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Ruas de Nova York

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Ruas de Nova York

Mensagem por Oráculo de Delfos Dom Out 09, 2022 2:40 am

Ruas de Nova York
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Convidado Dom Nov 13, 2022 6:05 pm


Blow Your Brain
Killian checou o papel entregue por seu pai uma milionésima vez. Estava no local certo. Guardou o papel no bolso da jaqueta e olhou os arredores. Estava em um beco ao lado de um box barulhento; rock alto, risadas, palavrões e sons de garrafas se quebrando saíam pelas janelas craqueladas do galpão. O filho de Ares tentava permanecer o mais imovel e concentrado possível, aguardando nas sombras do beco o momento em que deveria recuperar o primeiro item pedido por seu pai. Killian entendia a seriedade da situação, mas não conseguia sentir nada além da vontade de concluir sua missão - sem cometer erros. Ele não sentia raiva, medo ou orgulho de ter sido escolhido por seu pai para aquela missão, no lugar das centenas de filhos que o deus da guerra teria pelo mundo. Ele não tinha o que provar para ninguém. Então porque estava ali? Ele poderia ter recusado e mandado Ares se fuder e aguentar as consequências da recusa ao pedido de seu pai. Teria sido uma honra lutar pela sua vida num combate com o deus da guerra. Contudo, lá estava ele. Aguardando. Em um um beco que fedia a mijo e carne podre, em um canto escuro onde a pouca luz da lua não conseguia chegar. — Por que eu estou aqui? — sussurrou, com o olhar fixo em uma das entradas do beco. O centro da cidade, não muito distante dali, àquela hora da madrugada seguia barulhenta como sempre. Assim como no galpão em que Killian seguia escorado em sua parede. Até que os sons iam diminuindo, conforme a luz do sol ia surgindo em alguns lugares por entre os prédios de Nova Iorque. De dentro do box, apenas a música continuava. Já devem ter ido dormir, Killian pensou, tendo pela primeira vez a sensação de um frio na barriga. Não que ele estivesse nervoso, mas pela esperança de acabar logo com aquilo. Antes que o sol surgisse de vez e sua presença por entre as sombras fosse notada por alguém, Killian vestiu a cabeça com uma balaclava que trouxe no bolso de trás da calça, deixando apenas seus olhos descobertos. E após cobrir as mãos com luvas de latex pretas, ele caminhou por entre o lixo jogado no chão do beco - tentando não emitir sons - em direção aos fundos do galpão.

No limite entre o beco e o fundo do box, Killian esgueirou um pouco a cabeça para ter certeza de que estava sozinho. “Bom dia, magricela” Foi como Killian foi recebido quando deu de cara com um homem baixo, mas corpulento, enquanto tirava do rosto óculos escuros - que guardou no bolso - e vestia uma jaqueta que Killian podia jurar já ter visto antes. O homem agarrou o filho de Ares pelo colarinho e o empurrou de volta para o beco, onde o prensou contra a parede. “Eu sabia que tinha sentido cheiro de viado aqui por perto” Killian permaneceu em silêncio enquanto o homem, sem dificuldade, apenas como uma mão, agarrou os dois pulsos de Killian e ergueu os braços do jovem acima de sua cabeça, e colocou uma das pernas entre as pernas de Killian, comprimindo as partes baixa do garoto. Com a mão livre, o homem puxou a balaclava do rosto de Killian e a jogou para longe. “Eu te conheço de algum lugar? Enfim.. Sei que deveria te dividir com meus irmão, mas vamos aproveitar que eles estão dormindo e nos divertir sozinhos primeiro”. Com Killian imovel, o homem começou a beijar e morder de forma agressiva o pescoço dele, amaldiçoando a corrente que Killian usava com um pingente dado de presente por seu pai. — Você devia ter deixado a máscara na minha cabeça. — Killian sussurrou no ouvido do homem, antes de avançar e morder o pescoço de seu opressor. A raiva que Killian sentia era tamanha ao ponto de tornar a pele e o músculo do homem macias aos seus dentes como se estivesse mordendo um pedaço de ambrosia. O garoto não teve dificuldades em arrancar um grande pedaço do pescoço de seu oponente. Com sangue jorrando violentamente, principalmente no rosto de Killian, o homem o soltou e Killian conseguiu tapar a boca do sujeito com a mão. Lhe deu uma rasteira em seguida e, com os dois no chão, Killian ficou por cima dele, enquanto o homem seguia jorrando sangue. Daquele ponto em que estavam, Killian conseguiu dar uma olhada no fundo do galpão, onde avistou a moto de seu pai. Era impossível não reconhecê-la. O homem parece ter notado o que Killian almejava e olhou para o garoto como se entendesse quem Killian poderia ser. Por debaixo da mão de Killian, o filho de Ares conseguiu ouvir do homem algo como “foi uma aposta justa”. — Não existe justiça quando você faz uma aposta com o deus da guerra. — Killian se inclinou para frente e alcançou um bloco de cimento, que usou para acertar a cabeça do homem repetidas vezes. A cada golpe, mais fácil ficava chegar ao interior do crânio do cara, destruindo cada um dos ossos de sua cabeça. Killian se sentia vivo e revigorado a cada golpe que dava, e satisfeito ao ver as feições do homem se tornarem desconhecidas a cada batida. Só então o garoto conseguiu notar a diferença entre aquele corpo e um corpo humano qualquer. O sangue era muito mais espesso e escuro que o de um humano comum. Sem contar que os nacos de cérebro não eram como Killian imaginava, mesmo que ele tivesse acabado de destruir a cabeça daquele cara com um bloco de cimento. Sem contar o forte e enjoativo cheiro de mortadela que subia do cadáver.  

— Um fã. — Killian disse em seu tom de voz baixo, enquanto limpava as vistas do sangue escuro de sua vítima. De pé, ele agora conseguia notar de onde lembrava daquela jaqueta que o “homem” vestia. Podia jurar já ter visto seu pai usar uma delas. Assim como algo parecido com aqueles óculos escuros. Não era o momento de rir daquilo. Por algum milagre, parecia que ninguém dentro do galpão ouviu o que aconteceu ali no beco. Ele pegou as chaves da moto e os óculos escuros no bolso do cadáver, e foi até a balaclava para guardá-la no bolso de trás da calça. Não havia mais uso para ela. O sol de sábado já havia se levantado ao longe, e Killian conseguia ver a sujeira do beco com mais detalhes, então qualquer um conseguiria ver ele também. Ele foi até uma fileira de sete motos nos fundos do box. Mas evitou ir direto na que ele almejava. Antes, ele foi em cada uma das seis motos extras, furando os pneus delas com um dos alfinetes resistentes que decoravam o cós de sua calça. Até que chegou a Carruagem de Guerra de Ares. Era uma moto vermelha e dourada, com o banco de couro como se fosse pele humana, com imagens de pessoas morrendo mortes dolorosas adornando-a. Ares costumava emprestar a moto a seus filhos quando eles chegassem aos 15 anos. E com isso, o garoto não pôde evitar um tímido sorriso surgir em seu rosto. Fazendo um serviço para Ares, podendo dar uma volta em sua moto e o ajudar a conseguir um presente pra garota dele. Com o sangue do desconhecido ainda morno em seu rosto, Killian estava começando a lembrar o porquê de ele estar ali. O plano de Killian era arrastar a moto para longe, e só então ligar o motor dela e partir, para não correr o risco de acordar o pessoal dentro do box com o som do motor. Mas os pneus das outras motos já estavam bem murchas. E que tipo de filho de Ares ele seria se não ousasse saborear riscos como aqueles? Killian montou na moto, colocou os óculos de seu abusador no rosto e deu partida na moto. Esperou até que ouvisse sons vindo do interior do box e só então arrancou com a Carruagem do pai - fazendo questão de passar por cima do cadáver do maluco estirado no beco. Com o sol do início do dia em sua nuca, Killian fez uma direita, em direção ao centro da cidade. E já com uma boa distância do box, mesmo de longe e por cima do som do motor da moto, ele conseguiu ouvir seis rugidos enfurecidos e inumanos virem de onde o garoto acabara de deixar mais uma de suas vítimas.

[...]

O próximo compromisso de Killian só aconteceria na madrugada daquele sábado. E para ele, passar o dia em algum buraco qualquer esperando a noite cair estava fora de questão. Seria um desperdício de uso daquela moto. Killian percorreu tantas estradas enquanto esperava o sol se pôr que quando viu estava chegando em Raleigh, na Carolina do Norte. Era incrível o quão longe aquele veículo conseguia ir em um curto período de tempo. Estava no fim da tarde e ele já conseguira alcançar metade de todo o percurso da costa leste dos Estados Unidos. Não foi parado uma vez sequer pela polícia, e desconfiava que os poderes divinos na moto eram os responsáveis. Killian adoraria saber até onde chegaria com a moto antes de começar a se incomodar com o vento na cara, mas ele ainda tinha uma missão a ser cumprida. E para ela ele foi, dando meia volta e seguindo para o norte, em direção a Nova Iorque.
Seguindo as instruções anotadas pelo pai, Killian estacionou a moto na frente de uma loja em uma das raras ruas do centro com pouco movimento. Olhando atentamente para a vitrine, percebeu se tratar de um açougue. Sendo um semideus a serviço do deus da guerra? Ele deu de ombros e estacionou a moto no meio fio antes de entrar na loja, levando a chave consigo no bolso da calça. O interior da loja era fortemente iluminado por intensas luzes brancas, deixando nítido o estado das carnes que estampavam as vitrines. As que não tinham uma coloração mais puxada para o verde, eram asquerosamente cinzas. Um senhor de uns 80 anos de idade, aparentando fragilidade em sua curvatura e cabelos ralos e brancos foi quem atendeu Killian, com um sorriso forçado, porém convidativo. “E então? O que o rapaz vai querer esta noite?”  — Eu vim pelas lutas. — O velho colocou as mãos no balcão, aparentando desconforto na fala de Killian. “Se veio para assaltar minha loja, saiba que há umas duas horas tentaram e não conseguiram” — Não. Vim apenas pelas lutas. — “Não tem lutas aqui!” o senhor respondeu. Killian olhou para as mãos do velho e viu suas unhas pintadas com um esmalte preto. Subindo um pouco mais pelas costas da mão dele, era possível notar a tatuagem pequena de dois ursos lutando em seu pulso. “Eu já fui jovem como você” disse apontando para as tatuagens de Killian “Também tive meus momentos de rebeldia.” — A sua tatuagem parece muito recente. Assim como o esmalte. — Os dois ficaram em silêncio por um tempo. “É preciso manter o espírito jovem vivo! E… Ah, foda-se. Por algum motivo eu acho que os caras lá embaixo iam gostar de quebrar os ossos de um moleque feito você”. Killian tentava não expressar reações algumas. Desde que ele conseguisse chegar ao local das lutas, o velho poderia dizer o que quisesse. “Mas quando seus pais vierem atrás de você, procurando pelo seu corp-” — Foi meu pai quem me enviou para a luta. — O coroa assentiu, aparentado já estar acostumado com absurdos como aquele. “Que seja. Pela cortina”

Ao lado do balcão em que o velho atendia, uma entrada para os fundos da loja era protegida por uma cortina de grossas tiras de plástico - que deveriam ser transparentes, mas pela imundice, não era possível ver nada do que havia do outro lado. Killian atravessou a cortina sentindo o olhar do idoso na frente da loja o acompanhar. Quase conseguia ouvir as condolências que o balconista devia estar desejando em sua mente. Do outro lado da cortina, Killian se viu em um longo e largo corredor, com pedaços de carnes enormes pendurados em ganchos presos no teto baixo. O chão era de cimento, agora vermelho pela mioglobina que escorria das carnes penduradas. Killian foi até o fim do corredor e notou uma porta de aço enferrujada com uma portinhola no alto dela, que ele tentou empurrar, mas estava trancada. Alguém abriu a portinhola, mas Killian não conseguia ver quem estava do outro lado, por conta da escuridão. Só o que conseguia ouvir era a música e sons animados de pura violência vindo do buraco na porta. “Competidor ou apostador?”, uma voz grossa, porém feminina, perguntou do outro lado. — Um pouco dos dois. — Um trinco do outro lado da porta foi movido e a porta de abriu para dentro. Ali Killian conseguia ver a espessura do aço e agora entendia porque os sons ali dentro não eram ouvidos lá na loja. Killian passou pelo portal e ignorou a pessoa que o atendeu. Ele seguiu por um longo corredor que levava a um lance de escadas, acompanhando o som de gritos e golpes atingindo carnes e ossos. Após o primeiro lance de escadas, o lugar se abriu para um espaço amplo e subterrâneo. Sem janelas e uma única porta mais ao fundo do local feito inteiramente de pedra negra. No centro do salão subterrâneo, havia um ringue elevado a aproximadamente um metro de altura do chão. Ele tinha uns cinco por cinco de diâmetro e era inteiramente cercado por uma “gaiola” feita de grades e arame farpado. Dezenas de pessoas ao redor do ringue berravam e batiam na grade, em comemoração a um imenso e musculoso sujeito que andava em círculos no ringue, ao redor de um outro homem deitado de bruços numa poça de seu próprio sangue.

O cara que andava em círculos recebendo os aplausos e vivas estava sem camisa, vestindo apenas calças velhas e rasgadas e algo na cabeça. Killian achou que era um chapéu vinkin até perceber que os chifres no “chapéu”, na verdade, brotavam da testa do homem. Quando ele ficou de frente para a escada em que Killian descia, o garoto viu suas feições bovinas e duas grandes orelhas que ficavam penduradas do lado de seu rosto. — Minotauro. — sussurrou. Ele olhou rapidamente para Killian, parecendo ser o único naquela multidão que ouviu o sussurro do jovem. “Você! Semideus! Competidor ou apostador?” As pessoas ao redor pareciam confusas com as palavras ditas pelo Minotauro, e agora todas olhavam em silêncio para Killian. Elas certamente eram mortais comuns, e Killian se perguntava como é que elas enxergavam o Minotauro através da névoa. — Você tem algo que meu pai precisa. E para isso venho como competidor — o Minotauro sorriu malicioso, enfiando uma das mãos no bolso e tirando um colar de lá. — Mas também trago uma aposta, para merecer o que está em sua posse caso eu vença. — Ainda da escada, Killian tira as chaves da moto do bolso e joga na direção do ringue, passando pelas grades até que Minotauro a pegue no ar. “Como imaginei, um filho de Ares” os espectadores permanecem confusos, mas intrigados. Como se fosse raro o Minotauro trocar mais do que duas palavras por noite. “É óbvio que ele enviaria um de seus filhos para conseguir o colar, ao invés de lutar suas próprias batalhas” Killian engoliu a ofensa de Minotauro. — Aceita minha proposta? — O brutamontes entregou o colar e as chaves da moto para um sujeito que fazia as coletas das apostas. “Vai ser uma honra enviar o que sobrar de você de volta para o seu pai na garupa da minha nova moto”.

Os gritos entre os espectadores se transformaram em sussurros e risadas maldosas enquanto cada um deles lutava para conseguir chegar ao cara das apostas. Killian sabia bem em quem eles estavam investindo seu dinheiro. Risadas ainda mais ríspidas foram ouvidas quando Killian tirou a jaqueta e a deixou no corrimão da escada, exibindo braços finos e um tórax magricela possível de se imaginar, mesmo coberto por sua camiseta preta. Enquanto se aproximava do ringue, Killian viu alguém arrastar o corpo desfalecido do último oponente de Minotauro. O semideus subiu ao ringue por uma entrada na grade aberta por uma mulher careca que olhava para Killian como o velho da loja lá em cima. Minotauro mirava Killian com seus olhos inteiramente negros e um sorriso sinsitro por onde saliva escorria. “As regras da competição, são as que vocês criarem no ringue” disse a mulher que ajudou Killian a subir no ringue. Ali o garoto entendeu que eles poderiam lutar da maneira que preferirem, usar armas se desejassem, e não era bem definido se um dos dois deveria ou não sair dali vivo. Dependeria de quem estivesse ganhando o ato de misericórdia. Killian olhou para a poça de sangue do último competidor no chão e tentou imaginar se ele ainda estava vivo. O Minotauro pareceu perceber e deu uma curta risadinha. “Meu sacrifício ao seu pai. De que lado você acha que ele estará nessa batalha?” — Desde que ele não apareça para te salvar enquanto você estiver chorando, eu não ligo. — Era uma péssima frase de efeito, e o oponente de Killian sabia. Mas ele também detestava a prole dos deuses e suas feições agora eram enfurecidas. “Vocês podem começar em 3…” “AAAAAAH!” Antes da contagem da mediadora, Minotauro já havia voado na direção de Killian. O coração do garoto quis sair pela boca ao ver aquele homem boi ganhar volume em sua direção tão rapidamente. Killian apenas se abaixou e deslizou para o lado. A gritaria na plateia iniciou mais uma vez. Killian sentiu que Minotauro tinha algo para dizer sobre o garoto apenas ficar se esquivando, mas o homem-boi se conteve e apenas investiu contra o rapaz outra vez.

Minotauro foi mais ligeiro agora e conseguiu agarrar Killian pela perna e pelo braço, e o jogou contra a grade que cercava o ringue como se o garoto fosse um boneco de pano. O grito da plateia poderia facilmente romper os tímpanos de alguém. Killian permitiu que as dores dos cortes em seus ombros causado pelo arame farpado lhe servissem de energia. Ele não queria mais se esquivar. Desta vez foi Killian quem avançou. Minotauro ia se esquivar com o semblante de diversão já estampado no rosto. Mas sabendo do que ele faria, Killian se abaixou e deslizou pelo chão do ringue até conseguir agarrar uma das pernas de seu oponente e puxá-lo. Minotauro caiu de bruços no ringue com um sonoro baque, calando os espectadores não acostumados a verem o boizinho deles levar um golpe. Killian se apressou a subir nas costas de Minotauro antes que ele entendesse o que acabou de acontecer. Killian puxou os chifres do oponente para trás, tentando deixar o pescoço dele à mostra. Minotauro urrava, mas conseguiu se levantar com o semideus ainda agarrado em seu chifre - pendurado nas suas costas. Minotauro queria ferir o garoto ainda mais nas grades do ringue e correu de costas naquela direção. Percebendo o que iria acontecer, Killian, com alguma dificuldade, conseguiu colocar os pés no chão, e com este apoio, ainda segurando os chifres de Minotauro, ele impulsionou o corpo para o lado, puxando os chifres consigo, fazendo o brutamontes dar uma pirueta e cair no chão outra vez. Ainda estando de pé, Killian aproveitou a oportunidade para dar um chute no rosto do Minotauro. Desnorteado, tentando se levantar do chão, Minotauro não via que Killian andava de costas para longe dele. Também não viu quando o garoto puxou o pingente da corrente em seu pescoço e o jogou para cima, voltando logo em seguida no formato de um machado de duas faces que posou com seu cabo vermelho nas mãos de Killian. O filho de Ares não via mais sentido em manter aquela lutinha por muito tempo. Ele estava disposto a ser o magricela que finalizaria o competidor favorito daquela gente toda na frente deles.

Minotauro se levantou olhando em choque para o machado na mão de Killian. “QUEM DEU UMA ARMA PARA ELE?!” — Parece que Ares escolheu um lado. — Minotauro rugiu e vapor começava a sair de suas narinas, parecendo ainda mais ameaçador do que já estava. Mas Killian se divertia com aquilo. “Eu vou te levar para o Hades comigo, mesmo que eu perca essa luta, semideus.” bufou “Eu voltarei depois de um tempo, mas você… você passará sua eternidade no Tártaro. E eu me certificarei de passar por lá para garantir alguns de seus castigos”.  — Você fala demais pra um boi raivoso. — Minotauro não disse mais nada e avançou na direção de Killian, que dobrou os joelhos e fez um giro para o lado, acertando a perna de Minotauro com o machado. O homem boi urrou um berro animalesco tão sinistro que Killian conseguia imaginar o som romper a névoa e começar a amedrontar os espectadores. Minotauro caiu de joelhos, ainda gritando, em alguns momentos como uma criança. — Essa é Dákrya Aímatos. Meu pai deveria estar com vontade de fuder meio mundo quando deu pra esse machado o poder de causar tanta dor. — Killian riu. Para alguém que não parava de falar, Minotauro pareceu ter mudado sua personalidade e apenas avançou com Killian outra vez, ignorando a dor e emitindo seus sons de vaca. Desta vez Killian não saiu do local. Aproveitou que o touro vinha em sua direção com a cabeça baixa, planejando lhe golpear com os chifres, para erguer Dákrya acima da cabeça e baixá-la na direção do chifre direito de Minotauro. O homem-boi urrou como nunca antes. Estava outra vez no chão, rolando para um lado e para o outro enquanto seu chifre decepado rolava para fora do ringue. Ele tentou se levantar, mas caiu de joelhos na frente de Killian. “Por favor! Acabe com isso!” — Você vai precisar fazer uma oração antes. — Minotauro rugiu, mas cedeu inconformado, como uma criança. “Oh grande deus Ares, eu imploro por-” — Não pra ele. Pra mim! — Minotauro choramingou por alguns segundos antes de prosseguir, com a cabeça baixa. “Tenha misericórdia de minha mísera existência, grande…” — Killian. — “Killian. Senhor da dor, da coragem e domador de monstros”[/i]. Aproveitando que Minotauro estava de cabeça baixa, Killian ergueu seu machado de novo, e o baixou com a lâmina na direção do pescoço do oponente, decepando a besta, que se desfez em um rodopio de pó dourado.

Silêncio. Killian apenas ouvia o som de sua respiração e as batidas fortes de seu coração. Olhou ao redor e viu que quase todas as pessoas presentes haviam ido embora. Talvez alguns dos gritos que ouvira foram dos espectadores assustados correndo para longe. Entre as pessoas que ficaram, estavam a mulher que ajudou Killian a subir no ringue, o cara das apostas, um sujeito que sorria vidrado em um canto, o dono da loja - que veio provavelmente depois de ver todo mundo correndo para fora, e uma mulher musculosa - provavelmente a que cuidava da entrada do clube de luta. Killian jogou seu machado para cima que voltou outra vez como um pingente. Ele voltou a prender o pingente em sua corrente e conseguiu descer do ringue sem ajuda. Foi até o chifre decepado do Minotauro e o prendeu no cinto da calça. O homem das apostas veio até Killian com uma bandeja contendo maços de dólares, as chaves da moto e o colar de Ares. Killian se preocupou em pegar apenas os dois últimos itens e guardá-los. — Essa quantia, — disse para o açougueiro — é o bastante para vocês esquecerem meu rosto, meu nome e toda a parte em que o boizinho virou purpurina? — “Dentro do ringue são vocês que fazem a regra. Mas fora dele a primeira delas é que nada do que acontece aqui, sai daqui. Leve o dinheiro” Killian sorriu e deu de ombros, pegando os maços de notas. Ele foi até a escada, pegou sua jaqueta, colocou-a no ombro e seguiu em direção a saída, tentando não derrubar o dinheiro que ganhou.

Mais um dia raiava do lado de fora do açougue. O céu limpo demonstrava que seria um dia quente de domingo. Uma oportunidade perfeita para Killian de dar um último passeio na moto de seu pai. Ele se certificou que o colar estava bem seguro em um de seus bolsos, os maços de dinheiro bem guardados e o chifre bem preso em seu cinto. Aquele último item, seria uma oferenda para Ares. Ainda que o garoto esperasse receber uma compensação pelo serviço entregue, ele achava justo também agradecer ao deus pela experiência divertida dos últimos três dias. Dando partida na moto, o semideus tinha como foco chegar ao USS Intrepid Sea, templo de pai, no Pier 86 do rio Hudson. E para lá foi, deixando algumas notas de cem voarem de sua jaqueta no momento do arranque.


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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Cole Dawson Bryce Ter Nov 15, 2022 8:05 pm

A mission in the theatre for Dionysus
- NÃO INVENTA, ARIEL! SE NÃO VOCÊ FICA LOUCO E DORME! – gritei para o meu amigo antes de passar pela entrada do chalé. Eu ainda tentava acreditar em como tinha conseguido colocar uma garrafa de vinho para dentro daquele acampamento. Mesmo sendo filho de Dionísio, eu ainda era menor de idade e bebidas alcoólicas era algo extremamente proibido ali (pelo menos no dia a dia). Às vezes eu imaginava se meu pai liberaria uma de suas safras de vinho para alguma festa. Normalmente, eu e Sunny conseguíamos algo para essas ocasiões, mas era sempre um limite tendo em vista os campistas bem mais novos. Meu pai nunca me pareceu um cara difícil de lidar e muito menos um deus rígido como Zeus, mas eu também não me sentia na liberdade de fazer um pedido desse. Não porque poderia parecer ser uma má ideia, mas sim porque ainda não tínhamos o melhor dos relacionamentos de pai e filho. Quando eu adentrei o interior do chalé e o vi sentado na mesa principal, usufruindo de uma boa taça de vinho, eu parei assustado. O que era isso? Ele resolveu fazer uma surpresa? - Hoje vai chover – sussurrei revirando os olhos. Ele olhou em meus olhos e começou a indagar o motivo de sua presença. Dionísio queria um favor meu e sem esperar por alguma resposta, se levantou e se aproximou. Era difícil aquela situação acontecer, eu estava me sentindo estranho, mas também não era algo que eu precisava admitir. Eu tinha certeza de que meu pai poderia imaginar o que estava passando pela minha cabeça. De acordo com o deus, um teatro estava para ser inaugurado no bairro do Queens e ao que parecia, ele ansiava por algum objeto cênico para completar sua coleção. Os tapinhas em minhas costas me fizeram suspirar. Seu pedido era que eu fosse até o local no dia seguinte da abertura e pegasse qualquer um dos objetos que iriam estar em cima do palco - Só isso? – o fitei com neutralidade. A verdade era que agora, eu não sabia o que sentir mais. Seu sorriso foi largo e ele voltou até sua mesa dizendo que após a festa de inauguração, o espaço costumava ficar vazio. No entanto, segundo suas experiências, sempre havia alguma coisa para impedir que ele conseguisse pegar seu objeto cênico de desejo. Ao final do seu discurso, ele simplesmente mencionou autômatos e se despediu, me abraçando e saindo do chalé como se nada tivesse acontecido. Com o cenho franzido, eu fiquei imóvel, tentando absorver todas aquelas informações passadas em tão pouco tempo - Por que eu? Por que não Sunny ou qualquer outro filho seu? – eu já estava sozinho, mas fazia aquelas perguntas como se meu pai ainda estivesse presente no recinto.

[...] Era o dia seguinte da inauguração e eu estava em frente ao novo Goldstein Theatre num dos bairros mais famosos de Nova York, o Queens. Era de manhã quando eu saí do acampamento sozinho com minha aljava, algumas flechas e meu arco nas costas. Eu não estava tão nervoso quanto eu achei que ficaria assim que acordei, o que era surpreendente, diga-se de passagem. Não era normal que eu lutasse contra monstros ou qualquer tipo de criatura no dia a dia. Meu pai decidiu me passar uma missão como aquela como se fosse algo normal. Era engraçado como eu havia herdado a sensatez da minha mãe, bem diferente de Sunny, que conseguia ser mais doidinha assim como Dionísio. Eu tinha meus momentos de loucura, mas na maior parte do tempo, eu era bem mais racional. Irônico para um cara amante do teatro e das artes, não? Eu olhei ao redor em busca de alguém, mas felizmente, o local estava vazio devido ao horário. Determinado, eu fui em direção a entrada do teatro já sabendo que seria um pouco difícil. Talvez para o deus fosse ser um pouco fácil roubar peças de teatro, mas para qualquer outra pessoa, era necessário passar por alguns obstáculos... e eu não falava de um autômato. Antes de sair do chalé, consegui roubar um dos grampos de cabelo de minha irmã, já sabendo que isso me ajudaria a passar por algumas portas trancadas. Dito e feito, lá estava eu manuseando o pequeno objeto pela tranca, o que não demorou mais do que cinco segundos e assim, eu adentrei com cuidado. Passando pela bilheteria e o silencioso foyer do teatro, eu abri as grandes portas que davam para o auditório e me vi rodeado de assentos. O lugar não estava tão escuro assim, mas precisei buscar o acesso à parte elétrica. Abrindo a portinhola do disjuntor, eu acionei as luzes gerais do teatro e tomei um tempo para observar os detalhes dali. O espaço não era nada inovador ou diferente do que eu já estava acostumado a vida inteira. Admito, meus olhos brilharam ao avistar o palco. Tinha tanto tempo que eu não pisava em um... era esse o meu fraco. Eu logo me vi caminhando até lá, o eco dos meus passos chegando a ser quase ensurdecedor. Mesmo não ocorrendo nada, ainda era mágico estar num lugar como aquele.

Em cima do palco, não havia nada, como era de se esperar. Eu subi as escadas e me vi ali no alto, já correndo os olhos por detrás das coxias. Para facilitar o processo da montagem diária de cenário, era normal que algumas peças ficassem guardadas num canto próximo - Talvez eu consiga sair daqui sem lutar, né papai? – murmurei um pouco frustrado, vasculhando alguns cestos carregados de artefatos. O que roubar para um deus que já tinha tudo? Um esqueleto estava posto a minha frente. Do monte de objetos guardados, haviam desde máscaras de teatro até coroas e penas - O teatro já inaugura da forma mais piegas possível – sorri com meu pensamento alto. Um melodrama de William Shakespeare ou uma adaptação do teatro grego antigo eram os meus tipos preferidos de peça. Talvez fosse por isso que Dionísio tivesse me encarregado daquela pequena missão particular, ele sabia que eu poderia muito bem me divertir no meio do caminho. Mas quando tudo estava ocorrendo bem, um estrondo fez a situação ir para outro rumo. Autômatos. Eu voltei apressado até o centro do palco e arregalei os olhos ao ver as portas sendo arrombadas por um touro de metal - Cansou de ficar parado na Wall Street? – um alívio cômico para diminuir minha própria tensão naquele momento. A corrida da criatura foi destrutiva. Eu retirei o arco das costas e praticamente voei para fora do palco. Com uma flecha em mãos, eu a posicionei na corda e mirei nos olhos do autômato. Dificilmente aquela arma conseguiria causar algum efeito na criatura, afinal, metais eram materiais um pouco duros demais. Contudo, talvez cegá-lo fosse ajudar. Eu estava longe o suficiente, mas ele logo veio em minha direção e eu soltei a flecha, vendo-a passar de raspão e perfurar parte de seu chifre. Eu já havia treinado combate a criaturas no acampamento, mas agora eu poderia, de fato, dizer que a vida real era bem mais difícil. Por mais que o treino prático não fosse tão diferente em termos de simulação, existia a pressão psicológica e a questão de correr perigo de vida. Ninguém iria me salvar, não haviam instrutores para ajudar.

O interior do teatro estava sendo cada vez mais danificado. Eu voltei até o palco e por segundos, eu tive que pensar em algo. Desviando o rosto para todos os lados, eu me deparei com a estrutura de cima do palco onde se posicionava a parte da iluminação. Em seguida, olhei para os meus pés e fui levado pela minha intuição. O fosso, claro. Mas a proximidade da criatura me fez priorizar a fuga no momento. Sem hesitar, eu corri para os bastidores, batendo e chutando qualquer coisa que estivesse a minha frente, enquanto meus olhos procuravam por algo que pudesse me ajudar. Eu precisava prender o autômato e conseguir jogá-lo do alto, só assim ele se destruiria. Quando eu finalmente encontrei as escadas que davam para o local do andar de cima, eu estranhei o silêncio súbito. A criatura não tinha ido embora, mas ela também não era inteligente para conseguir me assustar. De qualquer forma, eu caminhei com mais cautela e me vi em uma das pontes de madeira improvisadas que os técnicos costumavam ficar. Eu me sentia o próprio Fantasma da Ópera, espionando qualquer movimento ou vulto dali debaixo. Foi quando eu vi uma corda grossa ao lado de um balde de tinta, um pincel e um refletor isolado no meio da ponte. Acontece que, mesmo tentando ainda fazer o máximo de silêncio, o autômato voltou com tudo assim que eu corri para alcançar a corda. Correndo, seu peso foi o que provocou parte da estrutura do palco a tremer e eu sentir por consequência - Merda – a corda também não era tão leve, mas com certo esforço, eu consegui enrolá-la em meu ombro. Então, uma das coxias foi derrubada e como uma trilha de dominós caindo um no outro, cada parte que caía, puxava um pedaço do restante da estrutura até provocar as partes mais frágeis do lugar onde eu estava. Eu corri até a extremidade rente a um dos balcões do teatro e tentei jogar a corda para conseguir pular depois. Mas ao mesmo tempo, tudo começou a desmoronar e eu me vi caindo sem suceder no plano. Pela altura e me pegando desprevenido, eu caí sentindo meu braço bater na beirada do palco e eu gritei de dor, rolando pelo chão. Foi um corte no cotovelo e uma perna ralada, mas minha sorte era não ter sido amortecedor de algo mais pesado.

Os passos barulhentos do autômato aumentaram e eu não tive tempo de fazer outra coisa, a não ser me sentir na obrigação de esquecer dos machucados. Com força no braço, eu me levantei com a corda em mãos e me joguei pelo chão do palco em direção a criatura. Com o intuito de prender ao menos duas patas, eu enrolei uma delas e apertei. O problema é que meu erro foi não estar preparado para uma reação e, com um coice, eu fui jogado para longe, batendo com as costas numa das paredes da parte de trás do palco. Ali eu perdi um pouco da força, sentindo ardor em outra nova ferida em algum lugar do meu corpo. Mais lento, eu me levantei e me apressei para voltar ao plano, agarrando a ponta da corda. Eu só precisava repetir a atitude com a outra pata, mas o autômato já estava próximo demais novamente. Eu poderia tentar atirar outra flecha para ganhar tempo, mas quando cogitei na ideia, já era muito tarde. Eu levei a mão até minha aljava e tratei de enfiar a arma manualmente em um dos olhos do touro. A área afetada se quebrou e assim que ele se irritou, eu voltei a agarrar a corda e me agachei para rodá-la na outra pata, puxando-a com voracidade antes de correr até o outro lado do palco. Agora estava o passo mais difícil daquele plano: como pendurá-lo? Minha vantagem era minha resistência. Eu sempre procurava correr nos tempos vagos dentro do acampamento. Os campistas sempre se importavam com combates, mas esqueciam de priorizar essa parte tão importante. De nada adiantava saber lutar e não aguentar as pancadas. Eu também não era um filho de Apolo para poder pular essa etapa. Portanto, minha única chance ainda era um dos balcões. Os treinos recentes de escalada com Mia me ajudariam agora. Eu enrolei a parte que restava da corda em meu corpo e me preparei para escalar da área do balcão mais baixo até o mais alto dali. Assim que eu pulei para alcançar a beirada do primeiro, eu virei o rosto ao ouvir um estrondo. O autômato já tinha caído sobre o palco, rachando o piso. Eu ainda tive facilidade de início, mas até pular para o segundo balcão, era um desafio. A sorte era que a corda estava frouxa e eu não precisava carregar o peso da criatura junto. Então, eu me concentrei e resolvi ser mais rápido. Com um pulo, eu levantei as mãos e consegui me segurar no parapeito do segundo balcão, grunhindo com a força que eu precisava ter para ir contra a gravidade. Quando consegui ultrapassar o tronco, levantei a perna para finalmente me dar apoio e poder me levantar. O touro logo me puxou por um movimento seu de tentar ficar de pé e eu quase perdi o equilíbrio, balançando naquela altura de quase três metros.

Na minha frente, existia uma pilastra que separava aquele balcão do outro ao lado e foi exatamente ela que me ajudaria. Eu pulei dentro daquela área e contornei os assentos, dando três voltas daquela corda na estrutura. Essa era a parte final e eu precisava ser forte... literalmente. Começando a puxar, eu senti o real peso do autômato. Com um grito e sentindo minhas veias saltando dos meus braços e pescoço, eu fui percebendo que estava tendo sucesso bem aos poucos. A criatura ia deslizando até a beira do palco e calmamente, sendo elevada. Com um passo de cada vez para trás, eu senti minhas costas baterem contra a parede e meu bíceps tremer. Aquilo durou cerca de um minuto até que o touro estivesse balançando a alguma distância considerável do chão. Quando cheguei ao limite, me dando por vencido, eu soltei a corda e suspirei pesado, vendo o autômato cair de supetão e se quebrar por completo próximo ao fosso do palco. Eu precisei de um tempo para me recompor até voltar lá e pular os destroços do estrago em busca da peça teatral que meu pai tanto almejava - Hamlet? – me perguntei ao notar os objetos que se encontravam ilesos atrás das coxias. Num compartimento próximo da fiação do palco, havia um amontado de scripts, no que eu aproximei e pude confirmar que era exatamente aquela peça que estava em cartaz. Shakespeare era algo tão clássico que dificilmente Dionísio não teria mais de um item em sua coleção. Ao lado da papelada, havia uma caixa preta. Eu não hesitei em abri-la por curiosidade, encontrando a tão famosa caveira que o protagonista segurava em seu monólogo. Eu a retirei dali, tendo uma memória de prontidão onde Dionísio, na sua última visita inesperada ao acampamento, comentava sobre a frustração de ter perdido um grande objeto de sua coleção. Era inacreditável como aquele artefato não tinha se partido depois de todo o caos. Eu o guardei de volta na caixa e a peguei antes de sair dali. Por um momento, eu pensei em levar algo a mais, como um presente ou uma oferenda para agradá-lo, mas eu me arrependi no segundo seguinte. Desde que eu tinha chegado ao acampamento há três anos, meu pai nunca tinha feito muita questão de se acertar comigo ou Sunny. Louco do jeito de sempre, ele agia como se o passado nunca tivesse acontecido. Talvez minha irmã o entendesse melhor, mas eu ainda carregava uma certa mágoa. Eu engoli e saí do teatro correndo.
missão one-post
badger

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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Angelina Schuyler Seg Dez 19, 2022 2:52 am

Num esconderijo de assassinos
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S01P01
Jesse estava se lembrando… Lembrando de seu caminho até ali. Ela estava em uma cela, olhando para um homem preso a uma cadeira por seus pulsos e seus tornozelos. A cabeça dele pendia para baixo, desacordado. Um pano estava em volta de sua boca, servindo como uma mordaça. Aquele homem tinha tido dias piores nas últimas semanas, Jesse tinha feito questão disso. Pelo menos, era o que ela achava no início. Ela começou sem dó, trazia uma faca, fazia cortes, bebia o sangue dele e é isso. Nada mais. Aquele homem virou seu alimento particular e assim seria até o quanto seu corpo conseguisse recuperar o sangue que ela comia. Os dias foram passando e ela percebeu em si mesma a mudança. Quando ia cortá-lo com a faca, ela era mais vagarosa, apreciava bem mais o momento. Quando pousava seus lábios ao redor de seu corpo para beber o sangue, ela não apenas o chupava como um animal esfomeado, mas deslizada seus lábios, sentia, saboreava. Então, em um dia específico, ela levou sua boca até o rosto dele e deixou-a ali, próxima aos seus lábios, mas não os tocando. “O que eu estou fazendo?”, foi o que ela pensou. E foi assim que ela saiu da cela e não voltou por uma semana. Ela contratou pessoas para tratar dos ferimentos do homem. Ele estava cheio de cicatrizes de cortes, mas nenhuma delas atrapalhava a sua beleza. Porque ela o achava bonito? Isso a irritava, mas era uma verdade. Pois bem, a semana se passou, e lá estava Jesse, dentro da cela, olhando para o homem na cadeira. Christian. Um usurpador, um traidor, nada mais do que isso. Deveria não ser nada mais do que isso. Deveria morrer servindo de alimento para ela. Porém, ali estava ele, bem vivo, tratado e preso a um móvel relativamente confortável. Era a posição mais gentil que ela tinha o colocado desde que tornou-se um prisioneiro.

Aos poucos, ele foi acordando. Seu organismo se acostumou à nova posição e seus olhos foram de encontro a ela. Jesse também estava sentada, mas num banco de pedra que parecia embutido nas paredes da cela. Ela olhou nos olhos dele. Buscou respostas. Não as encontrou, não ainda, mas não desistiria de buscá-las. - Eu roubei o seu coração. - Ela disse. Claro que ele não entendeu. - Literalmente, eu coloquei a minha mão dentro do seu peito e puxei o seu coração para fora. - Fazer isso foi… Estranhamente satisfatório. - Foi por meio de uma magia de Hécate. - Ela explicou. - Ao fazer isso, caso eu sussurre ordens ao coração, você será obrigado a obedecê-las. - Um meio sorriso brotou em seus lábios. Jesse odiava traidores, sempre os matava, mas nunca tinha pensado antes em como poderia ser satisfatório controlá-los à força… Ou será que essa satisfação era por causa dele em específico? O que ele tinha que ela gostava tanto? - Eu coloquei seu coração em um baú e escondi ele. Você não vai encontrá-lo a não ser que eu queira que você encontre. Simples assim. - Seu tom era confiante, ela achava que tinha escolhido um bom esconderijo. - Antes de guardar seu coração no baú, eu sussurrei três ordens. A primeira é: você não pode me matar. - Muito importante para os planos dela. Queria soltá-lo, mas não confiava nele. Ele tinha tentado usurpar o que ela tinha, quem garante que ele não a mataria para isso? Ainda mais depois de dias de cativeiro? - A segunda é: você não pode deixar que outros me matem. - Por que não um guarda-costas particular? Jesse é habilidosa, mas você não faz ideia de como é difícil manter a segurança sendo a chefe de um bando de assassinos de aluguel. - A terceira é: você vai honrar seu cargo. Não deixará de ser o meu funcionário. - Ela queria mantê-lo por perto. Que melhor maneira de fazer isso se não garantindo que ele ainda teria de trabalhar para ela?

- Agora, eu vou soltar você. - Jesse disse, levantando-se. - Você pode não acreditar nas minhas palavras, mas pode tentar desafiar as ordens… Você não vai conseguir. - Acredite, Jesse tinha testado isso em outro prisioneiro aleatório antes de usar nele, uma mera cobaia. Funcionava muito bem. Ela, então, aproximou-se dele e levou suas mãos até a fivela que prendia um de seus pulsos. Ela começou a trabalhar ali, abrindo a mesma, mas antes de soltá-la completamente, ela levantou o olhar por puro reflexo. Os olhos dela se encontraram com os de Christian. Eles estavam próximos. O que havia naquele homem que a deixava fascinada? Jesse voltou a trabalhar na fivela antes que aquele contato visual ficasse mais estranho ainda. Assim que afrouxou bem a amarra, ela afastou-se rapidamente. Ele era imprevisível naquele momento. Iria ficar calmo ou agiria em retaliação? Ela não sabia. Por isso, ela apenas soltou uma de suas mãos, porque a partir dessa, ele poderia se libertar completamente e levaria um tempo para isso, tempo que ela usou para voltar a se sentar no banco de pedra. Ela cruzou suas pernas, sentada, o observando. Uma de suas mãos passou em seus cabelos, querendo os balançar, chamar atenção. Foi um ato involuntário.  
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Ava O. Vaughn Dom Fev 19, 2023 5:35 pm


o veneno do myrmeko
primeira missão


O
Chamado

Os passos de Ava eram apressados, enquanto saia de seu chalé e percorria o acampamento em direção a Área Comum, local que gostava de visitar com certa frequência, contudo, naquele dia sentia que não era uma visita leviana. Seus sonhos que há tanto se tornaram tão vívidos, mais uma vez, vinham carregados de significado — podia sentir em seu âmago que havia sido convocada para estar naquele local, só não entendia o motivo por trás daquilo. “Ainda, não sabia ainda…”, pontuou mentalmente.

Seus cabelos estavam soltos e ainda usava a camiseta laranja berrante do acampamento que começava a ficar puída por usá-la basicamente dia sim e dia não.

Ao chegar no local, percebeu que nem tinha tomado café da manhã ainda quando sua barriga roncou alto — fome era uma coisa que sentia absurdamente desde que se mudou para o Acampamento Meio Sangue. Sentiu-se um pouco boba, quando percebeu que não havia absolutamente ninguém ali e imaginou se tinha apenas imaginado o chamado de seu sonho. “Não, sonhos não são mais apenas sonhos…”, corrigiu-se e prosseguiu caminhando, o vento fazia seus cabelos balançarem e dava uma sensação agradável à pele da semideusa.

Aproximou-se das árvores, observando os detalhes rebuscados da madeira, quando sentiu o ar mudar ao seu redor e aquele arrepio que sentia cada vez com mais frequência a alertou. Se virou no momento em que uma imagem se materializou em sua frente, sabia — sem nem precisar olhar — que era divina. “Démeter”, o nome da deusa brotou em sua mente como se o próprio vento soprasse em seus ouvidos, a grama parecia mais verde a seus olhos e as folhas farfalhavam alegres à presença da divindade.

Senhora! — A voz de Ava quase falhou ao curvar-se em uma mesura formal à presença da deusa. Essa educação havia recebido de seu próprio pai, costumava imaginar ser exagero dele ou o amor exacerbado por sua profissão que sempre exigia dela um respeito formal a tudo relacionado aos deuses, mesmo antes dela própria descobrir fazer parte desse mundo. Ele estava, na verdade, preparando-a e que ironia estar na presença de quem ela sempre imaginou apenas como mito. Eles eram reais e seus poderes, também. Ela sentia.

Ava ouviu com atenção as palavras de Deméter, não mexia um músculo sequer, enquanto seus pensamentos processavam as informações trazidas pela deusa. “Preciso que faça uma coisa para mim, Ava.”, era um chamado, uma missão. "Minha primeira missão. Mas, por quê?”, pensou quase surpresa. “É esse o objetivo de todo semideus, não é?! Treinar e sair em missões…”, retorquiu a si mesma com consternação por um segundo.

A natureza respondia a Deméter, pois, seu aparente desgosto pela situação recém descoberta por Ava era espelhado pelo vento que rugiu em resposta, enquanto as folhas vinham ao chão.

Um myrmeko? Na superfície?”, a filha de Atena raciocinava rápido à medida que os detalhes foram dados, mesmo que muita coisa não se encaixasse. “Não faz sentido envenenar a própria plantação… A menos que…”, seu pensamento ágil ia criando um mapa e seu sangue corria com velocidade por suas veias, o desafio iminente despertava seus sentidos, os sentidos de um semideus.

Estendeu a mão e segurou entre os dedos a delicada flor de trigo dada como guia pela própria deusa, era apenas para amassá-la e jogá-la para cima e seria guiada ao local certo. “Um GPS bem… Divino.”, pensou a tempo de observar a deusa afastar-se. Voltou os olhos para baixo quando sentiu em seus ossos o ambiente alterar-se mais uma vez, tamanho poder emanado, ela assumiu sua forma divina antes de desaparecer, deixando Ava sozinha entre as árvores.

Girou o corpo e pôs-se a caminhar novamente sem perder tempo, enquanto um plano se formava em sua mente. Não era como se pudesse negar ao pedido de um deus e o vento mais uma vez rugiu pelo campo quase como uma resposta ao pensamento.


missĭo,ōnis '

Ava descia os degraus da Casa Grande, há pouco estava na Sala de Héstia, deusa e diretora do acampamento, ainda sentia uma sensação morna tomar conta de seus sentidos após estar na presença da deusa da hospitalidade, segurava a flor de trigo com cuidado entre os dedos, sinal da missão dada por Deméter e que ao mostrar para a diretora nem precisou explicar o motivo de estar ali.

Caminhou até seu chalé e lá tratou de arrumar o pouco que tinha em uma pequena mochila, tomou banho e vestiu uma das trocas de roupas que conseguiu trazer para o acampamento em sua mudança às pressas. Uma calça jeans de lavagem clássica, uma camiseta branca de algodão e um tênis branco já surrado pelo tempo — ao encarar sua imagem no espelho não reconheceu a mesma pessoa de semanas atrás, mas sentiu-se confortável com o que via.

Remexendo em seu baú ao pé de sua beliche ouviu o tilintar de algo metálico, embaixo de seu moletom encontrou algo que fazia semanas que não olhava. Dentro de um saco simples de tecido cozido e laço cinza estava o presente que o pai lhe dera no último dia que estavam juntos. Segundo ele era de sua mãe para ela. Ava abriu e encontrou os braceletes prateados, eram lindos, de fato, mas até agora nunca os experimentara. Sem pensar muito, colocou-os no pulso e não se surpreendeu quando se adequaram perfeitamente a sua compleição. “Foram feitos para mim.”, ela sabia que era o presente de Atena a seus filhos. Hoje, eles serviriam de bom grado à semideusa.

Lembrou-se das palavras de Héstia, deveria tomar cuidado com o semideus envolvido, já que não sabiam quais eram suas intenções e nem os motivos para o envolvimento dos deuses. Também sentiu um gosto amargo na boca, quando se lembrou de que estaria sem a proteção do acampamento, então, precisava estar ainda mais atenta. “Qualquer perigo pode encontrá-la, mas essa missão é sua e as Moiras sabem muito bem o que fazem.”, foi a última frase.

Jogou por cima seu moletom, dois números maiores que ela, agora que havia emagrecido um pouco, para esconder os reluzentes braceletes — sabia que aquela roupa não era exatamente adequada para um resgate, mas seu destino era Watkins Glen, uma pequena vila no consulado de Schuyler e de onde estava até lá eram boas horas de viagem. Seguiria de carona até o ponto de ônibus mortal mais perto, depois viajaria por rotas alternativas e faria paradas estratégicas se fosse preciso, mesmo que levasse o dobro do tempo, tomando cuidado em não chamar atenção, afinal, não seria nada inteligente ser atacada antes mesmo de chegar a seu destino.



Ava estava sentada em uma banqueta dentro de um bar apinhado de pessoas, o local fedia a cigarros e cerveja barata, as conversas eram desconexas e animadas. Estava em um canto escuro, usava um boné sem estampa cobrindo o rosto e o capuz do moletom preto, segurava uma garrafa d’água pela metade entre as mãos. Seu percurso levou cerca de 9 horas, então já era noite quando chegou em Watkins Glen.

Vai por mim, Carl, são 100 mangos fácil, fácil… — A voz rouca de um homem se elevou a mesa do lado, Ava permanecia parada, os ouvidos atentos.

Não é estranho, cara? 100 dólares para dirigir um caminhão até Montour Falls que é só o quê… Trinta minutos daqui? — O segundo homem retorquiu, sua voz estava um tom mais agudo que os dos demais. Era medo. —Ninguém sabe exatamente quem é… Os boatos são assustadores. Ninguém o viu a menos que ele queira. — Completou mais baixo olhando para os lados.

Deixa de ser maricas! — "Pelos deuses, alguém ainda fala assim?” — Peter paga direitinho, só precisamos levar a carga e manter a boca fechada. Ele é metido com uns caras estranhos e fala coisas mais estranhas ainda, mas eu não ligo. Todo dia às 6 mais caras como eu estão lá para levar as cargas e o trabalho é só esse. São só um monte de verduras e sacos de cereais, não é como se fossem drogas! E não vê-lo é um bônus, o chefe não fica em cima.

"Peter. Carregamento. 6 da manhã.", Ava olhava de soslaio para os homens.

Ok, onde te encontro?

Eu não posso te falar, a localização é um segredo… Me espera na frente da estrada velha amanhã e eu te levarei. Primeiro, ele precisa confiar em você para você conseguir chegar até lá. Paul e Bob tentaram chegar lá e não conseguiram, eles dizem que é magia negra que impede de encontrar a fazenda.

Neste momento a jovem semideusa se levantou e caminhou para fora, deixando as portas infestadas de cupins baterem atrás de si.

Já era noite e o clima era agradável, mas uma sensação estranha de desconforto assolava a deusa. Ela sabia que conseguiria pelo menos alguma informação neste bar, Watkins Glen é quase um vilarejo, 1859 habitantes, os homens em sua maioria trabalham em serviços braçais e informais, de forma que todo dia podem estar em uma fazenda diferente. Era isso que ela ouviu de uma senhora na rodoviária de Ithaca, onde ela pegou o último ônibus para a cidadela.

"Qual seu plano, semideus?, Ava pensava, enquanto encarava a rua à sua frente.

Seus pés agiram de forma quase inconsciente e iniciou uma caminhada descendo a viela do bar e passando por trás do Lake Valley Legends, um hotel que pensou em se hospedar.

A estrada velha é o antigo caminho que ligava o complexo de Fórmula 1 — pelo qual a cidade é conhecida no país — ao novo centro. Ava caminhou por todo o local guiada por um folheto de turismo que ganhou da amável senhora de Ithaca, por isso reconhecia sua entrada e sabia que era mais afastada.

Se encontrasse a entrada, sabia que então poderia usar o presente dado por Deméter e ir ao encontro da fazenda, já que aparentemente ele protegeu o lugar o suficiente para que nenhum curioso se aproxime. “Magia negra… São esses os boatos. Ajuda de quem está tendo, Peter?”, Ava refletia enquanto caminhava com pressa.



Ava seguia um tornado que girava no ar a altura de seus olhos, na escuridão, apenas a lua brilhante iluminava o caminho. Não queria alarmar com nenhuma fonte de iluminação artificial sua aproximação. O caminho fez tantas curvas e cruzou tantos pontos que realmente não chegaria se não fosse pelo GPS dado pela deusa. Há muito o centro luminoso da cidade se afastou e agora havia apenas uma pequena estrada e muitas árvores.

O tornado desceu uma encosta e seguiu lateralmente a um riacho tranquilo. A luz pálida da lua deixava a cena ainda mais bonita, mas seus sentidos começavam a ficar aguçados ao ouvir ao longe um som metálico, estava se aproximando e podia sentir isso no arrepio que tomou seu corpo, deixando os cabelos de sua nuca eriçados.

Pronta ou não, havia chego em seu destino e agora teria de enfrentar o que quer que fosse.


O veneno do Myrmeko

A fazenda era cercada por plantações de trigo e centeio, além das diversas hortas espalhadas por sua extensão. Era uma fazenda incrível e por algum motivo o semideus responsável por ela está usando-a para envenenar as pessoas.

Mymerkos são formigas gigantes de carcaça extremamente resistente, fortes, seu veneno é cruel e causa dores inimagináveis. Do alto do pequeno monte que observava, Ava esquadrinhava o local com o olhar clínico, procurando algum sinal. A fazenda parecia estar vazia, todos os refletores estavam ligados iluminando toda a extensão cercada da casa principal e dos celeiros — espaços grandes o suficiente para abrigar um Myrmeko.

Tudo estava… Silencioso demais. Não havia guardas, nem sequer uma alma viva fazendo rondas. Peter, se é que era esse seu nome, estava seguro o bastante para deixar o local sem qualquer tipo de segurança.

Ava tocou seu pulso como se encaixasse seu bracelete, Koptikí Grothiá, mas a verdade é que só queria ter um tempo para respirar, era sua primeira missão, afinal.

Não sou de rezar, mas… me proteja, Atena!”, clamou em silêncio pela mãe antes de começar a descer de forma lenta e silenciosa pela encosta.

A semideusa passou entre os arbustos e pulou a cerca caindo dentro de uma das plantações, mas sabia exatamente por onde caminhar até encontrar o portão lateral da sede principal.

O caminho pareceu durar uma eternidade e cada passo que ela dava, guiada por sua memória do que havia acabado de olhar, chegou até o local que poderia entrar. O portão era de madeira robusta, carvalho envelhecido e pesado o suficiente para saber que não fora um humano normal que o construiu.

Abriu sem muito esforço e adentrou. “Está fácil demais… Peter parece não precisar se preocupar muito.!”, pensou. Olhou para os postes procurando câmeras de segurança que poderiam facilmente indicar sua localização, mas não encontrou nada.

Avançou pouco a pouco, escondendo-se atrás dos inúmeros objetos e maquinários que estavam próximos.

A casa principal era enorme e de arquitetura rústica, suas paredes de madeira envelhecida se erguiam majestosas apontando para o céu. A seu lado haviam dois celeiros altos e largos, mas menores em majestosidade do que a casa.

Abaixou-se e tocou o chão, ficando estática e seus olhos focados em algo distante, enquanto apenas sentia as vibrações da terra. Os coleiros eram grandes e convidativos, mas expostos demais e a filha da deusa da sabedoria podia quase afirmar que o monstro não se escondia ali.

Levantou-se e caminhou abaixada indo para os fundos da casa, procurando uma entrada no solo. Sabia que quase adentrar sob o solo estaria nos domínios do semideus, mas não tinha outra alternativa.

Avistou duas portas junto ao solo, sendo a entrada do porão. Olhou por sobre o ombro e avançou diretamente para as portas, dando as costas para o campo, segurando as maçanetas firmes sob os dedos.

— Ora, veja só… Mandaram uma espertinha dessa vez! — Uma voz rouca soou atrás de Ava, ela endireitou a coluna e virou-se encarando a imagem. — Eu estava te esperando em um lugar muito mais legal, mas aí como saiu da rota, precisei vir aqui te buscar.

Ele era pelo menos 10 centímetros mais alto que ela, pele queimada de sol, cabelos castanhos, usava enormes botas e trazia de forma descontraída um enorme garfo forcado dourado descansando sob o ombro direito.

— Imagino que sim. — A voz de Ava soou firme e sem nenhuma diversão, enquanto encarava-o.

— Me surpreendeu ao conseguir encontrar esse lugar, mas imaginei que poderia ter uma ajudinha de minha mãe ou outro deus intrometido… Agora, sério, chegar assim? Simplesmente entrar pela porta da frente e caminhar pela fazenda! Deve ser uma novata… — Suspirou de forma teatral. Como suspeitou, ele realmente era um filho de Deméter. — Eles treinavam melhor os semideuses na minha época! Como se chama? De quem é filha?

— Onde está o Myrmeko?

— Direta e reta, não é? Me chamo Peter, aliás, já que não parece ter muita educação. — Ele caçoou. — Mas, infelizmente, não posso deixar vê-lo, ele vai ficar quietinho onde está e você vem comigo, te deixarei ser a primeira a experimentar a nossa nova colheita de abóboras recém preparada.

— Não, eu passo! Obrigada.

— Não é um convite, semideusa. — Ele proferiu de forma rude e em um segundo avançou de forma ágil contra a semideusa.

Ava usou a estrutura da porta do porão para se lançar à frente, desviando por um milímetro do ataque mortal da arma do semideus. Girou o corpo e chutou a lateral de seu corpo, acertando a ponta do pé nas costelas do homem, mas ele acertou o cabo do garfo em suas costas e Ava cambaleou para frente.

Sua arma era longa e ele poderia lutar a distância, já ela precisaria se aproximar o suficiente para acertar alguns golpes. Sabia que iria enfrentar um embate direto por isso precisaria pensar em algo.

— Está usando o Myrmeko para vender esses produtos para o mercado negro, não é? — Ela falou depois de desviar de um golpe mortal dado pelo semideus, tamanha foi a força que o garfo afundou nas portas de madeira do porão e as quebraram, um sorrisinho cresceu nos lábios de Ava.

Montour Falls é o centro de distribuição do mercado negro desse lado do país, uma pequena e calma cidade e sabia que era para lá que as cargas estavam indo.

— A vida fica pacata demais depois de um tempo. Essa coisa de ficar lutando, salvando o mundo, servindo de cachorrinho para os deuses… — Ele falava, enquanto a rodeava. — Nah! Eu quero dinheiro! Dinheiro de verdade! E os mortais… Eles pagam qualquer coisa, fazem qualquer coisa por ganância e essas cargas são valiosas para eles.

— Então, agora serve de cachorrinho para os mortais? —  Ava caçoou e isso irritou o semideus, ele se lançou novamente sob ela que desviou para a direita e conseguiu acertar um soco direto nas costelas do homem que urrou em resposta a dor causada pela lâmina do bracelete.

Ele se afastou sangrando, seus olhos injetados pelo ódio encaravam Ava com descrença. Aproveitou esse momento para investir, tentando virar o jogo — desferiu golpes um atrás do outro, sabendo que a melhor defesa seria o ataque neste caso.

Ao dar um soco, Peter conseguiu segurar seu pulso e antes que ele pudesse girar seu braço, ela deu uma cabeçada em seu nariz com toda a força que tinha e ele caiu sentado. Ava girou o corpo e saltou para dentro do porão, pulando os muitos degraus e correndo túnel a dentro.

Precisava libertar o Myrmeko, mas para isso deveria encontrá-lo primeiro. A luz fraca das lamparinas iluminava o enorme túnel que se estendia para dentro da terra e ela seguiu correndo, ouvindo o som de Peter que a perseguia.

Derrapou no chão de pedra quando parou de frente a uma enorme abertura e lá dentro estava o enorme monstro. Contudo, ele estava abaixado, o buraco sendo menor que ele, deixava-o apertado e ele não se movia, preso por uma grossa corda de ferro negro e galhos de árvore que o apertavam. As antenas do Myrmeko batiam com violência e esse era o som metálico que podia se ouvir lá fora.

Devia permanecer fora de sua mira, pois ela querendo libertá-lo ou não, ele não teria essa noção e podia atacá-la.

Em um segundo, sentiu o perigo se aproximar e antes que pensasse Peter agarrou seu cabelo e desferiu um golpe em seu rosto, seguido de uma joelhada em seu estômago, ela caiu de joelhos se curvando e sentindo o sangue jorrar de seu rosto, o som de seus ossos sendo esmagados a enjoou.

— Fraca demais, semideusa… Fraca. — Ele falou próximo a seu rosto, enquanto segurava seu cabelo com força. — Seu papai ou sua mamãe devem ter vergonha de você…

— É mesmo? — Ava proferiu com a voz baixa. — Então, por quê você caiu nisso?

A menina deu um soco em cheio no rosto de Peter, ele gritou quando o sangue escorreu por sua bochecha. Ela girou o corpo, segurando seu braço e puxando-o para o chão, então conseguiu encaixar suas pernas em seu pescoço. Estava treinando os golpes nos últimos treinos, sabendo que quando o oponente fosse mais forte que ela, o jiu jitsu era uma boa escolha.

Ava girou o braço do rapaz e pressionou seu pescoço, o estalo de seu membro em suas mãos a assustou por um momento, mas ela sabia que era a única forma, precisava desmaiá-lo.  Quando ele parou de se debater, ela levantou e ficou de joelhos, sentindo a ardência no rosto.

Olhou para o Myrmeko e as grossas raízes que o seguravam estavam se mexendo, parecendo mais frágeis e sensíveis e ele estava se mexendo cada vez mais. Ava correu para fora, ainda sentindo-se fraca e encontrou o garfo de Peter jogado lá fora, ela o segurou e correu para dentro de novo.

Ao voltar, Peter permanecia desmaiado, ela se aproximou da corrente e segurou a arma com força entre as mãos, golpeando a corrente três vezes antes dela ceder e se estilhaçar. O enorme monstro demorou um pouco para entender que estava livre e ela usou esse tempo para se lançar para fora e correr, levando Peter arrastado consigo para o lado oposto a entrada.

Assim que o Myrmeko percebeu estar livre, ele fez um som agudo e saiu do buraco, levantando e levando tudo pela frente. Antes de sair, pegou com as antenas o garfo e rumou pelo túnel sem olhar para trás. Estava livre e aproveitou para levar algo que brilhava a seus olhos, já que era de sua natureza.

Ava suspirou profundamente notando que estava segurando a respiração até então. Passou a mão no rosto e percebeu que podia estar muito bem com o nariz quebrado. Voltou seu olhar para Peter e ela permanecia desmaiado, mas respirava.

O arrastou para fora e deixou-o no chão, procurando uma corda entre as coisas da fazenda, depois o amarrou e prendeu-o em uma árvore. Foi até os celeiros e os abriu, notando quanta comida havia lá e devia estar toda envenenada — antes de sair, encontrou gasolina e jogou em tudo, ateando fogo.

O Myrmeko já devia estar longe, de volta a sua colônia e Peter logo menos acordaria, bem como sua equipe chegaria a fazenda. Não adiantaria chamar a polícia, sabia que o semideus não seria encontrado se não quisesse, por isso ela precisou chamar sua atenção e fazer ele vir até ela, era esse o “feitiço” que envolvia a fazenda. Devia ser a benção de algum deus, mas não perguntou muito.

Achou explosivos e foi até o porão, jogando lá dentro também e impedindo que pudessem entrar ali novamente. Então, deu as costas à fazenda e foi embora, pronta para voltar para o acampamento. Peter ficaria furioso e poderia encontrar outras coisas idiotas para fazer, então, se fosse preciso, ela o encontraria novamente.

Precisaria parar em algum lugar para trocar de roupa e dar um jeito em seu rosto, antes de pegar um ônibus e voltar para a Colina, então, andou o mais rápido que pode agora vendo o sol nascer no horizonte.



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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Ivanna Klaasje Qua Mar 22, 2023 2:29 am

A Terceira A Viver
Parte 1: O Pior dos Deuses {Dia 1 - 11:45 - Caminho Entre as Forjas e o Refeitório}

Depois de passar parte da manhã nas forjas com os filhos de Hefesto, Ivanna fazia o seu caminho para o refeitório. O horário do almoço chegou junto com a fome dela. Ela tinha adquirido este novo hobby depois de conhecer Hefesto. Descobriu que gostava de ficar nas forjas observando o trabalho dos filhos dele e ajudando quanto podia. Ela não era tão boa nos trabalhos quanto eram os filhos de Hefesto, porém, ela conseguia ajudar com ideias e projetos. No fim das contas, Atena e Hefesto tinham coisas em comum, como uma certa inteligência para a construção. Até então, estava sendo um dia agradável. Ainda faltavam alguns dias para o próximo dos desafios de Ares, nenhum deus veio dar missões para ela recentemente, estava até pensando em chamar Marissa para as duas fazerem alguma coisa juntas durante a tarde quando… Pá. Ivanna sentiu uma pancada no estômago que fez mais o seu diafragma sofrer do que o sistema digestório. Foi como se o ar fosse forçado a sair de seus pulmões. Ela percebeu que estava sendo atacada, havia uma silhueta ao seu lado, mas antes que pudesse ter qualquer tipo de reação, sentiu algo desestabilizar as suas pernas. Ivanna caiu no chão, batendo com as costas, enquanto seus olhos olhavam de baixo para quem tinha a atacado. Era um homem. Ela sabia quem era aquele homem com jaqueta de couro e óculos escuros. Era o mesmo homem que tinha visto sair do chalé de Hermes a dias atrás segurando uma espada roubada. Ares. Que foi que eu fiz pra esse cara? Ela pensou, não entendendo bulhufas sobre ter sido atacada do nada. Fez alguma coisa errada durante a caçada aos javalis? Ares nem a cumprimentou, já foi falando que ela não parecia tão forte ou competente quando outros deuses diziam. Em outras circunstâncias, Ivanna teria ficado curiosa sobre a possibilidade dos deuses estarem falando sobre ela, mas ao ouvir aquelas palavras, foi como se uma onda de raiva e violência a atingisse. A garota se levantou imaginando quantas flechas conseguiria acertar em Ares até que o corpo dele não tivesse mais pele para ser alvo de um novo projétil. Segundos depois, percebeu que este não era o tipo de pensamento que ela costumava ter, então estreitou os olhos para o deus. A aura dele que a fazia ficar violenta e ela não gostava disso.

As seguintes palavras de Ares não deixaram Ivanna mais animada, considerando o que ele dizia sobre estar quase se arrependendo de tê-la escolhido para uma missão. Isso, pode se arrepender mesmo, não tem problema nenhum. Ela pensou, considerando seu histórico de favores para os deuses nada legal. Transformar sua tia em um pavão, enfiar uma flecha numa amante de Zeus… E a única missão que era para ser minimamente tranquila, testar um arco para Hefesto, ela acaba quase morrendo. Tem como ficar pior? Infelizmente tinha e Ares iria provar isso nos segundos seguintes. Primeiro, Ares já estava agourando a morte dela, porque “com sorte poderia observar ela morrendo durante a missão”. Ivana cruzou os braços, começando a ficar impaciente de verdade com aquele deus. A vontade que ela estava tendo era mandá-lo ir tomar naquele lugar. Então, seguindo o script básico de cada missão (depois de três, Ivanna já estava começando a enxergar os padrões), Ares contou qual era o seu problema. Seu templo em Nova York não estava recebendo oferendas, o que fazia Ares ser uma piada entre os olimpianos, principalmente para Atena. Ivana deixou escapar um breve sorriso de canto, não se importando com o olhar de desprezo do deus. Depois, ele explicou que seus templos demandam sangue como oferenda, sangue de guerreiros, sangue de batalha. A missão de Ivanna seria justamente isso, uma oferenda a Ares, mas as coisas começaram a ficar bem sombrias a partir daquele momento. Ela deveria ir ao templo de Ares em Nova York, naquela mesma noite, e encontrar-se com outras duas pessoas que teriam a mesma missão que ela. Uma dessas pessoas era um militar mortal que tinha a capacidade de ver através da névoa, o outro era um semideus que estaria vestindo uma camisa roxa, sendo um filho de Dionísio. Ela deveria matá-los antes que eles a matassem. Essa era a missão dos três, matar uns aos outros, somente um poderia sair do templo de Ares vivo. As mãos de Ivanna se fecharam em punho. Que tipo de missão estúpida era aquela? Enquanto Ares continuava a falar sobre lavar o chão com sangue e como a recompensa gloriosa da garota seria a atenção dele para as suas técnicas de batalha, Ivanna tinha que manter todo o seu autocontrole para não socar a cara de Ares. Ele ainda era um deus e poderia a transformar em pó em segundos, ou por a sua cabeça aos pés da irmã, como ameaçou fazer. A imagem de sua cabeça decepada aos pés de Atena fez o estômago dela revirar. Toda a imagem era errada, não somente a parte dela ficar morta e sem o restante do corpo. Absorta nos próprios pensamentos, ela nem viu quando o pé do deus chutou-a na barriga. Ivanna caiu novamente e, no tempo que ela teve para se recuperar, o deus se foi em uma explosão luminosa.

Enquanto se levantava, Ivanna percebeu que perdeu a fome. Ela tinha acabado de ser convocada para uma espécie de batalha mortal naquela mesma noite. Tem noção do quanto aquilo era insano? A vontade dela era de contar para alguém, de falar com Héstia, mas de que isso adiantaria? Que escolha ela tinha? Iria viver sua vida fugindo de Ares? Era morrer para Ares ou tentar sobreviver a uma luta contra outras duas pessoas. Porque os deuses eram tão injustos? Como se semideuses ou até mesmo os mortais fossem meros peões para eles brincarem? Ivanna sentiu uma súbita vontade de chorar, a água começando a se formar em seus olhos. Ela não queria morrer, mas também não queria matar outras duas pessoas por motivos tão estúpidos. Naquele momento, ela percebeu que existia um deus muito pior do que Hera, o deus da guerra.

Parte 2: Preparativos {Dia 1 - 17:30 - Chalé de Atena}

No horário do almoço, Ivanna teve que se esforçar para comer. Não adiantaria nada ir para uma luta com fome, sem forças. Depois, ficou o restante da tarde em seu chalé. Não contou nada para ninguém. Ela simplesmente não conseguia. Se morresse naquele dia… Bom, eventualmente iriam descobrir o seu corpo em algum de Nova York, ela esperava. Se não morresse naquele dia, então aquela missão seria mais um de seus segredos que, cada vez mais, iam se acumulando em sua mente. Era como se Ivanna tentasse ser correta, uma boa pessoa, uma boa semideusa, mas o seu destino não fosse esse, os deuses estavam moldando ela para uma outra finalidade. Quando a noite começou a cair, ela também começou a se aprontar. Colocou todas as armas e itens divinos que possuía em cima da cama, tirando pelo seu primeiro arco e flecha, que agora ficava pendurado na parede como uma decoração. Ela jamais iria se desfazer dele, do seu primeiro fiel amigo. - O que levar para uma luta mortal? - Ela murmurou, aproveitando que estava sozinha no chalé. Sua voz era carregada de desânimo. Qualquer pessoa diria que ela deveria levar as lâminas de sua mãe, Koptikí Grothiá. Ivanna ganhou aquele presente no dia de sua reclamação. Quando voltou ao chalé de Hermes naquele dia, as duas armas estavam ali, no meio de suas coisas. Depois, Ivanna veio a descobrir que todos os filhos de Atena ganhavam isso em suas reclamações. Por um momento, Ivanna tinha se achado especial, mas percebeu que era só mais uma de muitas filhas da deusa da sabedoria. Apesar daquelas lâminas escondidas serem muito úteis em combates diretos, Ivanna tinha que ser honesta, nunca tinha as usado, nem sequer para testar. Aquelas lâminas carregavam muita mágoa. O melhor era levar o seu arco, Dóro Kynigoú. O próximo item que escolheu foi a pena de pavão. Este item era sempre vantajoso, Ivanna já o usara várias vezes em missões para descobrir o ponto fraco de seus inimigos. Pegou a pena e colocou no bolso de sua calça, onde costumava levá-la sempre. Ao guardar a pena, Ivanna percebeu o quanto dependia da mesma, pois a usava muito. Não a deixava feliz perceber que dependia de um presente de Hera, mas só de pensar em Ares, tudo que Hera fez parecia mais perdoável. Tudo que ela fazia era por causa do seu casamento infeliz, sendo ela a deusa do casamento. Era como se Atena fosse a deusa da sabedoria, mas não conseguisse vencer uma partida de xadrez. Ou como se Ares fosse o deus da guerra, mas estivesse fadado a perder todas as guerras de sua existência. Hera era a deusa do casamento, mas tinha um casamento apenas de fachada, sem nenhum amor ou respeito. Para de passar pano para ela, ela com certeza não faria nada por você a não ser te usar. Ivanna pensou, suspirou, e voltou a atenção para os seus pertences na cama. Será que se pedisse proteção da rainha dos céus contra Ares, Hera a atenderia?

Os itens que tinham lhe sobrado eram as flechas do Fake Amor e o Korsáz. No mesmo minuto, ela decidiu que não levaria o Fake Amor. Não mataria outra pessoa fazendo ela estar em uma ilusão de paixão. Seria uma luta sem honra alguma e, mesmo sabendo que poderia morrer, ela não queria sujeitar seus adversários a isso. Outra coisa, Ares queria sangue vindo da batalha. Um adversário encantado por uma flecha de Eros não iria exibir resistência, não seria uma batalha, era capaz de Ares atirá-la de novo em outra arena com inimigos ainda piores só por causa disso. Foi assim que ela decidiu que o último item que levaria era o Korsáz, colocando-o no pulso esquerdo. Ivanna nunca tinha usado o corsage antes e só agora notava o quanto ele ficava lindo em seu pulso. O arranjo de flor de lótus em combinação com a fita de ouro era só… Deslumbrante, fino, elegante… Muito bonito. Claro que aquele corsage não servia apenas para beleza, ele tinha a sua magia. Poderia vir a calhar, uma ajuda. Ivanna respirou fundo, percebendo que estava pronta. O arco em volta do corpo, a pena no bolso da calça, o corsage no pulso esquerdo. Era só isso que ela levaria, não se daria ao trabalho nem de levar uma mochila. Ela iria batalhar e, quem sabe, sobreviver para voltar para o acampamento. O templo de Ares ficava em Nova York, ela nem iria precisar fazer uma viagem, não tinha porque levar outras coisas.

Por volta das dezoito horas, ela saiu do chalé e foi caminhando até a entrada do acampamento. Tomou cuidado para não ser vista por ninguém. Se alguém tentasse a impedir, era muito possível que ela desistisse de toda aquela loucura e viveria uma vida fugindo de Ares. Quando conseguiu sair do acampamento, para a sua surpresa, encontrou um zumbi a esperando. O zumbi usava um estranho traje vermelho, como se fosse um uniforme muito gasto pelo tempo. Sua pele parecia apodrecida e flácida. Aquele ser não tinha um pingo sequer de gordura corporal, era somente aquela pele horrível e ossos, ele não devia ter visto algo comestível em eons. Em suas costas, vinha preso um rifle antigo, daqueles que tinha uma pequena lâmina na frente. Aos poucos, Ivanna reconheceu do que se tratava aquela figura. - Você é um soldado britânico! - Ela disse como se ter decifrado isso fosse algo muito legal. Bom, ao menos para ela foi bastante compensatório ter tido o “insight”. - Na Guerra de Independência dos Estados Unidos, vocês eram chamados de camisas vermelhas. E vocês perderam a guerra… - A expressão do zumbi já não parecia feliz (se é que aquele rosto conseguia fazer uma expressão), ela pareceu ficar ainda pior com a verdade jogada em sua cara. Foi aí que Ivanna percebeu que aquele zumbi era uma alma condenada a servir Ares, possivelmente porque perdeu sua guerra. - Oh… Desculpe. - Ela disse, mas o zumbi não falou nada, apenas deu as costas para ela e começou a caminhar. Ivanna foi atrás, em silêncio. Seu novo “amigo” parecia magoado.

Parte 3: O Templo de Ares {Dia 1 - 20:45 - Madison Square Garden}

Para a surpresa de Ivanna, assim que ela e o seu companheiro zumbi se encontraram na estrada mais próxima, esperavam por eles dois cavalos igualmente zumbis com celas caindo aos pedaços. Cavalaria da Guerra de Independência dos Estados Unidos? Ela pensou, mas não quis questionar em voz alta, apenas imitou o zumbi britânico e subiu em um dos cavalos. Segurou firme nas rédeas quando o animal começou a cavalgar, sem sequer precisar de uma ordem da campista. Cerca de duas horas depois, ela estava em frente ao Madison Square Garden com as coxas doloridas. Nenhum mortal parecia se importar com uma garota armada com um arco em cima de um cavalo zumbi junto de um cavaleiro zumbi com seu cavalo também zumbi, e olha que o lado de fora do estádio estava lotado de gente. Vai saber o que a névoa estava inventando. - Tá de brincadeira que o The Garden é onde fica o templo de Ares em Nova York? - Ivanna não conseguiu deixar de explicitar seu espanto. O slogan do Madison é “A Arena Mais Famosa do Mundo”, mas não tinha passado na cabeça de Ivanna que também poderia ser um templo divino. Naquela noite, o The Garden ostentava faixas enormes com o rosto de dois lutadores do UFC se encarando. Era uma noite de disputa de cinturão. Agora Ivanna entendia porque o local estava apinhado de pessoas entrando no estádio. - Os templos de Ares verdadeiros ficaram nas terras da civilização antiga. Porém, com a mobilização dos deuses para essa nova terra, alguns lugares se tornam lugares de poder e templos temporários se formam. - Disse o zumbi com uma voz fraca e afiada, descendo do seu cavalo zumbi, que desmontou-se inteiro em ossos e depois pó. - Espera, você fala? - Ivanna perguntou, quase levando um susto. O zumbi não a respondeu e nem esperou ela descer do cavalo para seguir caminho. A garota rapidamente desceu do cavalo e observou-o virar ossos e pó. Ela sentiu pena, mas não tinha tempo para lamentar, deu uma corridinha para alcançar o zumbi britânico, que estava em uma das entradas do Madison Square Garden. Ele mostrou um pedaço de papel super antigo (parecia ter sido molhado no café de tão marrom) para o segurança. O homem de terno e ponto eletrônico no ouvido olhou para o papel, depois para o zumbi, depois para Ivanna, então liberou a passagem. Com certeza mais truques da névoa. Ares deixou tudo preparado para o seu banho de sangue.

Dentro do estádio, o zumbi e Ivanna passaram entre várias pessoas que seguiam para os corredores que levavam até as arquibancadas. Eles andaram até uma das extremidades do estádio onde tinha uma porta vermelha, daquelas tipo anti-chamas usadas para saídas de emergência. - Desça todas as escadas. - Foi tudo o que o zumbi disse antes de desfazer-se em ossos e pó como os cavalos. Ivanna estava sozinha. Ela abriu a porta de emergência e encontrou dois lances de escada, um subia, o outro descia, além de um corredor adjacente que deveria levar para fora do estádio. O que subia deveria levar para os corredores das arquibancadas mais altas. O de descia, bom, ela estava no térreo, o que teria mais embaixo? Ela desceu as escadas e, enquanto descia, percebeu que aquele lugar não era natural. Aquela escada que descia era escondida pela névoa, mortais não poderiam descê-la. Isso significava que Ivanna, agora, já estava nos domínios do templo de Ares e não mais no Madison Square Garden. Ainda assim, ela conseguia ouvir o som distante lá de cima, música alta tocando, provavelmente a música da entrada de um dos lutadores. Devia ser por isso que Ares escolheu aquela noite em específico, já era noite de luta, já haveria um pouco de sangue, mas ele queria mais, queria uma batalha mortal de verdade. Quando Ivanna chegou ao final das escadas, nem sabia o quanto tinha descido. Ela encontrou-se no que lembrava um portal de pedras, um pequeno corredor com teto em forma de arco, decorado com pedras rústicas. Ela seguiu em frente, atravessando o portal e encontrou-se num enorme salão. Tochas faziam a iluminação, colocadas em partes das paredes que nem o humano mais alto do mundo conseguiria alcançar. Candelabros prendiam no teto, cheios de velas. As paredes do local eram feitas das mesmas pedras que o portal, sobrepostas umas sobre as outras. Por todo o chão estava esculpido um grande elmo de Ares, como se fosse uma tapeçaria de pedra. O salão era quadrado. Aquilo era uma arena. Simples, mas era claramente uma arena. Ainda dava para se ouvir a música lá de cima. Agora tocava a segunda, outro lutador deveria estar entrando. E por falar em lutadores, os adversários de Ivanna já estavam ali. O militar veio vestido com o seu uniforme verde camuflado. No peito, tinha seu nome gravado como de costume. “Andrew”. Em suas costas, ele carregava um arco. Ivanna achou este fato curioso. Ele deveria ter uns trinta anos. O outro, o filho de Dionísio, estava com a camiseta roxa, como Ares tinha avisado. Além disso, usava calça jeans e estava empunhando um machado de dupla empunhadura bem robusto e amedrontador. Um dos lados da lâmina era fina, cortante, o outro lado parecia um martelo de carne, feito para esmagar. Aquela arma era perigosa. Ele deveria ter a mesma idade de Ivanna, talvez um ano mais velho, mas olhava para ela como se ela tivesse feito algo para irritá-lo.

E agora? Ivanna se perguntou. Um minuto depois dela fazer sua entrada, ela ouviu um forte barulho metálico atrás de si, que a fez virar-se no mesmo momento. O portal, por onde ela tinha acabado de entrar, acabara de ser fechado por várias barras de ferro, como se fosse a porta da cela de um calabouço. Para falar a verdade, todo aquele lugar parecia um grande calabouço feito para pessoas se matarem. A mensagem daquelas barras de metal estava óbvia: elas só se abririam novamente quando apenas um dos três estivesse vivo. Ivanna voltou seu olhar para os adversários. Lá em cima, o barulho de inúmeras vozes de torcedores podia ser ouvido. A luta deveria ter começado. Ali embaixo, no templo de Ares, o silêncio parecia a lei, mas isso não mudava que a realidade dos lugares era a mesma: a luta deveria começar.

Parte 4: O Primeiro a Morrer {Dia 1 - 21:00 - Templo de Ares}

No início, ninguém atacou. Os três indivíduos ficaram se olhando, se avaliando. Ivanna percebeu que o filho de Dionísio claramente tinha algum problema com ela. Lançou poucos olhares para o militar, dedicando a maior parte daquele tempo inicial para olhar Ivanna de cima abaixo como se ela fosse um erro no universo. Era palpável em suas expressões o desdém e o desprezo. Qual é o problema dele? Ela não podia deixar de pensar nisso, ao mesmo tempo que nutria menos simpatia pelo garoto a cada segundo que passava. Ter que lutar com ele já não parecia mais tão errado só pela forma que ele a olhava sem nem sequer a conhecê-la. De onde será que ele vinha? Também era uma pergunta interessante a se fazer, considerando que o Acampamento Meio-Sangue era o único lugar seguro para semideuses. Será que aquele semideus tinha sobrevivido sozinho durante toda a sua vida? Será que tinha tentado viver no acampamento, não se adaptou e decidiu ir embora, sentindo raiva de qualquer outro que fosse de lá? Muitas perguntas que ficariam sem respostas, porque aquele garoto não parecia querer conversa com ela. Quanto ao militar, ele dividia seu olhar igualmente em Ivanna e o outro garoto. Parecia um homem centrado, experiente. Ivanna julgou que ele seria o pior inimigo por causa disso. Porém, havia algo que a incomodou ainda mais. À medida que ele trocava os olhares entre os dois, essa troca ficava mais rápida. O homem estava percebendo a coisa mais certa naquela encarada tripla: que o filho de Dionísio não tinha ido com a cara dela. Isso significava que Ivanna seria o primeiro alvo dele com certeza, o que também significava que o militar poderia juntar-se ao semideus e já matar a primeira pessoa, que seria Ivanna. Ela seria o alvo inicial, até porque, também parecia a mais fraca dos três, munida apenas de um arco e flecha prateado. O machado do semideus era bem mais assustador e o militar, apesar de usar um arco simples, tinha toda a postura de quem recebeu treinamento de luta no exército. O olhar dela se arregalou ao perceber tudo isso, que ela seria a primeira a morrer, se dependesse deles. Eles perceberam que ela percebeu e partiram para cima, os dois juntos. O filho de Dionísio soltou um grito de guerra que com certeza deixou Ares orgulhoso, enquanto o militar puxou o arco e preparou uma flecha para disparar contra ela. Droga. Inferno. Merda... Ela pensou uma série de xingamentos junto com um plano para se safar do primeiro ataque que não era exatamente a melhor das oportunidades. Ivanna tirou o arco das costas e o sacudiu, antes de empunhá-lo na altura dos olhos.

Os entalhes de luas do arco se transformaram em lobos, ursos e coiotes. Ivanna puxou a corda do arco e surgiu uma flecha prateada com ponta azulada tremulando em uma chama. Ela calculou a corrida do filho de Dionísio e mirou no chão aos pés dele. A explosão acertou em cheio, o garoto voou para o lado, caindo e rolando. O impacto da explosão fez o militar perder sua precisão no arco, a flecha que ele atirou atingiu o alto de uma das paredes e, sem fincar em nada, caiu no chão. Ivanna também sofreu pela explosão próxima, a onda de choque fez ela cair de bunda no chão. Antes uma bunda dolorida do que ser acertada por um machado e receber uma flecha. Ela poderia usar o tempo que todos estavam se recuperando para buscar alguma vantagem. A garota tirou de dentro do bolso de sua calça a pena de pavão e olhou seus inimigos através do olho na penugem. Conseguia visualizar os dois inimigos de uma vez. No filho de Dionísio, que agora se levantava, os brilhos foram nos dois lugares mais óbvios para se matar alguém, a fraqueza de qualquer ser humano: coração e cérebro, ou seja, peito e cabeça brilharam em dourado. Já no militar, que preparava uma nova flecha para disparar, havia um ponto brilhante a mais em seu corpo, o joelho. Ela rapidamente guardou a pena no bolso antes que perguntassem o que ela estava fazendo. Um plano de enrolação formou-se em seu cérebro. Ela precisava enrolar, quanto mais se enrola, mais tempo para se bolar um novo plano mais eficaz. - Você machucou o seu joelho. - Agora que Ivanna tinha visto através da pena e prestado atenção na postura do militar, realmente, dava para notar que ele colocava todo o seu peso em uma perna só. Deveria ser por isso que ele escolheu lutar com o arco e flecha, porque poderia atirar a distância, não precisaria se mexer tanto. Um combate corpo a corpo para aquele homem seria uma desvantagem. Ela ganhou a atenção do filho de Dionísio, que em vez de atacar ficou interessado nas palavras. Já Andrew não parecia nem um pouco feliz com as constatações de Ivanna e disparou sua flecha. Vamos lá Apolo, sei que a sua bênção ainda está em mim. Ela pensou uma prece silenciosa ao deus do sol. Então, enquanto a flecha vinha em sua direção, o mundo pareceu ficar em câmera lenta. Ela viu perfeitamente o caminho da flecha e, com uma das mãos, agarrou-a. Assim que colocou as mãos na flecha, o mundo voltou a andar no seu tempo normal. O militar olhava para ela muito surpreso, o filho de Dionísio fez uma careta de incômodo e irritação. - Isso significa que você não vai ter uma boa luta corpo a corpo. É por isso que decidiu por um arco e flecha, estou certa? - O silêncio do militar foi resposta o bastante. O filho de Dionísio olhou para ele, percebendo isso. - Eu ia começar por aquele erro. - Sim, ao falar “aquele erro”, ele se referiu a Ivanna. Não preciso nem dizer que ela se sentiu bastante ofendida. - Mas agora que ela contou sua fraqueza… O jogo mudou. - E, assim, ele partiu para cima do militar com o machado empunhado para um golpe.

No meio do caminho do filho de Dionísio, o militar disparou duas flechas, mas uma delas o garoto conseguiu desviar e a outra ele bloqueou com a parte da lâmina do machado. Quando estava preparando a terceira flecha, o homem percebeu que não iria mais dar tempo, ele soltou o projétil e colocou o arco em frente ao corpo, bloqueando por pouco a lâmina do machado de atingir o seu peito. Infelizmente, isso custou o arco dele, que se partiu em dois assim que o semideus puxou sua arma de volta para um novo golpe. Ivanna percebeu, nos olhos daquele garoto, que ele acreditou que tinha vencido agora que Andrew estava sem uma arma, mas o militar o surpreendeu. No meio do novo golpe com o machado, Andrew agarrou com as duas mãos o cabo da arma. Os dois agora travavam uma luta de força para ver quem ficaria com o machado. Verdade que Andrew tinha um joelho machucado, mas ele tinha muita força nos braços e uma postura muito boa. Ele foi treinado por muitos anos, coisa que o semideus não teve. Dentre os três, Andrew era o experiente em guerras, mesmo que fossem apenas nas guerras dos mortais. Ivanna viu sua oportunidade ali, os dois estavam ocupados um com o outro e bem próximos. Ela puxou a corda de seu arco e preparou uma nova flecha de fogo azul. Mirou no chão entre os dois, a explosão pegaria a ambos, os atordoaria o suficiente para ela flechar um e depois flechar outro. Isso era um bom plano, enrolar tinha dado certo, agora ela tinha janela para fazer isso. Estava prestes a soltar a corda quando ouviu o militar gritar. - ELA VAI NOS EXPLODIR! - O filho de Dionísio manteve suas mãos no machado, mas olhou para Ivanna e percebeu o que Andrew queria dizer. Ele soltou um grunhido de raiva, largou o machado e atirou na direção de Ivanna uma garrafa pouco antes dela disparar a flecha. A flecha acertou a garrafa em pleno ar e explodiu e, para o azar de Ivanna, o local do choque estava mais perto dela. Fogo azul, vermelho e verde fez uma espécie de bola de chamas colorida perto da garota, chamuscando seu braço que ficava estendido para frente por conta de empunhar o arco. Ela esquivou para o lado, mas não conseguiu evitar algumas queimaduras ali. Atirar flechas se tornaria algo doloroso a partir de agora. Quando a bola de fogo se desfez na fria pedra do templo, permitindo a Ivanna ver os outros dois novamente, ela viu o militar brandindo o machado contra o filho de Dionísio, que se esquivava. Andrew era perigoso, sabia lutar, mas seu joelho machucado dificultava em parte seus movimentos, fazendo com o filho de Dionísio, que não era tão corpulento, conseguisse desviar facilmente. Por sinal, olhando-o completamente de costas, ela percebeu que havia uma segunda garrafa presa a um cinto em sua cintura. Visto de frente, ninguém diria que aquele garoto andava com duas garrafas escondendo seus glúteos, mas agora ela podia enxergar. Deveria ser bebida alcoólica, inflamável, e por isso ao entrar em contato com a flecha de Ivanna a explosão fez aquela bola de fogo enorme bem à sua frente. Ele também tinha os seus itens especiais! Porém, e se Ivanna acertasse uma flecha ali? O menino iria entrar em combustão. A garrafa deveria ser bem resistente, já que sobreviveu ao garoto rolando anteriormente, mas uma flecha direta a quebraria, igual aconteceu com a garrafa anterior. Ela empunhou o arco, mas desistiu segundos depois ao perceber que a dor no braço não deixava ela nem esticá-lo o bastante para ficar na altura dos olhos. Na verdade, o braço parecia até… Dormente, se tornando cada vez mais inútil, mas a dor não diminuía. Ela realmente não iria mais conseguir disparar flechas.

Ivanna não podia ficar ali parada, então ela resolveu aproveitar, mais uma vez, que os dois estavam ocupados um com o outro. Ela correu até o filho de Dionísio e saltou nas costas dele, travando as pernas ao redor de sua cintura e colocando o arco em frente ao seu pescoço, segurando-o com ambas as mãos, tentando ignorar ao máximo as dores e letargia de seu braço machucado. Em resposta, o filho de Dionísio deu uma rápida corrida para trás e antes que Ivanna percebesse o que ele estava fazendo, ela sentiu suas costas baterem dolorosamente na parede de pedras. Ele deu um passo para frente e depois voltou para trás, batendo as costas dela novamente. Era assim que ele queria se livrar dela, enquanto ela tentava pressionar ainda mais o arco contra o pescoço dele para sufocá-lo. Ela conseguiria ouvir que ele estava se engasgando, mas aquelas batidas estavam deixando-a atordoada. Olhando para frente, ela percebeu que o militar vinha com tudo brandindo o machado, como se fosse uma locomotiva com uma roda em mal funcionamento (por causa do joelho machucado), mas igualmente mortal. Ivanna não viu alternativa a não ser soltar-se do filho de Dionísio, senão ela corria o risco de também virar vítima daquele golpe de machado também. Ela deixou seu corpo escorregar pela parede e mais uma vez ela caiu de bunda no chão. O filho de Dionísio desviou por pouco do machado dando um giro para o lado. A parte cortante da lâmina do machado ficou cravada na parede, Andrew fez força para tentar removê-la, mas não estava saindo. Ivanna levantou-se e, quando ficou totalmente em pé, percebeu que seu braço queimado agora estava completamente letárgico. Era como se existisse um pedaço de carne morto pendurado em seu ombro e ela só diria que ainda sentia aquele membro porque a dor estava ali, persistente e incômoda. - Merda! - Ela falou, irritada. Um braço a menos em uma luta como aquelas… Ela iria morrer. Porém, desistir nunca, era um dos seus lemas de vida. Deixando seu braço de lado e voltando à luta em si, Ivanna observou o filho de Dionísio dar um chutão no joelho de Andrew. O homem soltou um grito de dor estridente e acabou caindo no chão. Ivanna acabou apenas assistindo sem reação, percebendo que agora a perna do homem estava num ângulo bem errado. Aquilo foi um golpe baixo, mas ela não faria o mesmo? Afinal, não foi ela quem tinha dito qual era a fraqueza do militar só para que ele fosse uma boa distração? Logo depois, o semideus foi até o seu machado e, com mais alguns puxões, conseguiu tirá-lo da parede e, aproveitando o impulso que isso dava, deixou a lâmina do machado cair com tudo na direção do militar. A força do garoto mais a da gravidade fizeram a lâmina cortar o peito de Andrew, abrindo um grande talho que fez sangue espirrar na arma, no filho de Dionísio e no próprio Andrew, que começou a cuspir sangue pela boca enquanto tossia. O sangue jorrou com força do ferimento quando o semideus puxou seu machado para cima, formando uma poça ao redor do militar que, agora, estava com os olhos vazios e sem vida. O ferimento deve ter acertado um dos pulmões e o coração, literalmente estripando os órgãos, Andrew morreu rápido. Ivanna? Ela ficou parada, assistindo.

Ivanna já tinha se imaginado numa situação como aquelas, vendo alguém morrer diante de seus olhos. Quando se é um semideus, essas imaginações acontecem, porque muitos filhos de deuses morrem antes de chegar a vida adulta, muitos morreram em missões, junto de seus companheiros. Ela sempre se imaginava gritando por aqueles que estavam morrendo em sua frente, gritando aquele “não” prolongado cheio de dor na voz. Andrew não era nada dela e tinha ido até aquele templo para matá-la e, mesmo assim, parte dela se imaginou gritando por ele no momento em que aquele machado descia para atingi-lo. Porém, nenhum som saiu da sua boca. Ela nem sequer moveu um músculo. Ela ficou ali, assistindo toda a cena, toda aquela morte violenta como se fosse televisão. Como ela pode? Mesmo não sendo a primeira assassina dos três, ela percebeu que não era melhor do que nenhum deles. Quem sabe, fosse pior por ser covarde. Ivanna continuou assistindo. O filho de Dionísio observou o homem morto aos seus pés. Mesmo tendo feito aquilo, não tinha prazer em suas expressões. Aquele garoto não era um homicida, apenas estava preso àquela missão tal como ela estava, e ele não queria perder a sua vida se fosse necessário tirar a de outras duas pessoas. Ele estava resolvido, já tinha aceitado seu destino, diferente dela, que tinha inúmeras dúvidas sobre o seu próprio caráter. O garoto olhou para ela, erguendo o machado e o apoiando no ombro. Dava para notar que ele tinha muito orgulho daquela arma, estava a pegando agora como se dissesse “detestei que ela foi roubada de mim por um tempo, mas agora a tenho de volta, isso não acontecerá de novo”.  - Agora somos só eu e você, imunda. - Ele disse. Uma coisa ainda era verdade: por algum motivo, ele odiava Ivanna. Dito isso, ele empunhou o machado e correu na direção dela. O que ela faria com um arco e flecha e apenas um dos braços para usá-lo?

Parte 5: O Segundo a Morrer {Dia 1 - 21:27 - Templo de Ares}

Ivanna não viu alternativas se não usar o arco como se fosse uma espada. Chocá-lo contra aquele machado enorme quase fez Ivanna morrer por dentro, com medo de que o precioso arco que Hefesto lhe dera fosse se desfazer. Felizmente, uma arma feita pelo próprio deus das forjas não era tão fraca assim. O arco aguentou segurar os golpes do machado. Quando Ivanna achava uma abertura, ela tentava golpear o filho de Dionísio, mas o garoto era realmente bom na esquiva, desviada de todos os golpes dela. Aos poucos, Ivanna foi notando que ela iria perder aquele combate. Não era pessimismo, era pura lógica. Seu braço inútil prejudicava o seu balanço, ou seja, tornava mais difícil tentar dar golpes precisos ou fazer boas defesas, tanto para bloquear quanto para desviar. Outra coisa era que Ivanna era uma arqueira e não uma espadachim, ela podia saber como usar uma espada, mas nem sequer com uma espada estava! Aquilo ainda era um arco! Enquanto isso, o filho de Dionísio estava em suas duas zonas de conforto: esquivas e o uso de seu machado. A cada novo golpe, ela cansava mais. Lá em cima, ouvia-se uma multidão de pessoas ovacionando em aplausos e gritos. A luta tinha acabado? Talvez a luta ali embaixo também estivesse chegando ao seu fim. Ela não saberia dizer quanto tempo se passou, em sua cabeça foram poucos minutos, mas poderiam ser vários que tinham se passado naquela luta entre semideuses. Então, o filho de Dionísio finalmente conseguiu acertar Ivanna com o seu machado. Ele a enganou, fingiu que iria dar um golpe na altura de sua cintura, mas de última hora deixou o machado cair e bateu ele contra o seu tornozelo direito. A parte do machado que bateu ali foi a achatada que parecia um martelo, ou seja, o dano nela não foi um corte que sangrou, mas sim uma fratura interna. Com certeza o seu tornozelo estava quebrado. Ela caiu no chão sentindo a dor. Agora sentia dor no tornozelo e no braço inutilizado. Quais eram as suas chances de vencer? No seu campo de visão, surgiu o filho de Dionísio prestes a levantar o seu machado. Ele iria matar ela igual tinha matado o militar, deixando o machado cair, somando a força dele contra a da gravidade. Mesmo sabendo que não teria chances, ela não queria morrer ainda. Faria de tudo para adiar, mesmo que fosse inevitável. Usando o lado esquerdo do corpo, ela começou a rastejar para trás. O filho de Dionísio riu dela e se divertiu com a patética tentativa de fuga. Colocou o machado nas costas e andou até ela calmamente, acompanhando seu rastejar. Num dado momento, a mão de Ivanna tocou em algo. Uma flecha. A mesma flecha disparada lá atrás pelo militar, que bateu na parede e caiu. E falando na parede, Ivanna tinha acabado de alcançá-la. Não tinha mais para onde fugir.

O que fazer? O cérebro dela trabalhava rápido. A flecha era uma arma melhor do que um arco nas circunstâncias que ela se encontrava, porém, só iria conseguir usar caso tivesse proximidade com o filho de Dionísio. Ela estava no chão, o outro estava em pé e queria matá-la assim, usando do machado. O primeiro problema a ser resolvido: ele não podia matar ela com o machado. Porém, como convencê-lo a matá-la de outro jeito? Ela não sabia a resposta, mas tentaria enrolar ele para descobrir. - Porque você parece me odiar tanto? - Ivanna perguntou. - Nunca nos vimos antes. - Ela continuou. Para deixá-lo ainda mais inclinado a conversar, ela teria que dar um viés de vitória para ele. - Ao menos deixe eu saber isso antes! - Aquele antes estava omisso, mas significava “antes de morrer”, e o garoto entendeu. Parte dele queria falar sobre aquilo, ela só deu a oportunidade. Admitindo que morreria, isso fazia ele sentir-se confiante, ela não poderia mais vencê-lo, então porque não uma conversa? Agora, ele se sentia poderoso. Por mais que detestasse admitir, Ivanna entendia o que um breve sentimento de poder pode fazer com uma pessoa. Foi só ter um pouco de poder e ela pôs uma flecha no braço de uma amante de Zeus, quando estava em uma missão por Hera. Ela não precisava fazer isso, mas ela quis, porque ela “podia”. - Não é óbvio? - Ele perguntou. Havia raiva em sua voz, mas também contentamento em saber que iria jogar na cara dela o que considerava óbvio. - Você é filha de uma deusa imunda! Você é filha de Minerva! - Minerva? Ivanna teve que pensar um pouco e lembrar-se que Atena era Minerva na época do Império Romano. Ele veio depois dos domínios gregos, vários deuses mudaram de nome. Ela achou curioso um semideus usando esses nomes. - Porque ser filha de Minerva me torna imunda? - Usar o termo “Minerva” em vez de Atena soou muito errado na mente de Ivanna, mas ela preferiu embarcar na onda do menino para continuar fazê-lo falar. Ela ainda tinha que pensar num plano de convencê-lo a não matá-la com o machado. Ainda precisava de tempo. - Ela deveria ser uma deusa donzela! Ela desonrou a si própria e qualquer filho que venha a ter. Você é um erro divino que eu vou concertar agora. - Opa, ele estava prestes a erguer o machado outra vez. Ele parecia gostar demais daquela arma. Havia uma ligação, tal como Ivanna era ligada ao seu arco prateado. - E você é melhor? - Ela disse, forçando uma risada. - Eu sou filha de Atena, deusa da sabedoria de batalha. E você? Filho do deus do vinho e das festas. Uau. É por isso que carrega esse machado por aí? Você não seria nada sem ele! - Agora, duas coisas poderiam acontecer, ou o oponente ficaria possuído de raiva e mataria Ivanna com o machado ou ela conseguiria atingir uma ferida mental dele e ele tentaria matá-la de outro jeito, sem usar o machado.

Felizmente, o semideus escolheu a segunda opção, exatamente o que Ivanna queria. Ele largou o machado no chão e levou a mão às suas costas, pegando sua segunda garrafa. - A maioria das pessoas subestima o meu pai. - Ele disse, amargurado. Sim, Ivanna atingiu uma ferida. Ela soube ler o inimigo. Aquele machado grande e imponente era uma prova de que ele era um semideus valoroso, deve ter sido desacreditado por ser filho de Dionísio antes de ter aquela arma e aprender a usá-la com maestria. - Mas ele tem os seus truques. Esse vinho… Só nós, filhos dele, podemos tomar. Para outros semideuses e monstros, é um veneno doloroso e paralisante. - Nossa, agora fazia muito sentido o que Ivanna estava sentindo no braço direito. A dormência, a inutilidade do braço, era a paralisia, mas a dor presente ali era o efeito do vinho, ele tinha ambos os efeitos. Como a queimadura foi feita em parte por chamas vindas daquele vinho, o braço de Ivanna chamuscado foi envenenado. - E agora você vai provar dele. Um presente do meu pai! - O filho de Dionísio colocou-se em cima dela, as pernas em ambos os lados do seu corpo, mantendo-a no chão. Com apenas uma mão, ele destampou a garrafa, enquanto com a outra ele forçava ela a abrir a boca. Por instinto, Ivanna tentou repelir, mas sabia que aquela era a sua chance, então não o fez com tanta veemência quanto poderia. O garoto virou a garrafa na boca dela, obrigando-a a tomar o vinho que descia queimando em sua garganta. Era como se ela estivesse bebendo lava. Era agora o momento que ela poderia ter sucesso, o momento em que ele achava que estava vencendo. Ivanna segurou a flecha com a mão esquerda, mas antes de fazer o que tinha pensado, apontou o pulso para o garoto. Uma pequena nuvem de pó rosa, branco e dourado voou na direção dele. Essa era a magia do corsage. O garoto deixou o vinho cair e também soltou a outra mão de Ivanna, começando a se abanar desesperadamente, atordoado pelo aroma. Foi neste momento que ela aproveitou da distração e proximidade dele e enfiou a flecha bem no pescoço do filho de Dionísio. Na mesma hora, ele se esqueceu do aroma que o atordoava. Seu mundo virou Ivanna e a flecha que fazia ele se afogar no próprio sangue. Ele tentou tossir, mas não conseguiu. Em seguida, ele caiu para o lado, ficando de barriga para cima, mas ainda estava vivo, morrendo aos poucos. Ela sentia o vinho se espalhar pelo seu corpo, fazendo-o doer por inteiro, mas ela se esforçou, concentrou-se na adrenalina e se arrastou até o garoto, puxou a flecha em seu pescoço e afundou mais uma vez. Dessa vez, o sangue espirrou e a atingiu, mas ela não se importou. Ela fez a mesma coisa, puxou a flecha e enfiou-a outra vez no pescoço do garoto. O corpo dele deu um espasmo. Ele ainda estava vivo, mas essa era a última flechada que ele sentiria. Morreu segundos depois, mas Ivanna não parou de repetir o mesmo movimento, o flechando outra vez no pescoço… E de novo… E de novo… Espalhando o sangue dele pelo chão, para os lados, para ela própria.

Mais do que flechar o cadáver de um semideus, Ivanna começou a gritar. Ela gritou toda a sua frustração enquanto continuava com as suas flechadas uma após a outra, levantando e descendo o braço que ainda respondia. Era a frustração com Atena, por tê-la reclamado de forma atrasada. Era frustração com Hera, que a tinha pedido missões tão moralmente erradas, inclusive contra sua própria tia. Era frustração com Ares e aquela missão fútil. Os deuses eram egoístas. Ela só não odiava a todos porque Hefesto foi legal com ela. Então, depois de várias flechadas no pescoço do filho de Dionísio, ela começou a errar. A flechada que deveria continuar a acertar o pescoço, que nessa altura já estava todo deformado, acertou a área da clavícula. Era o vinho. O corpo dela estava começando a ficar dormente. Em breve, ela iria perder os movimentos. Mesmo assim, ela continuou gritando, continuou flechando até seu corpo parar de responder completamente e ela terminar deitada no chão, de barriga para cima, olhando o teto do templo de Ares e sentindo uma dor que não passava em todo seu corpo. Agora, ela era uma boneca inanimada, queimando por dentro de forma intermitente.

Parte 6: As Dores da Vitória {Dia 2 - 01:21 - Templo de Ares}

Quanto tempo tinha se passado desde que a luta acabou? Lá em cima, já não existia mais barulho. Não deveria ter mais ninguém no Madison Square Garden além de possíveis trabalhadores noturnos. Foram minutos? Foram horas? Poucas horas ou muitas horas? É difícil ter uma ideia quando seu corpo inteiro deixa de responder, quando tudo o que seu tato capta é apenas dor. Era uma dor suportável, mas forte e parecia infinita. Vai ser assim para sempre? Ela pensou em um momento, com medo de que o veneno fosse perpétuo. Normalmente, ela pensaria que isso era impossível cientificamente, mas não estava em condições de ser uma exemplar filha de Atena no momento. Vai ser assim até eu morrer? Ela pensou em outro momento. Já tinha passado por isso, pela sensação de quase morte. Foi quando enfrentou Talos no Ferro Velho dos Deuses. Foi um acidente, Hefesto não teve reais intenções que ela enfrentasse o gigante de metal, mas aconteceu. Mais uma vez, como da outra, ela pensou em tudo que ainda não sabia e gostaria de saber, principalmente coisas sobre si própria, em como ainda queria viver para descobrir tudo, em como ainda não desistiria. Essa vai ser minha vida? Outro questionamento sabe-se lá depois de quanto tempo desde que ficou ali, parada, atirada naquele chão frio. Será que sua vida seria uma sucessão de perigos de quase morte? Quase a fazia sentir saudade de quando ainda não ganhava missões no Acampamento Meio-Sangue. Ela sempre quis missões, sempre queria uma chance de provar para o seu pai que ela não era feita de porcelana, que ela sabia se cuidar, que já não era mais uma criança. Agora, conseguia sentir uma certa saudade daqueles tempos mais seguros, com Daryl a mandando descer da parede de escalada porque “era muito perigoso”. É sempre assim, não é? Quando se é jovem, se quer ser mais velho, e quando se é mais velho, se quer ser jovem. Um ciclo vicioso.

Então, a dor infinita tornou-se finita. Seus membros que se tornaram inúteis voltaram a ser sentidos por ela. Ivanna conseguiu movê-los e, aos poucos, conseguiu sentar-se. Ainda sentia dor no tornozelo quebrado e pontadas de dor que pareciam agulhas finas a perfurando no braço chamuscado, mas depois de sentir dor em todos os lugares do corpo por sabe-se lá quanto tempo, sentir dor apenas naqueles pontos era um alívio. Ela olhou em volta e avistou os dois corpos no chão, banhados por uma poça de sangue. Ela nem conseguia acreditar, tinha vencido aquele torneio. Aquele torneio complemante fútil e estúpido para um deus que não pensa em mais nada a não ser em violência e guerras. Porque Afrodite traiu Hefesto com… Isso? Ela se perguntou, não entendendo. Ela olhou para o seu tornozelo em seguida. Não estava numa posição errada, mas estava super inchado e com certeza os ossinhos ali dentro deveriam estar estilhaçados. A garota pegou seu arco no chão, passou-o pelo corpo e começou a se arrastar até o corpo do militar. Ele tinha uma aljava de flechas em suas costas, várias ainda não utilizadas, ela iria precisar. Quando pegou as flechas, dividiu todas em dois punhados, unindo-os, os amarrando uns perto dos outros com cada cadarço de seu sapato. Assim, ficou com o que parecia ser dois pedaços de madeira improvisados. Ajustou-os em cada lado do seu tornozelo, pousado no chão, e rasgou parte da sua camiseta. Usou o tecido laranja do Acampamento Meio-Sangue para amarrar os dois pedaços de madeira aos lados do tornozelo, o fixando. Pronto, uma tala improvisada. Depois, arrastou-se até o machado do filho de Dionísio e, usando o mesmo como uma espécie de muleta, levantou-se e ficou de pé. Seus sapatos estavam frouxos em seus pés pela ausência dos cadarços, mas era só ela andar devagar que não iria ter problema de cair. Também, não era como se ela fosse iniciar uma corrida com aquele tornozelo ferrado. Olhou para o portal, a única saída do templo, e percebeu que, mesmo depois de dois dos três estarem mortos, as barras de metal seguiam bloqueando a passagem. Ainda faltava uma coisa para ela fazer. Ivanna pensou e não demorou a descobrir o que era. Irritou-se na mesma hora, soltando um suspiro impaciente.

Porque Ares tinha planejado tudo aquilo? Aquele sangue e morte? Porque seu templo não estava recebendo as oferendas necessárias. Ivanna poderia ter matado os seus adversários, mas não tinha os oferecidos para Ares. Ela tinha que fazer isso, caso contrário, ficaria naquele lugar até morrer de inanição. A ideia não a agradava nem um pouco, ela não queria mais contato nenhum com Ares. Ainda assim, não iria ficar presa logo em um templo dele. A garota fechou os olhos, pensando em fazer uma prece silenciosa, como era de seu costume… Então percebeu que era a única ali, não precisava ser discreta. - Ares. - Ela chamou. Sua voz não demonstrava sentimentos, mas não porque não os tinha, mas sim porque os controlava. Seus sentimentos pelo deus da guerra eram os piores possíveis, mas naquele momento ela tinha que os controlar para não despertar a ira dele. Quem sabe um dia conseguiria vingar-se de Ares, mas aquele não era esse dia. - Neste templo, três lutaram até a morte. Apenas eu sobrevivi. Ofereço nossa guerra em sua honra. Ofereço o sangue deles como prova do que estou dizendo a verdade. Ofereço seus cadáveres e que eles sejam lembrados como guerreiros que dedicaram o final de suas vidas na luta e no sangue, tudo pelo deus da guerra. - Fez uma breve menção com a cabeça em seguida, indicando que tinha acabado a sua oferenda. Ela observou os corpos e o sangue. Ares certamente gostaria. O corpo do militar estava com uma poça gigantesca à sua volta, um enorme talho aberto em seu peito. O corpo do filho de Dionísio estava com a garganta furada tantas vezes que o local ficou deformado, além de alguns buracos um pouco abaixo, na área da clavícula. No chão, o sangue estava mais concentrado perto da cabeça, mas havia espirros para todos os lados. Cerca de cinco minutos após o término da prece, ela ouviu o familiar ranger de vários metais vindos do portal. As barras de ferro começaram a ser retraídas para as paredes, onde desapareceram por entre as pedras. O caminho estava livre.

Parte 7: A Luta {Dia 2 - 02:02 - Madison Square Garden}

O caminho até o lado de fora do Madison Square Garden demorou. O tornozelo doía toda vez que ela tinha que apoiá-lo no chão, e olha que ela ainda estava usando o machado do filho de Dionísio como muleta. Ivanna nem sabia como voltaria para o Acampamento Meio-Sangue, mas enquanto fazia o seu caminho para fora do estádio, tudo que ela pensava era dar um passo de cada vez. Quando finalmente se viu do lado de fora da construção, felizmente não se encontrando com nenhum vigia noturno ou coisa parecida, percebeu que as portas próximas estavam abertas. Ela poderia sair facilmente. Obrigada, eu acho. Falou um pouco irônica, mas de fato agradecida. Não queria mais dificuldade e tinha certeza de que os trabalhadores de um estádio tão famoso não iriam se esquecer de fechar as portas com um cadeado bem robusto. Aquilo era influência de Ares. Ela saiu de vez do estádio e, do lado de fora, encontrou um cavalo zumbi a esperando. Seria o mesmo que a trouxe até ali? Ela não saberia dizer. Pensou em agradecer novamente, mas percebeu do que aquilo se tratava. Ivanna tinha acabado de vencer uma guerra em favor a Ares, ele não deixaria ela voltar para o acampamento parecendo uma maltrapilha que venceu por pouco. Ele queria deixar de ser uma piada entre os seus colegas olimpianos, então é claro que a sua tributa vencedora iria voltar para casa com honrarias, para que todos soubessem do que aconteceu, para que ela falasse sobre a luta no templo de Ares, para que a história se espalhasse até alcançar todos os semideuses, deuses e demais seres mitológicos. Ares não queria ajudá-la, só queria o que quis desde sempre com aquilo: sua maldita oferenda sendo bem feita, lembrada e comentada. Ivanna se sentiu tentada a negar a ajuda do cavalo zumbi, mas sabia que com aquele tornozelo não iria longe. O animal, agora, até deitava-se no chão para que ela conseguisse montar com facilidade. Droga. Ela pensou, enfim montando no animal, largando o machado no chão. Não, ela não levaria aquela coisa, quase morrera para ela. Como da outra vez, ela não precisou dar nenhuma ordem ao animal, o cavalo seguiu seu caminho sem ela precisar dizer nada.

De madrugada, Ivanna chegaria ao Acampamento Meio-Sangue, e por mais que chegasse numa hora em que todos estão dormindo, ela tinha certeza que alguém a notaria chegando montada em um cavalo zumbi, provavelmente os campistas que estariam de patrulha naquela noite. Além disso, ela iria precisar ir para a enfermaria por causa dos seus ferimentos. Ela não iria conseguir manter aquela missão em segredo, justamente o que queria desde o começo. A missão tinha acabado, mas Ivanna sentia que a luta só estava começando.
XX:XX
Vários Lugares
PS08
103

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Ivanna
Klaasje
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Donatello McMillan Qui Abr 06, 2023 6:53 pm

Caça ou Caçador?

[Fim da Manhã: 11:30h]

Não é sempre que se está treinando arremesso de facas na floresta quando dá de cara com alguém te ameaçando de morte, mas pra minha sorte ou azar foi exatamente o que aconteceu comigo. Eu estava treinando como de costume, me certifiquei de que não havia ninguém por perto que eu pudesse acabar acertando sem querer e a não ser por mim, o lugar estava vazio. Pelo menos foi isso que eu pensei. Passei um bom tempo treinando com alguns alvos improvisados. Atirar facas se tornou um dos meus passatempos favoritos desde que aprendi a fazer isso com meu pai e eu fiquei realmente muito bom naquilo. Enquanto eu tirava uma de minhas adagas de um dos alvos comecei a ouvir um barulho estranho, definitivamente não parecia ser nenhum animal ou algo do tipo, eu saberia se fosse. Era uma presença diferente e conseguia senti-la logo atrás de mim. Acariciei levemente o cabo da faca com meus dedos e assim que me virei bruscamente para dar uma investida em quem quer que estivesse ali, dei de cara com uma flecha apontada a poucos milímetros da minha testa. Se tratava de uma garota que parecia ter minha idade, seus cabelos eram longos e ruivos. Ela segurava um arco prateado realmente bem bonito, suas vestes também possuíam a mesma cor. Mas para minha surpresa aquela se tratava da deusa Ártemis, achava que a senhorita Héstia era a única que havia escolhido uma forma diferente de um adulto, mas pelo visto estava enganado. Não tinha como ela usar uma frase mais clichê naquele momento e logo do meu filme favorito, mas ela obviamente não sabia disso. Como eu não teria a audácia de desafiar alguém que apontava uma flecha pra minha cabeça, principalmente uma deusa, não me sobrava muita escolha naquela situação além de ir com ela, então fui obrigado a aceitar mesmo não fazendo ideia de onde estava me metendo.

Assim que peguei em sua mão, uma sensação estranha tomou minha barriga e embrulhou meu estômago, um apito agudo começou a apitar dentro de meus ouvidos, me fazendo tapar eles com as mãos. Tudo parecia balançar de um lado para outro, me deixando extremamente tonto e muito enjoado. Dei alguns passos para o lado e me apoiando num canto, eu vomitei todo meu café da manhã. Precisei de alguns segundos para me recompor um pouco, até que estranhei a presença da lixeira que não estava ali antes. Foi então que percebi que não me encontrava mais na floresta do acampamento, mas sim em… uma latrina de Nova York? Pelo menos foi o que deduzi observando as coisas envolta. Por que diabos Ártemis havia me trazido pra cá? Dando uma olhada, notei que eu e a deusa não éramos os únicos ali, as caçadoras de Ártemis também se encontravam no local. Dadas as expressões focadas nas moças, provavelmente estavam em uma caçada e pelas diversas barracas montadas eu diria que elas já estavam nisso há um tempo. Todas concentravam seus olhares em direção ao colégio que podia ser visto de onde estávamos, o que quer que fosse a caça provavelmente estivesse se escondendo lá dentro. Mas eu ainda não entendia o porquê de eu estar ali, até onde eu sabia elas eram bem competentes no que faziam, então qual seria meu papel?

- Por que me trouxe aqui? - perguntei a Ártemis, que afiava uma de suas flechas logo ao lado. Mesmo que não agradasse, aparentemente eu podia dar uma vantagem no plano dela, mas que tipo de vantagem, eis a questão. - O que ta lá dentro? - perguntei balançando a cabeça em direção a escola. O que tinha lá dentro que fez Ártemis recorrer a uma ajuda masculina? Para isso acontecer elas não estavam caçando qualquer criatura. Assim que a deusa explicou um pouco melhor o contexto do que estava acontecendo, as coisas ficaram mais claras pra mim. Elas estavam caçando uma empousa, eu não conhecia a história dela ou nem nada do tipo, mas com a breve explicação que tive eu descobri exatamente qual seria o meu papel dentro daquilo tudo. - É aí que eu entro? - a deusa confirmou. A empousa tava disfarçada dentro do colégio e como a criatura se atraia por sangue de semi deuses masculinos, eu seria a isca perfeita para atraí-la para fora e abrir uma brecha para que as caçadoras pudessem matá-la. Foi bem difícil não notar um certo nojo de certas caçadoras quanto a atração em homens. O celibato era algo que elas realmente seguiam à risca. A única coisa que faltava era eu saber qual a aparência que a criatura tinha assumido e pra minha sorte elas tinham essa informação. - Não é como se eu tivesse algo melhor pra fazer. - por mais que a abordagem de Ártemis tivesse sido um tanto quanto agressiva, ela conseguiu me fazer ficar realmente interessado no que estava na situação. Algumas das caçadoras me olhavam como se eu fosse uma peça fora do lugar, talvez eu também visse assim se tivesse no lugar delas, é assim que o sistema delas funciona. Mas independente de gostarem ou não, pelo menos durante aquela caçada eu seria um companheiro. A tenente de Ártemis era uma moça de longos cabelos morenos amarrados em um rabo de cavalo. Ela me entregou a foto de uma garota, parecia uma foto de anuário, o que significava que a empousa já estava naquele colégio há um tempo. A garota tinha cabelo loiro parcialmente tingido de vermelho, corte chanel e feições aparentemente simpáticas. Parecia uns dois anos mais velha que eu.


[Tarde: 13:00h]

Adoraria ter mais informações para ajudar, mas pelo jeito teria que arranjá-las dentro do próprio colégio. Então não era um bom momento para perder tempo, era hora de entrar lá e achar aquela empousa. Antes de entrar no prédio em si, dei um jeito de arranjar um pequeno caderno de anotações e uma caneta, confia em mim, eles não são atoa. Assim que passei pela porta de entrada eu sabia que deveria tomar muito cuidado, era bem provável que a criatura notasse minha presença antes que eu notasse a dela. Se não tomasse cuidado, eu facilmente viraria a caça. Não que eu não fosse uma espécie de caça já que servia de isca naquela ocasião, mas ainda sim eu tinha que ter a situação sob controle se quisesse morrer.

Pelo alto fluxo de alunos nos corredores, acho que o sinal para a primeira aula ainda não havia tocado, o que de certa forma me pouparia tempo. Eu só não contei com a quantidade de alunos dificultaria minha passagem e também a minha procura, aquilo tornava mais fácil que qualquer coisa acabasse passando despercebida. Enquanto caminhava sentia que alguém me observava, mas com a quantidade de pessoas me cercando não parecia um problema. Para o meu receio, enquanto abria passagem por entre alguns garotos em um dos corredores do segundo andar, percebi algo familiar de canto de olho. Uma garota no lado oposto onde eu estava, ela vasculhava seu armário enquanto interagia com algumas garotas, parecia uma adolescente normal tendo uma vida normal. Na minha percepção, ela não parecia oferecer nenhum perigo eminente e nem fazia o tipo que deveria ser caçada. Quando pensei em agir, o sinal tocou. Tentei achar rápido um espaço entre os alunos para chegar até ela, mas a pressa deles em chegar nas salas de aula me fez ser arrastado através do corredor. Quando percebi que não iria conseguir alcançá-la, aproveitei que ainda a rinha em meu campo de visão e peguei rapidamente o espelho do olhar alheio do meu bolso, sussurrando próximo à ele - Empousa. - não conseguiria segui-la fisicamente, mas pelo menos o espelho sempre me deixaria a par de por onde ela andava, o que era mais do que perfeito no momento já que não perderia a trilha da criatura.


[15:00h]
Sem ter escolha a não ser seguir o fluxo de alunos apressados, acabei indo parar em uma das aulas. Isso era um baita de um empecilho, ter que ficar dentro daquela sala me faria perder um tempo precioso. Acompanhei a empousa pelo espelho de vez em quando para saber onde ela estava, não podia perdê-la de vista. Acompanhei a rotina da criatura até perto do intervalo, ela continuava a parecer apenas uma adolescente normal, não uma ameaça. Será que ela merecia que eu a levasse direto para uma emboscada? Eu não sabia. Voltando a sala onde eu estava,  para não dizer que meu tempo ali não foi totalmente inútil, me entrosei o suficiente com alguns alunos para me contarem alguns boatos sobre um garoto que foi para o estacionamento nos fundos do colégio acompanhado de uma garota loira há uns três dias e não havia dado notícias desde então. Provavelmente era um semideus que infelizmente não tinha ideia de onde tava se metendo, uma pena. Era uma ótima informação, já sabia onde a empousa abatia suas vítimas, era bem possível que ela tentasse me atrair para lá também e seria um bom lugar para emboscar-lá. Dando uma breve olhada na sala, percebi um garoto que levava um estilingue consigo no bolso de trás da calça. - Gostei do estilingue, posso dar uma olhada? - ele pareceu bem hesitante no começo, mas depois de trocar algumas palavras acabei ganhando a confiança dele e ganhei o objeto por um tempo. A sala foi se esvaziando aos poucos e apenas eu restei ali dentro, peguei o pequeno caderno de anotações e escrevi: “Estacionamento dos fundos, é onde ela devora as presas, com certeza vai tentar me levar pra lá também. Espero por vocês”. Arranquei a folha e a embrulhei na minha pequena bola de borracha que sempre carrego comigo. Fui até a janela nos fundos da sala e com o estilingue preparado, mirei em direção a latrina onde Ártemis e suas caçadoras estavam e atirei a bolinha. Era impressão minha ou havia alguém me observando? Olhei para a porta e não vi ninguém. Era bom que fosse apenas apenas uma impressão minha. Deixei o estilingue em cima de uma das mesas em seguida.

[Intervalo]

Dei uma olhada no espelho enquanto saia da sala. A empousa estava descendo para o térreo e indo para algum lugar, era melhor ficar de olho. Antes de descer para o térreo também parei por um momento em frente a um grande armário cheio de troféus, foquei um pouco mais na prateleira mais baixa onde estavam os troféus de beisebol, no meio deles uma foto do time. Por um segundo pensei como seria se eu realmente frequentasse o high school, talvez fosse bom participar do time ou algo assim, alguns campistas chegaram a frequentar antes de ir pro acampamento, mas aquela não tinha sido a minha realidade já que tive que ir pra lá antes disso. Dei uma balançada de cabeça voltando ao mundo real, isso fazia parte de um tipo de vida que eu não podia desfrutar, uma vida normal. Mesmo que fosse bom de alguma forma, pensar nisso seria apenas uma grande perda de tempo, não vale a pena e eu tenho um trabalho pra cumprir agora.


Acompanhando a visão dela, percebi que ela estava saindo de uma área externa, próxima a umas caçambas de lixo e entrando novamente no interior do colégio - Merda. - resmunguei, algo tinha acontecido e eu deixei passar. A criatura seguiu para o refeitório, então era para lá que eu ia. Entrei no refeitório de cabeça baixa, olhando sutilmente o espelho. Deu pra deduzir mais ou menos onde ela estava pelo ponto de vista dela. A empousa estava sentada sozinha em uma das fileiras de mesas mais ao fundo do lugar. De alguma maneira aquilo soava estranhamente suspeito pra mim, parecia ser feito justamente para caso alguém quisesse sentar ao seu lado. Peguei uma bandeja e alguns alimentos, fiz uma pequena cena como se estivesse procurando um lugar para sentar. - Posso? - perguntei me aproximando dela. Ela me olhou de cima a baixo antes de dizer sim. Pude perceber uma certa malícia na resposta dela, assim como em seu sorriso de canto de boca. - Novo por aqui? - ela perguntou de forma gentil, revirando a comida na bandeja. - Sim, me mudei essa semana. - mesmo sabendo o que ela era, aquela garota não parecia nenhum tipo de ameaça , não à primeira vista, mas ainda era cedo pra tirar alguma conclusão. Se tem algo que Medusa me ensinou foi que certas criaturas têm uma lábia muito boa. - Encontrou com a pessoa certa, posso te mostrar o colégio. - ela disse enquanto continuava a revirar a comida em sua bandeja. Aquela era a minha chance - É uma ótima oportunidade. - o fato de ela ficar revirando a comida na bandeja continuamente me incomodava. Parecia que estava atenta apenas a mim. Enquanto comia outra coisa começou a me incomodar, dando uma breve olhada em volta notei que alguns alunos pareciam olhar de maneira estranha na minha direção, mas acho que não era necessariamente eu que chamava atenção. Aproveitei quando fui despejar os restos no lixo e dei mais uma olhada através do espelho, a empousa não tirava os olhos de mim. Voltei até a mesa e pude ver o jeito como ela me olhava, parecia estar me desejando. Era um detalhe sutil, mas eu notava. Agora além dos olhares eu ouvia alguns cochichos próximos. - É sempre assim, eles sempre me incomodam. Mesmo que eu jure não ter feito nada, sempre me deixam assim, sozinha. - ela disse com pesar na voz, a estranheza começava a querer se transformar em pena. - Sei bem, como é. Por que a gente não dá uma volta enquanto o sinal não toca pra você me apresentar as coisas? - dei um leve sorriso quando ela aceitou. Fazê-la pensar que estava conseguindo me enganar era o melhor plano que eu tinha.

- Vem vou te levar em um lugar especial pra mim? - eu imaginava qual lugar poderia ser. Parte de mim sabia que estava indo para o abate, mas outra ainda a via como uma garota normal. Ela me levou até a parte externa onde fica o estacionamento, esperava que as caçadoras tivessem recebido minha mensagem. O lugar estava completamente vazio, havia um pequeno bosque nos fundos, era perfeito para abater suas presas. Não demorou para ela voltar a exibir seu olhar malicioso, parecia que estava pronta para devorar um prato de comida, provavelmente esse era o caso. Aquele sorriso que antes era sutil, agora ia de orelha a orelha. Percebi certa movimentação ao nosso redor, eram as caçadoras. Elas estavam se preparando, o que me deixava com a responsabilidade de ganhar tempo até que estivessem prontas para agir. - Aqui é um lugar perfeito. - disse a puxando mais para o meio do local, deixando ela em uma posição ainda mais desfavorável. Inclinei a cabeça tentando olhar algumas caçambas de lixo próximas. Ela segurou firme meu pulso - Metido a sabichão desse jeito… só pode ser cria de Atena. Acha que eu seria burra de deixar os restos largados aí? - a voz da empousa agora era cheia de ódio. Engoli em seco.  - Você tava tirando eles daqui antes de ir pro refeitório. - foi aquilo que eu perdi. - Deve ter sido aquela ruivinha com as crias dela que te mandaram. - os cabelos dela começaram a se transformar em fogo. - O que tá esperando? Vem pregar seu lanche. -  Saquei um dos meus punhos cortantes e o arremessei em sua direção, acertando sua barriga e fazendo-a se curvar. Tentei uma investida, mas assim que me aproximei ela avançou contra mim e se agarrou em mim. Cambaleei para trás, ela era bem forte e não demorou para me derrubar. Senti as garras dela entrarem em meus ombros, me fazendo soltar um grunhido de dor. Usei minha segunda adaga para atacar a criatura em seu abdômen, mas não foi o suficiente para tirá-la de cima de mim. Ela bateu minhas costas contra o chão, me fazendo tossir. A empousa tentou abocanhar meu pescoço, como reação segurei o dela. Com seu rosto a centímetros do meu, eu conseguia sentir o calor de suas chamas.

Foi então que a pulseira em forma de serpente que ganhei de Deméter se soltou do meu pulso e se enrolou no pescoço da criatura, que logo começou a ficar desesperada e consequentemente me soltou. Ela grunhiu tentando arrancar a serpente de seu pescoço, mas as presas estavam cravadas em sua carne. O objeto não estava a sufocando, mas parecia estar deixando ela mais debilitada a cada segundo, o que a deixou ainda mais desesperada. A fraqueza era perceptível em seu físico. Seu olhar pela primeira vez parecia genuíno. Percebi uma figura a alguns metros de distância, já sabendo quem era, usei minha perna para afastar a empousa de mim. Assim que fiz isso, uma flecha atravessou o ombro da criatura e então eu a chutei para trás. Quando menos percebi as caçadoras já haviam se posicionado. Peguei minha adaga que caiu no chão e me preparei para ajudar no combate. Algumas caçadoras mantiveram distância com seus arcos preparados para dar suporte, enquanto eu e outras partiam para um combate corpo-a-corpo. Mesmo debilitada e em desvantagem numérica, ela ainda conseguiu dar trabalho, atacando desesperadamente para todos os lados o mais rápido que conseguia. Por mais fraca que estivesse ela claramente se negava a admitir que não havia escapatória e tentava fugir a qualquer custo. Com minhas lâminas feri as pernas da empousa, dificultando a mobilidade dela. A cada ataque que ela fazia contra uma das caçadoras, haviam outras cinco para compensar. A criatura chegou a fincar as garras dela na minha perna, as mesmas garras foram arrancadas fora pela lâmina de Ártemis. Ela começou a se arrastar no chão, segurando a ferida com a outra mão. O pequeno resquício de pena que senti dela,já não existia mais. Uma flecha zuniu em sua nuca, fazendo ela se arrastar para um canto.

A deusa se aproximou dela com sua lâmina ensanguentada em mãos. Sem falar nada ela cravou a lâmina no peito da criatura, que morreu depois de alguns segundos agonizando. Ártemis veio até mim devagar e esticando a mão, me entregou a pequena bolinha de borracha que lancei para ela mais cedo. Por mais que elas provavelmente não tenham gostado da minha companhia, confesso que apesar dos pesares, eu havia gostado de participar daquela caçada junto a elas - Até que foi interessante, pena que minha presença não é bem vinda. - ela não esboçou reações. - Hora de ir pra casa. - dando as mãos, a deusa me teleportou novamente para o acampamento, o que pela segunda vez me fez vomitar, aquilo era realmente muito desagradavel.
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Ivanna Klaasje Dom Jun 11, 2023 1:05 pm

13:00
No alto de Nova York

S11P05
D
epois do almoço, como planejado, os três, cada um ao seu modo, foi se preparar para a missão. No caso de Ivanna, foi ir até o chalé de Atena, preparar uma mochila com provisões básicas e fazer um apanhado no que tinha para decidir o que iria levar. Quanto às armas, não havia dúvida, Dóro Kynigoú já estava colocado ao longo do seu corpo e Koptikí Grothiá, os braceletes de sua mãe, estavam cada um em cada braço. Quanto aos itens, ela tinha um acervo maior, mas decidiu levar os que estava tendo mais familiaridade. Colocou a Pena de Pavão de Hera em seu bolso e o Korsáz no pulso esquerdo, este último sendo também um presente de Hera. Porque aquela deusa tinha que dar presentes tão bons? Ivanna sempre ficava com uma leve raiva de querer usá-los, mas não podia negar, eram muito úteis! Assim que arrumou tudo, ela foi até a carruagem antes preparada, sendo a primeira a chegar. Ela não demorou para colocar a sua mochila ali dentro e esperar pelos companheiros.

Não demorou para os outros dois aparecerem e, para a surpresa de Ivanna, Draven parecia inclinado a conduzir a carruagem. Ela não viu problemas nisso, embora tenha achado curioso. Assim, ela entrou na carruagem com Donatello e, depois de Draven bater as rédeas, os cavalos começaram a correr e, logo depois, voar, como se fosse uma decolagem de avião, só que bem mais turbulenta. Alguns minutos depois, o Acampamento Meio-Sangue já tinha se tornado pequeno e a cidade de Nova York podia ser vista como se não fosse tão imensa. As pessoas, lá embaixo, não passavam de meros pontinhos. A melhor parte para Ivanna, no entanto, era sentar próxima a janela da carruagem e sentir o vento batendo nos cabelos. Isso você não pode fazer em aviões, você fica dentro de uma caixa fechada, porém, numa carruagem, as coisas eram diferentes. Claro, eles não estavam voando tão alto, caso contrário iriam ser pegos pela baixa atmosfera das altas altitudes… O que fazia Ivanna se perguntar o que os mortais viam no lugar da carruagem. Será que a Névoa a transformava em um pequeno jatinho passando? Ou um drone grande? Era sempre estranho pensar que a maioria das pessoas no mundo nunca saberia a verdade sobre ele. Ivanna tinha vontade de espalhar este conhecimento, mas provavelmente iria ser internada num hospício se começasse a falar por aí que os deuses são verdadeiros e que ela nasceu da cabeça de Atena.

De início, a viagem estava bem tranquila, com todos em silêncio e a cidade de Nova York desaparecendo ao fundo. Apesar de no momento não estar sentindo que tal silêncio era realmente constrangedor, Ivanna não queria passar o restante da viagem calada, então, resolveu puxar algum assunto com os demais. - Bom, já que estamos na mesma missão… Quais são seus pontos fortes e fracos? - Provavelmente não era o melhor assunto a se puxar, mas o forte de Ivanna não era começar conversas. Sua cabeça facilmente foi para o que seria mais útil para a missão, saber os pontos fortes e fracos de seus companheiros é ótimo na hora de formular estratégias ou planos de fuga. Donatello foi o primeiro a responder, Ivanna acreditou que, como filho de Atena também, ele entendeu facilmente o porquê da pergunta e não se importou muito em respondê-la. Dizia que o seu ponto forte era ter um bom instinto de caça e ser um atirador de facas, porém pecava um pouco quando o assunto era defesa ou atividades mais físicas. Seriam essas as marcas de perfurações que tenho visto lá no chalé? Ivanna perguntou-se, mas preferiu deixar o questionamento para si. Logo depois, Donatello perguntou o mesmo para Ivanna. - Eu diria que a minha maior habilidade é o arco e flecha. - Brevemente, Ivanna segurou o seu arco com orgulho. - Também me considero boa planejando estratégias e coisas do tipo, mas isso não é uma grande novidade. - Ela revirou os olhos, afinal, os dois sabiam que ela era filha de Atena. - Quanto a um ponto fraco… - Ao começar a pensar nisso, percebeu que não gostaria de simplesmente revelar seus pontos fracos, por mais que fosse para colegas de missão. Ainda assim, foi ideia sua aquela conversa, ela não poderia fugir. Ela pensou mais um pouco então falou. - Minha perna direita. Eu machuquei ela feio, um ferrolho entrou nela e numa missão seguinte eu torci o tornozelo. Digamos que, num combate, me acertar nessa perna é algo bem ruim. Aliás, foi no Talos onde aconteceu o episódio do ferrolho. - Por um momento, o semblante de Ivanna ficou um pouco sombrio. Era sempre assim quando ela se lembrava que quase tinha morrido por conta daquele protótipo gigante. Porém, foi algo passageiro e logo ela tratou de ouvir o que Draven tinha a dizer sobre si próprio.

O garoto falava através de uma janela central que dava para visualizar quem quer que estivesse conduzindo a carruagem. Dizia Draven que seu ponto forte era fugir. Ele comentou que isso parecia algo insignificante, uma atitude covarde, mas Ivanna logo torceu suas expressões, porque não compactuava dessa opinião. A fuga podia ser sim uma ótima estratégia! Melhor fugir e ficar vivo do que perder sua vida por orgulho. Sim, eu sei, você pode estar pensando “mas Ivanna é super orgulhosa!”. Verdade, mas orgulho não significa “vou morrer por isso”. Agora, continuando, Draven falou que não sabia qual poderia ser o seu ponto fraco, e talvez fosse justamente este o problema, confiar demais nos próprios instintos. Ela percebeu um pouco de receio nele em falar a respeito e não o julgou por isso, apenas continuou a conversa. Tinha sido um bom quebra gelo a pergunta inicial e agora os três discutiam algumas expectativas para a missão, o que talvez pudessem encontrar quando chegassem em Gila Claw. Porém, mal eles sabiam que o problema iria aparecer antes, mais ou menos umas horas de viagem depois. Enquanto eles conversavam, Draven chamou a atenção de Ivanna e Donatello em algo no céu. A garota colocou a cabeça para fora da janela e viu uma horda de harpias vindo na direção deles, todas batendo suas asas arduamente e soltando piados estranhos que pareciam gritos ao mesmo tempo. Ivanna olhou para Donatello e tirou o arco do redor de seu corpo, empunhando-o para o combate. - Vamos contar quantas matamos? - Ela sorriu, embora fosse de nervoso.
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Donatello McMillan Dom Jun 11, 2023 2:43 pm

Levantando Voo

Como Draven também sabia como chegar ao ferro velho no Arizona, ele ficou responsável por conduzir os Pégasus até lá. Subi na traseira da carroça, me sentando na parte logo atrás de onde fica o cocheiro. Depois de alguns segundos trotando os Pegasus bateram asas, aos poucos nos levantando do chão. Senti um frio na barriga quando a carroça levantou voo, causando um pequeno arrepio na nuca. Apesar de estranha, era uma sensação boa. Voar em uma carroça puxada por quatro pegasus definitivamente foi uma experiência nova pra mim. Me recostei em uma das laterais da carroça e olhei para baixo, vendo a cidade se distanciando cada vez mais. As coisas lá em baixo foram ficando menores até que ganhamos altitude o suficiente para ficar na altura das nuvens. Passei alguns minutos encarando lá embaixo, vendo a cidade se mover abaixo de mim. As pessoas não passavam de meros pontos minúsculos. Visualizar as coisas daquele ponto de vista era diferente - Uou. - Se havia algo que fazia aquela simples missão valer um pouco mais a pena, foi esse momento. Senti uma brisa bater no meu rosto e balançar meus cachos. - Tá aí uma experiência que só o mundo mitológico proporciona. - De repente eu tive vontade de repetir isso em próximas missões.

Deixei de admirar a paisagem abaixo apenas quando ouvi Ivanna puxar conversa. Me virei de volta para dentro da carroça, podendo assim olhar para ela. Minha irmã queria saber nossos pontos positivos. Era uma pergunta mais do que válida. Saber com quem estamos lutando seria ótimo quando entrássemos em algum combate. - Dá pra dizer que minha defesa deixa um pouco a desejar, mas em compensação me dou bem ofensivamente. Sou atirador de facas, então essas belezinhas são minha especialidade.  - disse rodando uma das facas de arremesso. Ver as apresentações do meu pai em Las Vegas me fez criar uma afinidade com esse tipo de arma. Tanto que se tornou bem raro eu querer treinar com alguma arma que não fossem  facas, adaga ou algo desse estilo. - Tenho um bom instinto de caça, também consigo ter uma boa leitura das situações. - completei. Eu realmente tinha uma ótima percepção das coisas. Principalmente depois de começar a treinar meus sentidos. - E você? - perguntei a Ivanna. Era bom ouvir eles falando um pouco mais sobre si. Mas como tudo que é bom dura pouco, não demorou muito pra Draven chamar nossa atenção para algo que se aproximava da carruagem. Me levantei e espremi um pouco os olhos pra dar uma olhada melhor. Algumas criaturas voavam em nossa direção. Vendo de primeira, poderiam facilmente serem confundidas com aves, mas não eram… Depois de olhar com mais cautela eu percebi o que eram - Que merda, Harpias. - disse já deixando uma das facas prontas para serem arremessadas. - Melhor se preparar pra lutar. -
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Draven Akvhart'oz Dom Jun 11, 2023 10:26 pm


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Confesso que eu esperava no mínimo uma certa barreira dos dois ao dizer que poderia conduzir a carruagem, principalmente de Ivanna, que havia pontuado diversas vezes que sabia onde o local ficava, e talvez quisesse conduzir-nos até o local. Porém, a garota parecia muito mais focada em sua estratégia do que pensando em conduzir uma carruagem. Quanto a mim, mesmo com a responsabilidade de estar conduzindo quatro pégasos, eu ainda me sentia mais confortável do que sentado dentro da carruagem com um dos dois. Não me entenda mal, não havia nada de errado com eles ainda, mas eu não sabia como ser muito comunicativo, principalmente em uma missão em que nenhum de nós estava extremamente confortável. - Eu sei chegar até o Arizona, e acredito que os pégasos sabem melhor do que eu. Porém, ao chegar em Gila Claw, você pode assumir o controle, ou ao menos guiar o caminho até o lugar exato. - Disse à Ivanna, enquanto subia na carruagem, exatamente no banco destinado ao cocheiro. Os dois acabaram se acomodando dentro da carruagem, e quando vi que estavam prontos, me voltei aos animais que pareciam aguardar com certa ansiedade quando a viagem começaria.

- Vamos lá garotos. Em direção à Gila Claw. Em direção ao Ferro Velho dos Deuses. - anunciei, e fiz um movimento leve de onda com a rédea, dando o comando aos pégasos que poderiam começar seu trote. Logo, o trote se tornou um galope, e em um instante, já estávamos ganhando os céus. Sair do chão me dava calafrios, mas gostava da sensação. Ainda não podia dizer que estava plenamente confortável com o voo, mas eu precisava me adaptar. E sentia que meu corpo ansiava por essa adaptação, porque não havia calmaria maior do que no céu. E por um tempo, nossa viagem foi tomada exatamente pelo silêncio, mas em um determinado momento, quando até eu comecei a me incomodar com ele, Ivanna acabou o quebrando, perguntando quais seriam nossos pontos fortes. A pergunta fazia sentido, principalmente vindo de uma filha de Atena. Ela precisava saber o que era forte e fraco naquela equipe, para que não houvesse algum imprevisto pelo menos de nossa parte. Só que, por mais que fizesse sentido, ainda fora uma pergunta que me pegou de surpresa. Em um primeiro momento, eu não sabia dizer, e precisava ser sincero na resposta. Deixei que Donatello respondesse primeiro, muito mais para ganhar tempo do que por cordialidade. -  Eu sei me esconder com facilidade. - respondi por fim - Parece uma coisa meio merda, coisa de gente covarde, mas já foi útil pra mim algumas vezes. - lembrei principalmente das incontáveis vezes que me escondi do meu padrasto para não apanhar ainda mais, ou mesmo quando a polícia me procurava nos becos antes da minha vida no Acampamento Meio-Sangue. A verdade é que fugir fora útil quando eu sabia que minha força não seria suficiente. Salvou minha vida, pelo bem ou pelo mal. - E quanto ao ponto fraco… eu acho que não sei ainda quais são minhas fraquezas. - Por mais que a resposta parecesse soberba, ela não era mentira. Todo esse tempo e eu ainda não havia me provado a fundo, não conhecia meus limites. Eu ainda não tinha total controle sobre meu corpo como os guerreiros experientes, e isso tinha grandes chances de dar alguma merda. - Talvez eu confie demais nos meus instintos, e isso pode ser perigoso. - Não sabia dizer como eles absorveram essa resposta, até porque não os podia ver diretamente. Mas também não importava mais, já estava dito.

Não podia negar que o questionamento de Ivanna ajudou a quebrar o gelo inicial do trio. Era meio contra intuitivo dizer seus pontos fortes e fracos para desconhecidos, mas estávamos em uma missão juntos. Era necessário os conhecer, e que eles me conhecessem, porque o submundo estava cheio de heróis que achavam que podiam fazer tudo sozinhos. É fato que a conversa se estendeu por mais um tempo e até se estenderia mais, se no horizonte, aqueles pássaros não parecessem tão estranhos. Na verdade, ao se aproximarem ainda mais, e em uma velocidade que surpreendia; foi que pude notar que não se tratavam de pássaros. - Só pode estar de sacanagem. - resmunguei enquanto focava melhor na horda que se aproximava. - Vocês dois, talvez queiram ver isso.


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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Mia Lynn Sparkle Sex Jul 14, 2023 10:44 pm

A Volta de Uma Traição
Missão de Serviço de Zeus - Parte 7
Talvez eu estivesse muito enganada em pensar que as pistas pudessem estar exatamente ali, em Nova York. No entanto, a entrada para o Olimpo era localizada no Empire State, sem contar que era uma metrópole cheia de pessoas e de suas crenças distintas, o que alimentava a permanência dos deuses no Ocidente. Eu, honestamente, realmente acreditava na presença de qualquer pista de Ares ou de seus filhos por ali, sobretudo depois de terem, abertamente, e debaixo de um templo de Zeus, dito a vontade de destruir o Olimpo. Mas por quê sequestrar Héstia? Ela não era uma dos doze… Tudo isso passava pela minha mente. Já haviam se passado horas desde que deixei a praia, precisei ir até uma loja buscar roupas secas e uma outra mochila, onde coloquei todas as minhas da mesma maneira como antes, e voltei a caminhar pelas ruas, agora mais atenta do que nunca para qualquer situação que viesse a aparecer. Virei uma esquina e passei a andar por uma rua com algumas vielas entre os prédios, e então algo no meio da rua me chamou bastante atenção. — O que é isso aqui? — Saí da calçada e fui para o meio da rua, parando bem ali e olhando para o chão, analisando as marcas existentes ali. Eram marcas de pneus, uma linha reta que fazia curva num dado momento, na esquina logo à frente. — Pneus de moto… — Poderia ser qualquer pneu, de qualquer moto, de qualquer pessoa. Mesmo assim, havia algo a mais, algo que dentro de mim eu podia sentir que fazia sentido. O chão não tinha apenas marcas de pneu, ele também parecia queimado. Só havia um único alguém que andava tão rápido em uma moto que fosse suficiente para queimar o asfalto dessa forma. Segui a marca de derrapagem, caminhando em linha reta até virar curva, quando a marca simplesmente desapareceu, sem nenhum outro sinal de sua presença, nem mesmo mais adiante ou qualquer outro sinal de que uma moto havia passado por ali. Olhando em volta, busquei pela simples presença da águia de mais cedo, mas não havia ninguém na rua além de mim. É… Eu definitivamente só tinha os meus instintos, e se eu deveria contar com eles, era exatamente isso que eu faria.
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Miguel Martínez Sáb Ago 05, 2023 11:15 pm

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Aquele táxi que entramos ao sair do acampamento meio-sangue nada mais era do que o serviço das Três Irmãs Cinzentas, as Greias, que são velhas mulheres que dividem um único olho e um único dente. Elas são as operadoras de uma empresa de táxis que presta serviços na Grande Nova York. O carro era estranho e elas eram loucas, mas assim que demos as coordenadas, elas se afeiçoaram um pouco mais com a nossa cara. Riley não gostou muito daquilo tudo, e para falar a verdade, eu também não. Não consegui baixar minha guarda nem um segundo sequer, pois tudo que eu esperava era que elas se revoltassem com a gente e tentassem nos matar. Depois de muitos quilômetros percorridos, finalmente chegamos no nosso lugar de destino. E assim que elas pararam o táxi, descemos o mais rápido possível, como se nossas vidas dependessem daquilo. — Obrigado, moças. — Acho que esse foi o obrigado mais sincero da minha vida. Passei o caminho todo com medo, e era visível que Riley também. — Então é assim que as mulheres se sentem quando vão pegar uber? Loucura! — Perguntei de forma genuína, mas a minha inocência quanto ao assunto soou um tanto engraçado para Riley, que soltou um leve riso. — Olha só, você sorri. — Cutuquei-a brevemente com o cotovelo. A garota não permaneceu no assunto por muito tempo, preferindo voltar ao foco da missão, mas me respondeu de uma forma que só confirmava minha suspeita de suas inseguranças. E assim fizemos. Ao notarmos o espaço ao nosso redor, percebemos que a “casa” onde fomos deixados tratava-se de um trailer. E só depois de avaliarmos bem as redondezas, que decidimos bater na porta. Eu tomei a dianteira e dei algumas batidas com o punho fechado, afastando-me logo em seguida. Apenas alguns segundos foram necessários para uma garota de mais ou menos quinze anos abrir a porta do trailer. Ela tinha o cabelo nos ombros, lisos e com uma franja esquisita. Algumas mexas azuis e outras verdes enfeitavam as madeixas originalmente pretas dela. Era possível notar vários piercings espalhados pelo seu rosto, em lugares como sobrancelha, nariz, boca e orelha. As unhas dela estavam pintadas de preta e ela vestia uma roupa bem parecida com a minha. Calça jeans destroyed, cropped vinho e um all star preto clássico. Quando ela fez contato comigo, fora possível notar sua irritação, porém, ao perceber a besta em meu tronco, a menina arregalou os olhos verdes, assustada. — Você consegue ver? — Perguntei assim que percebi que ela conseguia ver minha arma. Bom, para seres humanos comuns, a minha arma passaria facilmente por um objeto comum, graças à névoa, que ajuda nesse disfarce de mundo mágico. Porém, como ela era uma profetisa, a névoa não afetava ela.

— Calma, viemos em paz. — A garota estava travada, como se estivesse se preparando para o pior. Eu definitivamente não estava sabendo conduzir aquela conversa. E quando percebeu isso, Riley se meteu na minha frente, tomando as rédeas da minha mão e usando todo o seu charme de uma filha de Afrodite. Durante a conversa, achei impressionante como a cria do amor conseguiu conduzir tudo aquilo sem pânico ou sentimentos que trouxessem algum malefício para a nossa missão. Depois que voltei a me aproximar, a profetisa se apresentou para mim também. Seu nome era Gwen Loomis, e ela disse que começou a ouvir coisas há algum tempo. Além disso, a garota também informou que sabia da nossa chegada, mas que não acreditou muito naquilo, pois aquela era a primeira vez que suas vozes se mostraram reais. — Você tem poderes incríveis. — Não poderia deixar de comentar. Riley perguntou se ela sabia que teria que vir com a gente, e por mais que ela quisesse mentir sobre a resposta, não conseguiu esconder que sabia sim. — Nós iremos te proteger de qualquer coisa. É por isso que estamos aqui. — Garanti, tentando trazer um pouco mais de calma para a jovem, mas não pareceu adiantar muito. Ela disse que tinha uma irmã mais nova, de dez anos, e que não poderia deixá-la sozinha de forma alguma, já que uma só tinha a outra. — Não tem nenhum vizinho ou parente que você consiga deixá-la? — Perguntei, mas a resposta foi negativa. Ela disse que até tentou contratar alguém dias atrás, mas ninguém aceitava o trabalho. — Que estranho… — Sussurrei, tendo cuidado para não me expressar demais sobre isso. — Então vamos ter que levá-la conosco. — Obviamente não queria outra preocupação para os semideuses aqui, mas tínhamos que fazer aquilo acontecer, caso contrário, nem sei o que Zeus faria conosco.

Depois de muito papo e possibilidades levantadas, acabamos por decidir que Jules, a irmã mais nova, viria com a gente. Elas se prepararam, e não demorou muito mais que uma hora para que tudo estivesse pronto. — E agora? Para onde vamos? — Questionei as três garotas perto de mim. Um silêncio ensurdecedor percorreu todo o interior do trailer por um segundo, quando fomos surpreendidos por Gwen, que arregalou os olhos e congelou, como uma estátua. “Montanhas Catskill”. Foi o que ela disse quando voltou ao normal. — Óbvio que seria lá. — Sorri. Riley não estava muito antenada na geografia nova iorquina, por isso, expliquei para ela detalhadamente. — As Montanhas Catskill, no norte do estado, ficam a apenas algumas horas de carro da cidade. O topo desta trilha fica a quase 1.220 metros de altitude, a maior elevação da área. A floresta é impressionante e incrivelmente linda. — Expliquei de maneira bem didática. Sabia tudo aquilo, pois uma vez minha mãe queria comprar uma casa na região, e o corretor imobiliário nos entupiu com todas essas informações. Mais conversas foram trocadas sobre como iríamos e, depois de tudo isso, pegamos a estrada. A rota até a entrada da trilha não foi tão longe, mas como o trânsito estava meio fudido, até que demorou um pouco para chegarmos. No entanto, conseguimos entrar na trilha da montanha para alcançar o topo da colina. Graças a Gwen, sabíamos exatamente qual caminho seguir, então nessa parte estava mais calmo. O que tirava mesmo minha paz era que tudo estava muito calmo. Nenhum monstro apareceu? Nossa… É de se estranhar muito. Tem dois semideuses aqui, qual foi? Não somos bons o suficiente? Muitas questões vinham à minha mente, mas eu guardava todas pra mim, afinal, não queria deixar ninguém nervoso.

A irmã mais velha nos encheu de perguntas durante o caminho, tirando todas as dúvidas que tinha sobre nosso mundinho grego. — Sim… inclusive, atualmente, quem dirige o acampamento é a Héstia. — Respondi, quando a Loomis perguntou sobre já termos visto algum deus. O céu já estava começando a ficar laranja, e quando isso foi indicado por Riley, logo fiz questão de bater duas palmas para agitar as meninas. — Vamos galera, temos que apressar o passo. Quando a noite cair, vamos precisar de um lugar pra ficar. — Falei, tendo um complemento da filha de Afrodite sobre achar uma clareira ou um lugar plano. Depois de muito caminhar e minhas pernas começarem a doer, pra terminar de deixar tudo pior, começou a chuviscar. — Era só o que faltava. — Praguejei, abrindo os braços e olhando pro céu, quando senti a primeira gota cair sobre mim. O que eram chuviscos, rapidamente se tornou uma chuva torrencial, como se Zeus tivesse feito isso de propósito. — Véi, estamos te ajudando. Você poderia nos poupar disso. — Gritei para o além, mas claramente estava falando com quem pediu ajuda. A resposta que tive fora um grande raio, que iluminou tudo ao redor, seguido de um trovão estridente. — Tudo bem, já entendi. Isso é pra gente apressar, né? — Revirei os olhos, apressando o passo o máximo que dava, já que a lama formada pela água piorou tudo. Gwen escorregou, Jules caiu, Riley teve que segurar em uma árvore para não cair pelo barranco e eu tropecei umas três vezes. — Gwen, faz uma forcinha e tenta achar um abrigo pra gente. Você é nossa bússola. — Brinquei para quebrar o clima tenso que estava se instaurando. A morena disse que os poderes não funcionam quando ela bem entendia, e se fosse possível fazer isso, ela não sabia como.

Quando nossa visão começou a baixar, por conta do anoitecer, conseguimos achar uma caverna logo após uma pequena clareira. — Abrigo à vista. — Indiquei, segundos antes de entrarmos no lugar. Me senti naqueles filmes de terror onde o avião caia e os sobreviventes ficaram perdidos na floresta, tentando achar abrigo e não serem mortos. — Sinistro. — Comentei assim que averiguei o local. A caverna tinha fundo, e não era longa, o que tornava-a um beco sem saída. Apenas um local de entrada e o mesmo de saída. Haviam duas fogueiras ali, sendo que uma já estava usada, enquanto a outra permanecia intacta. — De duas uma. Ou as pessoas que estavam aqui foram embora sem usar a segunda remessa. Ou então estamos invadindo um abrigo. — Levantei a questão, deixando todo mundo um tanto quanto inquieto da mesma forma. — De todo modo, vamos ficar atentos. — Assim que disse isso, retirei Olimpiana da minha mochila, dando um gole na garrafa de vinho no segundo seguinte. — Beba, isso vai garantir que a gente fique vivo por mais tempo. — Riley pareceu relutar um pouco, afinal, tinha álcool ali. — Eu sou filho de Dionísio. O que você esperava? — Aproximei ainda mais a garrafa do rosto da filha de Afrodite, que acabou cedendo à minha investida. Depois dela, passei a garrafa para Gwen, que tomou sem perguntar nada. Quando ofereci a garrafa para Jules, fui repreendido pela mais velha, que não gostou muito da minha atitude. — Gente, estou tentando deixar a gente vivo e mais seguro. Melhor ela ter um pouco de álcool no organismo, do que sangrar até a morte com uma simples facada. Esse vinho é mágico, e ele dá mais resistência ao nosso corpo, como se fosse uma armadura mágica. — Expliquei com seriedade. Jules tomou o necessário para que o vinho funcionasse. Enquanto eu fazia isso, Riley usou seus dons e itens para acender a fogueira.

— Vamos comer alguma coisa, e depois eu e Riley revezaremos na vigília enquanto os outros dormem. — Joguei a ideia para o grupo, ao mesmo tempo que a Hidalgo informou que sairemos assim que amanhecesse. Começamos a comer logo depois que a fogueira começou a aquecer o ambiente, mesmo com a chuva torrencial ainda firme e forte lá fora. Eu fiquei responsável pela guarda inicialmente, enquanto as meninas tiravam seus primeiros cochilos. Tudo estava muito calmo e pacato, e eu segurava minha besta carregada e em posição de ataque, pronto para qualquer coisa. Caminhei de um lado para o outro por bastante tempo, quando fui surpreendido por uma figura alta, que se aproximou de maneira pacata até mim. — Levante as mãos e fique parado. — Disse com tom de voz firme, ao mesmo tempo que apontava a besta para a cabeça da figura. Ele não falou nada, tampouco respeitou minhas ordens. — Meninas, acordem! — Gritei, sem tirar os olhos do homem, que caminhava de forma desajeitada até nós. Percebi que as garotas haviam despertado, e no momento que a fogueira foi capaz de iluminar o rosto da figura, percebi que se tratava de um morto-vivo. Isso mesmo, a coisa exibia sinais de decomposição, como pele pálida e desgastada, feridas abertas, músculos expostos e ossos visíveis. Sua aparência era repugnante e perturbadora, causando um medo e aversão um tanto inexplicáveis para mim. Como identifiquei a figura, e sabia que ela não ia responder aos meus comandos, tratei de meter bala. — Volta pra sua tumba, desgraçado. — Meu primeiro tiro acertou em cheio o pescoço da coisa, que fez um barulho estranho. Parecia uma mistura de dor e agonia. Porém, aquilo não o fez parar. Pelo contrário, ele avançou ainda mais rápido. — Riley, proteja as meninas. — Informei, disparando mais uma vez contra o zumbi, mas dessa vez acertando o seu coração. Em muitas mitologias era dito que acertar o coração ou o cérebro de um morto-vivo, seria a chave para derrotá-lo. No entanto, o tiro no coração só o fez sentir ainda mais raiva. Comecei a dar passos para trás, tentando ganhar uma maior distância, quando percebi, de canto de olho, que havia mais mortos-vivos ali dentro. — Não tenho mais tempo para você. — Disse, usando meu último disparo da rodada para acertar em cheio a glabela do coiso. — Headshot. — Pisquei para ele, que caiu no chão no segundo seguinte.

— Acerta na cabeça. — Avisei a Riley, ao perceber que ela lutava com dois de uma vez. Consegui observar que Gwen e Jules estavam a salvo, protegidas no canto, mas ainda assim com medo. Recarreguei minha besta, a fim de ajudar minha companheira. O primeiro tiro foi em uma mulher zumbi, do tamanho de Riley. E por mais que eu tivesse mirado em sua cabeça, acertei o pescoço. Não sendo de grande ajuda para a garota. — Droga. — Bufei. No momento que fui atirar mais uma vez, senti um peso sobre a minha arma, fazendo-a cair próximo a mim. Virei meu rosto para ver o que era, dando de cara com mais um morto-vivo, que me empurrou com força para trás, fazendo-me cair de bunda no chão, além de bater a cabeça na parede atrás de mim. Meu mundo girou por alguns segundos, e eu não conseguia focar minha visão. — Fudeu. — Segundos depois, senti um peso sobre meu corpo, prendendo minhas pernas e meus braços. O zumbi havia deitado sobre mim. Me ferrei. Acabou aqui. Sabia que um nota sete não era bom o suficiente para isso. O zumbi rugiu na minha cara, fazendo até um pouco da baba dele cair sobre meu rosto. Nojento. De repente, o peso do morto-vivo sumiu um pouco, sendo ele tirado de cima de mim no segundo seguinte. — Te devo uma, parceira. — Disse a Hidalgo, que me ajudou a levantar e entregou minha besta novamente na minha mão. O mundo não girava tanto, e por conta da adrenalina, eu não sentia mais dor. — Abaixa. — Indiquei, e quando ela fez o que pedi, disparei um dardo na cabeça de mais outro zumbi. — Não devo mais. — Brinquei. Quando o zumbi caiu a nossa frente, notamos que dois seguravam as meninas como refém, prestes a arrancar seus pescoços. Porém, diferente dos outros mortos-vivos, esses falavam. “Olá, semideuses. Eu sou Lorde Burlington, e essa é minha minha amada esposa. Lady Burlington”. A voz dele era de um velho que fuma vinte carteiras de cigarro por dia. “Achamos vocês dois interessantes para o que procurávamos. Minha esposa quer os cabelos de uma linda donzela. E nada mais justo do que as madeixas da filha de Afrodite.” Pausou, olhando atentamente para sua esposa zumbi, que ria como se o homem tivesse contando uma piada. “Enquanto eu. Bom, eu quero o sangue de um filho de Dionísio, para produzir o melhor vinho que esse mundo já viu.” — Meu sangue? Eu nem como feijão, tio. Devo ter deficiência de ferro. — Sorrio de nervoso, apontando a besta para o homem, que segurava Jules.

Riley tentou conversar com eles, porém, nenhum dos dois pareceu dar muita bola para o charme na voz da Hidalgo. O que dificultava nossa vida. Entramos num dilema. Se for rápido o suficiente, consigo acertá-los sem que eles firam nenhuma das garotas. No entanto, se eu não conseguir ser tão veloz, uma delas vai morrer. Vamos ter que escolher apenas uma delas, e Riley sabia disso, é tanto que ela me olhava com certa comoção. Ela poderia fazer aquilo, atirando sua adaga, mas talvez não fosse tão precisa quanto meus tiros. — Riley, me ajuda. — Eu não queria escolher em quem dar o primeiro tiro, mas a filha de Afrodite escolheu dividir esse fardo comigo, e juntos, escolhemos salvar a vida de Gwen. Assim que ela sussurrou essa informação no meu ouvido, agi. — Que os deuses me ajudem. — Atirei primeiro na Lady, acertando em cheio o meio da sua testa, libertando a irmã mais velha primeiro. Meu segundo tiro também havia sido muito rápido, mas o Lorde foi mais veloz, degolando Jules na nossa frente, como se a menina fosse um animal. Ele fez isso com as unhas gigantes e íngremes que tinha. O meu disparo também acertou o zumbi em cheio, fazendo-o cair e depois sumir em cinzas. Porém, era tarde, Jules estava morta. E acho que uma parte de mim também morreu com aquilo tudo. O grito de Gwen era audível num raio de pelo menos dez quilômetros, e cada segundo dele fazia meu coração diminuir um pouco mais. Fiquei tonto, e caí de joelhos, sem secar as lágrimas que desciam pelo meu rosto. Ela morreu. Eu falhei. Nós falhamos. Não estava querendo jogar a culpa em Riley, mas disse “nós”, pelo fato de que somos uma equipe, e ela sentia aquela decisão tanto quanto eu, já que fizemos em conjunto. Não podíamos nos dar ao luxo de sentir nada, afinal, Gwen estava ali, na nossa frente, e ela quem sentia muito mais do que a gente. Abraçamos a menina com força, na esperança de que a dor que ela estivesse sentindo fosse sugada pra gente, mas obviamente aquilo não era possível. — Sentimos muito. — Gwen sabia que o acontecido não era culpa nossa, e que fizemos de tudo para salvá-las.

Depois que Riley se acalmou, ela conversou com a Loomis usando suas habilidades especiais, deixando a garota mais tranquila e receptiva à ideia de que a irmã mais nova morreu. Porém, instruí a Hidalgo que não retirasse toda a dor, afinal, viver o luto era necessário. Naquela noite, mais nenhum monstro apareceu. Tudo que tinha ali dentro daquela caverna era uma fogueira, um cadáver e três adolescentes de luto. [...] O sol resolveu aparecer, porém, as coisas não estavam tão melhores do que ontem à noite. Jules havia morrido de verdade, e depois de dar um enterro digno a garotinha, tivemos que superar nossas dores e seguir em frente com a missão. Tentamos deixar Gwen o mais confortável possível, mas mesmo assim, o clima não estava nem um pouco bom. A Loomis seguiu nos ajudando com o caminho a seguir, enquanto eu e Riley permanecemos atentos a tudo que estava ao nosso redor, como se fossemos águias. O trauma de ontem com toda certeza serviu pra nos deixar muito mais atentos ao ambiente que estávamos desbravando. Como se não bastasse tudo que já passamos, nos encontramos diante do desafio imponente que estava à nossa frente: um colossal paredão de pedra que se erguia em direção ao céu. — Era só o que faltava. — Revirei os olhos. A Hidalgo e eu já tínhamos certo costume em escalada, graças aos treinos que fazíamos no acampamento. No entanto, eu estava mesmo preocupado com Gwen, afinal, não sabíamos nem se ela sabia escalar. — O que me diz, Loomis? Você acha que consegue? — Por sorte, e para minha total surpresa, a garota disse que já participou até de torneios mirins de escalada, sendo esse um de seus hobbies prediletos. Bom, então nada mais podia nos parar. — Então vamos nessa. — Bati duas palminhas, esperando o primeiro corajoso. Como ninguém havia se disposto, eu dei o primeiro passo em direção à verticalidade desafiadora. Meus dedos encontraram as fissuras, minhas botas buscaram apoio nas pequenas saliências e, com um movimento confiante, eu comecei a subir. Riley e Gwen trocaram um olhar antes de seguir o meu exemplo. Enquanto subia, eu fazia questão de manter um olho cuidadoso nas mãos e pés uns dos outros. O sol, agora um pouco mais alto no céu, lançava um calor reconfortante sobre nós, contrastando com a fresca brisa de altitude que nos envolvia. Não vou mentir, estava com um pouco de medo.

Cada trecho do paredão apresentava um novo desafio. Às vezes, a rocha era suave e côncava, exigindo que confiássemos na força de nossos braços. Em outros momentos, encontrávamos fendas estreitas onde nossos dedos se encaixavam perfeitamente, enquanto nossos pés buscavam agarrar-se a pequenas saliências quase invisíveis. A montanha estava testando nossa habilidade, resistência e, acima de tudo, nossa determinação. — Meninas, tenham cuidado nesse lado que estou passando. Tudo está meio liso. — Estava a todo momento me comunicando com as duas, afinal, precisávamos nos acalmar. À medida que subíamos, o vento se intensificava, balançando meus cabelos e me lembrando constantemente da altura vertiginosa que estávamos alcançando. O céu estava agora marcado por nuvens que se formavam ao longo das montanhas distantes, como espectadores curiosos de nossa escalada. — Estamos quase chegando. Vamos. — Ao dizer isso, perdi a noção dos meus movimentos. Em certo ponto, um trecho particularmente complicado fez com que eu perdesse momentaneamente o equilíbrio. Meus dedos escorregaram, mas com um rápido reflexo, consegui me agarrar a uma saliência próxima. Meu coração disparou, e minha respiração logo ficou ofegante. — Estou bem. Está tudo certo. — Respirei fundo, avisando as minhas companheiras para não se preocuparem. As meninas logo me acompanharam, oferecendo apoio moral e físico. Juntos, criamos um sistema de apoio, posicionando nossos corpos estrategicamente para ajudar um ao outro a superar o trecho. A escalada foi desafiadora, mas finalmente, depois de um esforço conjunto incansável, nossas mãos tocaram o topo do paredão de pedra. — Conseguimos. — Nos abraçamos rapidamente. Aparentemente esse abraço em grupo tem se tornado acolhedor e seguro desde ontem. Esse era um bom sinal. Sinal de amizade verdadeira. Depois de nos soltarmos, olhamos para baixo, lembrando a longa trajetória vertical que havíamos percorrido. O vento agora soprava livremente, como se estivesse celebrando nossa não morte junto conosco. A vista que se estendia diante de nós era magnífica, talvez sendo uma recompensa pelo nosso esforço e persistência. — E agora, o que fazemos? — Questionei, virando para o que tinha ali, em terra firme.

Não foi difícil de achar. Logo de cara, nos deparamos com o que parecia ser um mini obelisco, da cor azul marinho, possuindo pouco mais de um metro de altura. — Olha, apenas um palpite. Mas deve ser aquilo ali. — Apontei, usando um tom cômico na minha frase. Caminhamos até o monumento de maneira atenta, prestando atenção aos arredores, afinal, não queremos ser surpreendidos por nada. Toda essa atenção adiantou de algo? Então… Não. Simplesmente uma fera saiu de trás de um pedregulho, se jogando contra o corpo da filha de Afrodite. Não deu tempo nem sequer de eu falar. Só ouvi um grito de Gwen, e Riley e a criatura saíram rolando pelo chão. — Gwen, afasta. — Empurrei a garota em direção oposto a da cena que estávamos presenciando. Quando o monstro parou em cima de Riley, deu para perceber que aquilo se tratava de um cão do inferno. — Aqui? No topo de uma montanha? Fala sério. — Revirei meus olhos, apressando o passo para ajudar a minha amiga. Enquanto corria em direção a eles dois, observando que ele só não fatiou Riley, pelo simples fato de ela estar prendendo sua boca com a adaga dela. Ainda em movimento, preparei minha besta para acertar um disparo no cão infernal e ajudar Riley, porém, no momento do meu ataque, fui surpreendido por outra criatura daquelas, que acertou em cheio minha arma, fazendo-a cair metros de distância atrás de mim. — Filho de uma puta. — Xinguei. Não dava mais tempo de pegar minha arma para ajudar a Hidalgo. Fiz mais força para correr, e no momento certo, joguei meu corpo contra o da criatura, fazendo-a ser jogada com força pelo ar e cair do penhasco, sendo abatida. Com o impulso da minha manobra, cai no chão com velocidade, rolando em direção ao penhasco também, até não sentir mais a terra sobre minha metade do meu corpo. Morri. Foi a única coisa que pensei. Porém, graças ao meu TDAH, meu corpo agiu sem a minha mente precisar comandar os meus movimentos. Estendi as mãos com velocidade, fazendo com que a ponta dos meus dedos conseguisse segurar no último centímetro de chão antes que eu caísse de vez.

Minhas forças estavam acabando, e eu não ia aguentar nem mais três segundos ali. Quando eu estava prestes a soltar, senti duas mãos puxando meus pulsos para cima. Sozinha, ela não conseguiria, então, juntei o restante de força que eu tinha ali e subi. Agora são e salvo, tentava respirar aliviado, mas aliviado era a única coisa que eu não estava. — Muito… bom… correr… risco de vida… — Minha voz era cortada a todo instante pela minha respiração forte e pesada. Segundos depois, quando recuperei um tanto dos meus sentidos, lembrei que havia outro cão infernal ali. — Riley, cadê o outro cão? — Questionei, mas a garota aparentemente não sabia a resposta também, demonstrando total surpresa. Ambos viraram em direção a Gwen, que estava sentada no chão, olhando para o nada, como se estivesse em choque. Ela estava com minha besta na mão, completamente bem. O que de fato chamou nossa atenção foi a outra criatura, que estava morta, em frente a menina. Ao observar a cena, obviamente entendemos tudo. Ela conseguiu enfrentar o monstro sozinha, com uma arma que nunca havia usado. — Se eu não a conhecesse, juraria que ela era uma semideusa. — Comentei, levantando dali e ajudando Riley a fazer o mesmo. Novamente nos aproximamos da menina, que estava tendo um dia meio tenso na vida dela. Graças a Riley e sua voz persuasiva, ela conseguiu livrar Gwen de muita coisa, mas sem tirar a liberdade dela, obviamente. Depois de nos recuperarmos, os três chegaram perto do obelisco e observaram atentamente a coisa. Com a análise feita, notamos que havia uma espécie de leitor de mão na parte mais alta do treco. — Será que minha mão vai revelar o item? — Disse, me achando, e já tomando a dianteira. Assim que aproximei meu membro do leitor, senti um choque percorrer meu corpo todo, fazendo-me tirar a mão no mesmo instante. — Eita, caralho. Deu choque. — Falava desesperado, ao mesmo tempo que balançava minha mão pra cima e pra baixo. Riley não acreditou muito em mim, e tentou também, porém, o mesmo aconteceu. — Num falei. — Ri dela, que também ficou desesperada com a carga elétrica que invadiu seu corpo.

O silêncio se instalou, então eu e Riley fitamos Gwen, que instantaneamente mostrou resistência. — Foi foi a nossa bússola, talvez seja nossa chave também. — Dei de ombros quando ela usou o argumento de que não era nem sequer uma semideusa. Depois de eu e a Hidalgo insistirmos muito, Loomis fez o que tinha que ser feito. E para o choque de todos, não literalmente, ela conseguiu abrir o obelisco, revelando o que parecia ser um bracelete, com uma águia entalhada. — Caramba que maneiro. — No segundo em que ela retirou o objeto do obelisco, as coisas começaram a ficarem estranhas. Primeiro, o tempo fechou no mesmo instante, como se o próprio Zeus estivesse na nossa presença. Em seguida, raios e trovões surgiram no céu, iluminando e trazendo sons estridentes para o ambiente. — O que está rolando? — Logo em seguida, entendemos o que estava acontecendo. Acima da cabeça de Gwen, era possível observar o símbolo de um raio azul rodando. Para os que não sabem, ela estava sendo reclamada como filha de Zeus. — Como é??? — Minha boca se abriu, e eu pude jurar que meu queixo tinha caído no chão. Aparentemente o deus do olimpo fez toda essa simulação de missão para reclamar a menina? O que custa fazer como os outros, véi? Sem comentários. Mais um raio caiu do céu, porém, dessa vez perto da gente, revelando o mesmo homem ruivo que havia falado comigo no dia anterior. Zeus estava ali, mais uma vez, diante de Gwen. O rei do olimpo disse que tudo aquilo havia sido um teste, para ter certeza se Loomis era digna da sua reclamação. Depois de ter provado que ela era digna, o ruivo informou que Gwen não era uma profetisa, e que ele estava falando em sua mente todo esse tempo. — Os monstros também foram você? — Questionei, um pouco abismado com tudo aquilo. Com um sorriso no rosto e uma pompa sem tamanho, o homem confirmou que sim. “Então você é meu pai? Eu sou uma semideusa? E você enviou aqueles monstros? Os mesmo que mataram a minha irmã?” A voz de Gwen foi ficando cada vez mais furiosa, e ela estava ficando voraz, como uma tempestade. Definitivamente uma filha de Zeus. O pai dela confirmou tudo, e ainda acrescentou que Jules tinha que morrer, seria melhor para as duas. Oi? Ele não falou isso. Alguém me diz que ele está zoando. Loomis só não avançou contra o ruivo por saber que não tinha forças para lidar com ele, porém, Zeus recuou de toda forma quando começou a ser gritado e xingado. “Quando você estiver mais calma volto a conversar com você. Por agora, vocês dois…” Ele apontou para mim e Riley. “Levem minha filha para o acampamento em segurança. Vocês serão recompensados.” Depois de dar essa ordem, o homem sumiu em mais uma explosão de luz. Levaram alguns bons minutos pra gente entender tudo que estava acontecendo. — Surreal tudo isso… Surreal. — Eu nem sequer conseguia verbalizar meus sentimentos, estava tudo uma loucura na minha mente. Se eu estava assim, imagine Gwen? Coitada. Agora tínhamos uma nova missão. Quando achávamos que tínhamos terminado, na verdade estávamos apenas iniciando o fim. Agora tínhamos que levar Gwen Loomis de volta para o acampamento em segurança, torcendo para não morrermos no meio do caminho. Quer um spoiler? Conseguimos.

w/ Riley Hidalgo, Gwen Loomis (NPC) e Jules Loomis (NPC)
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Draven Akvhart'oz Qui Ago 10, 2023 1:16 am


ride into the storm
Começo de tarde. Um horário ou preguiçoso ou já cansativo. Hoje havia sido um dia que havia suado um pouco em treinamento, mas me irritava ver que continuamente minha performance continuava a mesma. Fraco, sem foco, sem ataques certeiros. Tudo fazia parecer que todas as minhas mortes causadas foram nada menos que favores do destino, se é que isso existia. Afinal, dos deuses é que não era.

No entanto, ainda irritado e esperando que pudesse apenas trocar de roupa para poder continuar o dia em mais treinos, abri a porta do chalé com pouca delicadeza. Só não bati meu corpo contra o do homem em minha frente, porque o seu tamanho era praticamente impossível não notar. Na verdade, era impossível não notar a imponência, a postura, e aqueles olhos. Aqueles malditos olhos de fogo. Senti meu estômago embrulhar, mas não por medo. Por tentar controlar todos os meus instintos para não esmurrar aquele deus bem no meio da cara. Sim, minha consciência sabia que eu faria apenas um papel de idiota, mas encarar Ares ali, em minha frente, me trouxe sentimentos que até então eu não sabia descrever. Apenas um: a raiva. E se esse sentimento vinha de mim, ou da presença dele em minha frente, eu não sabia. Mas sabia o quanto era real. Não houve muito tempo para qualquer reação minha, de qualquer forma. Em um movimento rápido, o deus da guerra me pegou pelos ombros e me tirou do chalé, levando meu corpo como se fosse uma boneca de pano até um lugar qualquer ali perto. Eu tentei me desvincular, é óbvio que tentei. Mas não consegui fazer o menor efeito. Eu ainda me culparia muito pela falta de força física, mas não agora. Agora minha raiva havia perdido seu foco em mim, e se direcionado à Ares. E quando ele enfim me colocou no chão, eu pude inspirar para xingar o deus com o pior adjetivo que minha mente conseguia processar, mas ele foi mais rápido. Em uma pergunta que pareceu ser precisamente cortante, ele perguntou quem eu era. Exatamente assim, como se eu fosse completamente sem importância, um filho de ninguém. A pergunta me acertou em cheio mas ainda assim, consegui responder - Seu agiota é que não é. - em um pouco mais que um resmungo, mas acho que o deus não ouviu. E se ouviu, não deu importância, como deixou bem claro em suas palavras. E foi então que me disse ter uma tarefa para mim o que me fez bufar em sarcasmo. É claro que era isso. Talvez o deus não tivesse mais ninguém pra atormentar, ou eu havia sido o primeiro que eles escolheu. Não fazia diferença. Porém, ele mesmo fez seus olhos queimarem ainda mais, deixando bem claro que não havia outra resposta a não ser aceitar. Ares começou a descrever do que se tratava, sobre uma gangue de motoqueiros e seus adversários, e vou confessar: não pareceu uma missão ruim, por mais incrível que isso possa parecer. Vindo de Ares algo interessante assim, só podia significar que algo estava errado, ou ele estava escondendo algo. Minha missão seria dar um susto nos vândalos. Simples assim. Agora como eu faria isso? Eis a maior questão. Provavelmente Ares queria me colocar sob humilhação, uma vez que meu porte físico definitivamente não daria conta dos gângsters. Ainda mais com sua acidez na voz, dizendo que eu era bizarro por natureza. Fiz força para não reagir. Mesmo assim, o deus me entregou um mapa, o que fez parecer que estava realmente disposto a me fazer passar por aquilo. Quanto a mim, se era isso que Ares queria, então que assim fosse. Se despediu, dizendo que se eu fosse mal sucedido, acabaria caindo em uma maldição. - Ah vá à merda. - respondi, mesmo sabendo que ele pouco ouvia, principalmente porque estava mais ocupado fazendo uma pose ridícula e desaparecendo dali em uma luz forte. - Deus do caralho. - xinguei sozinho, vendo que não havia outra opção a não ser seguir o endereço.

Antes disso, voltei para o chalé, onde pude enfim trocar minhas roupas, preparando o que podia para sair logo. Se eu ia lidar com motoqueiros gângsters, eu podia dizer que estava em casa. Portanto, uma camiseta preta, uma calça jeans cargo, e meu par de coturnos. Vesti tudo rapidamente, e assim que terminei de amarrar o último coturno, fui até meu baú e o destranquei, tirando minha Kedra (Kérato Drákou) e colocando no seu devido coldre, dessa vez amarrado em minha perna. Havia ali também o Desorientador que havia ganhado de Poseidon, que por um momento pensei em deixá-lo ali, por ser meio inútil, mas optei por carregar comigo principalmente para que não deixasse minhas coisas ali, enquanto eu não estava. Principalmente em um chalé de Hermes. Quando por fim, me dei por satisfeito, segui em direção à saída do acampamento, passando inevitavelmente pelo refeitório, enquanto eu olhava aquele mapa porco que Ares havia me dado. Com o que dava para entender, o endereço dava para algum lugar de East Meadow. Talvez chegando lá, fosse mais fácil de me localizar.

Ouvi alguém me chamar a atenção, bem próximo a mim, quando já estava próximo da saída - Não enche. - respondi sem paciência, achando que era alguma coisa sem importância, portanto não levantei o olhar. No entanto, ao sentir meu ombro ser agarrado com força, precisei parar, ou acabaria caindo. Apesar de ser um agarre forte, notei que eram dedos femininos. Voltei meu olhar para trás e encontrei uma garota morena, a qual imediatamente reconheci como a conselheira-chefe do chalé de Ares. Impossível não tê-la visto antes, mesmo que eu nunca tivesse trocado uma palavra sequer. Porém, constantemente a via em situações relevantes no Acampamento, bem como em diversos treinos. - Ah. Era o que estava faltando mesmo. - disse com um certo tom de desânimo. Não bastava Ares me enviar para uma missão possivelmente humilhante, ele precisava mandar sua cria junto. - Não me diga que seu pai te enviou. - havia uma pequena ponta de esperança que não fosse esse o caso, mas não foi o que aconteceu. De fato, a garota iria comigo. Revirei meus olhos maldizendo Ares mais uma vez. - Eu não preciso de guarda-costas. - disse à ela, mas a garota parecia decidida. E o pior: ela parecia estar orgulhosa de ter sido “escolhida” por Ares pra me seguir. Por fim, me vi mais uma vez sem opções. - Então vamos logo. Quero chegar lá antes de anoitecer. - disse a ela, seguindo para fora. A garota chegou a insinuar que chegaríamos mais rápido se procurássemos por alguma moto do Ares, que sempre ficavam por aí, o que me fez parar mais uma vez, instantaneamente. - Não. - respondi pela primeira vez olhando para ela, decidido. - Olha só, vamos deixar uma coisa clara aqui e agora: eu não quero nada além de distância desse maldito deus que você chama de pai. Chame-o do que quiser, ou adore, eu não me importo. Mas pela primeira vez eu quero fazer essa merda por mim mesmo, e não seguir uma cria de Ares. - descarreguei. Depois, acabaria me sentindo um pouco mal por ter dito tudo isso a ela, afinal, ela estava ali também por ordens. Porém, naquele momento, eu só conseguia descarregar minha raiva por saber que estava sendo mandado pra uma missão onde acabaria apanhando, isso se saísse vivo, para que um deus se divertisse. Eu sabia que ela era mais experiente que eu, principalmente em assuntos de Ares, e visivelmente era mais forte. Ela poderia simplesmente ter enfiado um murro na minha cara por ter dito tudo aquilo, e tomado as rédeas, mas por algum motivo não o fez.  - Olha só, eu só quero dizer que… - tentei formular uma frase mais calmo, uma vez que meu nariz estava inteiro - ...eu tô cansado de ser apenas um burro de carga pra deuses e outros campistas. Se essa é minha missão, eu quero tomar o controle conforme puder. - não quis pedir pra ela me seguir, nem nada do tipo, mas se ela estava ali também, então que a gente pudesse caminhar juntos. Minha surpresa foi que mesmo assim, ela aceitou, me perguntando como faríamos pra chegar até o endereço. Inspirei fundo apenas para acalmar meus ânimos, vendo que estar descarregando minha raiva ali, para alguém que não tinha culpa seria pior pra todo mundo. - A gente consegue pegar o metrô. Chegamos lá em poucas horas se formos agora. - O Acampamento era retirado, mas nem tanto assim. E pelo menos East Meadow não se distanciava muito, como o Brooklyn por exemplo. [...]

Chegamos ao subterrâneo rapidamente até. Nenhum de nós falou muito durante o trajeto, e eu imaginava que era mais para evitar gasto desnecessário de energia, mas também era porque o clima não começou agradável. Não teria como ser agora. Por fim, conseguimos acesso ao trem, e como era de se esperar, diversos olhares em nossa direção, talvez por nossos trajes e principalmente o machado da garota que chamava a atenção. - Somos personagens de um rpg. - Disse às pessoas mais próximas. Havia ouvido falar de sessões rpg onde os membros se fantasiavam para participar, e achei pertinente inventar isso. - Nada daqui é real. - disse por fim, e pareceu funcionar. Aos poucos, as pessoas começaram a não dar tanta atenção.

Encontrei um lugar para sentar e foi o que fiz, sugerindo que a filha de Ares fizesse o mesmo. - O que você espera dessa tarefa? - quis saber afinal, se ela havia recebido a mesma missão, ou se Ares havia pedido pra ela que levasse uma câmera pra que ela gravasse um fracotinho ser humilhado pela sua gangue. No fundo, eu queria poder acreditar que ia lidar mesmo com alguns gangsters vândalos, mas parecia surreal. Mas pelo que a garota falou, parecia ser mesmo o que iríamos encontrar. Ou ela sabia fingir bem. Não quis perguntar seu nome porque não me importava. Se ela ia ferrar comigo daqui a pouco, não valia a pena nenhum tipo de laço. [...]

Por fim, o metrô chegou na estação de East Meadow, e desembarcamos. - Você conhece alguma coisa sobre essa gangue? Onde eles ficam aqui? - Era difícil ela saber com precisão, mas qualquer informação já era algo. Procuramos pelas ruas o nome que dizia no papel, com certa dificuldade, mas nada que uma pergunta a um taxista não resolvesse o problema. A julgar pela reação do homem, a rua não era um lugar muito amigável, mas isso só mostrava que estava indo pelo caminho certo. Seguimos pelo caminho que ele havia nos dito, e aos poucos a estética das ruas começava a ficar mais ameaçadora e escura. Como se poucas pessoas de fato passassem por ali. O cheiro era forte, de todos os tipos de produtos e bebidas, e não foi difícil encontrar o QG da gangue. Diversas violações visuais em algo que já não era muito bonito esteticamente. Pichações, vidros quebrados, carros e motos viradas. Quem quer que estivesse ali, com certeza estava se divertindo. Confiante que havia chegado no destino, inspirei fundo para colocar a verdade em minha frente logo, antes que entrasse em parafuso com a ansiedade. Em um movimento rápido, segurei os ombros da garota e puxei para um beco ao nosso lado. Acho que só o consegui com precisão porque foi muito rápido e inesperado. Antes que ela se desse conta, havia a colocado contra a parede, tirando a Kedra do coldre e colocando em seu pescoço, olhando em seus olhos. - Me diga a verdade. Seu pai me mandou aqui pra ser morto por gangsters enquanto você observa tudo e relata isso a ele? - Apesar de firme, meu tom de voz era baixo, para que ninguém mais além dela ouvisse. - Fala! - tentei pressionar, antes que ela pensasse em alguma outra desculpa. Era meio bizarro ver uma cena assim, sendo que ela era bem mais forte que eu, mas modéstia parte, eu sabia usar minha faca. E todo mundo fica vulnerável com uma faca em seu pescoço.

Mas a garota disse que não. Que a mesma missão que eu havia recebido, ela havia recebido também: limpar o local e devolver para a The Beagles. - The Beagles? Esse é o nome dos caras? - pela primeira vez, senti vontade de rir. Porque já não era mais eu me sentindo ridículo. Pra uma gangue de Ares, The Beagles parecia um nome muito idiota. Se bem que, parando pra pensar, combinava.

Soltei seu pescoço e guardei minha faca. - Me perdoe, eu apenas… não sei o que esperar de Ares. Nunca sei. - disse sinceramente, mas não esperei por muita conversa de reconciliação. - Então vamos fazer isso acontecer. Me segue. - disse a ela, enquanto corria por aquele beco. Nova Iorque era famosa pelos seus prédios com escadas de incêndio, e acredito que nenhum morador daquele prédio se importaria com dois adolescentes subindo. Isso se houvesse algum morador ali. Não importava. Subi até o topo do prédio que não era tão alto assim, apenas para ter uma visão melhor do que acontecia no QG dos Beagles. - Aliás, meu nome é Draven. - Me apresentei finalmente. Agora mais calmo, sabendo que eu não era o alvo final da missão mas uma ferramenta, me senti seguro a falar melhor com ela. - Consigo contar oito. Quantos você vê? - me referia a quantos gangsters perambulavam por ali. Tentei me guiar por seus coletes, e haviam alguns ainda fora do QG, talvez trabalhando como sentinelas. No total, eram visíveis doze membros da gangue. - Precisamos assustá-los. Mas como tirar eles dali? - parei pra pensar por um momento. - Você conhece algum Beagle? Membro da gangue, quero dizer. Se houver algum contato confiável por aqui, talvez a gente consiga alguma informação que nos ajude. Porque sair correndo dando porrada em geral só vai fazer eles ficarem com raiva. Consegue encontrar um pra mim? - Precisava confiar que Spark tinha o mínimo de conhecimento sobre assuntos do seu pai, uma vez que era tão devota. Mesmo que ela não conhecesse nenhum, acho que reconheceria quando visse um. E a julgar pelo tamanho do seu machado, não seria de duvidar que conseguisse convencer com facilidade. Enquanto a menina saiu, eu permaneci ali contando se não apareceria mais nenhum outro gangster.

A noite havia se aprofundado, e a luz já não era mais presente. Por sorte, havia alguns postes ali no QG, mesmo a céu aberto, e eles haviam aceso uma fogueira no centro. Uma fogueira curiosa, por assim dizer. Uma haste ao centro, como se fosse o exato ponto central do lugar. A haste não parecia ter mais de dois metros, e dali de onde eu estava, parecia ser de metal. Ao redor, pneus, papelões e outros materiais queimavam, formando uma fumaça preta e fedorenta. Ainda analisava o local quando Spark chegou com um rapaz de idade não muito avançada. Visual de motociclista, usando um colete preto e roupas folgadas. O que me chamou a atenção no seu colete foi justamente o patch de "Prospect", indicando que era apenas um novato na gangue. Spark havia acertado em cheio ao escolhê-lo. Seria muito mais influenciável que um integrante mais velho. - Espero que Spark já tenha feito a apresentação. Se não fez, não importa. - Cruzei os braços - Quem são eles? - Apontei com a cabeça para a gangue lá embaixo. Não sei se era por medo de Spark, ou a minha postura que o convenceu a falar, ou as duas coisas, mas ele não pareceu resistir muito para responder “O nome deles é Stormkeepers.” Levantei as sobrancelhas, apesar de me manter sério. - Stormkeepers? Porra, mas isso sim é nome de gangue. Não esse lixo que vocês batizaram a gangue de vocês. Não me espanta que tenham sido roubados mesmo. - o rapaz ferveu o sangue rápido, deu pra ver que era temperamental. Tentou correr pra cima de mim, mas a Spark foi mais rápida em segurar o cara. - Relaxa, prospect. A gente vai limpar a área pra vocês. Onde estão os outros membros da gangue de vocês? - Ele hesitou um pouco. “Mortos, a maioria. Os que sobraram, debandaram.” foi o que disse por fim. - Porra, aí é foda. - bufei em desânimo. - E tem alguma coisa que esses caras aí tem medo? Alguma chance de fazer esse povo sair correndo? - era uma pergunta idiota, mas era a única que havia sobrado. Virei de costas pra ele, analisando mais uma vez o pessoal lá embaixo já esperando que Spark se livrasse do cara, porque não teríamos respostas. Porém, para minha surpresa, ele respondeu. “Bom, corre uma lenda por aí.” ele parou, talvez esperando uma reação minha, mas mantive a pose, esperando que ele continuasse. “Dizem que existe um Motoqueiro Fantasma vagando por essas ruas. A maioria não acredita, mas as histórias são que o motoqueiro ataca QGs em busca de almas errantes.” Foi deixando a voz morrer, vendo que a história era sem sentido. Porém, lá dentro da minha mente, uma lâmpada acendeu. - Acho que podemos tirar vantagem disso. - dei uma espécie de sorriso, formulando o plano em minha cabeça. - É, pode funcionar. Me dê o seu colete e seu moletom. E eu preciso de uma moto. E gasolina. - O rapaz me olhou com espanto, como se não entendesse exatamente o que eu havia dito. Foi Spark que deu o ultimato nele, fazendo com que o rapaz rapidamente tirasse o moletom e seu colete e me entregasse, descendo rapidamente do prédio. Provavelmente Spark ainda não havia entendido qual era o plano, mas pelo menos me deu o voto de confiança. E eu seria eternamente grato a ela depois de tudo, mas não ainda. - Você sabe usar bem esse machado aí né? - minha pergunta era para ela agora. Foi a primeira vez que reparei bem na arma que ela carregava, e reconheci aquele material. - Osso de Dragão? - perguntei, e era uma pergunta meio fora do contexto, tanto que ela demorou um pouco pra entender ao que eu me referia. Mostrei pra ela minha Kedra, agora longe do seu pescoço, indicando que era do mesmo material. Ela também havia recebido um espólio do Dragão de Cólquida, e foi a primeira vez que eu vi essa coincidência.

Voltando para nosso plano, descemos do prédio enquanto eu explicava para ela o que faríamos. Não era um plano infalível, longe disso, mas havia uma chance. Pelo menos os caras não pareciam fortemente armados, o que ajudava um pouco a ter alguma esperança. Por fim, alguns minutos depois, nos colocamos a uma boa distância do QG da gangue, para que não pudessem nos ver, mas ainda estávamos em uma linha reta deles. Lá, um pouco distante, era possível ver a fogueira deles. Nosso aliado chegou com sua moto e um galão de gasolina, ainda querendo entender o que estava acontecendo. - Entrega a gasolina pra ela. - ordenei, sem responder muitas perguntas, pra que ele não recuasse. Quanto a mim, peguei um pouco de fuligem que não era difícil encontrar por ali, e passei no meu rosto. Isso era pra tirar um pouco o brilho do rosto, e juntar com a pele pálida. Spark por sua vez, derramou gasolina nos pneus da moto enquanto eu já vestido com o moletom e o colete (o qual eu havia feito questão de tirar o patch de prospect), agora subia na moto e puxava o capuz sobre o rosto. O rapaz era mais encorpado que eu, o que fez com que o moletom ficasse bem folgado. O que era ótimo. - Essa joça aqui funciona né? - perguntei ao dono, que já começava a tremer sem entender. Tão temperamental que acendeu um cigarro enquanto eu sorri. - Apenas assista e aprecie. - disse a ele, fazendo sinal com a cabeça que Spark podia fazer seu papel. Ela deu alguns passos pra frente e começou a correr, fazendo uma linha de gasolina no chão, que parou um pouco antes da entrada do QG. Obviamente os guardas da frente viram isso e estranharam em um segundo, o que foi tempo suficiente pra que Spark corresse pra dentro, fazendo uma certa algazarra. A maioria dos integrantes viu, e passou a correr até ela. Antes mesmo que os que tinham armas pudessem sacar, eu vi que era minha deixa. - Hora do show. - disse, enquanto tomava o Desorientador do meu bolso, tomava um gole e depois de engolir, tomava o cigarro do prospect, e jogava no chão, ao mesmo tempo que ligava a moto. Agradeci aos meus tempos de subúrbio e amigos motociclistas que haviam me ensinado a fazer isso agora. O fogo se alastrou rapidamente, e logo os pneus começaram a pegar fogo. Ainda mais que fiz questão de cortar giro com a moto, pra que o barulho fosse bem audível. E parti, acelerando, por cima da linha de gasolina que Spark havia feito. Com as rodas em chamas, o caminho se acendia, e antes que me pergunte, eu tinha total noção do perigo que era tudo isso. Mas se alguém me perguntasse, diria que foi a coisa mais divertida que fiz na vida. E quando enfim cheguei até o local em que todos olhavam para a moto, eu fiz questão de ver se Spark havia aproveitado o momento para sair do caminho, enquanto deitava a moto no chão e a soltava, para que ela seguisse diretamente até a fogueira central. Gasolina com fogo. A pirotecnia estava armada, e a explosão só não foi mais alta que o grito que ecoou da minha boca. O som tomava os ares e todos colocavam as mãos nos ouvidos. Para os que não sabiam que era um grito de baleia, o som era suficientemente aterrorizante. E aliado com a explosão, todos os que estavam ao redor se debandaram para os lados tentando fugir. Sorri, satisfeito, enquanto via Spark se aproximar. - Está tudo bem? - esperei sua resposta, me preparando para sair logo dali, quando ouvi um grito diferente vindo próximo dali. De uma das portas saiu um homem alto e visivelmente forte, com um taco de baseball rodeado não com pregos, mas com uma corrente. Não queria confirmar, mas parecia muito mais ameaçador que um taco com pregos. Para ajudar, ele não disse nada, apenas seguiu em nossa direção, batendo o taco contra uma moto e amassando a lataria significativamente. Spark foi instintiva em seguir pra cima do homem, mas eu a impedi. - Não. - segurei seu braço sem muita força dessa vez, porque força não adiantaria, não contra Spark. - Os badboys estão voltando. - apontei para os que até um segundo haviam fugido, mas aparentemente, alguns haviam recebido coragem do chefe pra voltar. - Espanta eles, eu cuido do brutamontes ali. - Era mais um pedido do que qualquer coisa. Se essa era minha missão dada por Ares, que eu acabasse com isso de uma vez.

Saquei minha Kedra enquanto sentia pingos de chuva caírem sobre meu corpo. Tirei o colete, e cortei o moletom pra que eles não me atrapalhassem. Senti minha mão tremer, e eu não sabia se era adrenalina ou temor, por enfrentar alguém duas vezes maior que eu. Porém, respirei fundo, e firmei meus dedos, me concentrando em todas as vezes que havia treinado. Não, isso não era um treino, era vida ou morte, mas era para isso que Ares havia me trazido. - Você é grande, huh? - falei para o homem, tentando tomar distância. A chuva se intensificava, mas ainda não apagara a fogueira próxima a nós. - Você provavelmente vai me matar. Não tenho dúvida disso. - o homem bufou, como se apreciasse a ideia. Mas eu não falava com medo. Aos poucos, sentia a fúria dentro de mim, que acabava me alimentando. - Você vai me matar, mas eu vou abrir um rasgo em teu rosto. Pode apostar. E vou arrancar seu olho junto. - eu falava calma, firme e lentamente, ainda tomando distância. - E você vai olhar com seu único olho no espelho todos os dias e ver o que um garoto conseguiu fazer com você. - meu objetivo era entrar na mente dele, e eu havia conseguido. Um relance apenas e eu vi o homem hesitar, por menos de um segundo. E foi aí que eu ataquei. Não mirei em seu peito, mas em seu braço. Tracei a Kedra em um risco preciso que atingiu profundamente o músculo do seu bíceps, abrindo um corte na hora. Como se atingisse algum músculo importante, seu taco imediatamente foi ao chão. Senti a presença de sua outra mão vindo em minha direção como se quisesse me agarrar, mas eu fui mais rápido, puxando a faca e enfiando em sua coxa, com um grito. Não sei se ainda era resquício do Desorientador, mas o homem cambaleou, e eu impulsionei meu corpo pra que ele caísse. Eu não quis dar nenhuma chance de reação a ele, porque sabia que seria o meu fim. Com o seu corpo no chão, saltei com os joelhos sobre seu peito, e comecei a desferir socos o mais rápido e forte que conseguia. Uma mão não fazia muito estrago, mas a outra acabava pegando o cabo da Kedra, que causava um certo dano em seu rosto. Depois que comecei a sentir minha mão doer, vi que era hora de cumprir minha promessa, e o último soco foi dado com a lâmina cravada em seu olho. O homem gritou, mas seu grito desfaleceu rapidamente. Ele estava morto. Porém, eu havia aprendido a não me dar por satisfeito ainda, e tirei a faca do seu rosto, direcionando contra seu pescoço e cortando-o. Cortar uma cabeça humana era muito mais difícil do que uma harpia ou sereia, devo dizer. Mas o fiz o mais rápido possível pra que a cena não se tornasse macabra demais. Por fim, segurei seus cabelos e levantei a cabeça, exibindo para todos ao redor, que, ao som do trovão que diga-se de passagem foi uma sorte para dar todo um charme para a cena, e fez com que todos os gangsters enfim se debandassem dali, gritando como se fossem crianças. Olhei para a fogueira, com apenas alguns lastros de fogo que a chuva ainda não havia apagado, e depois para a haste central. Sem pensar duas vezes, cravei a cabeça sobre a haste e o sangue escorreu tanto pelo metal quanto pelo meu braço. O que não era muita surpresa, a julgar que estava coberto de sangue e fuligem.

Era a primeira vez que havia matado uma pessoa

E deuses, a sensação era boa.

A chuva agora se abrandava, e vi Spark vindo em minha direção. Ela não disse nada. Talvez era uma surpresa tanto para uma filha de Ares o que aconteceu ali, ou talvez não. Não dava pra saber. - Bom, acho que a missão foi cumprida. - tentei sorrir, sem sucesso. - Já fez isso antes? - perguntei apontando para a cabeça do homem, querendo saber se ela também já havia matado uma pessoa antes. De alguma forma, ter Spark ali, uma garota que eu nunca havia conversado antes, parecia ser algo importante. Em todas as oportunidades que tivemos para conversar ou nos conhecermos lá no acampamento, o destino preparou essa. Não quis dizer a ela que estava satisfeito, não quis parecer um psicopata. Na verdade, me sentia culpado por me sentir tão bem.

Peguei o taco acorrentado em mãos, e testei seu peso. - Acho que vou ficar com isso. - apesar de mortal, não deixava de ser estiloso. Se lá no acampamento iam aceitar, não podia dizer, mas naqueles breves momentos, que fosse meu. Aproveitei também a olhar pelo chão. Além do líder, outro membro da gangue jazia morto no chão, e a julgar pelas queimaduras, estava próximo demais da fogueira, em um momento que deveria não estar. Tirei seu colete, assim como o colete do líder. Vesti o colete do líder e me surpreendi como serviu bem, mesmo ele sendo maior que eu. Nas costas, o nome “Stormkeepers”. Um nome nunca caiu tão bem quanto nessa noite. Entreguei o outro colete à Spark. - Acho que formamos uma boa gangue. - disse em tom de brincadeira, mas de alguma forma, sentia uma ligação com a garota, coisa que nunca havia sentido antes. Era como se ela fosse a pessoa que precisava estar ali, naquele momento. Mesmo eu nunca tendo falado com ela antes. Quem sabe não fosse hora de fundar um motoclube dentro do acampamento? Ri internamente com a ideia. Juntei o colete que eu mesmo havia jogado no chão, e seguimos para fora. Logo encontrei o prospect sentado no chão, tremendo de medo. O que ele havia visto? Ou só estava chapado? Não dava pra dizer. - Acho que estou te devendo uma moto. E um moletom. - havia prometido que traria a moto de volta inteira, mesmo sendo uma completa mentira. - Mas posso te dar isso aqui. - joguei o colete para ele. Ele parou de tremer, mas continuou me olhando. Arranquei o patch de Presidente do meu colete e também joguei para ele. - Faça o que quiser com isso. Mas arranje um nome melhor que The Beagles. Tudo bem que o palhaço do Ares merece uma gangue ridícula assim… - ele voltou a me olhar com espanto. Talvez só agora tivesse se dado conta que nós estávamos lá a serviço dele. - É, suas preces foram ouvidas. - sorri, sarcástico. - Bom, o Ares merece uma gangue ruim, mas você escolhe a qual quer. Se cuida. - e segui meu caminho com Spark.

Já não conseguia saber qual era o horário, mas já era tarde. Talvez ainda conseguisse pegar algum metrô, antes de fechar, mas… - Eu não sei você, mas eu não quero voltar pro acampamento agora. - eu estava coberto de sangue e sujo, o que mais queria era um banho. Mas eu queria aproveitar aquela sensação por mais um tempo. Provavelmente no acampamento acabaria entrando em uma crise interna por ter matado um homem, mas agora, eu só queria aproveitar e quem sabe, comemorar um pouco. - E aí? Conhece algum lugar bom pra dois semideuses armados darem um rolê agora?





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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Spark Maverick Sex Ago 11, 2023 10:06 pm

The Beagles

Missão para Ares
Nova Iorque
Com o Draven
Era engraçado Ares vir pra cima de mim alegando que estava fora de cogitação negar a missão que ele me daria. Como se isso fosse possível com qualquer deus, certo? Eu estava aprendendo a não idolatrar tanto meu pai, afinal, ele era um cuzão assim como qualquer outro ser divino. Se bem que eu até me identificava, muito embora minha personalidade tivesse mudado muito depois de conhecer Ethan e Kai. Enfim, então, o bonitão ali começou a falar sobre uma gangue, na qual pertencia a ele, e que residia em Nova Iorque. Naquele momento eu cruzei os braços para entender melhor o que se passa a naquela cabeça com um parafuso a menos de Ares, que continuou sua explicação. Bem, aparentemente eles estavam tendo problemas na área suburbana, e esse problema era um grupo de delinquentes que estavam vandalizado, ou melhor, estão, tudo por lá para querer tomar a área para eles. — Ãhn. Entendi. — digo baixo, ainda atenta a sua informação. Minha tarefa não era difícil perto do que já passei, eu precisava ir até lá e fazer com que nenhum dos delinquentes voltassem para o local. Vasculhando sua jaqueta, ele retira dali um papel com um endereço, dizendo que eu precisaria apenas seguir as coordenadas ali contidas. Antes que eu pudesse falar alguma coisa, qualquer coisinha, Ares some em uma explosão de luz forte, como os deuses gostavam de se gabar. Mas, antes disso, ele comentou que eu não seria a única e portanto, encontraria meu parceiro de missão no chalé de Hermes. Do verso do papel, o nome deixado era — Draven. — sorri sutilmente ao canto da boca, soltando uma risada baixa. Oh sim, o garoto punk do Acampamento. É claro. Isso seria engraçado. Encosto meu corpo no tronco da árvore que fazia sombra tanto para mim quanto para meu pai anteriormente e penso no que levaria comigo, antes mesmo de encontrar Draven. Apesar de tudo, não tinha tanto tempo antes de encontrá-lo, era perigoso que ele saísse antes de mim e por isso, acabei passando rapidamente no meu chalé, trocando meus sapatos de treino para meu par de coturno para luta, além de levar comigo meu machado do chifre, e apenas isso. Eu não levaria mochila, afinal, isso só me atrasaria mais. 

Devidamente pronta, deixei o chalé de Ares e caminhei até o de Hermes, um pouco mais distante por ser um dos últimos, antes de Hades. Eu sabia que talvez não fosse bem recepcionada, afinal, já tinha ouvido algumas coisinhas sobre o tal Draven. Conforme eu me aproximava, cumprimentava algumas pessoas conhecidas e outras nem tanto, apenas para não ser taxada de chatona, embora eu fosse um pouco. — Ei, Zé ruela. — digo quando meus olhos se punham sobre Draven, que não se deu o trabalho de me olhar. — Draven. — o chamo pelo nome, mas ele continua andando como se eu nem existisse. Suspiro, trato seu caminhar repousando uma das mãos em seu ombro apertando meus dedos firmemente ali, fazendo com que ele sessasse seus passos. Logo ele não mediu esforços para me olhar, e como de costume, sorrio, mesmo que ironicamente. Eu sabia que ele não poderia fugir de mim, e mesmo que eu quisesse fazer tudo sozinha, ele tinha que vir junto. — Ah, ele me enviou, pode crer moleque. — digo, mesmo sabendo que ele deveria ter a mesma idade que eu. Ainda assim, eu gostava de dar apelidos aos outros. Era divertido. — Guarda-costas? Eu não ligo se você morrer. Só sei que precisamos ir juntos. — digo para ele, quando mencionou que eu iria protegê-lo ou algo do tipo. Até parece que Ares se importava com a segurança de algum semideus, ainda mais desconhecidos. Nem mesmo seus filhos! Ele tava cagando e andando, sério. Igual a maioria dos deuses. Era quase como uma regra entre eles: ser um filho da puta. — Você não tem poder de escolha. — digo sorridente, o ouvindo desistir da ideia de tentar me expulsar. É, ele não tinha como dizer não, afinal. Éramos uma dupla e pronto, acabou. — Eu também sei me virar. Bem melhor do que você. — ressalto, conforme eu o acompanhava. Durante o caminho, até me recordei da moto de Ares que poderíamos muito bem usar caso quiséssemos chegar rapidinho no endereço da gangue, mas ele insistiu em negar minha ideia, como o esperado. Sem falar que, ele cuspiu inúmeras palavras da boca na qual eu educadamente não escudei nenhuma, afinal, só coisas úteis me entravam no ouvido. Enquanto ele reclamava, aproveitei para limpar a sujeira do meu ouvido (embora não tivesse nenhuma), com o mindinho. Eu entendia que Draven estava com raiva, e não tiraria esse momento dele, afinal, ser um meio sangue não era nem de longe um sonho para alguns. Só que eu não esperava ouvir lamentações dele sobre a porrada de merda que ele desferiu pra cima de moá. Até que não demorou pra se desculpar, pensei curiosa com a sobrancelha arqueada. Não que ele tenha dito exatamente “desculpa”, mas né, eu sabia que ele estava se lamentando pelo bla bla bla. — Já é, mané. Faça como quiser. — digo dando de ombros. Logo iríamos pegar o metrô, o que seria um pouco mais demorado, mas pelo menos não chamaria tanta atenção quando uma moto grandona. Ainda mais se ela voasse… […]

O trajeto até o subterrâneo de Nova Iorque foi silencioso e eu não me importava com isso, mas me cocei para não tagarelar ou provocar ele. Eu era assim, esse era meu jeitinho. Ethan sofria comigo as vezes. Girando meu machado de um lado para o outro, adentramos sem muita enrolação dentro do trem, onde nos acomodamos e percebemos olhares curiosos para cima de nós. O que foi estranho, afinal, nossas armas eram feitas de materiais iguais, e portanto, humanos normais não conseguiriam vé-las. A não ser que achassem que nós estivéssemos carregando martelos, sei lá. Ai sim ainda ficaria esquisito. — Rpg? Isso é coisa de nerd virgem, porra. — reclamei com Draven ao sussurrar aquilo próximo dele, para não chamar atenção. Suspiro, sem saber ao certo como respondê-lo quando nos acomodamos em um espaço vago do trem. — Sei lá. Quem sabe do futuro geralmente não somos nós. — brinco, mas na real, eu de verdade não fazia a minha ideia das merdas que enfrentaríamos dali em frente. Era até complicado pensar, mas eu já tinha visto muita coisa. Muita coisa mesmo. — Mas fica de boa. Se você ainda não arrancou a cabeça de alguém, como eu, pode ficar tranquilo. — empurro seu ombro mentirosa, sabendo que ele odiaria aquilo. Por fim me afasto, mantendo uma certa distância dele até que chegássemos no nosso destino. East Meadow, certo? 

Desembarcamos. Confesso que não foi demorado, até mesmo menos trabalhoso do que ir de moto, mas eu ainda preferia mais aventura do que aquilo ali. Tedioso. Não demorou até que outra pergunta foi feita por Draven, que estava curioso sobre a tal gangue que meu pai tinha falado. Sinceramente, eu não sabia de nada, e embora tivesse certo conhecimento dos negócios de Ares, eu realmente não sabia. — Hm… sei tanto quanto você. — dito isso, começamos a procurar pistas pelas ruas da cidade, mas estava sendo bem difícil encontrar alguma coisa que prestasse. Apelamos para um taxista, por fim, que nos avisou que aquele local não era nada amigável, e cá entre nós, isso só justificava que estávamos andando pelo caminho correto. Continuamos, pelas dicas recebidas, e aos poucos a ambientação das ruas ia se alterando esteticamente, algo que deixava os ares mais tentadores. Digo, o perigo estava a espreita. Era impossível não perceber que havia pouco movimento por ali, quase vazio, vago, e o cheiro de álcool pairava pelos odores alheios. — Hm. — resmunguei quando avistei edifícios pichados, uma algazarra só. Era tudo esteticamente destruído. Que merda, pensei com o semblante fechado, apertando os dedos entre o cabo do meu machado. Antes que eu dissesse algo, sinto Draven me puxar para um beco qualquer e me pressionar contra a parede, colocando sua adaga rente ao meu pescoço. Confesso que eu quis rir, mas isso só iria deixá-lo mais bravinho ainda. Eu poderia quebrar o braço dele e apertar a lâmina na minha mão, mesmo sentindo minha pele cortar. Entretanto, fiquei quieta, o observando. Afinal, não se sabe o que um filho de ares pode ou não fazer, certo? Rs. — Hm… — quis enrolar, mas eu sabia que ele só continuaria pressionando a faca contra minha pele, e se ele me machucasse, tava fodido. — Não. Você tá pirado. — digo seria e ácida. — Eu só recebi a mesma missão que você. — Digo, explicando sobre limpar o local e devolver para a The Beagles. Era verdade, eu não sabia o nome da gangue, mas soube assim que pisei naquela área, onde vi diversos avisos em nome deles. Só podia ser. — Achou engraçado? Que bom. — digo sorrindo sem mostrar os dentes, observando-o se afastar de mim, guardando sua arma. Finalmente, ouvi em alto e bom som, seu pedido de perdão. Ele estava confuso, era de se esperar que estivesse, mas tudo bem. Eu o entendia, mesmo que pouco. — Não me importo. Eu raramente me importo com alguma coisa. — exceto pela opinião de alguns sujeitos em específico. Enfim, Draven pareceu querer esquecer a história da ameaça toda e começou a subir a escada de incêndio de um dos edifícios, alegando que precisávamos agir. Tratei de fazer o mesmo, esperando ele logo atrás, sabendo que ele seria mais lento do que eu. Afinal, minha força facilitava alguma agilidade. Logo estávamos no topo e podíamos ver o QG da gangue em questão, para melhor nos localizarmos. Eu só não esperava que ele fosse se apresentar. O que era desnecessário, afinal, eu conhecia todos naquele Acampamento. — Eu sei. — Digo sentindo o vento feroz bater contra os meus cabelos, embora presos. — Spark. — Falo cruzando os braços, mantendo meu machado no suporte a cintura. Era engraçado como ele não se lembrava de mim durante a batalha contra o Dragão de Cólquida, mas tudo bem.

Consigo ver mais quatro por ali. – Aponto discretamente, e com isso, era possível concluir que haviam doze membros da gangue. Draven comentou o óbvio, afinal, para isso estávamos ali, assustá-los. Eu tinha pensado em inúmeras formas, desde tortura, até morte, mas preferi que ele pensasse um pouco, afinal, parecia estar ali para se descobrir, alguma coisa assim. Eu achava brega esse negócio de propósito, mas ele tinha razão, não éramos semideuses por acaso, eles sabiam muito bem o que estavam fazendo quando decidiram ter uma creche. Enfim, o rapaz logo me questionou sobre algum membro que eu conhecesse da gangue, e embora eu não soubesse de nenhum, não seria difícil achar por entre aqueles paspalhões. – Eu encontro. – digo e começo a descer do prédio, caminhando sorrateiramente por entre os becos e vielas daquele local. Existiam muitos homens espalhados por ali e eu precisava ser meticulosa em saber quem era quem, mas não foi difícil, encontrar um novato, diga-se de passagem, todo atrapalhado seguindo um grupo autoritário. Nisso, aguardo a espreita na sombra quando ele passa por mim, atrás dos seus superiores, e o puxo pelo pescoço, pressionando minha mão em sua boca. – Olá, docinho. – Digo sorrindo maliciosamente para ele, que tremia entre meus braços. – Nem tente escapar. Apenas… colabore. – digo com a voz melodiosa, enquanto eu o puxava para perto da escada, o ameaçando com o meu machado para que subisse. – Se gritar, perde a língua. Ou melhor, a traqueia toda. – Arrasto minha lâmina por sua garganta e o vejo engolir seco, começando a escalar a escada de incêndio. Assim, ambos nos encontramos com Draven, que ainda analisava a situação lá embaixo. O empurro para perto do emo, observando o guri tropeçar, tremendo de medo. Girando meu machado de um lado para o outro, praticando os famosos malabarismos, ouço o rapaz falar sobre quem estava assombrando os The Beagles, e que se chamavam Stormkeepers. Gargalho, era um nome pior do que o outro. – Puta merda, esses nomes são péssimos. Jesus Cristo véi. – Reclamo suspirando, por um momento encarando o espaço lá de baixo. É claro que, não demoro para notar que o franzino ali ficou puto com o que Draven disse, partindo para cima dele. Rapidamente o seguro pelos cabelos, que por sinal estavam imundos. – Nada disso, docinho. – Sussurro próxima ao ouvido esquerdo dele, o soltando com força. Draven continuou conversando com ele, para tentar coagir e ainda tentou explicar que estávamos ali para fazer um trabalhinho que resolveria o problema deles, mas ele hesitou em colaborar com nosso plano. Foi aí que meu sangue subiu.

Retirei meu machado novamente do suporte e trinquei os dentes, batendo a lâmina dupla dele bem rente ao dedinho do seu pé, arrancando faíscas da minha arma. Isso fez com que o pangole ali rapidamente retirasse o moletom e seu colete que estava usando, os entregando  para Draven. – Bem melhor assim. – Sorrio para o magricela, repousando minha atenção agora sobre Draven que duvidava dos meus dotes com o machado. – Você duvida muito da minha capacidade, Draven emo. – brinquei com ele, apoiando meu machado sobre um dos ombros, com o cabo. Ele logo fez um comentário sobre o material dele, osso de dragão. – Sim, bonitinho. Eu me lembro de ti, diferente de você. - Brinco risonha, retomando ao nosso plano. Se bem que eu nem sabia qual era o plano, mas estava tentando pegar a linha de raciocínio.

É claro que tão logo Draven tratou de me explicar o que faríamos e como causaremos o caos por ali, o que fez muito sentido na minha cabeça. Era um bom líder, mas eu também gostava de ser, então ele tinha sorte de que eu deixasse ele comandar no bagulho todo. Já discuti com Ethan pela coroa e não foi nada gentil, mesmo com o meu namo… ahm, ficante fixo. Bem, distantes consideravelmente do QG da gangue, ainda se era possível observar a fogueira deles, ainda que não demorou muito até nosso “aliado” chegasse. Estava mais para cagão. Ele vinha dirigindo uma moto que por sorte não era muito barulhenta, sem falar no galão de gasolina que precisaríamos para Draven bancar o motoqueiro fantasma. Segurei o galão conforme o esperado e entregue pelo mongol, observando o emo cobrir o rosto com um pouco de fuligem, já que era o que mais tinha por ali. Ri, ele estava mesmo encorporando, mas se quisesse melhorar, poderia pedir para que eu invocasse os soldados confederados através do meu colar do chamado. Se bem que eu não estava usando ele hoje, preferi usar meu esmalte fenty, exaltando minha força pela cor preto. Whatever, comecei a derramar gasolina nos pneus da moto enquanto Draven se apressava para subir nela, tomando as rédeas da mesma. Ui, motoqueia, pensei. Com o capuz cobrindo o rosto, ele ainda teve a audácia de pedir para que eu apreciasse, o que me fez sorrir diante sua frase. Espero que ele não acabe com sua entrada triunfal, seria engraçado ver um tombo, penso aguardando seu sinal. Então, dito e feito, lago e dou dois tapinhas nos ombros do mongol, começando a correr fazendo com o galão entre os braços, fazendo uma linha com aquela gasolina toda. Parei um pouco antes da entrada do edifico, e é claro que haviam guarda-costas cuidando da entrada, que inclusive estranharam minha aparição. Não esperei para ver o que acontecia, corri para dentro do QG e observei as feições perdidas dos que ali estavam, inclusive a atitude deles de virem para cima de mim. A maioria dos ataques acabei me esquivando, primeiramente, afinal deixaria o melhor para depois. Claro que quando tive a oportunidade desferi alguns socos certeiros, que deixariam marcas em seus rostos rústicos. Encarando a entrada do edifício, vejo Draven acelerar em minha direção, o que fez com que eu saísse de seu caminho, observando a moto se arrastar pelo chão de gasolina, provocando uma enorme explosão ao se colidir com a fogueira central. O estrondo foi forte, mas não o suficiente para que eu bloqueasse os ouvidos. Já estava acostumada com coisa pior; afinal, eu e minha família já moramos no Vietnã. Gritei eufórica junto de Draven, que me perguntava se eu estava bem. Isso importava mesmo pra ele? — Tô de boa! — digo recuperando o fôlego, pronta para dar no pé. Entretanto, logo somos surpreendidos por uma figura gigantesca e furiosa que vinha em nossa direção com um taco de baseball, todo armado. Grunhi, pronta para ataca-ló, mas Draven me repreendeu, dizendo que ele cuidaria daquele dali enquanto os demais estavam retornando. Eu não sabia se ele daria conta, mas apenas segui o sugerido, sabendo da sua vontade de enfrentar seus próprios problemas. 

Saindo de dentro do prédio, caminho calmamente enquanto quatro homens correm para cima de mim, e pelas suas respectivas posturas, não parecem lá muito habilidosos com as armas. Eu estava em vantagem tanto no meu físico quanto nas minhas habilidades em combate, mas para acabar logo com aquilo, eu iria apelar. Forçando meus dedos contra meu machado, avanço na direção do primeiro na qual me esquivei, girando meu tronco habilmente, cravando minha lâmina em seu braço, fazendo-o cair e por seguida, soltar a pistola em mãos. O outro ficou furioso, fazendo com que atirasse em minha direção, porém, a bala ricocheteou na lâmina do meu machado e o atingiu, bem em sua testa. Com isso sobraram mais dois. Um era um pouco mais baixo, e tentou me socar. Me passou uma rasteira, fazendo com que eu caísse sobre um galão de lixo, mas antes que ele pudesse me golpear, vejo um garfo por entre a sujeira e o seguro firme, lhe surpreendendo quando ele puxa meu cabelo, enfiando o talher em seu olho. Sangue jorra pelo meu rosto e eu gargalho, nem mesmo me dando o trabalho de retirar o item da cara dele. O próximo estava todo trêmulo, e por fim o último, mas este foi empurrado ao chão e pisoteado quando um grandão apareceu, com luvas de aço cortante e algumas lâminas, o me deixou com um desejo inabalável de pega-las para mim. — Eu quero isso aí. — digo apontando para suas mãos, movimentando o meu machado de um lado para o outro agora recuperado. — Pode vir, Ben 10. — digo e o vejo correr em minha direção, extremamente convicto de que seria fácil me derrotar. É claro que, primeira regra do jogo: nunca subestime o poder de uma dama. Com agilidade, me esquivo de suas investidas e o vejo se recuperar para tentar outros ataques, mas antes que ele me acerte, solto meu machado e corro até ele, subindo em suas costas e por fim colocando minhas pernas ao redor de seu pescoço, o fazendo cambalear e se acertar com suas luvas cortantes. Nisso, quando observo seu próprio sangue escorrer, pulo de suas gostas e agarro sua cabeça pelos cabelos, caminhando para perto do que parecia ser uma bigorna. Analisando novamente seu rosto, pisco para ele e começo a bater seu crânio contra a bigorna, inúmeras vezes, até que sua cabeça estivesse afundada. Por fim retiro suas luvas de suas mãos e as tomo para mim, observando sua jaqueta. - Então você era o líder, em? - Cuspo em sua cara amassada, passando por cima dele para me encontrar com Draven novamente.

Nem mesmo percebi quando começou a garoar e por fim, chover. Eu estava ensopada, caminhando pelas poças que se formavam ao chão. Me aproximando do prédio, pude ver uma cabeça espetada como se fosse uma bandeira, e acabei expressando surpresa quando percebi que o responsável pela obra de arte era o guri. - Massa. - Digo limpando o sangue do meu rosto, dando de ombros quando ele me perguntou se eu já tinha matado alguém antes. Concordei com a cabeça, sem dar muitos detalhes, afinal estava louca para sair dali. Draven também parecia que levaria uma lembrança consigo, como o taco de baseball adquirido. Analisando a área, só retorno minha atenção para ele quando o guri me entrega um dos coletes, me arrancando uma risada. - Acho que sim, mané. - Afirmo sobre formarmos uma boa gangue. Enfim, logo seguimos para o lago de fora e encontramos aquele pangola de antes, encolhido e todo arrasado do psicológico. Draven ainda entregou um colete para ele, ao mesmo tempo em que eu fazia o mesmo. Por fim, seguimos nosso caminho, afinal tínhamos um bem longo pela frente. Mas, antes... - Agora quer dar uma voltinha comigo? - pergunto e passo um dos braços pelo pescoço dele, bagunçando seu cabelo. Sabia que ele iria odiar aquilo ali. - Claro que sei, boooora! - E o arrasto comigo, afinal a diversão não podia terminar por aí.

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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Angelina Schuyler Sex Set 15, 2023 11:39 pm

Um cemitério de Nova York
00:37
S02P01
Cemitérios. Porque Angelina nunca tinha pensado antes que seriam lugares de paz? Como filha de Hades, ela já até deveria saber disso. Bom, suas últimas missões, ambas em cemitérios, fizeram ela lembrar como podiam ser lugares tranquilos para se passar um tempo. Ali, ela gastava longos períodos da noite pensando ou apenas respirando um ar diferente. Ela se deitava em um dos túmulos bem trabalhados e ficava olhando para o céu. O céu de Nova York não é dos menos poluídos, raramente ela via mais de uma ou duas estrelas, mesmo assim, ainda era legal e reconfortante. Ela descobriu sentir-se acolhida pelos mortos, embora não fosse mais pelos vivos. Naquele dia, até uma brisa soprava, agitando alguns fios ruivos em sua cabeça. Aos poucos, Angelina estava se acostumando com aquela vida solitária, embora, em nenhum segundo sequer, ela tenha deixado de ser menos triste e dolorida. Era como se parte da alma dela tivesse sido arrancada. Dava para viver sem? Dava sim, mas não seria mais uma vida plena, haveria sempre um vazio. Às vezes, Angelina até conversava com os mortos, desabafava. Não sabia se suas almas realmente ouviam lá do Mundo Inferior, mesmo assim, ela sabia que aquelas almas existiam, ela podia senti-las ou, no caso, sentir a morte delas. Ela estava acostumada a não obter respostas, sequer ter qualquer alma viva por perto, mas algo de diferente aconteceu. Uma voz. - Filha de Hades. Me siga. - Angelina rapidamente levantou o tronco e pegou sua espada. Ela nunca saia de casa sem uma arma e desde que comprou a katana, não se separou mais dela. Ao olhar na direção de onde a voz silvada e arranhada a chamou, Angelina viu apenas um vulto no horizonte entre as lápides. Intrigada, a mulher saltou do túmulo e pôs-se em pé, passando a seguir o vulto.

O vulto era rápido. Angelina tinha que correr para conseguir acompanhá-lo, saltando algumas lápides menores. Ela acreditou que ele finalmente fosse parar quando o vulto encontrou-se em frente a um grande mausoléu. Deveria ser o mais rico do cemitério. Porém, para sua surpresa, o vulto abriu duas grandes asas de morcego e voou para cima da construção. - Ótimo. - Ela pensou revirando os olhos. De observar as estrelas para perseguir um desconhecido que sabe voar. Típico da vida de um semideus. O mausoléu era bem alto, deveria ter um andar além do térreo. Talvez fosse um daqueles lugares onde se coloca o corpo de vários familiares e não apenas um, mas ela não duvidava que fosse o túmulo de uma única pessoa bem rica. Ela avaliou a arquitetura, tinham muitos desenhos entalhados e linhas de contorno, ou seja, era passível de ser escalado. Angelina colocou o punhal da espada na boca e posicionou as mãos em dois dos entalhes, usando aquela como sua primeira sustentação na construção para impulsionar o corpo para cima, já colocando os pés em outros entalhes mais abaixo. A espada não era difícil de carregar na boca. Katanas são curiosas, armas de duas mãos, teoricamente pesadas, mas muito mais leves do que carregar por aí um machado ou uma espada longa de cavalaria, por exemplo. Angelina escalou a construção sem problemas, aproveitando algumas janelas pelo caminho para ter mais pontos de apoio nas mãos e nos pés, indo cada vez mais para cima até chegar com as duas mãos no topo. Angelina impulsionou o corpo para cima e conseguiu colocar seu tronco no teto do mausoléu, usando-o como sustentação para trazer suas pernas em seguida e, enfim, levantar-se e colocar-se de pé ali em cima. A sua frente, finalmente ela conseguiu ver quem era o vulto. Uma mulher com uma cobra que serpenteava em seu corpo, cobrindo suas partes íntimas, dotada de asas de morcego em suas costas e garras e dentes afiados. Seus olhos cintilavam em amarelo e ela carregava um chicote flamejante em uma das mãos. Angelina olhou atentamente para o seu rosto. Aquela era uma fúria e Angelina conseguia identificar familiaridade com aquela. - Você é a Tisífone, a fúria dos castigos? - Angelina não sabia dizer como reconheceu qual das três ela era, apenas sabia. Talvez fosse coisa de filho de Hades. - Sim. - Respondeu a fúria.

- O que quer comigo? - Angelina fez a pergunta óbvia. - Por acaso meu pai quer que eu destrua mais seitas de eidolons? - Ela perguntou cruzando os braços. Seria típico de Hades mais uma convocação. - Isso não tem nada a ver com o seu pai. Olha abaixo. - Erguendo uma sobrancelha sem nada entender, Angelina fez conforme a fúria quis e olhou para baixo. Olhando a direita, ela identificou uma mulher loira. A cabeça de Angelina doeu e ela sabia o que isso significava: uma memória. Angelina estava encurralada por dois ciclopes. Ela segurava o seu arco, tentava acertar flechas nos ciclopes, mas eles se defendiam com seus tacapes. Ela sentiu medo, iria morrer… Nunca foi uma grande combatente. Aquela era a sua primeira missão… Ela não queria morrer tão jovem! Angelina fechou os olhos quando os ciclopes iriam atacá-la, mas ela nunca recebeu o golpe dos tacapes. Ao abrir os olhos, estava diante de si uma garota loira que tinha subido em cima de um dos ciclopes e metido sua faca bem no olho dele. O segundo ciclope tentou salvar o irmão, mas complicou a situação, porque ao tentar dar um golpe de tacape na garota, ela deixou-se cair no chão e ele deu uma bela bordoada no crânio do amigo, fazendo-o desmaiar. Depois, ela se jogou outra vez, mas no segundo ciclope, esfaqueando-o na altura do pescoço, o fazendo virar pó dourado. Ela estendeu a mão para Angelina, ajudando-a a levantar. É, Angelina se lembrava dela. Amélie, uma filha de Atena. Estava no grupo da primeira missão de Angelina e ela tinha salvo a sua vida. Olhando para a esquerda, Angelina viu um homem de pele escura e careca. Outra dor de cabeça. - Não é tão complicado. - Ele dizia. Angelina tentava segurar um arco e flecha, mas o objeto mais parecia um alienígena que ela não compreendia em suas mãos. - Às vezes não saber usar uma espada significava que sua arma é outra. Vamos tentar o arco. Hector. Se ele não fosse careca, teria cabelos brancos. Foi instrutor na época de Angelina no acampamento… Ele teve muita paciência a ensinando como usar o arco. Ele via potencial em Angelina onde muitos não viram só porque ela não era uma boa lutadora. - O acordo é muito simples. Nós vamos matar os dois, mas se você jurar pelo Rio Estige vir comigo sem resistência e me deixar prendê-la numa das celas de Hades, eu só vou matar apenas um da sua escolha. Eu juro também pelo Rio Estige manter este acordo.

O rosto de Angelina virou-se para a fúria na mesma hora. Ela não estava entendendo nada. Aquilo tinha sido… Muito aleatório e ao mesmo tempo não. A fúria soube bem que pessoas pegar. Mesmo que Amélie e Hector não fossem pessoas das quais Angelina criou amizade, ela certamente desejava o bem para eles, pois tinham a ajudado de uma forma que nunca esqueceria (quer dizer, menos se você se coloca num mundo de Névoa e bagunça a cabeça inteira, enfim, você me entendeu). Mas porque a Tisífone estava fazendo aquilo? Assim, de graça? - Porque você está fazendo isso? - Angelina perguntou apontando a espada para a fúria. - Você não se lembra? Bom, não importa, o que importa é que eu estou fazendo. - Angelina sentiu a dor de cabeça outra vez. Se ela quisesse, poderia acessar a lembrança de sua memória com Tisífone, mas aquele tinha deixado de ser um bom momento para recordações, então ela bloqueou. - E não adianta tentar fazer nada contra mim, minhas irmãs vão matá-los antes que você possa salvá-los. - Angelina voltou a olhar para Amélie e Hector, um de cada vez, percebendo que escondidas atrás de lápides ou entre a vegetação estavam as outras duas fúrias. Os semideuses estavam alheios a elas, tinham sido atraídos para aquela emboscada de alguma forma, estavam sendo enganados. - Seu tempo está acabando. Dez… Nove… - Que porra era aquela? - Oito… - Havia outra saída? - Sete… - Angelina olhava para os lados tentando encontrar uma saída. - Seis… - Poderia tentar matar uma das irmãs de Tisífone usando viagem das sombras, mas daria na mesma, seria veloz o bastante para salvar uma, mas não a outra pessoa. - Cinco… - Porque Tisífone queria prendê-la? - Quatro… - Seu tempo estava acabando. - Três… - Qual deles? Não queria que nenhum deles morresse. - Dois… - Qualquer saída… - Um… - Droga. - Eu juro pelo Rio Estige que vou ir com você sem resistência e deixarei que me prenda em uma das celas de Hades. - Angelina observou o sorriso da fúria. Um sorriso deveras grotesco com todos aqueles dentes afiados, por sinal. - Muito bom. Quem vai morrer? - Com um certo rancor no olhar, Angelina respondeu. - Hector. - Foi uma escolha pragmática. Amélie era mais jovem e tinha mais vida pela frente, Hector não. Desculpa. Ela pensou enquanto observava, do alto do mausoléu, uma das irmãs de Tisífone estrangular Hector com o seu chicote.
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Cloto Ter Out 10, 2023 1:50 am

As Cem Almas
KIMBERLY, MALC E RANDALL

Poucos segundos após Kimberly atirar o dracma na estrada e recitar a convocação, uma nuvem de fumaça ergueu-se do chão e formou um estranho táxi feito de fumaça, mas bem sólido. Aquele era o táxi das Irmãs Cinzentas, também conhecido por “Carruagem da Danação”. Os três semideuses entraram dentro do táxi, encontrando as costas de três velhas senhoras usando mantos cinzas com capuz sobre seus corpos. - É uma linha reta! Não tem como você errar! - Dizia de forma estridente a que estava sentada no meio, deixando claro que, pouco antes dos campistas entrarem no táxi, as irmãs pareciam estar discutindo umas com as outras. - Se fosse tão fácil você teria aceitado sua vez de dirigir! - A primeira, que estava no volante, recrutou com a do meio. - Onde está o dente? - A terceira, sentada na outra extremidade, levava mão até a do meio e batia no rosto dela várias vezes até, segundos depois, parar com isso porque estava com um dente em sua mão, ao qual rapidamente colocou-o em sua boca. Uma cena não muito bonita. A velha senhora, cujos olhos eram órbitas vazias e a boca contendo apenas um único dente, que ela tinha acabado de pegar da irmã, mordeu o dracma de ouro que Kimberly antes atirou na estrada, constatando sua veracidade. - Pagamento legítimo, pé na tábua! - Ela disse. O carro começou a andar rapidamente. Mesmo no início da corrida, já dava para notar que seria uma viagem turbulenta.

- Então a mocinha quer ir para o Alasca depois? - Falou a senhora do volante. - Coitada! - Disse a terceira irmã, ainda aproveitando o dente para tentar mastigar uma maçã. - Você não vai encontrar a flauta lá, ela já foi pega. - Disse a do meio. - Ah, aquele Helioth era um colírio para “o olho”. Já esteve conosco algumas vezes quando tinha a idade de vocês. Já tivemos muitos passageiros famosos também! Jasão, Perseu… CUIDADO, UM BURACO NA ESTRADA! - O carro deu uma guinada para o lado, quase parecendo que iria capotar. Felizmente, isso não aconteceu e o táxi voltou a andar normalmente, na medida do possível. - Você é uma péssima navegadora, Tempestade! Era para você estar dirigindo hoje! - A irmã do volante gritou com a do meio, virando o rosto para “olhar” para ela, isso porque, bom, o único olho dividido entre as irmãs estava com a do meio e não com a do volante. - Eu não quero dirigir sem o olho! - Tempestade retrucou. - Quem dirige não fica com o olho! É a divisão! - A discussão continuou. - Eu também quero o olho! - A terceira irmã voltou a meter a mão na cara da do meio, dessa vez tentando pegar o olho. - Você já está com o dente, fique no seu lugar! - A partir daquele momento, as três começaram a falar ao mesmo tempo, começando a brigar pelo olho e, no meio do processo, até pelo dente, o que tornou a viagem até Manhattan deveras esquisita e com requintes de “acho que vou morrer dentro deste táxi desgovernado”.

Quando o táxi chegou até Manhattan, mais rápido do que o esperado, as três irmãs tinham parado de discutir, pelo menos no momento. Tempestade continuou com o olho, a do volante sem nada e a terceira com o dente. Apesar disso, nenhuma delas parecia satisfeita, sinal de que uma nova briga se iniciaria nos próximos minutos. - Onde querem ser deixados exatamente? - Perguntou gentilmente a irmã do volante, “olhando” para trás com suas órbitas vazias e boca sem dentes. - Que pergunta idiota, ela nem sabe para onde está indo! - A terceira irmã jogou pela janela os restos da maçã. - Mas nós sabemos onde está o que ela procura. - Disse Tempestade. - Cale a boca Tempestade, quer que eles saibam também que a gente sabe o que vão encontrar por lá? - Falou a irmã do volante. - Você está particularmente insuportável hoje Vespa. - E uma nova discussão estava surgindo. - Essas coisas nem são tão importantes, mais importante é saber como salvar a todos. - A terceira irmã, Ira, falou com ar de superioridade, querendo entrar na discussão também. - Agora você que está falando demais, Ira! Me dê o dente! - Tempestade, aproveitando da visão, roubou o dente de Ira. - Então você me dê o olho. - Ira meteu as mãos na cara de Tempestade. - Parem de brigar pelas coisas enquanto eu estou dirigindo! Eu também quero o olho e o dente! - Vespa tentou usar uma das mãos para pegar alguma coisa, enquanto a outra mão continuava no volante, dirigindo o carro que estava, agora, andando em zigue-zague milagrosamente sem bater em nenhum transeunte de Manhattan.

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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Kimberly von Hampshire Qui Out 19, 2023 9:42 pm

♥ one hundred souls ♥
Mais cinco minutos dentro daquele táxi e aquelas malucas dariam um jeito de nos matar antes que pudéssemos chegar ao verdadeiro desafio daquela missão. Elas quase conseguiram diversas vezes no caminho do acampamento até aqui; talvez, o que tenha faltado foi sorte. Ao menos eram boas em desviar do trânsito de Manhattan.

O andar da carruagem já não me enjoava tanto mais, mas esqueci como era horrível viajar com outras pessoas no banco de trás. Mesmo usando o cinto de segurança, não podia evitar que os dois garotos me esmagassem contra a porta, toda vez que a irmã do volante fazia uma curva acentuada. Não via a hora de descer.

Por outro lado, na minha cabeça, eu queria que a viagem durasse um pouquinho mais para que tivéssemos a chance de obter mais informações. As Irmãs Cinzentas tinham “deixado escapar” pedaços importantes de peças que complementavam o nosso quebra-cabeças. Mas imaginei que mesmo se tentasse não arrancaria mais nada delas. Ao menos ainda tínhamos as anotações do livro.

Quinta Avenida, Upper East Side; vocês já sabem onde é. — respondi à motorista, tentando não encarar aquelas macabras órbitas vazias.

Assim que o táxi parou, de frente para a entrada do prédio residencial que eu morava, saltei pela porta de trás para a calçada. Esperei até que os meninos desembarcassem para, então, caminhar para dentro do prédio. Enquanto o porteiro abria a porta para a gente, a carruagem da danação desaparecia na próxima esquina.

Só o saguão do prédio era luxuoso demais para ornar com aquelas vestimentas do acampamento. Tentei fazer a nossa passagem por ali o mais breve possível. Comuniquei, muito discretamente, para o concierge que aqueles dois meninos estavam comigo, antes de nos despacharmos para os elevadores. Digitei o andar da cobertura e pronto… ninguém nos viu entrar.

Era uma sensação boa estar em casa antes da data de volta, mesmo que por pouco tempo. Não me leve a mal, eu gosto do acampamento, mas um pouco de luxo não faz mal a uma garota como eu de vez em quando. Ainda assim, mantinha em mente o que precisávamos fazer ali: era só pegar algumas coisinhas e reformular o plano; já não iríamos mais para o Alasca.

Estou em casa! — anunciei ao sair do elevador. Em poucos segundos, uma mulher mais velha e rechonchuda, vestindo trajes clássicos de empregada, veio dos fundos, onde ficava a cozinha. Sorridente, ela se comunicou comigo em francês. — C'est super de te voir aussi, Marie! Et papa? — Em poucas palavras francesas ela me explicou que o meu pai estava trabalhando, pois não esperava que eu aparecesse em casa hoje. Sei, como isso fizesse alguma diferença. — Je ne serai pas long. Servez quelque chose aux garçons, je reviens tout de suite. — Com um charmoso “oui!”, a empregada acenou com a cabeça e voltou rapidamente para os fundos. Eu me virei para os rapazes e fiz um gesto com a mão, indicando os sofás da sala de estar. — Sintam-se em casa, mas lembrem-se que não estão! E você… — apontei para Randall. — Sei que é indeterminado, mas convive com os do chalé 11. Mantenha suas mãos onde eu possa ver! Eu já volto. — Dei meia-volta ao pé da escada e subi para o segundo andar.

O meu quarto continuava o mesmo até quando eu não estava ali. Marie só cuidava para que não acumulasse teias de aranha, e abria as janelas para ventilar em alguns dias. Ele era extremamente cor-de-rosa com tons pasteis. A cama queen size tinha uma colcha branca com detalhes em babado e lacinhos lilás; muitos travesseiros, almofadas e bichinhos de pelúcia adornavam o topo. Passei direto por ali e fui para o meu banheiro.

Em uma das gavetas do móvel da pia, eu peguei um pacotinho embrulhado que continha uma dose moderada de ambrosia. Eu tinha sempre um pouco guardado para emergências. Coloquei no bolso da calça jeans como precaução. Em seguida, prendi o cabelo e joguei um pouco de água no rosto. Comecei a me retocar: primeiro a máscara dos cílios, a iluminação do rosto, o delineado, o contorno dos lábios e o batom; borrifei um pouco de perfume de rosas, fiz xixi e voltei para o quarto.

Sentei diante da minha penteadeira e alcancei a segunda gaveta da esquerda. Ali, desenrolando uma echarpe de seda bem vermelha, revelei um sai simples que eu guardava, também, por precaução. Uma semideusa cuidadosa nunca é pega de surpresa. Dei um jeito de esconder a arma junto ao corpo, como fizera com Kérato Drákou e, por fim, voltei para o primeiro andar, onde me reuni com os meninos.

Então, para onde vamos agora? — perguntei, sentando-me no sofá. Marie tinha servido uma mesa com bons comes e bebes na mesinha de centro da sala, os dois já estavam se esbaldando. — Já sabemos que não vamos encontrar mais nada no Alasca, então… — Pelo que me lembrava das anotações do livro, só tinha mais um lugar circulado: — Só nos resta o Mundo Inferior. — Parecia bem mais fácil de chegar, mas não era nem de longe menos perigoso. Esperei para que um deles falasse alguma coisa. Talvez, uma ideia não seria tão ruim assim.

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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Malc Howard Dom Out 22, 2023 10:06 pm

As cem almas
Andar naquela carruagem das Irmãs Cinzentas era uma experiência desafiadora, para dizer o mínimo. O veículo parecia ter sido projetado para maximizar a sensação de desconforto. Cada sacolejo e curva acentuada fazia meu estômago revirar, e eu me agarrava ao banco como se minha vida dependesse disso. Kimberly, ao meu lado, estava tão tensa quanto eu. Nossos olhares se cruzavam ocasionalmente, transmitindo preocupação mútua. Ela mantinha sua postura firme, mas seus olhos traíam uma certa inquietação. Randall, por outro lado, parecia mais relaxado, como se estivesse se divertindo com a adrenalina da situação.

As irmãs que dirigiam a carruagem pareciam não se importar com o desconforto que nos impunham. Elas conversavam entre si em murmúrios incompreensíveis, ocasionalmente lançando olhares sinistros em nossa direção. Suas macabras órbitas vazias pareciam penetrar em nossas almas, tornando impossível evitar um arrepio na espinha. A viagem era um teste constante de nossa resistência e paciência. A cada solavanco, eu era pressionado contra a porta do carro, enquanto Kimberly e Randall também lutavam para se manter no lugar. Não era o tipo de transporte com o qual estávamos acostumados no acampamento, mas eu sabia que precisávamos suportar aquilo para chegar ao nosso destino.

Depois que Kimberly deu as últimas coordenadas, e descemos do táxi, tudo ficou um pouco melhor. Estávamos na casa da filha de Afrodite, e como era de se esperar, aquele lugar era um dos mais chiques que eu já tinha visto na minha vida. Ao adentrar a sala de estar de Kimberly, meus olhos foram imediatamente atraídos pelos detalhes luxuosos e pela elegância que permeavam o ambiente. Era um contraste marcante com a rusticidade do acampamento ao qual estávamos acostumados. O mobiliário era requintado, com sofás de veludo, poltronas estofadas e uma mesa de centro de madeira escura que parecia ser uma obra de arte.

Candelabros de cristal pendiam do teto, emitindo uma luz suave e agradável que preenchia a sala, criando uma atmosfera acolhedora. As paredes estavam adornadas com obras de arte impressionantes, retratando paisagens pitorescas e figuras históricas. Era como se cada quadro contasse uma história diferente, e eu não podia deixar de admirar a habilidade dos artistas por trás daqueles trabalhos. O chão de mármore era polido e refletia a iluminação com um brilho suave, dando à sala uma sensação de grandiosidade. Um tapete persa cobria parte do piso, adicionando um toque de cor e padrão à decoração.
O ambiente era um lembrete de que Kimberly vivia em um mundo muito diferente daquele em que estávamos acostumados no acampamento.

Mesmo que a visita fosse breve, a sala de estar exalava uma sensação de sofisticação que era difícil de ignorar. Porém, nossa missão não permitia que nos deixássemos levar pelo luxo; tínhamos um trabalho a fazer e um plano a reformular. Minha atenção foi para a empregada de Kimberly, que serviu bastante comida para a gente, ajudando-nos a recuperar a força vital que estava indo embora. Não demorou muito para a loirinha se juntar à nossa companhia. Rapidamente, Kimberly logo perguntou sobre nosso próximo destino, sugerindo o Mundo Inferior. Bom, no momento eu não tinha absolutamente nenhuma ideia na cabeça, então apenas concordei com o plano e perguntei se íamos sair agora ou dava tempo eu comer mais um pouco.

w/ Kimberly e Randall

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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Diego S. Herrera Dom Abr 07, 2024 4:31 pm

brussels pop
Já não bastava ver aquela marca com a cara de Hermes em todo lugar, para tornar o meu dia mais miserável, a escola tinha que fazer o menu do almoço tendo como opção principal couve-de-bruxelas. É sério isso? Um dia depois da Páscoa! Só podia ser alguma pegadinha de primeiro de Abril.

Bem, até que esse combo de misérias me deu uma boa ideia para zoar os meus irmãos. Então, para o almoço, peguei uma porção de couve-de-bruxelas, mas eu não pretendia comê-las nem que estivesse para morrer. Guardei a vasilha e, assim que terminei de almoçar, me mandei do refeitório.

Fui até uma lojinha de esquina, que ficava no quarteirão de frente para a escola, e comprei meia dúzia de pirulitos daqueles bem rechonchudos. Voltei para a escola e fui até a sala de artes, preparar a minha brincadeira.

Separei os doces dos palitos e os substituí com as couves-de-bruxelas. Em seguida, embrulhei com as mesmas embalagens e as borrifei com aromatizante de tutti-frutti, que achei no armário da sala.

Preciso de uma guia remessa — pedi, como se fizesse uma prece ao deus responsável por aquilo. No segundo seguinte, uma notinha apareceu na mesa da sala, junto de uma bolsinha para moedas. Preenchi a guia da seguinte forma:

“Aos meus irmãos do Chalé 12
Acampamento Meio-Sangue, Colina Meio-Sangue

Para ajudar com a glicose.
Xoxo, Diego. s2”

Colei a guia remessa numa meia lua de isopor, onde finquei os seis pirulitos-de-bruxelas. Pus alguns dracmas na bolsinha e, assim que a fechei, ela fez um barulho parecendo com o de uma caixa registradora. Em seguida, a encomenda flutuou a alguns centímetros da mesa, girou no ar e desapareceu.

Juntei tudo que tinha ali. Joguei os resto das couves-de-bruxelas no lixo e guardei os pirulitos sem palitos para chupar depois. Deixei o lugar, imaginando a expressão nos rostos dos meus maninhos. Hehe!
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Kimberly von Hampshire Ter Abr 09, 2024 5:23 pm

♥ vanishing topcoats ♥
Aquele foi um dos piores dias para mim. Graças aos deuses, eu não fui vítima de nenhuma pegadinha de April Fools — não que alguém da minha escola tivesse a ousadia de zoar comigo —, mas ver Hermes em todos os lugares já estava me deixando completamente mal-humorada. Eu não tinha um minuto de paz, nem se fechasse os olhos. Estava pegando um ranço da sua cara; e olha que eu costumava achar ele bonitinho, como alguns dos seus filhos.

Depois de sobreviver à escola com aquela marca aparecendo em todos os lugares, cheguei em casa e encontrei uma caixa elegante e uma cesta de muffins me esperando em cima da minha cama. A caixa era cor-de-rosa com glitter e cheirinho de chiclete. Tinha um laço bem elaborado sobre a tampa e, por baixo, eu podia ler o remetente: Dior Beauty.

Hummm… recebidos! — Saltei, animada, sobre a cama e desfiz a embalagem, abrindo a caixa. Era um estojinho com nove frascos da sua última linha lançada de topcoats, para um efeito mais duradouro e glamuroso dos esmaltes. Vibrei de felicidade. Até me esquecera momentaneamente da marca irritante que aparecia sobre eles.

Mas não durou muito tempo, e lá estava ela novamente, perturbando o meu juízo. Foi então que eu tive uma ideia. Pois, se Hermes estava querendo brincar comigo, talvez eu devesse brincar com os meus amiguinhos do acampamento. Um sorriso travesso brotou no cantinho da minha boca.

Guardei três frascos dos topcoats Dior para mim e, com os outros, eu iria aprontar uma com as meninas do acampamento. Dos seis frascos que sobraram, esvaziei todos pela metade e completei com removedor de esmaltes. Agitei bem, para misturar. Assim, ao invés de selar e dar brilho, ele iria fazer o contrário e desmanchar os esmaltes. Uma sacanagem perversa! Mas depois eu comprava alguns verdadeiros de presente para elas.

Uma guia remessa, por gentileza? — pedi, fazendo uma oração a Hermes. Em segundos a etiqueta apareceu com uma bolsinha para dracmas. Preenchi a guia.

Acampamento Meio-Sangue, Colina Meio-Sangue
Long Island

Para as minhas gatinhas semideusas!
Love, Kim. ♥

Adicionei alguns muffins para amenizar a brincadeira e selei a guia na embalagem. Depositei alguns dracmas na bolsinha e a fechei. No segundo seguinte houve o barulho de caixa registradora e a minha encomenda se foi no ar. Depois, me deliciei com um muffin de blueberry, imaginando como a brincadeira iria funcionar.
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Re: Ruas de Nova York

Mensagem por Arthur I. Beaumont Dom Abr 21, 2024 8:52 pm


Numa tarde, depois de sair da escola, eu andei pelo Upper West Side de Nova York, em busca da delegacia que fora citada na reportagem sobre o sequestro da filha dos barões.

O prédio, apesar de antigo, tinha uma aparência bem preservada. Por dentro, era tudo muito limpo e com cheiro agradável, muito diferente de outras delegacias que eu via em filmes e séries; não passava uma energia pesada, e, sim, uma sensação de segurança, como era o propósito da sua existência.

Boa tarde! — cumprimentei o policial na recepção. Ele era um homem de cara fechada, bastante intimidador. Não parecia ser à toa que estava na linha de frente da entrada da delegacia. Contudo, ele me cumprimentou de volta, mostrando ser um tanto simpático.

Eu gostaria de falar com o delegado responsável — continuei. — Estou fazendo uma matéria para o jornal da minha escola sobre os exemplos de autoridades locais. E, pelo que vejo, esta delegacia está muito bem representada. — Mostrei a ele a minha carteirinha do jornal como garantia.

O rapaz a pegou e analisou frente e verso. Depois me estudou de cima a baixo, pousando os olhos sobre o brasão da minha escola no blazer do uniforme. Ele abriu um sorriso, me devolveu a carteirinha e abriu a portinhola para eu passar. Em seguida, me indicou a porta aberta no final do corredor.

Obrigado! — Sorri de volta para o homem. — Farei questão de citar a sua ótima recepção na matéria, Oficial… — chequei a plaquinha no seu uniforme. — Madell!

Agora, eu teria que escrever essa matéria para o jornal da escola, estava ficando muito evidente de que ela existiria em algum momento. Só esperava conseguir informações suficientes; não só para a matéria, claro, eu ainda estava numa missão.

Com licença… — Dei duas batidinhas na porta do fim do corredor, apenas por cortesia (uma vez que ela já estava aberta) para anunciar a minha entrada. O homem atrás da mesa olhou de imediato, como se tivesse levado um susto. Quando ele me viu, abriu um sorriso aliviado e me convidou a entrar.

Achei bem estranha a sua reação, mas entrei e me sentei na cadeira diante da sua mesa. Meus olhos já foram direto na plaquinha de identificação sobre a escrivaninha: Del. Dennis Howard. O homem perguntou como podia me ajudar.

Boa tarde, delegado Howard — comecei, vestindo a minha melhor faceta profissional. — Eu sou estudante da Escola St. Jude e estou fazendo uma matéria para o nosso jornal sobre o exemplo de autoridades locais. A sua delegacia é uma das mais impressionantes que eu já visitei aqui no Upper West Side, portanto, eu gostaria de saber se o senhor teria um tempinho para responder a algumas perguntas para a minha matéria.

Apesar de ser um homem de pele preta retinta, eu pude jurar que vi o delegado corar as suas bochechas quase inexistentes. Ele estava de fato muito lisonjeado pelos elogios que eu derramei para a sua delegacia. Logo, eu soube que, usando uma boa dose de bajulação, eu poderia arrancar qualquer informação dele.

Comecei perguntando sobre coisas mais pessoais relacionadas ao trabalho, como as suas aspirações no início da carreira; como ele se via no papel de delegado e como via a sua contribuição para com a comunidade. Eu imaginei que ele responderia com muita autoafirmação e sem demonstrar boas doses de humildade. Era típico de homens covardes quando estão sendo adulados.

Com a reputação da sua delegacia, imagino que, diariamente, vocês lidam com alguns dos casos mais importantes da comunidade policial. Estou correto? — Segui amaciando o ego do delegado Howard enquanto tocava a entrevista com questões pontuais. — O que me diz da sua equipe de detetives? Como você os coordena e, cá entre nós, qual deles seria o seu detetive exemplar? Não se preocupe, não irei apontar nenhum tipo de favoritismo da sua parte na matéria. É simplesmente para citá-lo como um exemplo de autoridade também.

Naquele ponto, o delegado Howard já tinha excedido o seu nível de lisonja e poderia soltar qualquer informação que eu perguntasse. Acabou citando a Detetive Paula Rajimi como a membro mais exemplar da sua equipe. Segundo ele, era a detetive que resolvia o maior número de casos na semana e trabalhava nos mais importantes. Decidi jogar a isca.

A detetive Rajimi está trabalhando em algum caso importante no momento? — indaguei, mantendo o tom profissional. E, sem notar, o delegado deixou escapar que estavam com um caso mega importante nas mãos, de peso internacional, ligado à nobreza britânica. A detetive Rajimi estava à frente deste caso.

Ao notar o que tinha feito, o delegado Howard ficou apreensivo e tentou contornar a situação, dizendo que não podia dar mais informações, devido ao sigilo da investigação, e pediu para não citar o caso na matéria.

Não se preocupe, delegado! — tranquilizei-o, deixando a minha melhor impressão de confiança. — Irei retirar dos registros imediatamente. Todavia, para encerrarmos de uma forma mais descontraída, gostaria de falar a respeito dos seus hobbies, ou atividades que gosta de performar em seu tempo livre, quando não está a serviço da nossa comunidade? Penso que poderia inspirar os alunos da St. Jude a se manterem mais ativos tanto física quanto intelectualmente nas suas vidas.

Quando eu pensei que o ego do delegado Howard não podia crescer mais, eis que ele me prova o contrário. O homem me respondeu que gosta de encontrar seus amigos em um bar próximo da delegacia para discutirem sobre as ideias de contenção do avanço das mudanças climáticas no nosso planeta. Aquilo me pegou tão de surpresa que quase não pude esconder o riso. Era difícil imaginar um homem que mal levantava a bunda da sua cadeira, e deixava o trabalho inteiro para os outros detetives, discutindo ideias para ajudar a natureza.

De toda forma, ao final do nosso tempo, agradeci ao delegado Howard pela atenção e — falsamente — pelo seu serviço à nossa comunidade. Guardei os meus materiais e me despedi do homem, deixando a sua sala e, em seguida, a delegacia. Logo, voltei para casa, para passar uma mensagem ao instrutor Theo.

•new york city | with: npc | searching•

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Re: Ruas de Nova York

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