Greenwich Village

Eu NUNCA perdi uma parada no Greenwich Village desde que deixei o Caribe. Era uma festa, havia a essência do meu pai em tudo aquilo, embora eu soubesse que iria muito além disso. Dessa forma, me preparei inteira para aquele momento, usando uma máscara azul pastel nos meus cabelos e uma coroa de flores, além de um vestido bufante e muito bonito e uma maquiagem artística, que destacasse meus olhos. Cole por algum motivo não estava comigo, algo com o fato de querer ver Mia, mas honestamente não me incomodei. — Isso aqui tá lindo! — Falei com um sorriso enorme no rosto. Ser uma semideusa fora do acampamento me preocupava um pouco, devo admitir, mas ao mesmo tempo eu conseguia sentir Dionísio ali comigo, ao menos em essência. Sendo assim, gostava de acreditar que nada me aconteceria durante o evento. Foi então que durante minha caminhada por entre a multidão, encontrei o ser mais iluminado daquela parada. — Cara… — Alarguei ainda mais o sorriso. — Com certeza Apolo deve estar entoando canções de alegria pela homenagem. — Pisquei para Kendall, estendendo-lhe a bebida que havia comigo em uma das mãos. — É gostosa e sem álcool… Eu acho. — Ri. Ao lado dele, uma garota com um skate ao seu lado. Eu também a conhecia, uma não-reclamada do chalé de Hermes. — Pode beber também se quiser. Tem pra todo mundo! — Falei animada. Veja bem, eu só não a tinha visto antes porque o filho de Apolo ali estava literalmente iluminado. — Acabei de assistir a performance de & Juliet, o musical da Broadway, que fizeram aqui na parada… Daqui a pouco vem Chicago! — Comentei com eles, com brilho nos olhos. — Vocês já tinham vindo antes?

A cara de Kendall quando bebeu o que lhe dei foi engraçada, e só aí eu soube que realmente estava bebendo algo alcoólico. — Opa. — Disse sem graça. Não queria causar problemas para o garoto, mas ele não pareceu se importar muito em bebericar. Allie dizia mais sobre aceitar por estar com sede e eu dei uma risadinha. Com minha pergunta, Kendall dizia que aquela era a primeira vez dele ali na parada e que estava ansioso por isso, enquanto Allie comentou que sempre tentava acompanhar os eventos que eram permitidos pra idade dela. — Eu te garanto que aqui tem muita coisa então... Mas a época de natal é minha favorita, devo admitir. Mesmo sendo inverno, tem muito o que se fazer do lado de fora dos prédios. — Comentei. Em seguida, ouvi Kendall mencionando querer ver The Cell Block Tango. — Eu to com o pressentimento de que vai ser essa sim, sabia? É a música mais icônica do musical! All That Jazz é boa, mas nem se compara! — Naquele momento, eu estava tão iluminada quanto a roupa do garoto, feliz por alguém saber falar de musicais. Quer dizer, convenhamos, não era todo mundo que curtia, né? — Eu soube que vão distribuir alguns ingressos para assistir esses musicais inteiros, não é demais? Realmente é minha parte favorita de vir aqui... — Não era mentira. — Mas então, é mais ali na frente, num palco lateral que montaram para não bloquear a passagem das alegorias. — Apontei na direção de onde havia vindo anteriormente. — O que vocês mais querem ver por aqui hoje? — Perguntei, pegando a bebida novamente e bebericando mais um gole.

Allie foi questionada sobre ter medo de andar se skate por aí de noite. Sorri com a resposta dela… Skates realmente poderiam ser uma boa arma, dependendo do caso. — Você também me parece bem conhecida daqui… Sabe por onde se enfiar para escapar de enrascadas, né? — Perguntei, agora mais interessada sobre ela. O interessante de se conhecer pessoas - ou começar a ter um maior contato com elas - era esse, as diferenças que tornavam cada pessoa única, e isso me encantava. — Sim!!! Eu imagino que meu pai deu uma ajudinha para isso acontecer… É sempre bom levar mais pessoas ao teatro, né. — Pisquei. Eles pareciam realmente animados com a parada, ao menos na minha concepção, e logo Kendall me perguntou mais sobre o que eu teria para indicar. — Hm… Tudo? — Gargalhei. — Mas sério… Acho que todas as apresentações são ótimas pra assistir. Tem pra todas as idades e gostos! Até as comidas são temáticas, sabiam? — Comentei. Pra falar a verdade, eu não tinha algo específico para indicar, além do palco Broadway. — O mais interessante disso tudo é curtir aquilo que estamos vendo no momento, porque tem sempre algo novo acontecendo, que nunca fizeram antes! — Matei a bebida, olhando em volta em busca de outra coisa. — Ali, raspadinhas em arco-íris! Vamos provar?

Deixei uma risada escapar diante daquela resposta da garota. — Quando a gente aprende a se meter em enrascadas, viramos experts em sair delas. — Dei de ombros. Foram muitos anos no acampamento para confirmar aquilo, ainda mais considerando o deus que passou a requisitar meus serviços: Hermes. Mas então o comentário seguinte me fez esboçar um sorriso divertido. Realmente, Dionísio era o cara… Não tanto como pai, devo dizer, mas como suas funções como deus? Com certeza! — É… O velho sabe se divertir! Ouvi dizer que ele tá planejando alguma coisa para todos, mas não passaram de boatos. — Fiz uma careta, como se eu quisesse mesmo que aquilo fosse verdade, mas duvidava um pouco. Àquela altura já estávamos tomando nossas raspadinhas arco-íris quando não pude deixar de escutar a conversa que Kendall iniciava com Allie. Virei para eles com uma expressão interessada. — Bebidas são uma boa maneira de iniciar uma conversa. — Comentei como quem não queria nada, mas a dica foi dada e eu estaria mais do que pronta para sugerir uma bebida para Allie usar como assunto. Somebody To Love tocava ao fundo enquanto algumas estrelas teen passavam em uma das alegorias, e foi impossível não pensar que assim como o papo daqueles dois, eu também deveria me dar o direito de curtir um pouco e esquecer quem não deixava a minha cabeça. — Se quiserem ajuda… EU SUPER TODO SER CUPIDO POR UM DIA! — Agora falei com ainda mais animação, colocando os braços em torno dos ombros dos dois e quase deixando minha raspadinha cair. Ok, um momento súbito de euforia, mas qual é, aquele era um dia feliz!

Quando Kendall foi para o meio das garotas, levei um susto ao perceber uma delas olhando pra mim. O que será que ele falou pra ela? Arqueei a sobrancelha, olhando para Allie em seguida. — Eu acho que ele conseguiu alguma coisa indo lá. — Comentei com a garota, tomando minha raspadinha e ignorando o fato de que ela estava pintando meus lábios com o corante. No fim das contas, não fui o cupido de ninguém, e agora Kendall trazia as garotas para perto de nós enquanto Allie levava um garoto para perto de nós, interessado em Kendall. Ouvi o cochicho da semideusa comigo, e apenas sorri em sua direção, vendo ela se afastar com a garota. — E aí — Disse para a outra que me fitava. — Olha, eu curto garotos… Mas eu posso te pagar uma bebida, o que acha? — Sorri para ela, puxando-a comigo. Era engraçado, eu queria aproveitar a parada, mas não daquele jeito… Assim, pra mim existiam outras formas de fazer isso, não é? — Você já provou essa aqui? — Era a bebida que eu havia trazido comigo anteriormente, mas agora estavamos de frente para um quiosque.

Depois que passei um tempo com a menina, a ajudei encontrar alguém para curtir o que eu não poderia oferecer, e logo voltei para perto dos outros dois. Os encontrei indo buscar mais raspadinhas, e eu estava com minha bebida novamente. — Uma raspadinha, por favor. — Falei ao chegar perto do carrinho, ficando ao lado deles com um sorriso no rosto. — Eu vi ele trocando telefone com você. — Pisquei para Kendall, e então olhei para a garota. — E você, aproveitou? — Estavam sendo momentos divertidos, e eu estava curtindo bastante! Assim, depois de tudo aquilo, eu apenas os encarei com uma expressão faceira, de quem estava prestes a aprontar. Nossas raspadinhas chegaram até nós, e então eu os olhei. — Que tal um pouco de bebida nelas? — Perguntei, despejando na minha e oferecendo a garrafa para os outros dois.

O clima em Nova Iorque não era exatamente a mesma coisa em Quioto, por algumas questões básicas… Primeiro que, a grande diferença na paisagem como um todo se dava pelas inúmeras construções que pareciam se ampliar a cada vez que eu visitava o centro, diferente do Japão, pelo menos no interior dele. Quioto era uma cidade repleta de construções antigas e muito bem preservadas, e o detalhe que eu mais gosto é toda a modernidade abandonada pela maioria das famílias. A minha, pelos deuses, era uma delas. Morar e conviver em tradição de tava outras perspectivas de como enxergar o mundo, e por mais que eu não achasse Nova Iorque horripilante, era de se imaginar que eu não fosse gostar muito… especialmente com a diferença de fuso. A parte boa era que as estações sempre eram as mesmas, e isso era a única coisa que fazia alguma diferença em mim. O meu senso de humor… e paciência.

Por sorte, o verão ainda estava acabando e, me restava um pouco de felicidade. Mesmo que raramente isso acontecesse. O Acampamento meio-sangue não tinha sido uma das melhores experiências para mim, mas eu sabia que era tudo questão de tempo até que eu me acostumasse. Ou não, quem sabe? Naquela manhã, sai do apartamento onde meu pai investiu para que eu morasse sem problemas e não precisasse me hospedar em hotéis, caminhando pelas ruas de greenwich village. O bairro era bonito e sempre repleto de árvores estonteantes, sem contar a brisa que certamente era um ponto muito forte. Pesquisamos muito para que eu decidisse onde moraria, e embora eu sempre gostasse e preferisse ficar no Central Park, um ape com uma vista decente me deixava mais tranquilo. 

Não eram todas as lanchonetes e cafeterias que me agradavam. E eu não estou sendo seletivo… trata-se de um paladar diferente, acostumado a comer yakisoba durante o período da manhã, assim como o dia todo. Mesmo assim, a lanchonete a duas quadras do prédio onde eu morava era meu refúgio predileto, quando eu frequentava a escola em Nova Iorque. Mesas eram dispostas do lado de fora e o balcão de atendimento era visto mesmo da rua, pelas paredes de vidro. Costumeiramente, preferia ficar sentado debaixo das árvores da calçada, e assim o fiz. Me acomodei com a minha mochila e materiais de culinária, além de arte, e relaxei o corpo, segurando o cardápio entre dedos até que alguém aparecesse. 

Pôde-se dizer que doces sempre foram a minha área, ainda mais quando eu sabia que ficaria estressado involuntariamente mais tarde. 

meet a new someone

Eu estava de volta à minha “realidade-menos-emocionante”, já que nunca poderei chamar os eventos da minha vida de tediosos ou monótonos. A temporada de verão tinha oficialmente terminado para mim junto com o início das aulas no trimestre de outono; com isso, dei um “até breve” para o Acampamento Meio-Sangue e voltei para o apartamento no Queens, onde vivia com a minha mãe.

Na escola, tudo continuava como antes, a não ser pelo início de um novo ano letivo. Aquele seria o meu Junior Year — o penúltimo do Ensino Médio. Os Juniors ainda não sofriam tanta pressão do futuro quanto os Seniors, que viviam sob a sombra do gigantesco monstro chamado: Faculdade. Mas, de todo jeito, a cobrança já começava naquele ano. A construção de um currículo sólido, com boas notas e uma carga de atividades extracurriculares, poderia facilitar a vida no ano seguinte.

Mamãe e eu já tínhamos conversado a respeito de eu conseguir um emprego de meio-período. Acredite ou não, eu queria isso mais do que ela. Não é papo de independência, afinal, eu não sou como algumas pessoas da minha turma que não vêem a hora de sair de casa e ter a própria vida. Minha mãe nunca dificultou muito as coisas para mim; vivíamos, quase sempre, em completa harmonia. Tanto que foi ela própria quem arrumou esse emprego para mim, com uma conterrânea sua: Enriqueta Gonzales.

Enriqueta era proprietária de uma lanchonete pequena e charmosa no Greenwich Village. Mamãe sabia o quanto eu amo esse bairro e o tanto que ele representa para mim, e usou dos seus contatos para fazer a ponte entre mim e a dona. Combinamos que eu teria turnos de quatro horas em dias alternados, desde que isso não prejudicasse a entrega dos meus deveres, as reuniões com o clube de teatro e os treinos de torcida. Enriqueta também concordou que eu fosse aos sábados pela manhã, para acrescentar na minha carga horária.

Bem, naquela manhã de sábado eu estava lá. Quando não tinha muito trabalho para fazer, eu usava o balcão da lanchonete para adiantar os meus deveres. Estava sendo quase impossível manter aquele hábito. Eram conversas, e músicas, e barulhos de pratos… juntando isso à dislexia e TDAH de um semideus, o pouco que eu conseguia adiantar dos meus deveres era um verdadeiro milagre. Nisso, enquanto tentava me concentrar em uma questão de História, senti alguns tapinhas de atenção no meu ombro. Enriqueta chamava a minha atenção para um freguês que havia se sentado nas mesas de fora.

— ¡Ya me voy! — respondi, fechando imediatamente o livro sobre o meu caderno. Saí de trás do balcão e me dirigi para o lado de fora da lanchonete. O uniforme do estabelecimento consistia numa camisa polo em tom verde folha com uma “name tag” abotoada sobre o lado esquerdo do peito; e um avental marrom, que cobria da cintura para baixo, onde existia um bolsão que eu usava para guardar a minha caderneta de anotar os pedidos, uma flanela de limpar mesas e alguns trocados de gorjeta.

O freguês era um garoto solitário que parecia bem confortável em sua solidão. Eu vi que ele já estava conferindo o nosso cardápio, então provavelmente já deveria saber o que pedir. Não era costume que eu reparasse muito nos fregueses, a menos que eles me dessem algum motivo. Enriqueta já havia me advertido que não é de bom tom que os funcionários se envolvam com clientes. (Pelo menos, não em horário de trabalho). Cheguei junto da sua mesa, puxei o lápis de trás da minha orelha e a caderneta de dentro do bolsão do avental.

— Com licença! Já vai querer fazer o pedido? — falei, naturalmente, iniciando a interação do atendimento. Aguardei pela resposta do garoto, que ainda mantinha a cabeça baixa, conferindo o cardápio.

Interação com Ryu Mori.

Menu número dois: doces. Hmm… mini cupcakes, escolha os sabores abaixo. Pizza em pedaço, consultar disponibilidade de sabor. Sanduíche de bacon, ovos e cheddar… cheesecake japonês? Bolo matchá. 

- Se eu conseguir me decidir. - respondo automaticamente quando o atendente se pôs ao meu lado. Com um mini sorriso no canto da boca, ergo meus olhos rapidamente e observo o rosto no qual ainda não conhecia, sabendo que ele não trabalhava ali durante o último momento em que estive aqui. Espiei por entre a identificação dele e esteirei as pálpebras, continuando. - Quero… você. - E então encarei seu rosto, continuando o que eu estava dizendo para que não soasse em duplo sentido. - Você. Você é… você esteve no último verão no Acampamento, não esteve? - o questionei simples quando minha mente repassou uma curta memória em minha cabeça, jogando meu corpo no conforto da cadeira que me deixava muito bem acomodado com o pequeno estofado fofo dela. Deixando que minha cabeça caísse, escorei um dos braços nas costas da cadeira e o outro se manteve segurando o cardápio, ao mesmo tempo em que eu voltava a observar as opções. 

Contorcendo a boca, mordo a unha da mão em que o braços estava apoiado, forçando as sobrancelhas em puro questionamento: eu deveria pegar a mesma coisa de sempre, ou deveria sair da minha zona de conforto? Dizem que, pegar sempre a mesma coisa, é um típico sinal de ansiedade, mas na real eu só ficava entediado só de pensar em cogitar alguma coisa nova. Neste dia, eu estava disposto a uma terceira opinião. - O que você recomendaria pra alguém que ainda é muito apegado ao paladar japonês? - o questionei, voltando a olhá-lo novamente. Era bonito, o rapaz. Alguma coisa nele me dizia que intensidade era sua essência primordial e de repente me questionei sobre quem deveria ser seu pai ou mãe deus, embora eu já tivesse um palpite. - Ryu Mori. - me apresento. - Chalé quatro. 

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Eu tive um flash de memória quando o garoto virou o rosto e pude vê-lo melhor. Era familiar. Traços como aqueles eram únicos, principalmente no lugar onde a lembrança me puxou. Levantei uma sobrancelha ao mesmo tempo que tentava puxar mais detalhes e entender o que ele queria pedir. Mas, assim que ele mencionou o acampamento, não tive mais dúvidas… era dos meus.

— Eu sabia que tinha te visto em algum lugar — respondi, abrindo um sorriso largo. Puxei a cadeira de frente para ele e me sentei. Enriqueta já tinha me alertado quanto a sentar nas mesas com os fregueses, mesmo que eles tenham me convidado. Ela tinha razão na maioria das vezes, pois grande parte dos clientes que me convidava para sentar eram homens mais velhos que estavam atrás de outro tipo de “serviço”. No entanto, aquele garoto era da minha faixa etária; não tínhamos um problema daqueles.

Eu percebi que ele ainda estava um pouco indeciso para escolher o que pedir do cardápio. Sorri quando ele pediu recomendações e se apresentou. Muito gentil da parte dele. Acho que pode ser algo comum entre os filhos de Deméter.

— Ryu? Como o personagem do Street Fighter? — brinquei com a referência do jogo. — Muito prazer, Ryu! Sou Diego… chalé doze. — Eu sempre recebia muitas reações de brincadeira com o fato do meu pai ser o deus do vinho e das festas. Era uma fama que eu gostava de preservar.

— O cheesecake japonês acabou de sair e tá fresquinho — recomendei, olhando através da vitrine da lanchonete. — A dona também tem se aventurado a fazer algumas receitas com tofu, mas já adianto que ela é mexicana, então pode ser que venha com um temperinho mais forte. Também temos iscas de salmão grelhado. — Apresentei algumas opções e aguardei até que Ryu se decidisse.

— Você mora por este lado da cidade? — Sempre que podia, eu estava em Greenwich Village, mas tinha começado a trabalhar na lanchonete há pouco tempo; talvez o garoto já fosse freguês costumeiro do lugar.

Interação com Ryu Mori.

E ele foi se acomodando. 

Com um sorriso largo, o rapaz sentou-se à minha frente, compartilhando a ideia de que já tinha me visto em algum lugar. O que significava que tanto quanto eu, ele também já tinha visto o meu rosto assim como eu também já tinha visto o dele. Sorri minimamente, não sabia se aquilo era bom ou ruim, afinal, eu costumava… não estar sempre com um humor digno de recordação. Mesmo assim, eu me esforçava bastante pra não soar como um completo cuzao sem nexo. 

E então ele comparou meu nome ao personagem de Street Fighter. Sorri, com o olhar baixo, enquanto voltava a analisar o cardápio cautelosamente. - Sim. Especialmente porque temos mais uma coisa em comum. - digo descontraído, olhando para ele sutilmente. - Os músculos. - brinquei, afinal, eu era bem mais franzino, embora tivesse um bom físico. Mas, não chegava nem perto de me comparar a aparência do personagem fictício do jogo. - Tenho que ressaltar que eu sou mais bonito também. - e fecho o cardápio, dependendo exclusivamente dele agora para que eu solicitasse meu desjejum. 

Diego era do chalé doze, ou seja, Dionísio. O que justificava muita coisa, especialmente falando da energia radiante que ele exalava em nosso diálogo. Parecia descontraído e completamente acostumado a se sentar com fregueses, mas nesse momento, entendi que ele estava confortável para conversar comigo ainda mais por conta do fato de sermos semideuses. - Ah, sim. Os temperos… uma vez, comi um molho tão picante aqui, que pensei ter sentido fumaça sair dos meus ouvidos. - comentei com ele me recordando do episódio em que fiquei extremamente vermelho, e corri para o banheiro sem saber exatamente se eu engolia três litros de água ou desistia da vida. - Mas, no Japão, é natural comermos coisas apimentadas. - sorri brevemente, achando que definitivamente o cheesecake era uma ótima opção no momento. Eu adorava qualquer coisa que fosse derivada do leite. 

Vou aceitar um cheesecake. E um cappuccino especial de chocolate. - afinal, o café viria gelado e com um sútil gosto adocicado, algo que eu jamais enjoava de beber. Talvez fosse uma das minhas ruínas, ser tão viciado em cappuccino. - Na verdade, moro. - respondo Diego, quando este me questiona se eu residia por ali, no bairro em questão. - Há pouco tempo me mudei. Um apartamento apertado como um cubículo, mas o suficiente pra mim. - digo cruzando os braços, observando-o. - E você? Não trabalhava aqui antes. Costumo vir desde que me mudei pra Nova Iorque, começo do ano. - eu me lembraria facilmente se tivesse o visto, nem que fosse antes mesmo de frequentar o Acampamento antes.