filho de Deméter para querer saber mais sobre o assunto, mas meus olhos encontraram algo mais a frente: era uma criatura - Merda, olha ali – murmurei, apontando rápido. Uma mulher enrolada por uma cobra, com dentes afiados e asas, segurava um longo chicote. Uma Fúria estava diante de nós dois, próxima o suficiente para nos acertar se quisesse.

Ela já havia nos notado, o que fez Ariel bancar o ator e deixar claro que havíamos pegado um possível caminho errado. Eu o senti me empurrar para que fôssemos embora, mas no momento em que nos viramos, o chicote estalou nos primeiros degraus da escadaria e eu me assustei. Ao mesmo tempo, percebia meu amigo bem mais apreensivo e medroso do que eu, o que não era nada sensato. Eu sempre costumei ser o mais firme em situações como aquela, mesmo que por dentro eu estivesse apavorado. Em casos de perigo, era quase obrigatório que alguém tivesse a cabeça no lugar. Megera era o nome da Fúria e ela queria saber o motivo da nossa presença por ali. Girando os calcanhares em sua direção, eu a olhei, querendo mostrar tranquilidade e respeito - Estamos de saída – reforcei o último comentário do filho de Deméter e o virei para que retomássemos a subida novamente, mas o chicote estalou mais uma vez, só bem mais perto do meu corpo do que eu esperava. Foi com isso que o garoto se desesperou e desembuchou, quase se atropelando na própria fala que relatava todos os mínimos detalhes do encontro com Zeus até o presente momento. Eu não sabia se essa atitude havia colocado tudo por água abaixo, mas mais uma vez, não era como se eu não estivesse acostumado. No entanto, Megera se mostrou piedosa, embora não de propósito. Era apenas nosso dia de sorte, uma vez que estávamos a mando do rei dos deuses. Acontece que no decorrer da explicação toda, foi claro o receio da Fúria ao falar de Campe. Eu já tinha noção do perigo que corríamos com aquela missão, mas ver um monstro com medo? Era isso, nossa morte estava decretada. Na mesma hora, Ariel se deixou levar pelo desespero pela segunda vez, clamando que Zeus estava louco. Enquanto ele surtava, eu até voltei o olhar para a Fúria, forçando um sorriso como se pedisse desculpas pelo meu amigo. Em certo momento, ela apenas complementou as últimas palavras do garoto ao afirmar que muitos mortais morreriam em três dias, o que seria uma calamidade - Não vão – então me virei para Ariel - Se acalma, cara – adiantou? Claro que não. Foi por isso que eu levantei a mão e o estapeei, provocando-o finalmente a parar com aquela gritaria. Ele se acalmou e antes de terminar o que começaria a falar para a Fúria, eu o interrompi - Já estamos de saída – e o empurrei para que subíssemos de volta ao Central Park.

━━━━━━◇◆◇━━━━━━

Munido de meu arco e minha aljava, eu me vi no meio de Nova York depois de três dias. Antes mesmo de sair do acampamento, eu tinha oferecido a minha Rosa Galanteadora para Hera, num pedido por ajuda com Campe. Eu estava indo enfrentar um monstro que Zeus, Poseidon e Hades haviam temido, portanto, sabia dos riscos que correria. Uma benção da deusa nesse caso, me parecia mais do que apropriado. Pois bem, assim que chegamos no Central Park, eu e Ariel avisamos as ninfas sobre o que estaria prestes a acontecer e logo mais, eu comecei a me preparar. Meus olhos cravaram na Porta de Orfeu, mas era em meu amigo que a minha atenção se focou. Olhando-o de soslaio, percebi seu nervosismo. Era mais claro do que a luz do dia o quanto ele estava com medo. A questão era que eu não poderia transparecer o mesmo, pois eu sabia que seria pior. Sempre havia sido desse jeito. Confesso que era exatamente nesses momentos que eu pensava o motivo de não ter sido filho de Zeus, embora, se eu parasse para pensar, tinha herdado muito dele por ser seu neto. Um dos meus pontos fracos era esse medo de me mostrar vulnerável. Eu era corajoso, mas não iria ser hipócrita de dizer que não ficava como Ariel, por exemplo. A diferença era que eu guardava para mim, porque sabia que alguém precisava ser a fortaleza, e a minha vida inteira tinha sido desse jeito. Não era agora que eu iria mudar - A gente vai conseguir – apertei o ombro do garoto para incentivá-lo, no que ele perguntou como eu poderia saber disso - Porque coragem é saber o que não temer – numa bela entonação dramática, eu recitei um dos muitos diálogos do teatro que eu sabia de cor e salteado. Aquilo soou tão natural, como se eu nem tivesse pensado, que eu até estranhei - Shakespeare – em resposta, um Ariel risonho admitiu que aquelas palavras não haviam ajudado - Cara, ser corajoso não é sobre nunca sentir medo, mas sim sobre entender o que realmente precisa ser temido. É como quando você está com medo de algo, mas percebe que esse medo não é necessário porque a situação não é tão assustadora quanto parece. Ser corajoso envolve enfrentar desafios mesmo quando você está um pouco assustado, porque você sabe que o medo não deve impedir você de fazer o que é certo. É como quando você sabe quais coisas realmente devem ser temidas e quais não precisam, e mesmo assim, você segue em frente e enfrenta o que precisa ser enfrentado.

Aquele era apenas o significado implícito por trás das palavras da peça de Hamlet, mas eu sabia que um discurso estimulante poderia não vir a calhar com o filho de Deméter. Assim, eu desviei os olhos para a Porta de Orfeu - Ou então a gente desiste, deixa Campe matar a gente, ninguém teme mais nada e você não ganha um beijo da Maysilee – o sorriso no canto dos meus lábios foi só crescendo mesmo antes de ele me rebater. Quando uma reclamação enfim veio, eu não consegui me conter ao fazer uma imitação bem forçada e dramática da filha de Hades - “Ai, Ariel! Você não me quer, eu vou chorar! Eu não mereço isso, eu só queria que você ficasse comigo!” – ele riu, me dando algumas tapas, mas eu revidei com aquela velha briguinha de socos. Foi quando um estrondo denunciou a movimentação das duas pedras da entrada para o submundo. O clima pesou absurdamente. Um monstro gigantesco deu as caras pela passagem, revelando suas pernas de dragão e seu corpo de centauro com asas. Era a criatura mais horrenda que eu já havia visto e assustadora, se fosse contar com seu tamanho. Além disso, três cabeças de animais diferentes compunham sua cintura. Se reparasse mais detalhes, era possível ver sua enorme cauda de escorpião e duas cimitarras em suas mãos, sendo que em uma, havia Megera empalada. Eu não esbocei nenhuma reação, era impraticável até me mover. Eu parecia estar dentro de um filme de terror, mas apenas eu e Ariel víamos o assassino. Sua voz grave e intimidadora, parecia que exalava o veneno de uma cobra e apesar disso parecer ser mais como uma metáfora, incrivelmente, não era. O hálito de Campe era literalmente devastador. Eu dei um passo para trás, colocando o arco sobre o rosto, numa esperança de me proteger daquele gás tóxico, mas Ariel pediu que eu engolisse uma semente. Era a tal da Salvação Invernal da qual ele tinha posse, algo que nos ajudaria com o ar poluído. Sem hesitação, eu tomei uma e a enfiei garganta abaixo.

Ameaças surgiram da boca de Campe até que ela se preparasse para começar o ataque, mas a voz de Ariel quebrou toda a tensão. Meus olhos desceram lentamente até rolarem para meu amigo. Ele estava... cantando? Eu nunca imaginei que compartilharia um sentimento com um monstro e era exatamente isso que acontecia. Aos poucos, “Don’t Stop Me Now” do Queen foi ganhando uma performance. O filho de Deméter começou a dançar e eu continuei a observá-lo em confusão, mas quando levantei os olhos para notar a criatura, ela parecia estar bem longe de agir. Ariel estava ganhando tempo. Ele rapidamente se virou para mim e apontou, aumentando ainda mais a voz - Don’t stop me nooow – iniciei o backing vocal meio receoso se ajudaria, mas tão logo me soltei e o acompanhei na dança. Os passos foram improvisados, mas sintonia era algo que ninguém poderia negar que eu e Ariel tínhamos. Tudo parecia uma perfeita e sincronizada coreografia no tempo certo. Eu estava cedendo à minha loucura, aproveitando do momento, mas atento em Campe. No meio de tudo, eu notei os olhos concentrados do filho de Deméter, como se ele estivesse aproveitando para nos salvar ao mesmo tempo. Era realmente uma grande distração, só precisávamos de tempo suficiente. Naquele momento, eu só queria minha guitarra para conseguir aumentar ainda mais aquela dinâmica. Ramos começaram a subir pelas pernas da criatura e foi por isso que eu continuei a cantar mais alto e estressado, para impedi-la de notar - I’M BURNING THROUGH THE SKY, YEAH! 200 DEGREES, THAT’S WHY THEY CALL ME MISTER FAHRENHEEEEEIT – então, Ariel cortou a cantoria e me sinalizou num grito. Eu empunhei o arco, tirei uma das flechas da aljava e a posicionei agilmente, atirando-a sem muita demora em um dos olhos dela. No segundo seguinte, repeti, mirando no outro. O grito que se sucedeu foi alto demais a ponto de nos desconcentrar. Enfrentar um monstro tão gigante era a nossa maior dificuldade, principalmente por ela ter conseguido se soltar dos ramos.

Agora, Campe voava na minha direção com suas espadas a postos, no que eu precisei me jogar para o lado para desviar. Ariel se aproximou apressado e logo começou a travar uma luta de armas com a mesma. Movido pela adrenalina, eu precisava ajudar o filho de Deméter que, pelo peso e força da inimiga, se via deitado no chão do parque. Correndo para me afastar significativamente, eu preparei mais uma flecha e empunhei o arco - EI, SUA DEMÔNIA! – ela se virou irada e eu soltei o objeto para acertá-la. Foi numa sequência: a cada tiro, eu buscava por outra flecha e repetia. Acontece que elas não pareciam surtir tanto efeito, até porque Campe era poderosa e grande demais. Minhas munições mais pareciam fazer cócegas em seu corpo. O lado bom disso, ao menos, era que seu foco iria ser dividido, o que a dificultaria. Querendo ou não, ainda eram dois contra um. No que seria meu último tiro daquela leva, vi Ariel já usar de sua foice para ferir a criatura em uma das asas. Como forma de se defender, ela alçou voo, levando o semideus junto, embora não por muito tempo. Ele foi lançado assim que sua arma se soltou do local - ARIEL! – gritei ao vê-lo cair brutalmente e rolar. Foi nesse momento que eu acabei me desconcentrando e só percebendo que Campe estava próxima, tarde demais. Uma de suas cimitarras arranhou a lateral da minha perna. Se não fosse pelos meus reflexos, a arma poderia ter atingindo uma área bem mais alarmante do meu corpo. Eu acabei caindo no chão, mas não vacilei e recolhi outra flecha na máxima velocidade, conseguindo atingi-la em uma de suas pernas de dragão. Campe voou mais alto num mecanismo de defesa, o que me permitiu me levantar e correr até meu amigo no outro lado do parque - Ariel! Você está bem?! – eu estava coberto de tensão, estressado e preocupado. Ele percebeu sangue vertendo do meu machucado - Estou! Levanta – respondi sua pergunta sobre meu estado. Ele queria saber como era possível que o monstro continuasse a nos enxergar com os olhos incapacitados - Ela ainda tem os olhos dos animais na cintura – aproveitei do momento para recuperar o fôlego. O filho de Deméter logo me retrucou, seu tom de voz como um julgamento diante do fato de que eu não havia cegado aqueles outros pares de olhos - Ah, me desculpa se seus ramos não conseguiram segurar ela a tempo – a tensão estava se criando entre nós dois, mas não era por mal. Com os olhos arregalados, Ariel me questionou o que eu queria que ele tivesse feito. No entanto, eu demorei para responder dessa vez, porque sabia que resultaria em mais um de seus surtos - Você precisa desmembrá-la com a sua foice.

A resposta foi tão alta que eu até apertei as pálpebras, sentindo um zumbido no ouvido. Ele estava indignado com a ideia, porque não sabia fazer aquilo. Enquanto isso, Campe começava a dar indícios de se aproximar para mais um ataque - Toma isso aqui – ofereci meu arco e aljava para o garoto, praticamente as empurrando em seu peito. Em troca, eu tomei a foice de suas mãos e corri até a criatura já no chão. Eu vi flechas voando até que uma a atingisse e ela se curvasse, me dando chance de arrancar um de seus braços fora. Com um grunhido, eu coloquei tanta força em dois golpes seguidos, que uma gosma preta jorrou colorindo metade do meu corpo. Era seu sangue. Ainda assim, eu automaticamente me virei para Ariel, erguendo a foice e comemorando com o garoto... e esse era um dos meus vacilos. Por vezes, eu conseguia deixar minha ingenuidade à mostra ou cantar vitória antes do tempo, provavelmente porque estávamos numa situação tão arriscada, que qualquer batalha vencida era um motivo para celebrar. Então, eu percebi o filho de Deméter arregalar os olhos e eu me virei de prontidão, avistando a outra cimitarra na minha direção. No mesmo instante, algo rodeou meu corpo e me puxou para o lado num movimento acelerado. Se não fosse pelo poder do garoto com plantas e raízes, eu ia ter morrido ali. Eu só percebi Ariel quando ele brotou do meu lado, afirmando que mesmo que a gente a desmembrasse por inteiro, Campe ainda assim não seria derrotada. Eu olhei ao meu redor assim como ele, na esperança de conseguir ter alguma ideia, mas foi Ariel que avistou a cimitarra na mão decepada. Aquela arma era poderosa tanto quanto o monstro em si, o que seria a chave para conseguir enfim destruí-lo. Nós dois nos entreolhamos com uma vivacidade maior do que antes daquela luta. De uma hora para a outra, tudo pareceu simples, como se um milagre tivesse acabado de acontecer. O garoto tomou sua foice da minha mão e devolveu meu arco e flechas - Ei – o chamei antes que ele se afastasse - Você namora uma filha de Hades, precisa usar uma foice direito – deixei um sorriso de canto escapar assim que o vi se envergonhar.

Os sons de Campe nos despertaram a atenção e Ariel tocou meu ombro para me incentivar. Eu o lancei uma rápida olhadela e concentrada, antes de correr até a cimitarra envolta na mão cortada. Guardando o arco nas costas, eu grunhi novamente, embora agora estivesse mais enjoado pela gosma ao redor daquele braço. Ainda assim, consegui me munir daquela arma afiada e a girei no ar tranquilamente. Naquele momento, eu senti uma coragem subir dos pés à cabeça. Havia uma bravura me dominando como nunca, uma confiança inesperada. Eu girei os calcanhares assim que me vi atrás de Campe. Me atentei em Ariel travando sua foice com a única espada da criatura e aguardei até que o momento certo acontecesse. Contudo, justamente esse momento parecia estar demorando. O semideus, aos poucos, parecia perder forças, embora fosse claro o quão empenhado ele estava. Era inevitável, o ser era forte demais para Ariel combatê-lo sozinho. Eu precisava ajudar, mas como? Mesmo se eu desistisse por um tempo daquele nosso plano somente para acobertá-lo, as chances poderiam voltar a diminuir. Sabe-se lá quando teríamos um momento perfeito para matá-la finalmente. Foi pensando nisso que eu notei um vulto ao longe e atrás do filho de Deméter: ninfas. Meus olhos captaram uma delas, que por sua vez, respondeu ao olhar. Balançando de leve a cabeça em positivo, a conversa visual se fez. Os seres da natureza haviam entendido o recado e foi só questão de tempo até dezenas de arcos serem vistos entre arbustos do Central Park. Não era nem por nós dois, mas sim porque Campe estava no território delas. Flechas foram atiradas na direção da criatura, fazendo-a desfocar de Ariel e o permitindo se reerguer. Era a hora. Caminhando até o monstro, eu girei a cimitarra na mão e a segurei mais precisamente, antes de levantá-la e fincá-la nas suas costas. A lâmina atravessou o peito de Campe. Aquele ato pareceu durar tempo demais, como se ela demorasse a sofrer, mas senti o desequilíbrio de seu corpo logo depois e me afastei consideravelmente. Porém, observando-a cair de lado, outro acontecimento inesperado: ela iria arrastar sua cauda em direção ao meu amigo. Antes que eu fizesse força para gritar, fui surpreendido pela foice de Ariel martelando aquele membro, dando fim à guerra.

Eu agora poderia respirar em paz. Com a morte oficial, meus ombros relaxaram e a comemoração do filho de Deméter sobre ter realizado um desmembramento, aumentou ainda mais a sensação de alívio. Tombando a cabeça para trás, eu ri. Na sequência, Campe urrou uma última vez e explodiu num pó dourado. Eu voltei os olhos para um Ariel imundo de sangue preto assim como eu e me aproximei, tomando a espada que eu tinha acabado de usar do chão. Ele falava como duvidava que Héstia fosse me deixar ficar com a arma. Ao mesmo tempo, eu me agachei para tocar o braço decepado, sorrindo com as palavras do garoto. De fato, aquela era uma verdade, mas sinceramente, eu também não desejava tomar posse daquilo. Era hora de voltar para o acampamento.
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Re: Central Park

Mensagem por Ariel Dominique Abernathy Qui Ago 31, 2023 10:38 pm

O Poder Da Música
XX:XXVários lugaresPS07
Parte 1: O Homem Do Terno Cinza {Dia 1 - 10:21 - Punho de Zeus}

Na floresta, Ariel andava olhando mais uma vez para o bilhete cujas únicas palavras escritas eram “Vá até o Punho de Zeus”. Deveria ser a décima vez que ele encarava o bilhete, por mais que o mesmo não fosse mudar. Ele sequer estava prestando muita atenção nas suas imediações, facilmente quase batendo em árvores como se fosse um mortal andando com a cara no celular no meio da rua. O garoto estava pensativo em quem poderia ser o remetente da mensagem, considerando que não veio assinada. O meio de entrega daquele bilhete também não tinha sido comum: uma águia. Que Ariel soubesse, os pombos que eram o correio, não as águias! Mas tudo bem, sendo um semideus você aprende que no mundo mitológico tudo é possível. No meio do caminho, Ariel bateu em uma árvore, o que convenhamos já era uma tragédia anunciada. Exceto que, ao olhar para a tal árvore, Ariel percebeu que na verdade tratava-se de uma pessoa, e não qualquer pessoa, era Cole! - Ah, Cole, você pode aqui! - O garoto falou de forma animada, passando o seu bilhete para o amigo. - Olha o que eu ganhei. Sei lá de quem. Admirador secreto? - Maysilee? O pensamento foi inevitável, mas Ariel facilmente o refutou, May não parecia ser daquele tipo, era direta demais, se quisesse falar com Ariel apenas falaria, não ficaria enviando bilhetes misteriosos. Logo, Ariel veio a descobrir que o bilhete também não era de outra possível admiradora secreta, isso porque Cole tinha recebido um exatamente igual e também estava indo para o Punho de Zeus. Isso explicava porque eles tinham se encontrado no caminho, não foi apenas uma coincidência. - A gente andou zoando alguém ultimamente que queira se vingar? - Pergunta idiota, Ariel não fica zoando as pessoas para merecer isso, mas foi o seu primeiro pensamento. Porque alguém iria querer chamar Ariel e Cole para o Punho de Zeus sem se identificar? Boa coisa não deveria ser.

Em alguns minutos, os garotos chegaram até o amontoado de pedras conhecido como Punho de Zeus e ali encontraram um homem ruivo de terno. Uh, que chique. Não é todo dia que você vê um cara de terno em um acampamento. O homem olhou por alguns longos minutos na direção de Cole… Ariel sentiu uma espécie de climão entre eles, mas não quis comentar nada. Em seguida, o ruivo direcionou o seu olhar para o filho de Deméter. - E aí. - Ele disse acenando com uma das mãos. Esperava Ariel um cumprimento em troca, mas o que recebeu foi o seu nome sendo citado junto de seu amigo… E pelo que indicava, aquele homem deveria ser um deus, já que sabia o sobrenome de ambos e falava com aquele “ar solene de quem vai te passar uma missão”. Menos estranho do que Afrodite. É… O charme de Afrodite era uma coisa que Ariel não gostava muito de recordar. O homem disse que uma antiga inimiga havia conseguido se regenerar, possivelmente com a ajuda de alguém que ele ainda iria descobrir quem era, mas que, enquanto isso, se contentaria com destruí-la e lançá-la de volta “ao tormento”. E ele precisa avisar para gente que vai destruí-la e blá blá blá? O garoto pensou, ainda não entendendo bem o porquê daquele encontro. Logo após, o homem do terno informou que um dos dois garotos estava familiarizado com o Mundo Inferior, portanto, eles conseguiriam encontrar mais informações a respeito de quem vão enfrentar. Pensei que você tinha dito “me contento em apenas destruí-la e lançá-la de volta ao tormento”, agora é “quem vão enfrentar”. Olha, Ariel não era muito de ficar corrigindo os deuses, mas essa mania de dizer que vão fazer alguma coisa e, no fim das contas, na verdade quem vai fazer é um semideus… Vacilo viu! Agora, voltando, Ariel percebeu que a menção do Mundo Inferior era para ele, mas ele não queria voltar para aquele lugar sem vida! Já bastou ter que fazer uma visitinha a terra dos mortos por conta de Afrodite, não precisava de mais visitas àquele lugar onde não cresce sequer uma plantinha! Se ele tentasse invocar plantas por lá, o que iria conseguir? Raízes mortas? Péssimo!

Ariel cruzou os braços enquanto o homem continuava com a sua falação, agora dizendo que Campe passaria por um dos portais do Mundo Inferior em três dias, os garotos deveriam estar esperando ela do lado de fora, na superfície, para enfrentá-la. Campe, a carcereira do Tártaro? Não, deve ser outra. Ariel pensou, porque considerando as histórias que ele sabia sobre a carcereira do Tártaro, ele e Cole não tinham a menor chance. Nos mitos que Ariel viu em algumas aulas de Grego Antigo, Campe era conhecida como “o pior pesadelo dos piores pesadelos”. Alguns mitos diziam até que, quando Zeus, Poseidon e Hades a viram pela primeira vez no Tártaro, quando foram resgatar os hecatônquiros e os ciclopes anciões, eles ficaram horrorizados com o primeiro vislumbre. Então, com certeza não era dessa Campe que aquele homem estava falando. Aquele homem deveria pedir ajuda dos três grandes, isso sim! - Ei Cole… - Ariel sussurrou para o amigo. - Quem é esse cara? - Ele perguntou enquanto o homem do terno falava sobre Campe empunhar duas espadas venenosas. Também em voz baixa, Cole respondeu rapidamente que aquele era o próprio Zeus. - MINHA NOSSA! LORDE ZEUS! - Ariel rapidamente ajoelhou-se no chão e fez uma reverência. Se Zeus ligou ou não para isso, o garoto não soube dizer, porque enquanto estava ali, abaixado e com os olhos pregados na terra, o deus falou que eles seriam recompensados depois de derrotar Campe e foi embora usando o seu brilho cegante de luz divina. Ariel levantou-se e olhou para um Cole, que parecia quase querer bater uma mão em sua própria testa. - O que foi? A gente tem que demonstrar respeito pelo senhor do Olimpo! - Sim, ele ficou completamente alheio ao fato de que demorou demais para perceber que o homem do terno era o tal senhor do Olimpo. É, esse é um dos semideuses que vai enfrentar Campe, a pior dos monstros tirando os conhecidos como mãe e pai, ou seja, Equidna e Tifão.

Parte 2: Zeus Está Louco {Dia 1 - 15:46 - Porta de Orfeu}

Ariel não esperava ter que retornar ao Mundo Inferior, mas foi essa a decisão que ele e Cole tiveram durante o almoço. Obviamente, os dois informaram a Héstia sobre a missão, que ficou bastante apreensiva com a história de “enfrentar Campe”. Será que ninguém ainda tinha entendido que não era a Campe carcereira? Zeus não seria tão louco em confiar isso a apenas dois semideuses sabendo que, nos mitos, foram necessários os três grandes para derrotá-la. Enfim, a deusa da lareira achou prudente que os garotos fizessem o possível para descobrir por qual passagem Campe iria aparecer antes dos três dias informados por Zeus, o quanto antes começassem a busca melhor, portanto, deu passe livre para eles saírem do acampamento quando precisassem. Foi assim que, na tarde do mesmo dia em que Zeus apareceu, Ariel e Cole foram para o Central Park, sendo levados até Manhattan por Argos na van do acampamento. - É por aqui… - Disse o filho de Deméter enquanto investigava duas grandes rochas, uma ao lado da outra, no parque. - Bom, ela só abre através de música… Precisamos de música. - Adivinha só? Nenhum deles tinha música. Fala sério, como eu pude me esquecer de pedir emprestado uma flauta de sátiro? Ariel pensou, considerando que ele sabia sobre a exigência da Porta de Orfeu. Ele passou a conhecer aquela passagem depois de sua missão com Maysilee e de seu próprio interesse na garota. Mesmo que não gostasse muito de assuntos mórbidos, Ariel gastou algumas horas na biblioteca para estudar o Mundo Inferior e seus segredos. Ele não queria mais ser tão paspalho na frente de Maysilee quanto foi naquela missão. A Porta de Orfeu era algo dito nos mitos, mas que poucos semideuses sabiam que estava tão próxima: ali, no Central Park, em Nova York, entre duas grandes pedras, bastando música para que fosse ativada. Enquanto o garoto lamentava o seu esquecimento, Cole deu a sugestão de que ele deveria cantar, afinal, a voz também faz música. - O que? - Ariel perguntou com uma risada um pouco desdenhosa. Já tinham dito antes que ele canta bem, mas falando a verdade, ele nunca tinha investido nisso ou acredito ser um bom cantor. Ele acreditava que as pessoas só deveriam estar sendo gentis. Cole, porém, incentivou Ariel a tentar, afinal, não tinham nada a perder. - Cara… Você tem umas ideias loucas mesmo. - Foi um elogio, considerando que Cole é o filho do próprio deus da loucura.

- Mimimimi… - Ariel gastou alguns minutos aquecendo a sua voz e mexendo em sua garganta, então fez uma pose e começou a cantar. - I'm blue… Da ba dee da ba di… Da ba dee da ba di… Da ba dee da ba di. - Que foi? Foi a música mais simples que ele conseguiu pensar. Olha só para essa letra, não tem erro! Com o passar dos segundos, Cole começou a bater palmas no ritmo da música e Ariel se empolgou, fazendo uma dancinha ao estilo robô que, devo dizer, fez algumas ninfas do Central Park ficarem horrorizadas como se estivessem vendo a própria Campe carcereira. Parece que o talento que Ariel ganhou para cantar ele não ganhou para dançar, mas não vamos contar isso para ele agora, ele achou que estava arrasando, não vamos destruir os sonhos do menino. Depois desse breve showzinho particular ao vivo, uma escadaria decrescente apareceu entre as duas rochas. Ali estava a Porta de Orfeu aberta. - Olha, acho que vou começar a investir nesse negócio de cantar. - Disse o garoto, seguindo em frente e começando a longa descida, não demorando para, logo nos primeiros degraus, puxar assunto. - Então, como você sabia que era Zeus hoje de manhã? Ele nem se apresentou. - Ariel perguntou, genuinamente curioso. - Alias, mó torta de climão entre vocês dois. Você andou fazendo alguma missão que o rei do Olimpo não gostou e não me contou? - Seu tom de voz vinha como uma falsa acusação, uma simples provocação entre amigos. Cole lançou um olhar em resposta, o filho de Deméter aguardou com expectativa por alguma fala, mas nada veio do amigo. Aos poucos, ele foi fazendo lógica daquela atitude. - Caramba! - Ele chegou a uma conclusão. - Você realmente fez algo grave que Zeus não gostou! - Isso, essa foi a conclusão dele e não “ah, você está gostando da garota filha de Zeus, praticamente uma coisa que várias pessoas já se deram conta, mas não o seu melhor amigo super tapado”. Como resposta, Cole resmungou alguma coisa que Ariel não conseguiu ouvir direito. - O que? - Ele perguntou com curiosidade, mas ao invés de saber da “fofoca”, Cole apontou para frente, alguns degraus abaixo, indicando um monstro ali… E não era qualquer monstro.

A monstra era uma mulher nua cujas partes íntimas vinham tapadas por uma cobra que enrolava-se ao longo do seu corpo. O rosto dela era jovem e bonito, mas os dentes afiados amarelos parecendo os de um tubarão faziam aquela visão ficar bem medonha. Ela também tinha garras afiadas e longas nas mãos e nos pés. Nas costas, um par de asas de morcego erguia-se imponente. A monstra segurava em uma das mãos um chicote flamejante. Iluminação não tinha sido um problema na passagem até agora, considerando algumas tochas existentes nas paredes de pedra da escadaria, mas aquele chicote deixou a visão da criatura claríssima: aquela era uma das fúrias. - Oh, minha nossa… Pegamos o caminho errado! - Disse um fingido Ariel numa atuação canastrona. - Nós já estamos de saída! - Ariel começou a empurrar Cole para que começassem a subir as escadas quando o chicote da fúria estalou próximo a eles, no chão, deixando uma marca chamuscada em um dos degraus. - O que fazem aqui, semideuses? Eu sou Megera, já castiguei muitos mentirosos. - Disse a fúria. Na opinião de Ariel, ela realmente era uma megera. Ele não sabia, mas Megera era a fúria que pune, em sua maioria, pessoas infiéis aos seus cônjuges e, por isso, ela realmente já tinha castigado muitos mentirosos. Ariel manteve-se calado, considerando que o negócio de “castigar mentirosos” foi para ele. Cole, por sua vez, parecia bem mais firme e menos amedrontado. Ele olhou nos olhos da fúria e disse: estamos de saída. Assim, ele começou a dar meia volta, mas Megera estalou o seu chicote novamente e aquilo foi demais para Ariel. Ela quase acertou a cabeça de Cole! - TÁ BOM, TÁ BOM! - O filho de Deméter falou levantando as mãos para cima em sinal de rendição. - Zeus apareceu para a gente e nos mandou matar Campe, disse que ela iria aparecer em três dias por algumas das passagem do Mundo Inferior, mas a gente não sabia qual, então a gente almoçou e pensou: ah, vamos para o Mundo Inferior descobrir então. Eu não gostei muito da ideia de descer aqui, mas não tinha o que a gente fazer, então a gente foi para o Central Park, eu cantei I’m Blue e abri a Porta de Orfeu, aí a gente começou a descer e encontramos você, senhora dos mentirosos. - Desembuchou Ariel, contanto a história inteira por mais que algumas partes dela não fossem do interesse da fúria. Apesar disso, as expressões da monstra pareceram gostar da parte “senhora dos mentirosos”, como se ela fosse a dona dos que mentem. - Hoje é o dia de sorte de vocês, semideuses. Se não fossem os enviados por Zeus, nunca mais voltariam para a superfície. - Ariel engoliu seco. - Hades soube que Zeus iria enviar alguns semideuses. A passagem que Campe irá usar é essa. A mais próxima do Monte Olimpo, o lugar que ela faria questão de destruir. O Mundo Inferior está em alerta, os castigos pararam graças ao esquema de segurança. Eu sou a última linha de defesa da Porta de Orfeu. Se ela passar por mim, restará ao mundo vocês na superfície. - O jeito que a fúria falou fez a ficha de Ariel cair. Uma criatura orgulhosa dessas falando que poderia ser derrotada? O pior foi ver algo que Ariel jamais pensou que veria na vida: uma fúria com expressões de medo. Não era uma Campe qualquer que eles iriam enfrentar… Era a Campe carcereira!

- ZEUS ESTÁ LOUCO! - Disse Ariel lançando os braços para cima várias vezes, indignado. - ZEUS… ESTÁ… LOUCO… - Ele falou para Cole. - LOUCO. - Ele falou para a fúria, esquecendo de ter medo dela porque agora tinha um medo bem maior. - ELE QUER QUE… A GENTE… MEROS SEMIDEUSES… MATE O PIOR DOS MONSTROS? LOOOOOOUCO. - O garoto gritou alto, sua voz ecoou por longos metros na escadaria de Orfeu. A fúria ficou sem reação e podia-se jurar que ela resmungou “muitos mortais morrerão daqui três dias”. Cole rebateu a fúria e depois falou para Ariel se acalmar, mas o filho de Deméter pouco ouviu o amigo. - A GENTE VAI MORRER! EU SOU MUITO JOVEM PAR… AAAAAAAAAU - Ariel acabou de receber um tapa na cara. Nos primeiros segundos, o garoto sentiu-se indignado com o amigo, mas logo percebeu que aquilo o fez parar com aquele surto. - Eu te perdoo só dessa vez. - Ele disse, mesmo que Cole não tivesse pedido quaisquer desculpas. - Bom, dona Megera… - Ariel começou e Cole não demorou a completar que eles estavam de saída. Dessa vez, ao se virarem, não houve qualquer estalo no chicote da fúria. Eles começaram a subida de volta e Ariel não pode deixar de retrucar mais vezes sobre como Zeus estava louco.

Parte 3: O Pior Pesadelo Dos Piores Pesadelos {Dia 4 - 13:30 - Central Park}

Três dias depois, Ariel e Cole estavam de tocaia no Central Park, ambos preparados com os equipamentos que tinham e puderam levar. Ariel estava com a sua foice e também mantinha dentro do bolso algumas sementes do Salvação Invernal. Ele também pintou as suas unhas com o Esmalte Fenty na cor vermelha, o que, segundo o modo de uso daquele item de Afrodite, o daria mais poder de combate. Ele certamente iria precisar, considerando que estava para enfrentar o pior pesadelo dos piores pesadelos. Durante o tempo em que esperaram, eles conversaram com as ninfas que moram nas árvores do parque e avisaram sobre o que iria acontecer. Elas, obviamente, ficaram chocadas com a notícia. A espera foi tão agoniante que Ariel mal quis conversar depois disso. Ele estava apreensivo, olhando para o par de rochas por onde a Porta de Orfeu poderia abrir-se a qualquer momento e revelar um monstro que botou medo até nos três grandes. Ele ainda achava que aquilo era tudo uma grande loucura, e por mais que fosse ser uma pessoa leve, bem humorada, o “palhaço do grupo”, Ariel estava com medo do que iria enfrentar. Ele estava com medo de não conseguir, de não retornar ao Acampamento Meio-Sangue. Estava com medo de não viver tantas coisas que gostaria de viver. Poxa, ele ainda tinha que conquistar Maysilee! E conhecer a sua mãe, porque nunca teve oportunidade de falar com Deméter… Tinha também que investir na sua mais nova carreira de cantor… E também tinha que descobrir se no Monte Olimpo existia um banheiro para os deuses… Será que os deuses precisam fazer necessidades? Tantas coisas ainda faltavam em sua vida! A ansiedade estava palpável em suas expressões, no ato dele estar mantendo-se calado, algo nada normal em se tratando de Ariel. Cole percebeu isso e, eventualmente, colocou uma mão no ombro do amigo e falou que eles iriam conseguir derrotar Campe. - E como você sabe disso? - Ariel perguntou com mais seriedade do que gostaria, e Cole respondeu que coragem é saber o que não temer, em seguida falando que era uma citação de Shakespeare. - Você sabe que isso não ajudou, certo? - Ariel perguntou dando uma leve risada, considerando que não tinha entendido o significado da citação. Cole, a partir daí, deu um belo sermão ala Mestre Yoda, falando sobre como ser corajoso era muito mais do que não sentir medo, era ter medo, mas mesmo assim continuar lutando… Mas ao final de tudo, ele disse que dois poderiam desistir, deixar Campe matá-los, ninguém mais ficaria com medo de nada e Ariel também não ganharia beijo da Maysilee. - Eeeeeeeei, eu nunca disse isso! - A resposta veio de forma intuitiva e impulsiva, mas logo o filho de Deméter sentiu ficar um pouco envergonhado em ter admitido tão fácil que queria um beijo de Maysilee, e é claro que Cole não perdeu essa oportunidade. Ele começou a fazer uma dramática imitação de Maysilee triste porque Ariel não a queria (como se preferisse morrer para Campe). - Paaaaara, seu idiota! - Ariel falou começando a dar tapinhas em Cole, aquela típica briguinha onde ninguém sabe quem tá batendo em quem… Até um estrondo fazer eles pararem e olharem para as rochas que delimitavam as Portas de Orfeu.

Se você perguntar para Ariel como um ser vivo do tamanho de Campe conseguiu sair pela Porta de Orfeu, que não é lá tão grande, ele não saberia responder, mas foi exatamente isso o que aconteceu. Pouco a pouco, Campe se esgueirou pela passagem e foi saindo, revelando todo o seu corpo monstruoso. A primeira coisa que apareceu foi duas de suas pernas draconianas, cujos pés eram patas com garras robustas e tão grandes que davam a canela toda de Ariel no quesito altura. Depois disso, o resto do corpo de dragão começou a aparecer mais, cujas escamas eram pretas e, na parte de cima, formavam um padrão listrado de branco e preto. Ao todo, Campe tinha quatro pernas. Não demorou para o tronco humano aparecer logo em seguida, porque Campe era como um centauro, mas a parte de baixo, em vez de ser um cavalo, era um dragão. Inclusive, ela tinha asas. Ela não era nada bonita de rosto, parecia uma face distorcida e medonha, no lugar de cabelos vinham cobras, como no mito da Medusa, e suas pálpebras abriam e fechavam constantemente na vertical, como os répteis. Se já não bastasse todos esses detalhes nem um pouco bonitos, a cintura de Campe era composta pelas cabeças de três animais: um urso, um javali e um tigre… Quer dizer, na verdade eram um tigre, um crocodilo e um lobo… Quer dizer, a cada segundo as cabeças pareciam mudar de forma e assumir novos animais ou mutantes híbridos entre esses animais, algo totalmente antinatural que deixou Ariel um pouco enojado. Campe, então, finalmente conseguiu sair completamente da Porta de Orfeu, erguendo o seu rabo que era igual a uma grande cauda de escorpião e colocando seus braços um para cada lado como se estivesse experimentando a liberdade de um lugar mais aberto. Em suas mãos, ela carregava duas cimitarras (espada de lâmina curva), e numa dessas cimitarras estava o corpo atravessado de Megera. A fúria não teve chances. Megera… Ariel pensou, horrorizado. Ele podia sentir as suas pernas ficando bambas e o seu corpo mais leve, como se ele fosse ter um desmaio. Como ele poderia enfrentar um monstro como aquele? Era demais. Megera se contorcia com o corpo cravado na espada, mas isso só durou alguns segundos antes dela desfalecer por completo e explodir em pó dourado. O único alento possível para essa cena era saber que a fúria voltaria, porque ela era um monstro e todos os monstros se regeneram com o tempo… Mas isso não era uma verdade para semideuses, justamente o que Ariel era. Ele não queria morrer. - Semideuses. - Campe falou olhando para Cole e Ariel, percebendo a presença de ambos. A voz dela era tão amedrontadora quanto o seu corpo, tinha traços silvados como uma cobra, mas também fortes como se fossem o rugido de um dragão e trazia um aspecto de “antigo”, como se Campe fosse a primeira dos monstros a existir e conhecesse todo o mundo. Além de impor o medo, ela também impunha o respeito. Contudo, o pior foi o hálito dela. Mesmo que ainda estivesse alguns metros distantes dos semideuses, o hálito dela viajou como se ela mesma espalhasse uma nuvem tóxica de todos os poros do seu corpo. Ariel ficou nauseado e se antes pensou que ia desmaiar, agora ele acreditava que estava muito perto disso: iria desfalecer antes mesmo de conseguir sequer empunhar uma arma contra Campe. Desesperado, ele se lembrou das sementes no bolso de sua calça, enfiando a mão ali e rapidamente comendo uma. - Engole isso. - O garoto disse dando uma semente para Cole. - Vai ajudar com tanto veneno espalhado no ar. - A Salvação Invernal existia para compensar fraquezas, e naquele momento a fraqueza dos dois campistas estava sendo aguentar aquele bafo que por si só parecia venenoso para qualquer coisa que não fosse um monstro.

- Crias do Olimpo… Vocês serão ótimos aperitivos antes da minha chegada ao Monte Olimpo. Eu vou degolar a cabeça de seus pais, seja eles quais forem. - Muitos monstros fazem ameaças da boca para fora, mas a ameaça de Campe… Era totalmente verdadeira. Ela mexeu suas duas cimitarras como se estivesse as arrumando nos punhos, em segundos iria atacar. Ariel teve uma ideia maluca. - Toniiiiiiight I'm gonna have myseeeeeelf a real good time… - Ele começou a cantar. - I feel aliiiiiiii… Iiiiii… Iiiiii… Iiiive… - E estava funcionando, porque Campe, em vez de atacar, ficou parada observando aquela cena estranha aos seus olhos. - And the woooooooooooorld I'll turn it inside out, yeah… - Ariel, então, começou a fazer uma performance, como se estivesse interpretando a música, o que deixou Campe ainda mais confusa. - I'm floating around in ecstasy… - Provavelmente a monstra deveria ter lidado durante toda a sua vida com semideuses ou correndo dela ou enfrentando ela, não semideuses que começam a cantar. Parecia que estava acontecendo um curto circuito nos neurônios de Campe. Ela nem conseguia perguntar o que estava acontecendo. - So, don't stop me now… - Disse Ariel apontando para Cole, que captou a ideia, ainda mais porque ela estava funcionando, nem que fosse para postergar a morte deles. Continuando a música, Cole repetiu o “don’t stop me now”. - 'Cause I'm having a good time, having a good time… - Cantou Ariel enquanto fingia dar uma corridinha no mesmo lugar. - I'm a shooting star leaping through the sky like a tiger… - E a partir daí começou uma cantoria animada em que Ariel e Cole fizeram um par de dança. Não, Ariel não começou a dançar bem só por causa do perigo de morte, mas quem disse que Campe sabia dançar para avaliar qualquer coisa? Pois é. O show de dança teve passos incríveis como balançar de mãos na frente do corpo, Cole e Ariel trocando de lugar batendo um na mão do outro e aquele famoso passo “ihihiha”, ou seja, segurar a perna com uma das mãos enquanto a outra mão está na cabeça e fazer movimentos que ninguém entende direito como são possíveis. Aquela loucura estava funcionando, mas não iria durar para sempre, Campe em breve perderia a paciência de tentar entender aquilo… Mas Ariel teve uma nova ideia. Era assim que seu cérebro funcionava, intuitivo, improvisador. Enquanto sua voz cantava e seu corpo dançava, ele concentrava a sua mente na energia vital das plantas do Central Park, fazendo crescer ramos que passavam a se enrolar próximo ao corpo de Campe. Superando o seu recorde de cinco ramos, dessa vez Ariel conseguiu invocar uma dezena deles, possivelmente pela ajuda do Salvação Invernal e pela adrenalina de “posso seriamente morrer em 3 segundos”. Infelizmente para Campe, a desvantagem de ter um corpo enorme é estar atento a ele por completo. Ariel estava se aproveitando disso e do fato da monstra ainda estar tentando entender porque os semideuses à sua frente não fugiram ou começaram um ataque. Enquanto isso, Ariel fazia os ramos crescerem cada vez mais ao redor do corpo dela. Quando deu-se por satisfeito, foi hora de terminar com a cantoria. Ele não podia negar que o Queen ajudou-o muito naquele momento, pois o horror do primeiro vislumbre passou enquanto ele cantava a música. Agora, mesmo que ainda tivesse medo de Campe, ele também tinha determinação para lutar. - COLE, AGORA! - Ele gritou para Cole e ordenou que seus ramos apertassem Campe, deixando-a enredada em vários ramos de plantas e, portanto, presa. Pouco tempo depois, Cole preparou o seu arco e disparou duas vezes, acertando em cheio os dois olhos de Campe, o que fez a monstra soltar um grito ensurdecedor.

Foi impossível não desconcentrar-se com aquele grito bizarro, silvado, rugido, seja lá o que for. Campe aproveitou-se disso e forçou os ramos, arrebentando os de um de seus braços inicialmente. Depois, ela usou a cimitarra para arrebentar os demais, libertando-se por completo. Batendo as asas, ela voou na direção de Cole com ambas espadas na direção do garoto, obrigando-o a dar um salto para o lado para desviar. Ariel apressou-se em correr e ficar junto de onde Cole estava. Foi quando Campe encarou os dois com suas cimitarras preparadas e enterrou as duas na direção dos campistas. Neste momento, Ariel só pode prestar atenção em si mesmo. Ele colocou a sua foice no caminho da cimitarra de Campe, as lâminas das armas se chocaram e os dois começaram a medir forças. Quer dizer, Campe começou a empurrar Ariel cada vez mais contra o chão, porque era impossível competir com ela no quesito força. Ela era extremamente forte com aquele corpo dragonino como base, facilmente fez com que Ariel se ajoelhasse segurando a foice, posteriormente caísse no chão deitado, ainda segurando sua arma para se proteger. Ele não viu outra escolha senão aproveitar a curvatura natural da foice, movendo-a um pouco para o lado e fazendo a cimitarra deslizar sobre a outra lâmina. A espada de Campe acabou deslizando até acertar o solo, e Ariel aproveitou esse momento para se arrastar no chão e afastar-se um pouco da criatura antes que ela puxasse a cimitarra do solo. Ele não estava sendo muito rápido, mas ouviu a voz de Cole chamando a atenção da criatura. Ele tinha conseguido escapar do golpe da monstra e afastar-se numa boa distância para usar o seu arco novamente, atirando flechas na direção dela. Várias estavam acertando, mas Campe era extremamente resistente, as flechas pareciam entrar nela como se fossem agulhas de acupuntura: mal doíam (tirando a dos olhos, claro). Ariel percebeu que aquela estratégia era ótima, Cole era um gênio. Ele arrastou-se um pouco mais e conseguiu espaço para se levantar. A atenção da criatura estava agora em Cole e essa era a fraqueza dela no momento: ter que lutar com dois semideuses. Se eles usassem isso bem, conseguiriam acertá-la. Agora, estando em lados opostos de Campe, poderiam conseguir confundir a atenção dela. Aproveitando da distração de Campe, Ariel colocou a ponta da foice voltada para cima e girou a arma com as suas mãos, fincando a mesma em uma das asas da criatura. Outra vez ela soltou um daqueles gritos ensurdecedores e também bateu as asas, querendo se livrar do que tinha a perfurado. Por consequência, Ariel foi carregado pelas asas enormes durante duas batidas antes da sua foice soltar-se dela e ele ser arremessado para longe junto de sua arma. Notícia boa: Campe provavelmente não iria querer voar por um tempo. Notícia ruim: Ariel voou tanto que, quando caiu no chão, rolou várias vezes, adquiriu vários cortes pelo corpo e ficou dolorido. Num primeiro momento, ele não conseguiu se levantar.

Ariel sentiu sua visão ficar escura e voltar várias vezes antes de conseguir recobrar a consciência plenamente e se levantar. Quando fez isso, percebeu que Cole estava ali, ao seu lado, mas com a perna sangrando. - Por Deméter, você está bem Cole? - Apesar do machucado, Cole disse que estava bem, também retribuindo a pergunta para Ariel. - Estou. Como ela consegue ver a gente com os olhos furados? - Ariel perguntou, olhando para Campe. Ela estava um pouco mais a frente batendo suas cimitarras uma contra a outra, se divertindo enquanto dava um passo após o outro, encurralando os semideuses e não tendo qualquer pressa. Ariel engoliu seco ao ver essa cena. A monstra sequer estava preocupada. Quanto a sua pergunta, Cole respondeu que ela ainda conseguia enxergar com os outros três pares de olhos dos animais em sua cintura. - Você esqueceu de atingir mais três pares de olhos? - Ariel perguntou com uma voz um tanto exasperada, o filho de Dionísio falou que os ramos de Ariel não seguraram Campe por tempo o bastante. - E o que você queria que eu fizesse? - Ele perguntou com os olhos arregalados, Cole falou que ele deveria tentar desmembrar Campe com sua foice. - DESMEMBRAR?! - Ele falou mais alto do que quis, mas ficou verdadeiramente surpreso. - Eu nunca fiz um desmembramento, eu nem sei como fazer isso, eu… Eeeeeei. - Cole pegou a foice dos braços de Ariel e, em troca, entregou-lhe o seu arco e foi na direção de Campe. - VOCÊ É LOUCO! - Ariel gritou enquanto Cole ia na direção do monstro. Sem muitas alternativas, Ariel empunhou o arco e preparou uma flecha. Agora, diga-se de passagem, Ariel frequentou sim algumas aulas de arco e flecha, mas isso não o torna um bom atirador, ele sempre foi mais o tipo de lutador a curta distância. Sendo assim, não foi surpreendente quando o seu primeiro tiro errou o alvo… E olha que era um alvo enorme. Porém, o segundo tiro acertou, só não onde ele almejava. Ariel pretendia mirar na cabeça de Campe, na esperança de conseguir machucar mais alguma coisa ali além dos olhos, mas acabou acertando uma das cabeças na cintura da criatura. Apesar de ter errado o tiro muito feio, o seu erro acabou sendo um acerto, já que a cabeça atingida soltou um ganido de dor e fez com que Campe dobrasse o seu torso como se estivesse com uma forte dor de barriga. Ao abaixar-se, isso deu margem para Cole acertar a foice em cheio em um dos braços da monstra. Foram necessários dois golpes, um após o outro, para o braço de Campe cair no chão, desmembrado. O sangue dela, de tonalidade preta parecendo uma gosma, como se fosse piche, inundou parte da grama do Central Park e também molhou quase metade do corpo de Cole. Os garotos comemoraram por alguns segundos, erguendo as armas como se fossem gladiadores antigos, mas essa alegria durou pouco, pois Campe se recuperou e ergueu a cimitarra da sua mão sobressalente. Mesmo sem um dos braços, com sangue preto espirrando e com várias flechas no corpo, fora as que já tinham sido cravadas em seus olhos, Campe ainda parecia em boa forma e cheia de vontade de matar os dois. Era como se nada realmente a atingisse, ela não mostrava sinais de que estava debilitada, mesmo que visualmente estivesse. O título de ser o pior pesadelo dos piores pesadelos não era à toa.

Cole agora estava perigosamente perto de Campe, que já descia sua espada na direção dele. Ela foi muito rápida e mesmo que Cole tivesse bons reflexos, a chances de conseguir desviar completamente não estavam boas, ainda mais com sua perna machucada. Ariel não pensou duas vezes em agir, fazendo um ramo crescer perto de Cole o puxar para o lado, para que ele tivesse um desvio ainda mais rápido. O filho de Deméter correu na direção do amigo, tentando atirar algumas flechas na direção de Campe no meio do movimento, mas errando todas (ele precisava treinar mais tiro ao alvo, convenhamos). - Ela não vai morrer nem que a gente corte ela em vários pedaços. - Ariel não duvidava que os órgãos daquela monstra tivessem vida própria e fossem atacá-lo mesmo que fossem tirados para fora dela. Os intestinos iriam tentar enforcá-lo, o estômago iria lhe atirar ácido, os pulmões sugariam todo o seu ar em sua volta para asfixiá-lo… E olha que ele estava imaginando tudo isso baseando-se no fato de que Campe tivesse órgãos humanos. Imagina os órgãos não humanos, então? Ariel olhou em volta, procurando qualquer alternativa… E mais uma de suas ideias improvisadas apareceram. Seus olhos estavam vidrados no braço recém decapitado de Campe. - A espada dela. Ela é muito poderosa para nós, mas a espada dela… É tão poderosa quanto ela. - Ariel tomou sua foice outra vez, devolvendo o arco para Cole. - Eu sou melhor com isso e você é melhor com esse arco. - O filho de Dionísio não deixou de comentar que Ariel namorava uma filha de Hades, portanto, deveria aprender a usar a foice direito. Ariel ficou levemente envergonhado porque ainda não era namorado oficial de Maysilee, mas nada pode comentar, Campe estava vindo na direção dos dois. - Vai, amigo. - Ariel colocou uma mão no ombro de Cole. - Eu vou segurá-la. - Ariel não precisou falar duas vezes. Cole correu na direção do braço decepado, Ariel fez um golpe curvo com a foice ao mesmo tempo que Campe descia sua cimitarra, fazendo com que as armas se chocassem, mas estivessem com tanta velocidade que não pudessem medir forças, apenas se chocassem e voltassem com um coice. - Rising up, back on the street… Did my time, took my chances… - Ele começou a cantar. Campe não ficou chocada dessa vez, apenas continuou com uma série de golpes com a espada, dos quais Ariel continuava a rebater com a mesma estratégia de antes. - Went the distance, now I'm back on my feet… Just a man and his will to survive… - Ariel só não estava dando outra exibição de dança horrorosa porque estava lutando. A música o dava ânimo, ele não podia negar. - So many times it happens too fast… You change your passion for glory… - Campe começou a usar a sua cauda de escorpião para tentar fincar Ariel. Ele tinha que se preocupar agora com a espada e com a cauda, mas Campe nunca sincronizava os dois ataques, já que tinha que mover o seu corpo para o lado se quisesse usar a cauda, fazendo com que Ariel conseguisse desviar da cauda e depois usar a foice para defender a espada. - Don't lose your grip on the dreams of the past… You must fight just to keep them alive… - Campe mudou sua estratégia ao perceber que não estava funcionando. Ela usou a cimitarra como da última vez, mas chutou a barriga de Ariel com uma de suas patas dianteiras logo depois dele se defender com a foice. É, ter quatro patas é uma vantagem, você pode ficar apoiado em três e usar a quarta para chutar sem problemas. Ariel deu vários passos para trás com o impacto e percebeu que um talo tinha sido aberto em sua barriga, oriundo de uma das garras da monstra. O sangue escorreu e facilmente pintou sua camiseta. Ele aproveitou para olhar de canto para Cole, que já estava com a outra cimitarra em mãos, apenas esperando o momento mais oportuno para dar seu golpe. Ariel precisava conseguir esse momento.

- It's the eye of the tiger… It's the thrill of the fight… - Ariel voltou a cantar, colocando dois dedos próximo aos seus olhos e os apontando na direção de Campe, sugerindo que estava “de olho nela”. - Rising up to the challenge of our rival… And the last known survivor… - Ariel sabia o que tinha que fazer… Teria que segurar Campe como da primeira vez, fazer um choque de lâminas que a obrigasse a medir forças com ele. Só que Ariel sabia que perderia esse embate. Mesmo assim, se ele segurasse… Daria espaço para Cole. De onde estava vindo tanta coragem no menino que antes estava com as pernas bambas? - Stalks his prey in the night… - Ariel empunhou e foice e atacou Campe, ela também usou sua espada e as duas lâminas se chocaram. Ela sabia que venceria daquela forma, não era boba, claro que usaria este ataque. - And he's watching us all with the eeeeeeeeeeeeeeye… - Mais uma vez, Ariel se viu medindo forças com Campe. Enquanto gritava o clássico momento gritado de Eye Of The Tiger, ele segurava o quanto podia a foice e seu corpo no mesmo lugar, mas era inevitável que sucumbisse. Um de seus joelhos foi forçado ao chão rapidamente. Ariel sabia como aquilo iria terminar, Campe continuaria exercendo a sua força até o chão, mas dessa vez ele não iria conseguir usar a foice para fazer a lâmina dela deslizar. Não, dessa vez ela sabia disso, ela iria evitar. Ariel iria terminar derrotado… E você sabe o que derrotado significa quando se luta com Campe? Morto. Mesmo assim, ele não estava com medo. Aquilo parecia o certo, isso bastava. Seu fôlego do grito estava terminando bem como suas forças, seu corpo logo iria ser deitado ao chão, mas algo aconteceu. Ariel assistiu uma saraivada de flechas acertar o rosto de Campe, a deixando atrapalhada, impedindo que ela usasse toda sua força para colocar Ariel para baixo. Ele conseguiu segurar a posição um pouco mais e olhou para o lado, vendo várias ninfas empunhando arcos e flechas, atirando para proteger suas árvores, proteger o seu parque, o seu lar. Teria Cole as chamado? Bem típico dele, o garoto popular. Agora, Campe não tinha chance. Ariel segurou-a por tempo o bastante, Cole estava bem atrás dela com a espada já a caminho do ataque. Campe, com trocentas flechas em seu rosto, olhou para Ariel. Ele apenas piscou para a monstra, cantando o último verso. - Of the tiger. - A cimitarra empunhada por Cole atravessou o peito de Campe. Ela soltou a espada que forçava contra Ariel, o deixando livre, e levou sua mão até o seu peito, sentindo a ferida mortal. Mesmo com aquela ferida mortal, ela ainda queria levar pelo menos um semideus com ela, então posicionou o seu corpo de lado e levou a cauda de escorpião rapidamente até o menino, o pegando de surpresa. Não iria dar tempo de desviar, então Ariel fez um movimento impulsivo com a foice, fazendo um corte horizontal na direção da cauda que vinha contra ele. Um pedaço de rabo de escorpião caiu no chão, no caso, aquela parte onde fica o ferrão e o veneno armazenado. - Caramba… EU FIZ UM DESMEMBRAMENTO! - Ele gritou para Cole, quase sem acreditar na cagada que tinha acabado de fazer para sobreviver.

Campe deu o seu maior grito ensurdecedor depois disso. O grito de sua derrota. Apesar de não estar mais amedrontado, Ariel começou a sentir filetes líquidos escorrerem de seus ouvidos, algo que percebeu ser sangue ao olhar para Cole, pois estava saindo sangue dele no mesmo lugar. Campe dava um jeito de machucar até em sua morte. Junto ao seu grito, ela explodiu em pó dourado. Sobrou apenas as suas partes desmembradas, ou seja, o braço e o final da cauda de escorpião, bem como uma das cimitarras, justamente aquela que a matou. Era engraçado como, nas mãos de Campe, aquela espada agisse como uma espada leve, mas na mão de qualquer semideus, certamente era uma espada longa, de tão grande e pesada. - Dúvido que Héstia deixe você ficar com ela. - Ariel falou para Cole, que estava pegando a espada, bem como o braço de Campe. - Muito venenosa, ela pode te matar. - O garoto falou em um tom de voz que fingia muita preocupação. - Não que isso aqui também seja menos mortal. - O garoto falou pegando a sua cauda de escorpião cortada. - Acho que, no fim das contas, não vamos ficar com nada dela. - Triste, não ia dar nem para ele se gabar de ter sido um dos que matou Campe no acampamento! - Vamos ser as testemunhas um do outro. - Ariel sorriu. Estava na hora de voltar ao Acampamento Meio-Sangue. Por enquanto, a ameaça de Campe estava mais uma vez devolvida ao Tártaro. - Valeu por me salvar, ninfas! - Ariel gritou para o Central Park dando tchauzinho para as ninfas, arrancando olhares muito estranhos dos mortais que passavam ali perto. Eles deveriam estar assistindo um garoto gritar com várias árvores. E o que será que eles estariam vendo no lugar das partes desmembradas da monstra? Isso ainda ficaria um mistério.
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Re: Central Park

Mensagem por Angelina Schuyler Sex Set 15, 2023 11:47 pm

Voz
Central Park
05:46
S02P04
Quando atravessaram a Porta de Orfeu depois de subir as longas escadas, Owen e Angelina se depararam com o começo de um amanhecer bastante chuvoso na cidade de Nova York. A chuva torrencial rapidamente deixou os dois molhados dos pés à cabeça. Os vários ferimentos abertos de Angelina arderam pelo contato com a água por alguns minutos até se acostumarem. Ela não reclamou daquilo, depois de mais uma experiência ruim com fogo, ficar perto de água era ótimo. Onde tem água em abundância o fogo não se prolifera. Pronto, aquela jornada inesperada tinha acabado, mas Angelina ficou olhando para Owen. Ela não queria ir embora antes de dizer algumas coisas que estavam vindo na sua mente, que estavam entaladas em sua garganta. - Eu queria ter feito as coisas de um jeito melhor. - Ela disse com os olhos no chão. - Eu queria… Eu sinto muito. - Ela arriscou olhar para ele só por alguns segundos antes de abaixar os olhos novamente. - Eu sinto muito por não ter te dado voz. - Ela ainda não se arrependia de tentar salvar Owen com o mundo falso, mas de não escutá-lo, de sequer tentar conversar com ele sobre seus temores… Isso sim ela poderia se arrepender. Owen ficou a observando por alguns minutos molhados até dizer que não tinha pensado que ela queria ter uma família. Nem mesmo Angelina pensava muito nisso, porque mal conseguia se imaginar como mãe… Mas a sua mente… Ela acabaria indo para este desejo mesmo que fosse um desejo do subconsciente. Ela deu um leve sorriso para ele. - Deve ser… Bom. Ter uma família com quem você… - Ama. Ela completou apenas nos seus pensamentos. Ela não queria ficar dizendo várias vezes naquela ocasião que o amava. De alguma forma, sentia que se ficasse dizendo demais, ele não acreditaria. Talvez fosse a chamar de obsessiva outra vez, ela não queria mais ouvir isso. Ele a encarou mais uma vez então deu meia-volta, começando a se afastar. Ele estava indo embora. Aquilo doía em Angelina, mas não seria ela a forçar que ele ficasse junto dela. Sendo assim, ela ficou parada na chuva observando-o ir embora, passo após passo.

De verdade, Angelina não esperava que Owen fosse olhar para trás, muito menos esperava que ele fosse gritar “então é isso?”. - A escolha é sua! - Angelina gritou em resposta. Ela queria deixar isso claro, que ele tinha escolha. - Mas eu não quero que você vá embora! - Ela disse com sinceridade, sem saber se estava ou não chorando de novo porque as lágrimas facilmente iriam se misturar com a água da chuva que caía sobre seu rosto. Ela ouviu-o perguntar porque não. Ora, que pergunta mais óbvia! - Porque eu te amo! Você é o meu homem. Eu quero ficar com você. - Talvez Angelina nunca tenha dito aquelas palavras com tanta sinceridade. Ter ficado aqueles meses longe dele a fez perceber que ela realmente queria estar ao lado daquele homem, queria partilhar a vida com ele. Esse era o seu grande desejo. Por conta da chuva, ela não chegou a ver o sorriso que ele deu, mas identificou as tão conhecidas palavras “merda, Angelina”, e logo depois sentiu ele se aproximar e beijá-la. Foi como beijá-lo pela primeira vez. Quando se fica um tempo sem uma coisa e você a vive de novo, você vive ela de uma forma mais intensa. Aquele beijo foi intenso, forte, poderoso. Os braços dela facilmente o abraçaram no processo, ela o apertou, puxou para mais perto de si enquanto fazia questão de pressionar mais seus lábios contra os dele, explorar mais sua boca com sua língua. Ela sentia tanta falta dele. Às vezes, ela chegava a pensar que nunca mais o beijaria outra vez. Aqueles momentos seriam muito mais valorizados por ela a partir de agora. No céu, ela percebeu um clarão mesmo de olhos fechados, acompanhado por um trovão em seguida. O som pouco a assustou, ela estava ocupada. Ao mesmo tempo, o amanhecer ia se tornando mais pronunciado e quando ela soltou os lábios de Owen para retomar o fôlego, percebeu que não mais sentia o rabo e as asas. Ela tinha voltado à sua forma comum. Angelina sorriu abertamente para ele e levou uma mão aos seus cabelos para puxá-los para trás, já que estavam todos molhados e grudados em seu rosto. Ela também sentiu falta de fazer isso. Ela segurou na mão dele e os dois começaram a andar juntos, indo embora do Central Park enquanto mais raios e trovões enfeitavam aquele amanhecer chuvoso.
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Re: Central Park

Mensagem por Owen Ziani Montecchio Sex Set 15, 2023 11:53 pm

The reunion in the underworld - O1
Com Angelina Schuyler

Meu grito ecoou alto na noite do Central Park. Com os olhos vermelhos e o corpo quente pelo estresse e toda afobação, eu encarei duas figuras a minha frente e senti meu coração parar por um instante. Angelina e Eileen estavam ali como se nem se importassem com o meu estado. Elas apenas me olhavam amenas e alheias à situação toda. Eu estava surtando… e isso já acontecia há um tempo. Desde que eu abandonei a filha de Hades para voltar a ser um nômade, era como se ela começasse a me perseguir. Faziam dias que ela me acompanhava para onde quer que eu fosse e sua voz sussurrava no meu ouvido a todo momento. Eram ilusões, algo completamente psicológico, mas que por mais que eu tivesse noção, eu não sabia como parar - Eu estou enlouquecendo - disse baixo, ainda consternado com as duas a alguns passos de distância. O curioso era que minha filha estava ali com ela e, diferente de Angelina, resolveu dizer alguma coisa. Assim que abriu a boca, eu ouvi sua voz tão ingênua como eu conhecia, dizer a palavra “pai”. Aquilo me afetou e uma ruga surgiu entre as minhas sobrancelhas. Minha relação com a garota nunca tinha sido algo tão tranquilo, mas era mais pelo meu comportamento do que por ela. Aliás, Eileen era uma lembrança que eu ainda estava tentando recobrar nos últimos tempos. Flashbacks estavam sendo recorrentes desde que acordei daquela estranha maca na casa onde confrontei Angelina. Desde então, precisei me acostumar com aquele novo mundo. Agora, confesso, não me parecia uma vida tão desconhecida assim, embora eu não tivesse minha memória cem por cento ainda. Aos poucos, lembranças como a de dois filhos falsos num mundo imaginário da mulher com a ajuda da névoa, ficaram menos significantes. Para ser sincero, eu comecei a entender as referências de cada universo. Ainda assim, havia muita coisa que eu não entendia das razões de Angelina e uma delas era exatamente essa questão com Eileen. Eu não havia abandonado a garota, por mais que imaginasse que ela pudesse estar pensando isso com meu sumiço repentino em sua vida. Eu estava ali, olhando aquele produto da minha imaginação e praticamente sofrendo ao querer saber incansavelmente onde ela poderia estar àquela altura. Será que estava viva? Será que ela estava no Acampamento Meio-Sangue? Mas será que eu ter filhos naquela realidade paralela, havia sido proposital da parte de Angelina ou ela não tinha nenhum controle sobre si mesma? Por que dois meninos? Ao menos, agora eu conseguia entender melhor o meu amor incondicional por aquelas duas crianças. Eu estava projetando Eileen neles.

Embaixo daquela noite estrelada, eu não sabia mais o que fazer. Minha cabeça rodava, eu sentia dor e angústia, ainda mais quando as duas não saíam dali. Era como estar preso e não saber a saída. O Central Park já estava completamente isolado, senão pela presença de alguns mendigos em cantos espalhados daquele lugar. Morando num galpão ali próximo, eu me vi saindo como um lunático pelas ruas do parque, como se isso fosse dissipar aquelas presenças ilustres. Eu esperava que um pouco de ar fosse fazê-las desaparecer, mas não. Eu sabia que eram frutos da minha imaginação doentia, mas ambas pareciam estar bem presentes - Vai embora - continuei com a voz baixa, quase num murmúrio. Eu encarei minha filha por um longo tempo e confesso que parte disso também era para me impedir de olhar nos olhos de Angelina. No entanto, quando a mesma resolveu se pronunciar, eu não evitei divagar o olhar transtornado até ela - Vai embora - repeti assim que meu nome saiu de sua garganta. A mulher então se aproximou e eu recuei - Vai embora - era uma mistura de sentimentos, apesar de que naquele momento, eu realmente tivesse vontade de vê-la longe. Quando se tratava dela, era quase como se eu brigasse comigo mesmo. Razão e emoção eram elementos que eu estava aprendendo a controlar… ou talvez me acostumar. Naquele mundo de bruxaria, eu vivia um pouco mais tranquilo, se quer saber. Era quase como se a emoção ficasse abaixo da racionalidade e, portanto, eu não precisasse me preocupar num nível astronômico. Meu emocional parecia aumentar a cada dia mais. Por vezes, eu me sentia uma criança descobrindo a si mesma - Vai embora - disse mais firme, apesar de não conseguir elevar tanto a voz. Angelina já estava próxima o suficiente para conseguir me tocar e assim que o fez, eu arregalei os olhos. Ela estava… me tocando? Como? Por instinto, eu busquei pelo Zotikí Dýnami, presente de Hades, no bolso traseiro. Aquilo ainda parecia algo estranho de se fazer na frente da mulher, afinal, a arma havia sido uma recompensa de seu pai. Assim que ela investiu em algo a mais, na esperança de me tranquilizar, eu finalmente saquei a faca e inclinei a lâmina em seu pescoço. Diferente do que de costume, ela nem reagiu e continuou a me encarar sem medo. A diferença é que Eileen surgiu atrás dela como se para me impedir de seguir com aquilo.

Eu estava visivelmente surtado, mas indeciso sobre o que fazer. Olhando de Angelina para minha filha, meu pulso começou a tremer - Sai daqui - dificilmente eu conseguia pronunciar os nomes de cada uma. Aquelas palavras, na realidade, serviam para ambas - Vai embora - o suor na minha testa começou a se tornar mais transparente. Foi então que, para minha surpresa ou meu temor, algo novo aconteceu ali. A imagem de uma Fúria voou até se posicionar atrás das duas e, automaticamente, eu desviei os olhos para a criatura. Em seguida, Eileen e Angelina começaram a recuar e eu senti um pequeno descontrole começar, embora ainda seguisse imóvel e também, incapaz de reagir. Era uma sensação um tanto estranha e incômoda. A Fúria nem me esperou dizer alguma coisa, simplesmente me pedindo para fazer uma escolha. Além disso, ela indagava algumas provocações, sem deixar de mencionar os últimos acontecimentos naquele mesmo parque quando fui preso após a missão do deus do Mundo Inferior. Mitologia grega era algo que ainda estava voltando aos poucos, mas sempre que eu fazia um esforço para recobrar a memória, mais a cabeça latejava. Foi justamente por isso que eu me inclinei para frente, tapando os ouvidos como se a voz daquele monstro me perturbasse. Era apenas um sinal claro do meu nível de surto naquele momento - Sai daqui! - meu tom aumentou finalmente, sendo acompanhado de um grunhido. A escolha que a Fúria dizia que eu precisava fazer, continuou: Angelina ou Eileen. Eu deveria matar alguém. Era essa a sua resposta aos meus pedidos contínuos de que fossem embora. Meu nome soou em sua voz esganiçada e eu enfim me levantei, pronto para agir. Foi uma atitude bastante repentina e perigosa, mas eu continuava diante de três figuras sem medo algum - Sai… daqui - tentei parecer mais controlado, mas quem eu queria enganar? Estava falhando miseravelmente. Um breve silêncio se fez, mas a Fúria o quebrou, só não conseguindo terminar o que queria dizer pois eu simplesmente gritei com raiva e lancei a faca na direção de Angelina. A mulher desapareceu no momento que a arma a atingiu, mostrando com clareza que era apenas uma fantasia. Minha filha também não era real e se esvaiu junto. Contudo, a Fúria ainda se mantinha ali até bater asas, pegar minha faca e alçar vôo. Enquanto isso, um som bem ao longe repercutiu. Era como se alguém estivesse ouvindo alguma música no meio da madrugada, mas no momento em que foi diminuindo mais e mais, duas pedras a minha frente se abriram e um portal surgiu para… o Mundo Inferior?

Eu olhei para cima, vendo minha arma cair nas minhas mãos. A Fúria estava ali, mas ela não disse nada, apenas seguiu caminho para aquela recente abertura. Eu hesitei, não sabendo se era certo segui-la. Para falar a verdade, eu ainda não estava tendo muita compreensão das coisas, mas algo em meu interior gritou para que eu adentrasse a passagem. Era um misto de curiosidade com meu próprio instinto me dizendo o que eu deveria fazer. Lentamente, eu caminhei até lá, avistando uma grande escadaria que me levaria a algum lugar lá embaixo. Assim que cruzei as duas pedras, elas tão rapidamente se fecharam e um arrepio percorreu minha espinha. Eu me sentia no inferno ou ao menos, perto dele naquele momento. A sensação era de desespero, mas eu estava me controlando um tanto. Raras coisas me assustavam na vida, mas já considerando que eu realmente estava no Mundo Inferior, era de se esperar que eu ficasse meio receoso. Estar ali era como estar morto, por mais que eu soubesse que poderia ir embora. Hades já havia denunciado a energia daquele local no momento que me encontrou no galpão dias atrás, mas estar em sua área era bem mais perturbador, se quer saber. A voz da Fúria ecoou de uma maneira mais ameaçadora, enquanto começava a introduzir o que esperava de mim. Ela explicava algo sobre eu ter que fazer uma missão após meu serviço em nome de Hades - Por que eu estou aqui? - perguntei ao descer os degraus de maneira ainda desconfiada, mas ela me ignorou. Todo aquele estresse ainda não havia ido embora, eu sentia meus braços levemente trêmulos, enquanto eu segurava o punhal da faca com tamanha força que eu já nem sentia mais o sangue circular. Honestamente, eu me sentia como um esquizofrênico, delirando e temeroso em ouvir vozes. Àquele ponto, eu ainda não sabia se tudo era real. Talvez eu estivesse sonhando? Quando vi, já estava caminhando por uma espécie de estrada assombrada onde daria até o que provavelmente fosse o lar do deus do submundo. Assim que parei na entrada daqueles portões gigantescos e adornados com uma centena de cenas específicas de morte, eu senti uma pontada no coração. Ao mesmo tempo, a criatura passava por cima deles e deixava tudo se abrir para me dar passagem - O que você quer comigo?! - insisti. A Fúria desapareceu dentro daquela construção e, ouvindo gritos abafados por ali, eu segui rumo ao palácio.

Até então, aquele ser havia mais enrolado do que outra coisa quanto ao que queria de mim. Era um pouco estranho estar seguindo uma criatura mitológica, como se ela comandasse o Mundo Inferior. No momento que eu adentrei o ambiente, fui guiado para uma ala mais silenciosa. A casa de Hades era um pouco diferente do que ela transparecia por fora, apesar de as cores e toda a decoração serem as mais escuras possíveis. Meus passos ecoavam alto a cada segundo, mas eles logo cessaram quando eu percebi a figura da Fúria adentrando uma porta no fundo de um corredor. Eu semicerrei as pálpebras em curiosidade, especialmente quando notei que ela parecia ter voado para um nível mais baixo. Lentamente, eu avancei até lá e me vi em frente a uma nova escadaria, mas dessa vez, o escuro era absurdo ao meu redor. Os degraus não eram tantos, mas o lugar para onde eu estava me encaminhando me lembrava algo como a Sede dos Mercenários no antigo mundo em que eu havia me acostumado a viver. Quando enfim cheguei ali, pude ter uma confirmação. Foi também nesse momento que a Fúria enfim se pôs no meu caminho outra vez, mas voltando a me encarar com mais atenção. Confesso, eu estava menos descontrolado agora e muito mais desconfiado, vez ou outra, lançando o olhar para todo canto daquele recinto. Ao que parecia, eu estava próximo de algumas celas bem velhas e desgastadas. A sensação de morte era um pouco mais agoniante naquele lugar. Mas então, a criatura desatou a falar com sua voz rouca, num misto desequilibrado entre o grave e o agudo. Segundo ela, eu estava ali para torturar alguém - O quê? - me espantei com suas palavras, mas rapidamente, uma carranca se apoderou do meu semblante. Mas isso foi tudo o que eu consegui dizer. No fundo, eu esperava que em algum momento, a situação fosse ganhar mais sentido. A sombra de um sorriso refletiu na criatura, mas ela alçou voo novamente e eu fiquei sozinho ali, como se fosse um sinal para que eu desse início aos trabalhos. Com calma, eu aprontei o Zotikí Dýnami e fiquei na expectativa de notar a presença de alguém, contudo, nenhum prisioneiro estava ali… até eu chegar no final do lugar e me deparar com uma pessoa bem conhecida: Angelina.

Com as mãos amarradas para o alto e visivelmente exausta, ela arregalou os olhos em surpresa. Dizendo meu nome, ela nem reagiu da maneira que eu esperava que ela fosse reagir. A mulher parecia um pouco tranquila demais, como se nunca tivéssemos tido alguma intimidade ou desavença. Ela queria saber o motivo do meu paradeiro, mas eu me mantive calado. Parte de mim sentia vontade de não tomar nenhuma atitude, enquanto outra parte simplesmente achava que estava tudo bem ficar ali observando-a. Eu também não consegui me conter ou sequer perceber o que eu estava transparecendo para ela, mas sentia um nó diferente na garganta. Não era vontade alguma de chorar, mas se tratava de um incômodo muito grande em estar diante dela após tanto tempo. Angelina não sustentou aquele contato visual, mas imaginei o que ela poderia estar pensando de mim. Abaixando o olhar, ela tentou a sorte de me perguntar se eu poderia ajudá-la a sair daquele lugar. Persisti quieto. Internamente, eu estava um caos, mas não era capaz de fazer muita coisa. Eu nem precisava me tocar para me sentir gélido como um morto-vivo. Eu estava apático, neutro e sem vida. Eu era uma mera figura inútil naquele Mundo Inferior. Mas o silêncio continuou, quando ela preferiu não dizer mais nada. Não sei por quanto tempo isso se seguiu. Eu não piscava e não conseguia respirar tranquilamente, mas me permiti assim que ela voltou a se pronunciar, esperando algo vindo de mim. Um impulso me provocou a dar um passo em sua direção, mas até eu chegar mais perto, aquilo perdurou por intermináveis segundos. Agora eu estava diante dela, sentindo, inclusive, o ar sendo expirado de suas narinas. Era nostálgico aquele momento, mesmo que os papéis estivessem invertidos. Meu lado mais vingativo se mostrou quando eu senti o ímpeto de torturá-la de uma vez, mas ele estava sendo controlado por… emoções, algo que ainda estava aprendendo sobre. Talvez fosse exatamente por causa deles que eu não havia feito nada até então. Angelina se mostrou bem desconfortável com a situação e por causa disso, decidiu insistir para obter alguma resposta minha. Ela estava ávida para saber se eu faria alguma coisa, mas ainda com total imparcialidade no olhar, eu levantei a arma no que foi um susto para ela. A lâmina estava ali, brilhando bem na sua frente, rente ao seu rosto. Meus olhos então foram para ela, como se eu estivesse analisando e ponderando sobre o certo a se fazer em seguida.
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Re: Central Park

Mensagem por Ethan Cartier Dom Set 17, 2023 8:45 pm

Always on my mind
— Tudo tem que sair perfeito.  — Comentei, me olhando no espelho pela última vez antes de sair. Meus irmãos estavam dizendo que tudo em minha aparência estava impecável. E olha, para eu agradar mais de uma dúzia de filhos de Afrodite, realmente devo estar lindo. Minha roupa foi feita sob medida, tratando-se de um terno Givenchy de alta costura. Ele é confeccionado em lã de alta qualidade, com um corte impecável que valoriza a minha silhueta. A cor do terno é um azul cobalto profundo e intenso, conferindo elegância atemporal. O paletó possui lapelas finas e bem definidas, proporcionando um toque moderno ao conjunto. Por baixo do paletó, usei uma camisa branca de algodão egípcio de alta qualidade, que oferece conforto e frescor. A camisa possui um corte slim fit, garantindo uma aparência nítida e elegante. Optei por uma gravata de seda preta, clássica e sofisticada. Ela é amarrada em um nó Windsor perfeito, conferindo uma presença distinta ao conjunto. O cinto é de couro italiano preto com uma fivela discreta, combinando com o restante do look. Falando mais sobre acessórios, escolhi um relógio de alta relojoaria da Givenchy, com uma pulseira de couro preto e mostrador minimalista. Além do relógio, limitei os acessórios a abotoaduras de prata gravadas com o logotipo da Givenchy, adicionando um toque sutil de luxo às mangas do paletó. E, por fim, peguei um par de sapatos oxford de couro envernizado preto, também da Givenchy. Repassei todo o checklist de tudo que tinha pra acontecer hoje, e só depois de colocar Afiérosi escondida dentro do paletó, saí do chalé em direção a entrada do Acampamento, onde iria esperar Spark para o jantar que eu havia programado para nós dois. Enquanto ao Kai, não se preocupem com ele, mandei entregar pizza, alguns jogos e ainda dei uma canoa novinha.

A limusine já estava a postos e eu olhava o relógio sem parar, me mexendo sem parar e com um buquê de Rosas Juliet. Depois de alguns minutos de atraso, lá estava ela, completamente vestida com a roupa que eu havia separado e mandado deixar em cima de sua cama. A Maverick estava extremamente linda, sem nenhum defeito. — Nunca vi algo tão bonito na minha vida toda.  — Me aproximei, estendendo o buquê para ela, beijando-a logo em seguida. — Você sempre reclama dos meus atrasos, mas hoje você atrasou bastante.  — Brinquei, abrindo a porta do carro para que Spark entrasse, seguindo-a logo depois. A viagem até Nova Iorque foi tranquila e rápida, e enquanto íamos, jogamos um pouco de conversa fora ao mesmo tempo que comíamos alguns petiscos. Em todo momento, Spark estava curiosa sobre o que aconteceria, não parando de perguntar em nenhum momento. — Já falei que é surpresa. Agora para de questionar, estamos quase chegando.  — E depois de dizer isso, demorou cerca de cinco minutos para a limusine estacionar. Assim que descemos, não demoramos para passar pelos guardas da entrada e adentrar no famoso La Grande Boucherie. Obviamente, fiz questão de escolher um restaurante que evoca a essência da autêntica culinária francesa, oferecendo uma experiência gastronômica sofisticada em um ambiente clássico e elegante. Assim que entramos, foi possível observar a imensidão do local, sem ninguém além de nós e dos funcionários. A decoração remete à Belle Époque parisiense, com móveis de madeira escura, lustres de cristal, espelhos ornamentados e uma atmosfera atemporal da França.

Spark olhou aquilo tudo encantada, perguntando se aquele lugar era vazio assim todos os dias, ou se tivemos sorte. Não fiz questão de responder, pois como sei que ela me conhece bem, bastaria alguns segundos pra ela perceber. Abri um sorriso rápido e malicioso, sendo isso, o suficiente para a Maverick entender que eu havia fechado o restaurante todo para atender somente a gente. — Não há nada que eu não possa fazer por nós, mon amour.  — Sorri, puxando a cadeira para a garota conseguisse se acomodar. Não demorou muito para um garçom se aproximar da gente, entregando um cardápio para mim e outro para Spark. — Está tudo em francês, se tiver alguma dúvida, me avisa.  — Enquanto folheava o menu, percebi que o restaurante serve uma autêntica brasserie francesa, incluindo uma variedade de pratos, como steak frites, escargot, coq au vin, bouillabaisse, foie gras e muitos outros. Enquanto as bebidas, o restaurante oferece uma extensa lista de vinhos franceses e internacionais para complementar as refeições. Além disso, eles têm uma seleção de coquetéis clássicos e modernos, bem como uma variedade de licores finos. Pedi um vinho, e por mais que a gente não tivesse idade o suficiente para isso, Dionísio aprovaria meu pedido. Assim que Spark e eu finalmente decidimos o que iríamos comer, o garçom nos deixou a sós. — O que achou?  — Perguntei, acariciando o dorso da sua mão. A Maverick parecia estar gostando de tudo. E ainda bem, pois tudo foi preparado minuciosamente para ela, mas ao meu estilo, é claro. Quando ela terminou de falar, bati o sino que estava na mesa duas vezes, sendo o suficiente para dois funcionários entrarem, repletos de caixas. — Dia desses você disse que estava precisando de botas novas, não foi? Pois então, aqui está, vinte pares de botas da Prada. Elas variam de modelo e cores, e se você quiser mais alguma, basta me falar.  — Levantei, pegando da mão de um funcionário, uma das caixas, que havia uma coloração diferente das demais.

— Para tornar esse presente ainda mais especial, tive que fazer contato com Íris…  — Disse, entregando a caixa nas mãos da filha de Ares. — Sim, a deusa…  — Sorri quando ela demonstrou certa surpresa. — Conversando com ela, acabei conseguindo convencê-la a criar uma cor. E depois de dar todos os detalhes de sua personalidade e características físicas. Chegamos nesse tom de vermelho.  — Abri a caixa com um sorriso no rosto, revelando um coturno da Prada feito especialmente para a semideusa, com uma cor nova que Íris acabara de inventar. Obviamente não comprei a deusa com dinheiro, porém, estou devendo alguns favores para ela. — Essa cor se chama Vermelho Sparks, e você é a dona dela. Tem autenticação e tudo, ninguém pode usar, apenas você.  — Beijei sua testa. Logo fomos interrompidos, pois a comida havia chegado. [...] Depois de toda a interação enquanto comíamos, finalmente chegou o momento especial. De repente, os músicos começaram a tocar Can't Help Falling In Love do Elvis Presley. E nesse momento, me levantei, retirando de dentro do meu paletó, uma caixinha vermelha. Spark levantou quando percebeu tudo, e foi nesse momento que eu me ajoelhei. Abri a caixinha, revelando um anel. — Quer namorar comigo?  — Minha voz não era persuasiva e eu não fazia questão nenhuma de usar meus poderes ali. Aquilo era eu, apenas o Ethan. O anel possui uma deslumbrante pedra preciosa central, um diamante raro conhecido como Diamante Elysium. Este diamante é incrivelmente raro devido à sua coloração interna perfeitamente branca e ausência de impurezas visíveis. É uma pedra lapidada de formato exclusivo, uma mistura de corte esmeralda e lapidação radiante. Sua quilatagem excepcional atinge 10 quilates, tornando-o uma verdadeira raridade. O aro do anel é feito de platina pura, um metal precioso que não apenas é durável, mas também simboliza a eternidade e a resistência do amor. A platina é habilmente trabalhada e gravada com intrincados detalhes florais ao longo de sua circunferência. Além do diamante central, o aro é adornado com pequenos diamantes de alta qualidade que acentuam a pedra principal e adicionam brilho adicional. Esses diamantes menores são dispostos em configurações de pavé, criando um espetáculo de luzes cintilantes quando o anel é exposto à luz. Tudo da Cartier. Observei Spark com brilho nos olhos, apenas esperando a sua resposta.

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Re: Central Park

Mensagem por Spark Maverick Qua Set 20, 2023 2:44 pm

my first and only love
Nunca vi você com um bom humor desses, Maverick. - comentou Vía, se achegando ao meu lado enquanto eu caminhava serelepe para o chalé de Ares. E, bem, ela tinha razão. Nem mesmo treinos intensos me faziam ficar tão estupenda como hoje, e por algum motivo eu sabia que a noite prometia inúmeras surpresas. Ainda assim, medo preenchia um pequeno espaço da minha mente, mesmo que eu não quisesse admitir. Esse era o sentimento da mais pura ansiedade, que costumava domar meu corpo em momentos específicos… e quando eu digo específicos, estou me referindo a Ethan. Hoje, em especial, iríamos a Nova Iorque. Motivos? Até então, não que eu saiba, mas desde que comecei a sair com Cartier, tínhamos "encontros" por nenhuma razão plausível, apenas porque gostamos da companhia um do outro e nos entendemos bem até demais. - É porque não vou precisar olhar pra sua fuça nas próximas horas, Olívia. - respondo a Mitchell sem olhá-la, mas pude jurar que um semblante de espanto estampou sua cara. É claro que ela não estava ofendida de verdade, se fosse inteligente como parecia ser, perceberia que isso não se tratava de uma ofensa, apenas uma brincadeira. - E sim, vou te contar tudo depois. Agora vaza. - movo minhas mãos em um sinal de "xô" para ela, atravessando a área da fogueira para finalmente adentrar ao chalé. Assim que pisei dentro dele, meus irmãos começaram a assoviar e o rock constante que tocava parou, dando espaço para aplausos e gozações. - Uau, Spark! Seu namorado se superou dessa vez. - Josh Campbell disse, saltando de cima de sua beliche que ficava próxima a minha, apontando para a minha cama em específico. Sob ela, havia uma caixa bastante refinada, com as iniciais YSL. Yves Saint Laurent… - Puta merda… - sussurro baixinho, sentando no acolchoado da minha cama, tomando a caixa em meu colo. - Puta merda mesmo! Hoje a noite vai ser foda pra você. - Josh continua, e os outros arianos riram, concordando com aquilo. - Dou dois minutos pra vocês saírem daqui. - digo sem olhá-los, mas quando permanecerem intactos em seus lugares, os encarei de cabeça baixa; o olhar penetrante. - Tá bom, tá bom… estamos saindo, Barbie. - uma última brincadeira e o chalé agora era todo meu, para que eu pudesse me arrumar.

Fiquei parada, apenas me observando no espelho quebradiço do quarto, por cerca de quinze minutos. Sim, sei que estou atrasada, mas… 

Devo estar ridícula. - resmungo entre dentes, mesmo gostando de como o vestido tinha ficado em mim. - E essas… luvas. - eu também tinha gostado das luvas, especialmente do salto, mas… - Certo, eu gostei, Ethan também vai gostar. Ele não teria comprado isso se não fosse ter certeza da escolha… - e encarei a etiqueta do vestido, sentindo meu rosto queimar. Quinze mil dólares?! Oh, certo… apenas as luvas foram isso. - Deuses… - suspirei baixo, passando minhas mãos recordas pelo cetim macio, sentindo a textura do vestido. Você consegue, pensei me auto encorajando, pegando um sobretudo para vestir até que eu chegasse na entrada do Acampamento, me poupando de olhares curiosos e comentários ácidos. Por precaução, levei comigo meu machado de batalha pequeno enfiado em algum dos bolsos. [...] Caminhei com o capuz sob o rosto, agradecendo pela área externa estar praticamente vazia pelo horário, e me desfiz do sobretudo quando alcancei Ethan mais a frente; ele carregava um lindo buquê de rosas. A última vez que ganhei um fora quando completei quinze anos, e mamãe me presenteou com algumas. Ethan estava lindo, não dá pra dizer outra coisa, meu coração estaria mentindo pelo ritmo frenético que ele batia descontroladamente. Com o sobretudo sob as mãos, senti um sorriso tímido crescer em meus lábios, era sempre um desafio me manter normal perto dele. - Acho bom que não tenha visto. - respondi seu elogio, sorrindo ainda mais. Com cuidado - tentando não ser a ogra de sempre -, segurei o buquê e imediatamente senti o aroma suave das flores. Tampouco alcançam a sensação que era beijá-lo. - Você não mora com trocentos garotos e brutamontes te zombando o tempo todo. Tive que esvaziar o chalé. - justifiquei meu atraso, mesmo que ele estivesse brincando. Sem muita conversa afiada, adentrei na limousine quando Cartier abriu a porta para mim, e julgando o espaço, parecia ser a mesma que nos levou até o jato dele em nossa primeira missão juntos.

Enquanto não chegávamos ao centro, passamos aquela parte do tempo conversando, beliscando alguma coisinha ou outra para não parecermos mortos de fome quando chegássemos ao nosso destino. Mesmo assim, não pude deixar de tentar arrancar informações dele, mas ele era bem melhor do que eu tentando persuadir os outros. - Ah, você sabe como sou ansiosa! - reclamei, mas Ethan se manteve firme na ideia de não dizer absolutamente nada, e continuou insistindo que já estávamos quase chegando. Durante os cinco minutos restantes até nosso trajeto, contemplei a beleza do centro novaiorquino e o show de iluminação; no mais, assim que a limousine estacionou, descemos e adentramos ao que parecia um gigantesco restaurante francês. La Grande Boucherie… aquilo poderia dizer muito mais de Ethan do que qualquer outra coisa. O lugar era estupendo, absolutamente bonito, a decoração remetia ao glamour parisiense, como se estivéssemos bem debaixo da Torre Eiffel. Lustres, móveis planejados, decorações absurdamente caras… tive que monitorar minha boca, para que ela não caísse diretamente no chão. - Esse lugar é sempre vazio assim? - indaguei completamente inocente, observando a imensidão do restaurante plenamente vazia. Mas alguns segundos bastaram para que eu entendesse que Ethan tinha pego aquela noite ali apenas para nós dois, julgando seu sorriso travesso. - Eu… - sequer consegui formular alguma palavra, especialmente quando ele fez questão de dizer que não existiam nada que ele não pudesse fazer por nós dois. Porém, meu coração ferveu assim como cala milímetro do meu corpo, quando pela primeira vez, o escutei falando francês. 

Ethan Cartier era uma loucura, mas me chamando dessa forma… era insanidade pura.

Acomodei-me na cadeira de estofado macio quando ele a puxou para mim, um gesto típico de cavalheirismo, ele mais do que ninguém parecia entender de etiqueta. - Valeu... ahm, obrigada! - agradeci ao garçom que nos trouxera os cardápios, mas acabei ficando completamente confusa quando o abri e percebi que claramente tudo estava em francês. Legal, arqueei a sobrancelha, observando Ethan. - Acho que vou deixar isso com você. - digo para ele, sorrindo em meio a uma risada baixa. Eu era um completo desastre, acabaria escolhendo algo completamente fora do comum e isso já sabíamos onde ia dar. Com o pedido devidamente feito, estávamos a sós novamente. Vaguei meus olhos curiosos por todo o salão e apenas parei de contemplar o espaço quando ele chamou minha atenção, querendo saber a respeito do que eu tinha achado. - Você sabe que tô gostando, não parei de sorrir desde que entrei! - respondi ele, sentindo sua carícia. Tampouco tive tempo de falar mais alguma coisa, logo dois funcionários apareceram trazendo consigo inúmeras caixas, que se quer pude contar de primeira. - Que isso? - e então, percebi que jamais deixaria de ficar impressionada com ele. Ethan tinha mesmo comprado vinte pares de botas da Prada para mim?! Acompanhando suas mãos, percebo que ele segurava uma caixa nada parecida com as demais, parecia… especial. Quase me debrucei sobre a mesa, para espiar o que tinha ali… mas nada se passou na minha cabeça que pudesse alcançar a ideia de Ethan: ele tinha cotatado Íris, a própria deusa, para que juntos pudessem criar… uma cor, uma cor especialmente minha. Segurando a caixa, me mantive atenta em seu discurso, mas meus olhos só sabiam brilhar em euforia quando ele abriu a caixa, revelando um coturno num tom que eu jamais tinha visto em toda a minha vida. Era escuro, como o sangue seco, mas… não era opaco, e sim exuberante. Nem mesmo cintilante, apenas… Sparks. - Uma cor só minha… - meu rosto estava queimando. Nunca, em toda a minha vida, alguém poderia superar aquilo. Senti meus olhos arderem, se eu fosse um pouco menos controladora com minhas emoções, teria deixado lágrimas escaparem. Fechei as pálpebras por breves instantes, sentindo o beijo dele em minha testa. - Não sei como retribuir isso a altura. - digo sincera, mas me recompus quando a comida chegou.
 
Como se não bastassem as inúmeras surpresas uma atrás da outra, quase engasguei com a comida quando o som ambiente foi substituído por músicos, que entravam cantando uma canção muito bem conhecida por mim, um símbolo das músicas de Elvis. Eu estava confusa e minha cara de perdida era impagável, mas quando Cartier se levantou, retirando uma caixa pequena vermelha de dentro do seu paletó, meus olhos ficaram arregalados. Instintivamente me levantei, com a boca entreaberta e o corpo trêmulo, e foi neste momento que ele se ajoelhou, e eu coloquei as mãos sob meu peito. De dentro da caixa, quando aberta, um anel foi revelado. Seu brilho se assemelhava muito ao brilho das orbes dos olhos dele, que me pedia em namoro. Se eu bem pude observar a jóia, aquilo deveria ser algo de sua família… mas, caramba, se quer liguei para o anel, ele estava me pedindo em namoro, porra! Ethan Cartier queria oficializar o que tínhamos! Puta merda! - Cacete… - foi a única coisa que consegui dizer, e pude perceber a expressão confusa dos músicos, e até mesmo dele. Gargalhei, acenando com a cabeça diversas vezes, antes de finalmente dizer alguma coisa que preste: - É óbvio que quero! - E então ele se pôs de pé, e eu rapidamente o envolvi em um abraço apertado. - Eu sabia que você tava aprontando alguma coisa… - murmurei contra seu ombro no aconchego da sua pele, antes de me afastar e deixar que ele retirasse a luva da minha mão, pondo o anel em meu dedo. Incrivelmente, ele tinha se encaixado perfeitamente. Tamanho dezoito. 

Namorados, então.

O restante da noite foi tão incrível como o começo dela. Papo vem, papo vai… convenci Ethan que eu ficaria bem mais estilosa usando o coturno vermelho Sparks do que o salto, e quando saímos do restaurante, eu já estava inaugurando ele. - Minha mãe vai querer te conhecer. Não pense que meu pai liga, mas minha mãe sim. E ela também sabe usar uma arma. Aliás, agora vou chamar o Daryl de sogrinho, hein? - brinquei. Ele sabia que Belona era uma ex fuzileira das forças armadas, mas continuava sendo minha mãe apesar de tudo. Assim deixamos o centro nova iorquino, porém, aproveitaríamos ainda mais o tempo que tínhamos juntos na noite antes de retornarmos ao Acampamento.
With: Ethan Cartier

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Re: Central Park

Mensagem por Maya Sex Nov 17, 2023 8:28 pm

Semeando Discórdia
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Parte 1: Uma Nova Visita De Hera {18:24 -  Macieira de Maya, Bosque Sagrado}

Todo mundo já teve aquela sensação de estar sendo observado. Quando a noite tinha a recém se instalado no céu, Maya sentiu isso e virou a cabeça na direção de sua intuição. Ali, ela observou um pavão albino. Deitada no galho de sua macieira, ela virou o corpo na direção do pavão. Ele era muito bonito. Bem como Maya encarava o pavão, o animal a encarava de volta. Parecia, até mesmo, chamá-la apenas com os seus olhos. A ninfa sentiu vontade de tocá-lo, então desceu de sua árvore, dando um salto suave para baixo. Ela deu passos em frente, foi quando o animal abriu a sua cauda de penas, mostrando ainda mais sua beleza. Maya não conseguia tirar os olhos do pavão e sentia uma coisa a mais vinda dele, embora não soubesse dizer o que. Sua mente perdeu-se naquelas penas, o branco delas se transformou em uma névoa que Maya só percebeu ter se instalado quando, da própria névoa, surgiu a deusa Hera. Agora Maya entendia o que de diferente estava sentindo ao ver o pavão albino, era familiaridade. Da primeira vez que Hera veio até a ninfa, onde na ocasião ela estava junto de Jack, a deusa também veio inicialmente na forma de um pavão. Assim que viu a deusa, Maya curvou-se em respeito a rainha do Olimpo, embora, por dentro, estivesse apreensiva com a visita dela. Da última vez que Hera veio, ela fez Maya descer até o Tártaro para torturar algumas mulheres com uma punição eterna. Maya não queria fazer algo parecido de novo. A ninfa levantou seu tronco e ouviu a deusa com atenção em seguida. Hera dizia que confiaria algo importante para a ninfa, um casamento entre dois mortais descendentes de heróis que tinham a servido no passado. Segunda a deusa, ela nunca esquecia dos que realizaram grandes feitos em seu nome. Maya admirou-a por isso, pois ela imaginava que nem todos os deuses se lembravam de heróis que os serviram a tantos e tantos anos atrás. Será que Hera lembraria de uma ninfa, se ela fosse digna? Talvez, mas Maya não tinha certeza se conseguiria se tornar digna. Ao pensar nisso, ela abaixou os olhos e continuou a escutar as instruções de Hera.

Hera disse que Éris, a deusa da discórdia, estava insatisfeita com o casamento. O motivo não era conhecido, mas pouco importava, porque Hera queria que a cerimônia fosse realizada sem qualquer tipo de problema, e essa era a missão de Maya, garantir que o casamento fosse realizado em paz. Por fim, Hera disse que estaria de olho em Maya e que aqueles que são importantes para seus heróis também merecem sua atenção. O que? A ninfa se perguntou o sentido da última frase e, enquanto pensava a respeito, foi quando ela viu-se fora daquela névoa e encontrou-se outra vez na floresta do acampamento. Na verdade, ela nunca tinha saído dali. Quanto ao pavão, ele sim foi embora. Maya respirou fundo ao perceber que tinha acabado de receber uma missão. Ela virou-se e foi até a sua macieira, percebendo que tinha uma coisa nova presa entre as lascas do caule. Era um envelope bem bonito e elegante. Maya pegou-o e percebeu que era o convite do casamento. Ali, continha a informação de que o casamento aconteceria no Central Park, como já informado por Hera, e também o horário do casamento. Seria naquela mesma noite a partir das dez horas, ou seja, dali a mais ou menos três horas. Maya precisava se apressar! Ela rapidamente pegou o seu novo chicote, ganho após uma missão de Deméter, Mastígio Ýpnou, e também colocou sua Flor de Camomila na orelha, saindo correndo da floresta para falar com Héstia. Ela precisava de um meio de transporte para Nova York urgentemente!

Héstia não apenas mandou que Argos levasse Maya para o Central Park utilizando a van do acampamento, também deu a ninfa um elegante vestido para usar e arrumou-lhe os cabelos num coque ornamentado. Para Maya, usar o longo vestido azul foi um pouco desconfortável, ela não estava acostumada com o tecido e sentiu que ele pinicava o seu corpo. A fenda na lateral de apenas uma das pernas também lhe parecia algo estranho. Maya sempre fez suas próprias roupas a partir da natureza, então ela estava mais acostumada a vestir as mais diversas folhas de árvores do que finos tecidos. Tudo, porém, não passava de uma questão de costume e, olhando-se no espelho, a garota tinha que admitir que nunca tinha se visto antes tão bem arrumada… Todos aqueles adornos a davam uma beleza única e diferente. Com tudo pronto, Maya seguiu até a van de Argos e sua pequena viagem até Nova York começou.

Parte 2: O Seguidor De Éris {21:30 - Área do Casamento, Central Park}

Cerca de duas horas depois, Maya chegou até o local do casamento no Central Park. Havia uma grande área isolada feita especialmente para o casamento, com alguns seguranças no portão de entrada que só deixavam passar pessoas que tivessem o convite. A ninfa não pode deixar de se perguntar como aquele casal tinha conseguido reservar aquela área pública. E sim, apesar de Maya não saber nada sobre como os humanos tratam suas propriedades, ela sabia que o Central Park era um lugar público porque outras ninfas viviam por ali livremente. O casal certamente tinha grandes posses e influência… Ou talvez aquilo fosse uma bênção de Hera disfarçada. Os deuses muitas vezes operam por debaixo dos panos. Seja como for, Maya não teve problemas em entrar na área demarcada, já que ela tinha o convite. O local, por sinal, estava lindo. Luzes tinham sido colocadas por toda a extensão da área do casamento, sendo penduradas de uma árvore a outra. Vários bancos de madeira tinham sido enfileirados um atrás do outro, no meio deles existindo um tapete espelhado com arranjos de flores por toda sua extensão. Um altar estava posicionado ao final do tapete, ao qual não parecia ter nada a ver com qualquer deus grego, mas Maya percebeu que, bem discretamente, havia um pavão entalhado em um de seus pilares. A ninfa não pode deixar de, por alguns minutos, apenas observar a beleza de toda aquela decoração. Algumas pessoas, inclusive, já estavam sentadas, conversando umas com as outras, todas as mulheres vestidas com belos vestidos finos e os homens com os mais variados ternos. Devo me lembrar de agradecer Héstia pelo vestido. Ela pensou, caso contrário, estaria sendo um peixe fora da água com suas roupas feitas de natureza. Deixando de lado essa primeira parte, Maya caminhou mais ao fundo, perto do lago maior do Central Park, que continha várias mesas ao redor da área demarcada. Várias dessas mesas continham tira gostos e docinhos, uma específica era reservada para um lindo bolo branco com desenhos milimetricamente feitos, que continha um noivinho e uma noivinha no topo. Outra mesa, mais excluída e próxima ao lago, estava com vários pacotes. Maya percebeu que se tratavam de presentes para os recém casados. Ainda haviam algumas mesas vazias e uma com vários equipamentos eletrônicos. Perto dessa mesa, hastes de metal se erguiam, decoradas com flores, que sustentavam canhões de luzes coloridas. Isso fez Maya se lembrar da festa no chalé de Dionísio e, só então, percebeu que aquela área era dedicada a uma festa que provavelmente deveria acontecer depois da cerimônia. Veja bem, Maya é uma ninfa, ela não sabe como funcionam os casamentos humanos. Caminhando ainda mais ao fundo da área demarcada, tinha um espaço ao ar livre cheio de mesas menores com cadeiras, das quais Maya deduziu ser para os convidados que quisessem se sentar durante a festa para comer ou simplesmente descansar um pouco.

Faltava certa de uma hora para o início da cerimônia e, durante vários minutos, Maya não resistiu a apenas aproveitar tudo. Ela apreciou a decoração e fez questão de verificar cada flor, afinal, ela é uma ninfa! Também roubou um docinho da mesa dos docinhos e percebeu que não provou muitos doces ao longo de sua vida, deveria fazer isso mais vezes. Ela também aceitou um copo de uma daquelas bebidas fortes que os humanos gostavam muito (bebidas alcoólicas) de um garçom que estava oferecendo drinks leves para os convidados passarem o tempo. Tudo era novo para Maya, ela não parava de ficar maravilhada com a ocasião. Talvez observar tanto o local e aproveitá-lo foi o que fez ela perceber algo diferente. Aconteceu cerca de meia hora antes do início da cerimônia, quando o noivo chegou junto de seus amigos. Ele estava bem arrumado, com um sorriso no rosto, mas igualmente nervoso, ansioso, entusiasmado. A energia dele estava boa e fez Maya sorrir só de vê-lo, ele estava transmitindo sua felicidade para todos. Aliás, todo o local transmitia isso, Maya nunca tinha sentido um ambiente tão alegre feito por humanos, aquela celebração era realmente um acontecimento único. O noivo decidiu pegar uma das bebidas com um dos garçons, foi quando Maya observou, de relance, uma única pessoa cuja energia não estava combinando com todo o resto. Era um rapaz de cara fechada, olhando de um lado para o outro como se estivesse no lugar errado na hora errada. Ele estava vestido de terno como os outros homens, mas não tirava uma das mãos de dentro do bolso. Ele olhava para o noivo a todo momento junto de seus olhares para os arredores. Quando foi que aquele rapaz tinha chegado? Maya não se lembrava de tê-lo visto passar pelos seguranças da entrada. Ele também não conversou com nenhuma outra pessoa da cerimônia, era um “outsider” tal como Maya também era. Porém, diferente dela, aquele rapaz parecia um penetra, não estava nem um pouco à vontade. Maya não conseguiu mais tirar os olhos do rapaz a partir dali e passou a segui-lo discretamente pelo local. Os minutos foram se passando e mesmo que Maya não fosse uma mestra da furtividade, ela sequer foi notada. O rapaz poderia estar olhando para os lados, mas estava focado demais nos seguranças e no noivo, ele não estava prestando atenção em nenhuma das mulheres e garotas convidadas. Homens. Maya revirou os olhos, não deixando de pensar sobre isso. Porque as moças são sempre tão subestimadas? Mesmo sendo uma ninfa, ela percebeu isso no Acampamento Meio-Sangue. Ela era tão perigosa ali quanto um segurança! Aliás, muito mais perigosa que um segurança mortal qualquer! Mas tudo bem, naquele momento, ser subestimada estava sendo uma vantagem. Quanto mais o tempo passava, mais o rapaz ficava inquieto. Ele parecia estar apreensivo, esperando. O que ele estava esperando? Maya continuou observando. Faltavam dez minutos para o início da cerimônia. Os convidados começaram a se sentar nos bancos de madeira, o noivo posicionou-se perto do altar junto de seus amigos. A ansiedade dele aumentou, mas ele continuava feliz. Maya sorriu ao ver que a cerimônia estava para começar em pouco tempo, então voltou o seu olhar para o rapaz. O sorriso desapareceu do seu rosto. Ele estava finalmente tirando a mão de dentro do bolso… Tirando dali uma arma de fogo.

Observando aquela cena, Maya entendeu o que aquele rapaz tanto esperava: um momento certo. Com o noivo se posicionando próximo do altar para o início da cerimônia, ele teria uma linha de tiro perfeita de onde se posicionou, ao lado da mesa dos presentes, próximo do lago. Ele iria dar o tiro e fugir pelo único lugar que não tinha cercado e nem seguranças: o próprio lago. Como a área da cerimônia e a mesa dos presentes não eram tão próximas, daria tempo dele fugir nadando até que os seguranças ou convidados notassem de onde veio o tiro, depois do caos que seria criado pelo noivo baleado. Matar? Maya perguntou-se perplexa. Hera tinha falado sobre Éris causar o caos e atrapalhar a cerimônia, o que fez a ninfa imaginar que teria de lidar com problemas não tão graves, mas morte? Aquilo não iria só atrapalhar o casamento, iria impedir completamente que ele acontecesse. Não se pode casar sem o noivo. Rapidamente, Maya andou na direção da mesa dos presentes, buscando dar a volta nela pela parte de trás, assim poderia pegar o rapaz da arma de surpresa que, no momento, estava concentrado em mirar. Quando alcançou uma boa distância, Maya pegou seu chicote e o estalou contra a mão do rapaz que segurava a arma. A dor e a surpresa fizeram ele largar a arma longe, que acabou caindo dentro do lago. Ele olhou para Maya e, durante um minuto completo, tudo o que ambos fizeram foi avaliar um ao outro até ele começar a falar. - Vejo que você não é uma convidada qualquer. - Mesmo que a primeira atitude do rapaz tenha sido a conversa, Maya não abaixou a sua guarda. - Você foi enviado por Éris. - A ninfa respondeu. - Que direta. De fato, eu fui. Sou um de seus seguidores. - Havia algo estranho naquele rapaz. Ele não parecia nem um pouco frustrado em não ter conseguido dar o tiro. - Você não queria matar ele de verdade, por isso estava tão nervoso. - Maya falou franzindo a testa, tentando entender tudo. - Sim, está correta outra vez. Eu sigo Éris pela discórdia, não por qualquer motivo de vingança. Não sei o que esse casal fez para ela, mas é algo pessoal para ela ter me enviado para matar o noivo. Que bom que você apareceu para me impedir, porque eu realmente não quero carregar mortes humanas nas minhas costas. - A testa de Maya franziu ainda mais. Aquele rapaz escolheu seguir Éris pela discórdia, mas não era necessariamente uma pessoa ruim. Como essas duas coisas podiam caminhar juntas? Éris e seus seguidores não deveriam simplesmente ser vilões? - Porque seguir Éris? - Ela não resistiu em perguntar. - Porque seguir a deusa da discórdia? - O rapaz riu. Maya percebeu que ele já tinha recebido aquela pergunta outras vezes. - Porque ela não é falsa como os outros. Ela não finge ser boa para cometer atos hediondos depois. Todos os Olimpianos possuem histórias de castigos perversos ou atentaram uns contra os outros, mas eles se dizem os soberanos, os corretos. Éris apenas assume o que é, e talvez ela seja dita como a deusa da discórdia meramente por isso: por não passar panos nas desavenças que já existem no mundo e em cada ser. Seguindo ela, faço trabalhos unicamente para ela que usualmente não me incomodam, o que era muito diferente de quando recebia missões dos olimpianos. Matar este noivo foi uma exceção. - Por aquela resposta, Maya compreendeu que aquele rapaz realmente não era pessoa ruim, embora ela jamais fosse seguir uma deusa que representasse a discórdia. A lealdade de Maya ainda estava com os olimpianos, ela tinha um profundo respeito pelos deuses bem como os deuses tinham respeito pelas ninfas. Acredite, quem machuca a árvore de uma ninfa é punido pelo próprio Olimpo, e por isso muitos mortais encontram a desgraça em suas vidas depois de ferir a natureza.

- E agora? - Maya perguntou. - Bom… Minha missão ainda é matar o noivo. A sua deve ser garantir a segurança dele. Logo, teremos de lutar. E não me entenda mal, eu sou leal a Éris e, mesmo não concordando com o teor do que ela me mandou fazer, ainda assim farei com todas as minhas forças. - De dentro do terno, o rapaz tirou uma faca escondida. Maya percebeu que ela tinha o brilho do bronze celestial. Como ela já desconfiava desde que ele confirmou que tinha vindo a mando de Éris, aquele moço era um semideus. - Muito bem. - A ninfa preparou o chicote. - Uma pena, você me parece uma semideusa interessante. - Maya levantou uma sobrancelha. - Eu sou uma ninfa. - O rapaz ficou com os olhos arregalados por um momento. - Uma ninfa? Que diferente. Eu sou um filho de Apolo, já saído do acampamento a dois anos para seguir Éris. - Maya se perguntou porque o rapaz estava inclinado a conversa ao invés do combate, então ela se lembrou que estava usando a Flor de Camomila na sua orelha, era por isso, pela magia da flor, o semideus realmente não estava inclinado a dar o primeiro ataque naquela luta. Maya poderia se aproveitar disso para que sequer houvesse uma luta. - Eu não conheço muitos dos semideuses do acampamento, usualmente fico na floresta. - Ela deu corda para a conversa enquanto preparava o seu ataque. Ela também tinha a vantagem da envergadura, então poderia atacar o semideus da distância onde estava, ainda que ele não pudesse fazer o mesmo com sua faca antes de se aproximar mais. - Realmente, estou curioso, uma ninfa fazendo o papel de um semideus. Porque? - Ele perguntou. Maya sabia onde atacar, sua mão moveu-se delicadamente no ângulo certo enquanto ela respondia. - Eu quero ser uma heroína reconhecida. Eu amo a floresta, mas sempre senti que ela não me era o bastante na vida. - Ela esperou ele responder, o pegaria enquanto falasse. - A vida do herói não é tão glamourosa ass… - Maya brandiu o chicote na direção da nuca do semideus, acertando-o em cheio. A nuca é um ponto delicado, porque possui nervos diretamente ligados com o cérebro, foi por isso que Maya escolheu esse ataque, não para gerar um golpe cortante, mas sim para fazer com que o semideus se sentisse atordoado. O rapaz ficou tonto como Maya queria, ela aproveitou para dar um chute em sua cabeça, que o fez cair no chão. Maya agradeceu pela fenda no vestido, caso contrário, ele iria rasgar pelo golpe. Com o semideus caído no chão, a ninfa ainda lhe deu um soco, o que o fez ser nocauteado de vez e cair no chão, desacordado. Da área do altar, uma música começou a tocar. Mesmo de longe, Maya observou a noiva começar a desfilar no tapete espelhado com seu lindo vestido branco, cabelos arrumados, maquiagem perfeita, segurando um buquê de flores. O sorriso dela era radiante e fez Maya sorrir junto, mas como da última vez, o seu sorriso logo se desfez pelo surgimento de um novo problema.

Parte 3: O Presente De Éris {22:13 - Área do Casamento, Central Park}

Enquanto a noiva fazia a sua entrada e todos prestavam a atenção nela (inclusive os seguranças da porta), Maya, sendo a única pessoa presente na área das mesas do local de festa, percebeu quando um foco de fogo verde começou a sair de um dos presentes. - Ela mandou de presente fogo grego? - Outra vez a ninfa ficou perplexa e também pensou nas palavras do semideus. Aquilo não era apenas discórdia, era vingança, para Éris impedir aquele casamento era algo tão pessoal que ela não estava se importando se pessoas poderiam morrer no processo. Fogo grego é o tipo de fogo mais perigoso porque ele demora muito para apagar, era o tipo de fogo usado em guerras. Nem se Maya quisesse ela iria conseguir extinguir aquelas chamas naquele momento, nem se ela tivesse um caminhão de bombeiros conseguiria (e a ideia era não atrapalhar a cerimônia, ou seja, nada de bombeiros). O pior era que ela tinha pouco tempo, se o fogo se espalhasse um pouco mais, as pessoas, mesmo na cerimônia, começariam a sentir o cheiro de queimado ou notariam a fumaça no ar. Isso iria cancelar o casamento. O presente de Éris já tinha queimado por completo e, agora, o fogo grego passava para os dois próximos presentes na pilha de caixas. Se chegasse na mesa e começasse a passar para as outras, seria um caos. Maya olhou em volta, buscando uma solução… E ela acabou encontrando bem ao seu lado: o lago. O fogo grego em si não apaga quando em contato com a água, mas se Maya atirasse as coisas que estivessem queimando dentro do lago, o fogo não se alastraria mais, ficaria apenas queimando os presentes até não sobrar mais o que consumir. Ponto positivo: a cerimônia continuaria. Ponto negativo: os noivos perderiam alguns presentes de casamento. - Não é como se eu tivesse outra escolha. - Maya convenceu a si mesma de que aquela era a melhor solução, mas com ela veio outro problema: como pegar os presentes? Ela não poderia correr o risco de tocar no fogo grego diretamente, porque se ele começasse a queimá-la, os danos seriam fortes demais.

Preciso de algo que não queime. Outra vez Maya olhou em volta, mas a solução de seus problemas acabou não estando muito longe outra vez: a faca do semideus. O Bronze Celestial é um metal, portanto, não é algo que é consumido por fogo, embora possa ser derretido por ele. Neste caso, Maya não se importaria nem um pouco se aquela lâmina terminasse deformada. Rapidamente, ela pegou a faca do rapaz e espetou a lâmina no primeiro presente pegando fogo, não demorando para o arremessar contra o lago, usando a própria inércia do movimento para que a caixa em chamas largasse a lâmina e voasse para as águas. Ela fez isso com os demais presentes que estavam pegando fogo até que não sobrasse mais nenhum que tivesse sido atingido pelas chamas verdes. No total, cinco presentes acabaram no fundo do lago, mas o casamento estava andando como se nenhum problema tivesse acontecido naquele meio tempo. Quanto a faca, bom, a lâmina realmente ficou deformada por conta do calor, como se fosse um sorvete derretido. Ela aproveitou o lago próximo para afundar a arma nas águas e diminuir a incandescência que ficou no metal, assim pode guardá-lo consigo. Agora, não passava de uma arma inútil, mas ela imaginou que os filhos de Hefesto poderiam gostar de Bronze Celestial fresquinho para moldarem em uma nova coisa.

Sem mais problemas, pelo menos por enquanto, Maya caminhou para a área do altar e observou como a cerimônia acontecia. Ela nunca tinha visto um casamento antes, nada mais natural a sua curiosidade a respeito. No altar, havia um homem com roupas diferenciadas, ele quem estava celebrando. Deve ter chegado um pouco antes da noiva, enquanto Maya estava ocupada com o seguidor de Éris. Os noivos, naquele momento, estavam de mãos dadas na frente do altar, enquanto o homem de roupas diferentes ficava entre eles, atrás do altar, falando belas palavras sobre o amor. Várias pessoas já estavam emocionadas, outras apenas distribuiam sorrisos, felizes com os noivos que, da mesma forma, também estavam sorrindo um para o outro com os seus olhares brilhando. Foi inevitável, Maya imaginou se um dia se casaria daquela forma. Ninfas não se casam, elas conhecem outros espíritos da natureza, se relacionam e, eventualmente, podem procriar um novo espírito a depender dos espíritos que os originaram. A junção de uma ninfa e um sátiro, por exemplo, pode tanto gerar uma nova ninfa quanto um novo sátiro. Mas… E se Maya quisesse se relacionar com um semideus e não com outro espírito da natureza? Ela poderia se casar também? Ela poderia olhá-lo com um sorriso no rosto, brilhar seus olhos e usar um belo vestido da noiva? Sua imaginação continuou indo além… E quando ela percebeu, estava se imaginando dando as mãos para Jack vestido em um terno. Ela cortou a imaginação assim que percebeu estar pensando nela. Foco Maya, foco. O que foi isso? Não, ela não entendia o que tinha sido aquele pensamento intrusivo. Ela e Jack… Bom… Eles não tinham nada um com o outro. Eles sequer poderiam se chamar de amigos, mais pareciam se encontrar sem querer em dados momentos… E ele era um cara irritante! Sim, todo cheio de pompa e… É, era isso, não havia qualquer sentido imaginar-se com Jack. Tinha sido apenas um pensamento aleatório, nada demais! Maya decidiu focar em assistir o casamento, afinal, era o primeiro que ela tinha oportunidade de fazer isso… Porém, ela percebeu uma figura diferente nos convidados. Uma figura com olhos rancorosos que antes não estava ali, que tinha simplesmente aparecido… Apenas como deuses podem fazer. Isso tem que acabar. Maya voltou para a área da festa, onde não havia ninguém.

Parte 4: O Acordo {22:28 - Área do Casamento, Central Park}

Sozinha outra vez na área de festas, Maya fechou os olhos. Éris, deusa da discórdia, faço essa oração em seu nome. Sou aquela que impede que você alcance seu objetivo neste casamento, venha me ver, caso contrário, continuarei fazendo o meu trabalho. Quando Maya abriu os olhos, uma mulher estava diante dela. Ela estava usando um longo vestido preto brilhante e saltos, seu corpo poderia dar inveja em várias mulheres e gerar desavenças facilmente. Seus cabelos eram roxos e espetados num estilo punk, seus olhos vinham carregados de maquiagem preta e roxa, seus lábios utilizavam um batom roxo também. Éris foi a deusa com o visual mais diferenciado que Maya já encontrou, mesmo assim, era notável que ela era uma mulher fatal, perigosa, ela poderia gerar discórdia meramente por passar perto de alguém. Ela mostrava confiança, uma personalidade cheia de si. - Vejo que eu e James vamos precisar ter uma conversa. - Éris falou olhando na direção do semideus atirado no chão. - Bem como eu e você também vamos precisar ter uma, já que você está sendo uma pedra no meu sapato. Como devo matá-la? - Maya inevitavelmente deu um passo para trás, ela não esperava uma ameaça de morte tão rápida. - Ou… Talvez tenha algo melhor neste caso. - Éris olhou fixamente para Maya. Algo no olhar dela deixou a ninfa incomodada. Era como se Éris estivesse vendo muito além da aparência de ninfa, como se estivesse lendo seus pensamentos e sentimentos. - Porque você quer acabar com este casamento? - Maya perguntou. Sua ideia era um tanto estúpida, mas poderia dar certo e era a única que ela pensou impulsivamente ao ver a deusa em meio aos convidados: manter Éris ocupada até que o casamento terminasse e a união fosse realizada. Ela só precisava enrolar a deusa… É, só enrolar uma deusa, imagina, cotidiano! - Fogo grego poderia matar todas essas pessoas. - Éris não pareceu se importar com esse moralismo. - A discórdia pode gerar muitas mortes, não a veja apenas como picuinhas. É a partir dela que surgem as guerras. Mas tudo bem, eu admito que dessa vez fui mais movida pela vingança do que pela discórdia. - Éris parecia querer falar. É uma coisa interessante dos deuses: eles gostam de falar sobre si mesmos. Maya apenas deu corda, quanto mais Éris quisesse conversar, melhor. - Vingança? - Maya perguntou. - Deuses também se apaixonam. Aquele noivo, Damien, trabalha como espião para o governo. Esse tipo de emprego é cheio de mentiras e desconfianças. É apaixonante. Eu me aproximei dele na mesma época em que ele conheceu aquela mulher… E ele escolheu a outra. - Sua última frase veio carregada de amargura, orgulho ferido e dor de cotovelo. - Então sim, eu quero estragar este casamento, simples. Como os mortais dizem? Uma mulher ferida é o pior perigo da terra. Imagina, então, uma deusa? - Os olhos de Maya dançavam entre Éris e a área do casamento. Quanto mais tempo essas cerimônias poderiam durar?

- Poupe seu esforço, ninfa. Sei o que está tentando fazer. - O olhar de Maya fixou-se em Éris. - Quer me manter ocupada enquanto a cerimônia continua. Eu capto muito bem as segundas intenções das pessoas, ou neste caso, dos espíritos. Sinto lhe dizer que esse tipo de ritual humano costuma ser demorado. - Um certo desespero começou a bater dentro da garota. O que ela poderia fazer agora? - Mas talvez eu possa ir embora e desistir do meu objetivo inicial. - Mesmo com a possibilidade de Éris ir embora, o desespero de Maya não diminuiu. Porque Éris iria lhe oferecer uma solução tão pacífica? - Existe uma coisa que eu prezo muito mais que a vingança. Eu não sou Nêmesis. Você pode me dizer qual é? - A resposta era óbvia. - Discórdia. - A deusa sorriu. - Isso mesmo. Terminar com este casamento irá me gerar um bom sentimento de vingança, mas semear a discórdia é algo ainda melhor ao meu ver… E já que você resolveu atrapalhar os meus planos iniciais, eu semearei discórdia na sua vida. - Todo o corpo de Maya ficou em alerta. Ela mal piscava. Sua mão apertava o seu chicote. - E você vai concordar com isso, caso contrário, eu irei acabar com este casamento, nem que eu precise usar meus verdadeiros poderes divinos. - Os olhos da deusa, por um momento, brilharam numa luz roxa, fazendo suas órbitas oculares desaparecerem no meio da luz. Aquilo era apenas uma pequena parcela de seu poder sendo demonstrado. - Eu vou concordar? - Maya perguntou, sua voz mal saindo dos lábios. Ela sentia como se estivesse começando a fazer um acordo com Hades. Você nunca deve fazer um acordo com o deus dos mortos, é como os mortais dizem: seria fazer um acordo com o Diabo, e ele sempre trapaceia. - Sim, porque assim a discórdia será ainda maior. Vejamos… - Éris fingiu pensar. - Você detestou ver aquele filho de Hades, um moço chamado Jack, olhando para aquela garota na festa, não é mesmo? O jeito que ele parou de falar com você, autch. - Um misto de surpresa com raiva atingiu Maya. Ela sentiu sua privacidade invadida. Como Éris sabia disso? A deusa percebeu, pelas expressões da garota, que era essa a pergunta que ela estava se fazendo. - Eu posso ver cada pequena sombra de discórdia em qualquer coração. No seu caso, cara ninfa, a fonte da discórdia entre você e o seu namoradinho será seu próprio ciúme. - Agora Éris tinha passado dos limites! - Ele não é o meu namorado! Nós não temos nada! - A deusa apenas deu risada. - Então concordar com o que eu vou te propor não será nenhum problema para você. Você não vai saber quando, mas eventualmente eu irei até Jack e o seduzirei… Bem na sua frente… E você não poderá dizer nada a ele sobre isso. - A raiva de Maya apenas aumentou, junto de sua confusão. - Mas que… Merda é essa? - Outra vez, Éris deu risada. - Oh, a ninfa soltou as suas garras. Eu lhe digo “que merda é essa”: discórdia. E ela me dá muito prazer, especialmente contra alguém que fracassou meus planos. Meu assunto com você também virou pessoal. Já que você me impediu de ter minha vingança contra o meu romance, eu irei minar o seu e me deleitar com isso. - Maya não sabia o que a deixava mais indignada em tudo aquilo: Éris querendo atrapalhar a vida dela ou Éris estar sugerindo que Maya estava apaixonada por Jack. Não, não era isso! Eles nem tinham nada! Ele era irritante, convencido, e… Não!

- Então, vamos fechar o nosso acordo, Maya? - Ouvir seu nome sendo proferido por Éris pela primeira vez incomodou Maya profundamente. - Se você concordar em não dizer nada para Jack sobre nossa conversinha, ficar caladinha e assistir enquanto eu o faço me desejar, eu vou deixar que Damien e sua, ugh, noiva, se casem. Não irei mais atrapalhar esta cerimônia, eles serão felizes para sempre. - Éris não deixou de colocar ironia em sua frase. É claro que ela não estava torcendo pela felicidade eterna dos noivos. Maya não queria aceitar aquela proposta. Ela era… Tão ridícula! - O que foi? Se ele gosta mesmo de você, não vai cair nos meus braços, não vai beijar meus lábios, não vai… Tocar… Meu… Corpo… - Aquelas palavras não estavam sequer deixando Maya pensar. - Cale a boca! - Ela estava cansada daquela conversa! Seus sentimentos estavam ficando confusos demais. Tudo aquilo a incomodava profundamente, aquele acordo, imaginar Éris com Jack como se ela fosse a garota da festa. Ela não queria ver ele olhando Éris daquela forma. Ao mesmo tempo, isso não significava que ela teria um romance com ele. As coisas só não funcionavam assim! Eles não eram namorados, não eram amigos, não era nada um do outro! Por que isso era tão difícil de entender e aceitar? - Tik tak, o tempo está passando, estou ficando impaciente. - Disse Éris mexendo um de seus dedos de um lado para o outro, simbolizando o pêndulo de um relógio antigo. - Por que tanta resistência? Não foi você quem disse que vocês não possuem nada? - Sim, isso era verdade. Era melhor que Maya aceitasse logo aquele acordo e acabasse com aquela situação de uma vez por todas. - Jure pelo Estige que vai cumprir com o que disse. - Maya falou a contragosto. - Oh, você tinha que lembrar do juramento pelo Estige. Droga. Tudo bem, eu juro pelo Estige que cumprirei com o que eu propus. - Saber que Éris iria infligir o seu próprio acordo se não tivesse o juramento fez Maya se sentir ainda mais desconfortável em estar selando algo com ela. - Sua vez, jure direitinho. - Maya respirou fundo. - Juro pelo Estige que não falarei com Jack sobre você e este acordo. - Éris abriu um sorriso de canto a canto do rosto. - Você me verá novamente, Maya, quando você menos esperar. - Numa nuvem de fumaça roxa, Éris desapareceu.

Parte 5: Pensamentos Ridículos {23:11 - Área do Casamento, Central Park}

O casamento não teve mais qualquer outra ocorrência. Maya assistiu a cerimônia até o fim, que terminou com a troca de alianças e um beijo do casal. Depois disso, a festa começou. Um buffet foi servido, os noivos cortaram o bolo, pessoas começaram a dançar ao som de música de festa. Para os recém casados, estava sendo o dia mais feliz da vida deles e, com o tempo naquele ambiente de boa energia, Maya começou a se incomodar menos com o acordo que tinha acabado de fazer com Éris. Realmente, porque ela deveria se preocupar tanto se não tinha algo com Jack? Porque sequer ficar incomodada? Não tinha sentido alimentar aquelas pensamentos intrusivos, ele e ela não eram nada mais do que dois campistas que já tinham tido algumas experiências juntos nessa vida de deuses e missões. Pelo menos, era nisso que Maya estava tentando se fazer acreditar… Porque a outra realidade… Não! Ela não poderia estar apaixonada por ele. Não por ele. Isso sim era ridículo.  
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