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Ruas de São Francisco

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Ruas de São Francisco

Mensagem por Oráculo de Delfos Dom Out 09, 2022 3:06 am

Relembrando a primeira mensagem :

Ruas de São Francisco
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Láquesis Seg Jan 16, 2023 4:51 pm

A Única Coisa Não Pensada
- Filha de Atena… - Edward olhou de cima abaixo para Vía com olhos sonhadores. Era como se estivesse vendo no que a sua pequena Elisa poderia se transformar, em uma guerreira, uma moça que saberia se defender sozinha, um orgulho para o pai de uma semideusa. Logan não demorou a retornar de sua breve vistoria pela casa. Nada viu ao olhar pelo olho mágico da porta e a casa estava igualmente segura, inclusive, segura até demais, as janelas tinham até grades! Edward tinha tomado todos os cuidados para a sua recém nascida semideusa. Porém, nenhuma casa era segura o bastante a ponto de segurar um deus, ou melhor, uma deusa.

Diferente de sua primeira aparição, Hera “brotou” na casa bem mais “Hera”. Estava usando um longo vestido branco com um cinto dourado. Agora fazia sentido o sumiço do homem-aranha que sobrou, a deusa provavelmente tinha o pulverizado lá fora. - E quem é você? - Edward falou, agarrando-se em Elisa. Hera não demorou em usar seus poderes para congelar o mortal, impedindo que se movesse, para pagar dos braços dele o bebê e acalmar a criança, que antes tinha se agitado com a chegada repentina da mulher. Apesar de Hera não ser a mais querida das deusas, era notável o quanto conseguia acalmar um bebê, afinal, ela ainda é a deusa da família. Edward, por sua vez, despencou no chão em sono profundo. Em algumas frases seguintes, Hera revelou que o seu real intuito era ficar com a bebê para si, quem sabe transformá-la numa heroína, criá-la desde pequena, tentar um rumo diferente que toma com seus heróis até então.

Os minutos seguintes complicaram a situação dos semideuses ainda mais. O bracelete, que tanto ajudou Logan até então, foi ativado pelas palavras da deusa e a cauda do escorpião entalhado picou o filho de Hades. Ele perdeu o controle de seu corpo e sua mente a partir de então, sendo dominado pelas ordens de Hera como um pequeno escravo. A primeira ordem da deusa foi que Logan atacasse Vía e, naquele momento, uma briga entre os dois semideuses começou contra suas vontades. Evanora foi paralisada pela deusa em seguida, Hera queria que essa luta fosse entre o seu mais novo servo e a meio-irmã daquela bebê. Ela daria uma chance para Vía recuperar sua família, desde que derrotasse Logan, e ainda garantiria que todos retornariam em seguida para o Acampamento Meio-Sangue. Porém, caso Logan vencesse o combate, ela levaria o bebê consigo e não teria mais nada que os jovens pudessem fazer.

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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Hera Seg Jan 16, 2023 5:08 pm

O Escorpião de Hera
Se havia algo a ser dito sobre a rainha dos deuses, era que esta sempre sabia como fazer uma aparição. Diferente das vestes que utilizara na última vez em que encontrara os semideuses, ela agora portava um longo vestido branco sem mangas, com um cinto trançado dourado adornando sua cintura. – Muito bem semideuses, devo dizer que vocês cumpriram a primeira parte de sua missão com excelência, realmente impressionante. A presença da deusa pareceu tornar o ar muito mais pesado, o pai da bebê imediatamente trazendo-a para mais perto do corpo enquanto questionava quem era aquela mulher que aparecera ali de repente. – E você, é exatamente o tipo dela... Tão previsível. A deusa acenou e então o homem congelou na posição em que estava, a neném começando então a se agitar em seu colo. – Shhh, não precisa se preocupar. – falou ao tomar a criança dos braços do homem, ninando-a por alguns instantes até que ela se acalmasse. Assim que Hera a segurou, o pai desabou no chão, tomado por um sono profundo do qual não seria capaz de acordar enquanto a deusa não se retirasse da casa. – Sabe, encontrar essa criança sozinha teria me dado realmente muito trabalho, Atena é muito perspicaz, sobretudo quando se trata de proteger sua prole... Ela puxou um brinquedo de dentro de seu vestido e balançou sobre a cabeça da pequena, ignorando os outros três que a encaravam confusos até que um pigarro fez com que ela levantasse os olhos mais uma vez. – Ah, claro, onde eu parei? Bom, eu e a pequena Elisa aqui temos grandes planos, achei que era hora de variar um pouco dos meus heróis, chame de feminismo, mas talvez uma heroina seja a solução que eu procuro… E uma filha de Atena é sempre uma arma excelente, sobretudo se moldada pelas mãos certas, ela será capaz de alcançar outro patamar, uma peça muito importante no futuro dos semideuses. Hera caminhou até o berço que estava ao lado do sofá e deitou a criança ali dentro, se virando mais uma vez para o trio que começava a entender o que acontecia ali e não parecia nem um pouco disposto a deixar que a deusa saísse dali com a neném.

– Agora, Logan, vejo que você manteve meu presente... Muito bem querido. επίθεση, ω σκορπιέ! As palavras da deusa ativaram o escorpião no bracelete que o filho de Hades carregava, a cauda se esticando no ar e então perfurando o braço do mesmo bem no meio do antebraço, deixando-o completamente à mercê das ordens de Hera. – Agora, seja um herói obediente e acabe com sua amiga, a filha de Atena, sim? E antes que a terceira semideusa pudesse se envolver, Hera estalou os dedos, fazendo com que ela ficasse paralisada no lugar, incapaz de se mover para salvar seus amigos. O caos então se instaurou, os dois semideuses lutando arduamente enquanto a outra tentava inutilmente quebrar o domínio que a deusa exercia sobre ela. – Agora, Vía, como você deve bem saber, eu sou a deusa da família e entendo o quão importante é que nós consigamos manter nossos entes queridos por perto. – falou em um tom de voz um pouco mais alto, para que pudesse ser ouvida apesar da luta dos dois. – Então lhe darei a chance de recuperar sua irmã e sair com ela daqui em segurança. Hera se abaixou mais uma vez e pegou a criança do berço, evitando assim que ela fosse atropelada pela batalha. – Se você conseguir incapacitar o Logan, eu lhe devolvo a criança e lhe garanto passagem segura de volta ao acampamento. Caso contrário, eu a levarei e bem... Creio que você não terá muito o que fazer sobre isso. A deusa se afastou da confusão, ignorando os outros dois que eram incapazes de se mover e poderiam muito bem acabar machucados no meio da bagunça. – E ah, repare que eu falei incapacitar, e não matar! Logan é um semideus importante para mim e eu detestaria se ele acabasse permanentemente danificado por sua causa... Você sabe o quão perigoso é provocar a ira de uma deusa.
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Logan D. Winchester Dom Jan 22, 2023 1:24 pm

Eu podia ver tudo, mas não tinha controle de nada. Era bizarro! Meus olhos ficavam vidrados na Cachinhos Dourados, com um estranho brilho dourado, como se eu estivesse enxergando através de uma tela de ouro.

Brandi o machado para atacar a garota. No fundo do meu inconsciente eu sabia que tinha algo errado. Não era certo o que eu estava fazendo. Mas eu só podia ver, não controlar meus movimentos. Isso era por conta de Hera.

A ordem da deusa ficava se repetindo na minha mente. Um zumbido alto tomou meus ouvidos, privando-me de qualquer som que não fosse a voz dela. Eu iria atacar a filha de Atena e ela não teria chances. Até que um chamado distante começou a quebrar as barreiras e contrapor à mensagem da deusa na minha cabeça.

Eu conhecia aquela voz, que pouco a pouco se aproximava e aumentava de volume. Era a minha meio-irmã, a Mudinha. Seu chamado alcançava as camadas mais profundas do meu inconsciente, me trazendo de volta ao juízo.

O que…? — resmunguei, atordoado. Balancei a cabeça, deixando descer o machado que segurava contra a Cachinhos Dourados. Por um instante, minha visão voltou ao normal e até o zumbido nos meus ouvidos diminuiu de intensidade.

Meu antebraço esquerdo ardia no ponto onde o escorpião me picou. Como ele pôde ter feito isso comigo, depois de me ajudar tanto? Olhei para trás e vi Hera segurando a criança que tínhamos vindo buscar, mesmo sem saber. Ela queria a menina para si, mas, se não a levássemos de volta para o acampamento, nossa missão não estaria completa. Eu não podia voltar para lá sem uma missão bem-sucedida. Não aceitaria isso.

Você me usou esse tempo todo! — rosnei para Hera. Eu me sentia traído. Queria mostrar à deusa que não se brinca com o semideus errado.

Ergui o machado com uma mão e estendi o braço esquerdo para frente, mostrando o bracelete de escorpião. Determinado e enfurecido, desci o machado no meu pulso, acertando um golpe no bracelete, que impediu de eu decepar a minha mão fora.

Um golpe não era suficiente, mas eu precisava me livrar daquele controle; por mais que me doesse destruir um item tão valioso e poderoso como aquele. Era preciso continuar lutando contra. Muita coisa estava em jogo… e eu não pretendia perder. Hera saberia o quão forte eu também poderia ser.

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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Evanora K. Volkova Seg Jan 23, 2023 10:43 pm


A Única Coisa Não Pensada
Presente de Grego
A satisfação que preencheu o corpo e a alma de Evanora ao matar aquele homem-aranha pareceu, por um instante, livrá-la do vazio, do interior oco com o qual lidava desde a infância. Aquilo a fez sentir algo. Tinha sido um estímulo forte o suficiente para finalmente fazê-la se sentir viva, tirá-la da indiferença entediante na qual vivia por tempo demais. Sua apatia não estava presente naquele momento, e sequer no sorriso que ficou estampado em seu rosto. Aquilo despertou algo dentro dela... Um desejo de infligir dor e assistir mais vezes a vida se esvair dos olhos de criaturas como aquelas. Algo sombrio... Que ela não teve muito tempo de decifrar antes que o segundo homem-aranha retornasse do passeio ao mundo inferior.

Tudo aconteceu muito rápido a partir de então. O plano era que eles corressem até a casa, o caminho estava livre. No entanto, em meio ao transe de finalmente algo no mundo fazer desabrochar em si uma sensação com intensidade suficiente para arrancar-lhe da apatia, seu corpo teve o impulso de fugir, mas o cérebro não acompanhou. Evanora tentou correr, mas ao mesmo tempo se impediu, e na sua indecisão acabou ficando pelo meio do caminho. Com um sentimento novo totalmente desconhecido e complicado de lidar, sua cabeça ficou confusa. Estava prestes a correr, mas queria outra batalha. Estava prestes a correr quando tinha como lema, desde a infância, nunca correr de qualquer desafio "Se correr, será pior". Por mais que fosse uma frase que trouxesse a voz arrastada de Tatiana de volta à sua mente, era inevitável não trazê-la á tona todas as vezes que uma situação de possível fuga se apresentava. Estava prestes a correr quando podia, mais uma vez, tentar destruir aquele homem-aranha como tinha ajudado a matar o primeiro. Podia reviver a sensação e assim conseguir decifrá-la melhor. No entanto, enquanto seu meio-irmão partia para cima do monstro, conseguindo decepar mais uma de suas pernas, um pouco desnorteada, acabou deixando-se levar por Via, que recuperada, correu em direção à casa. A acompanhou quase que automaticamente, e quando deu por si, já estava tentando abrir a porta, que se encontrava trancada.

Quando, assim que Logan as alcançou, alguém finalmente destrancou a porta, contrastando com o sentimento de satisfação de minutos antes, veio a decepção. No momento em que viu o homem com uma faca na mão, voltou novamente a lembrar-se de seu sonho, e se colocou em uma posição defensiva enquanto o homem-aranha ainda tentava entrar. Porém, quando entendeu qual era o objetivo que os tinha levado até ali, sua expressão tornou-se fria. Tudo que fizeram foi para proteger um bebê... Uma filha de Atena que ainda não saíra das fraldas. Evanora olhou bem para o homem, de cabelo longo amarrado em um rabo de cavalo, e olhou também para o bebê em seus braços. O rostinho infantil e inocente não lhe trouxe qualquer sentimento de proteção. Na verdade, não lhe despertou sentimento algum. Poderia facilmente ser um simples objeto o que ele carregava nos braços, igualmente insignificante para ela. A cena como um todo a incomodou, embora não quisesse admitir, e embora seu rosto tivesse voltado ao estado impassível de sempre. Ali estava seu sonho estampado diante de seus olhos. Um pai com uma faca na mão, tentando proteger a filha de um mal prestes a invadir sua casa. Desconfortável, desviou o olhar enquanto o homem se dirigia a Via, provavelmente encantado que a meia-irmã de sua filha tivesse sobrevivido e chegado a uma idade avançada. Quase revirou os olhos. O barulho na porta cessou, o que Evanora estranhou, mas não teve em si força de vontade suficiente para fazer como Logan e vistoriar a casa ou olhar pelo olho mágico. Permaneceu parada onde estava, encarando algum ponto aleatório das paredes, evitando o contato visual com o pai ou a criança.

O incômodo, talvez, viesse pelo fato de ser impossível, naquela situação, não lembrar-se de Andrei. No sonho, era como se ela estivesse na pele daquela bebê. O que a fizera acordar chorando fora justamente reviver a sensação da proteção paterna. Tal proteção que há muito tempo ela não tinha, tal sensação da qual sentia falta todos os dias. Ver aquele pai com a filha nos braços, preocupado por sua vida, foi como um soco no estômago. Perguntou-se por qual motivo teria sido escolhida para estar ali. Para trazer de volta pensamentos que tentava evitar diariamente? Seu rosto se contraiu em uma expressão incomodada e insatisfeita, e ela encarou o chão, sentindo o sangue ferver. Não tinha qualquer vontade de proteger aquele bebê. Não tinha qualquer empatia por aquele pai.

Tudo parecia entediantemente calmo demais até que, repentinamente, uma presença invadiu a casa, sem que qualquer um deles pudesse evitar. Evanora imediatamente voltou a erguer o olhar, seu corpo todo tencionado. Não precisou olhar duas vezes para se dar conta de quem se tratava assim que se deparou com a mulher de vestido longo e branco com um cinto dourado e a postura imponente de uma deusa. Aquela era Hera... Mais uma vez. A rainha dos deuses não demorou a demonstrar toda sua superioridade ignorando completamente o homem e tirando de seus braços a criança enquanto deixava-o paralisado. A bebê agitou-se no colo da deusa, e esta a ninou, de uma forma que despertou, mais uma vez, um desconforto em Evanora. Foi um ninar apático, somente para que a criança não causasse incômodo e não a atrapalhasse em seu discurso, e não de uma forma afetiva. Aquela falta de afeto ela conhecia muito bem. Quando a deusa tirou de dentro de seu vestido um brinquedo e o balançou sobre a cabeça da criança, toda a cena lhe trouxe imagens da própria infância, do tapete bege da sala, da bola vermelha, do olhar desafiador de Tatiana, de suas palavras agressivas e sua forma de disfarçar quando estava exposta à sociedade, encenando a imagem de boa mãe. De repente, Evanora teve vontade de tirar a criança dos braços da deusa somente pelo prazer de tirar dela o que tanto planejava, de vê-la furiosa, de provocar, exatamente como fazia com a mulher que mais detestava no mundo. No entanto, era muito mais complexo do que aparentava.

Evanora já tinha imaginado, desde o início, mesmo antes que eles tivessem subido no ônibus que os transportara até ali, que aquele bracelete não era um "presente" confiável. No momento em que Logan o recebeu, soube que Hera não tinha boas intenções, o que se provou verdadeiro quando a mesma anunciou que usaria o objeto para manipulá-lo, fazê-lo atacar Via contra sua própria vontade. É claro que não se tratava apenas de deixá-lo vivo para usá-lo futuramente. Aquilo fez o sangue de Evanora ferver ainda mais. Quis com todas as forças tirar aquele sorrisinho vitorioso do rosto da deusa, quis imediatamente frustrar suas expectativas e assistir como ela reagiria. Porém, no instante em que tentou se mover, percebeu que estava paralisada, assim como o pai da criança. Aquilo só serviu de combustível para alimentar ainda mais sua fúria. Qual era o objetivo dela naquela missão, afinal? Conseguia entender que Via estivesse ali para proteger a própria irmã e Logan por ser o metido a herói corajoso que salva todos, forte, excelente em combate, indispensável em batalha. Mas e Evanora? Tinha sido levada até ali para ser obrigada a reviver sensações que evitava ao máximo? Tinha sido levada para assistir um pai preocupado com a filha quando desde os seis anos lidava com a ausência do seu? Tinha sido levada para assistir Hera agir exatamente da mesma forma que a megera Tatiana? Para despertar gatilhos antigos? Se pudesse se movimentar naquele momento, sem dúvida teria agido por impulso e pouco se importaria com as consequências de partir para cima de uma deusa, pouco se importaria que fosse inútil, desde que descarregasse toda a raiva que sentia. No entanto, só havia uma coisa que podia fazer naquela situação.

Soltando um riso curto e baixo de escárnio, Evanora fuzilou Hera com os olhos, e então virou-se para o meio-irmão "Eu sabia" Seu sotaque estava bem mais carregado que o normal, devido a raiva que sentia "Não disse que ela iria tentar te domesticar, Logan?" Lançou um olhar rápido para a deusa, que tinha se afastado da confusão, e deixou que seu rosto estampasse uma expressão de desprezo, de repulsa, sem se importar que ela ouvisse "Só não imaginava que ela conseguiria tão fácil assim. Vai realmente se tornar um cachorrinho comandado por ela? Vai deixar que ela anule sua vitória como herói dessa missão? Que o manipule contra a sua vontade? Vai deixar que seja fácil? Voltou a olhar para o meio-irmão, falando mais alto "Vai aceitar perder? Vai deixar que ela o faça voltar para o acampamento como um fraco? Como o semideus facilmente manipulável que entregou nos braços dela a filha de Atena? Vai permitir que ela o faça parecer um imbecil que a obedece sem questionar? Não sabia se aquilo estava surtindo qualquer efeito, se ele era capaz de ouvi-la, mas pouco se importava "Vai ser patético a este ponto, Logan? Vai preferir desagradar Atena?" Tentava se mover mesmo sabendo que era inútil, mas ao ouvi-lo rosnar para a deusa, percebeu que estava funcionando, e um sorriso provocativo surgiu em seu rosto, e ela o direcionou a Hera.
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Vía Mitchell Seg Jan 23, 2023 11:26 pm

Eu não sabia mais o que pensar sobre aquela missão. Primeiro estava tudo ok, uma irmã, um bebezinho que teríamos de levar para o Acampamento em segurança, até aí até que tudo bem… mas, de repente, Hera e os outros problemas que precisaríamos enfrentar. Isso com certeza não estava em meus pensamentos, muito menos os de Evanora e Logan. Na tentativa de se livrar do bracelete da deusa, sabendo das consequências e tudo o que rolaria caso eu e ele tivéssemos que lutar um contra o outro caso desse merda, me vi novamente numa enrascada. Até quando? Logan era muito bom combatente e tentar fazer algo contra ele era quase como… pedir pera se lascar de verdade! Perdão pela palavra, mas sério, que furada… eu estava preocupada em não conseguir manter todos a salvo. 

Não cabia só a mim, claro, mas por ser filha de Atena, toda a responsabilidade na minha cabeça parecia querer explodir. E com Evanora ainda sem poder fazer muita coisa… ao menos estávamos tentando, isso já era um começo. Por ser filha da deusa da razão, eu sabia que deveria ter a tarefa de manter minha irmã a salvo, mas mesmo assim, fiquei muito sentida no quesito ter que agir contra Logan para mantê-la intacta. Eu não poderia permitir que ela fosse levada, jamais! Estávamos em uma situação muito delicada.

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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Láquesis Ter Jan 24, 2023 12:42 am

A Única Coisa Não Pensada
As coisas foram de zero e cem muito rápido. Em um instante, Vía estava conhecendo a sua meio-irmã, no outro, ela estava lutando contra Logan para tentar salvá-la de Hera. Enquanto isso, Evanora era mantida paralisada por Hera, mas ainda podia falar. Foi assim, fazendo provocações pela voz, que ela conseguiu trazer Logan de volta a consciência. O filho de Hades, sem nem pensar duas vezes, acertou o bracelete com o seu machado. O item era resistente, mas adquiriu um rachado. Se podia ser danificado, então podia ser quebrado. Hera passou o olhar de Logan para Evanora, percebendo o que ali tinha acontecido, observando o sorriso petulante daquela cria do submundo. A deusa manteve sua postura, nada disse, mas era possível notar em seu olhar o quanto tinha detestado que os seus planos não estivessem saindo exatamente como ela gostaria, fora o desaforo daquela semideusa que aparentava não saber o seu lugar.

Hera voltou a olhar para Logan, sabendo que em alguns segundos o poder de seu bracelete o tomaria novamente. Enquanto isso, Evanora notava algo diferente em seu corpo. Era como se a magia de Hera estivesse começando a ter brechas, fissuras daquela paralisia por onde, talvez, ela conseguisse se livrar. Bastava que ela conseguisse se concentrar e descobrir como acessar essas brechas, conhecer a magia de Hera.

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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Evanora K. Volkova Ter Jan 31, 2023 8:40 pm


A Única Coisa não Pensada
A quebra da magia
Hera tentou disfarçar. Manteve a postura, permaneceu sem dizer uma única palavra, mas mesmo assim, seu olhar dizia toda a verdade a Evanora. Seus olhos demonstravam todo o seu descontentamento. Evanora tinha experiência em observar as pessoas, em lê-las. Mesmo que algumas conseguissem ser imprevisíveis, quando se passa a maior parte da vida observando, ao invés de agir, aprende-se a prestar atenção até mesmo às micro-expressões, notar as entrelinhas. Hera era uma deusa. A rainha dos deuses. E no entanto, tinha tantos aspectos parecidos com Tatiana. Evanora vira uma amostra, minutos antes enquanto esta segurava o bebê no colo, e via naquele momento também a expressão impassível, mas o descontentamento claro no olhar. Olhos desafiadores, olhos que a fuzilavam. Ah ela sabia que aquele era um combate inútil, injusto e no qual ela tinha mínimas, se não nulas, chances de vencer. Mas assim como nunca dera o gostinho a Tatiana, não daria àquela figura divina escondida em um dos cantos enquanto tentava controlar toda a situação para que terminasse segundo sua vontade.

Em meio a observação, ainda tentando se mover, Evanora começou a notar que havia algo diferente. Pouco antes, sua paralisia era total. Por algum motivo, conseguia continuar falando, mas todo o restante de seu corpo estava completamente imóvel, e não havia qualquer sinal de movimento. Mas então, ela passou a sentir pequenas contrações musculares, que facilmente passariam imperceptíveis, mas mesmo assim, Evanora foi capaz de notá-las. Era como se, de alguma forma, seu corpo estivesse começando a demonstrar sinais de reação contra aquela magia inconveniente que o inutilizava. Era como se, caso Evanora procurasse bem pelas brechas, o feitiço pudesse ser desfeito e ela conseguisse finalmente voltar a se movimentar e se livrar daquela sensação inquietante de não ter o próprio corpo obedecendo suas ordens.

Ela se concentrou. Tentou identificar quais eram os grupos musculares que apresentavam as pequenas contrações, para então manter o foco neles, para aumentar a força que fazia na tentativa de movimentá-los, mas então algo gritou em sua mente. Uma vozinha vinda do fundo que avisava que ela estava sendo uma idiota. Percebeu, naquele instante, que aquilo a desconcentrara do foco principal. Tinha sido capaz de ouvir Logan acertando um golpe contra o bracelete, o que comprovava que ela estava conseguindo influenciá-lo, ajudando-o a se livrar daquele transe. E no entanto, distraíra-se com a tentativa de se livrar do encanto que a paralisava, esquecendo-se de continuar a fazer o que já estava dando certo. Seu olhar imediatamente se ergueu mais uma vez para Hera. Inicialmente, com uma expressão irritada, furiosa em seu rosto, que em seguida transformou-se novamente no curvar de lábios desafiador e petulante.

"É claro que ela usou, Logan!". Soltou um riso de desdém, voltando a se concentrar em seu meio-irmão "É só o que ela vai fazer com você, isso é tudo que você representa para ela, um cãozinho domesticável! O animal de estimação que obedece em troca de migalhas". Era quase involuntário que seu corpo continuasse tentando se mover "Livre-se disso, Logan! Você sabe que não quer machucar Via. Você lutou com unhas e dentes para protegê-la, se continuar deixando que Hera o controle vai perder todo o crédito pela luta". Direcionou seu olhar novamente para Hera "Deixe-a frustrada, Logan. Não dê o que Hera quer. Faça ela provar o gosto da derrota, e não você". Evanora trilhava um caminho perigoso, sabia que sua petulância a colocava em risco. Mas se aos cinco anos tinha sido capaz de sobreviver à tentativa da própria mãe de eliminá-la trancando-a naquela cabana abandonada em chamas, e não abaixara a cabeça para a mulher que mais representava uma ameaça à sua vida, também não daria aquele gostinho a Hera. Não importava que ela fosse uma deusa "Continue me escutando, Logan. Ela quer que eu me desconcentre, quer que eu pare de falar para poder retomar o controle total sobre você. Não permita! Continue me ouvindo! Sou eu quem quer que você saia vitorioso desta missão. Ela só quer que você fracasse!". Olhou mais uma vez para a deusa, deixando claro que não seria tão fácil distraí-la "Pode facilitar meu trabalho para conseguir me livrar desta paralisia. Eu vou me livrar dela, mas não se engane. Eu continuarei parada aqui, falando com ele, abrindo os olhos dele". Disse baixo, sabendo que a rainha dos deuses era perfeitamente capaz de ouvir sua provocação, e sabendo também que era perfeitamente capaz de calá-la. Evanora por um instante chegou a desejar que ela o fizesse, o que demonstraria que estava de fato conseguindo incomodá-la e frustrando seus planos. Exatamente como fazia com Tatiana.
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Logan D. Winchester Ter Jan 31, 2023 9:51 pm

Precisei me defender de um ataque da filha de Atena. Ela bem que tentou, mas não tinha chances contra a minha perícia em combates. Esse sobressalto me fez perder um pouco da concentração que eu tinha na voz da minha meio-irmã. Senti os zumbidos voltarem mais altos do que nunca e a minha visão vinha novamente com o tom dourado.

Porém, a Mudinha não desistia fácil. Eu ainda podia ouvir as provocações dela no plano de fundo. Eu não queria atacar a Cachinhos Dourados. Por mais que ela fosse um tanto irritante e sabichona, éramos parceiros naquela missão.

Apeguei-me à voz que vinha crescendo de tom, como da última vez, até a minha visão voltar ao normal de novo. E eu simplesmente acordei. Sabia o que precisava ser feito e não hesitei. Desci outra machadada no bracelete em meu braço esquerdo.

O dano aumentou de proporção, mas não foi suficiente para quebrá-lo. A dor que ele causava quando atingido era brutal, como se eu estivesse decepando meu próprio pulso. Agora eu sabia como aqueles aranhões radioativos se sentiram; e fiquei feliz por ter causado essa dor extrema neles.

Continuei focando-me na voz da Mudinha. Agora, ela provocava a deusa e estava sendo bem mais motivacional comigo. Isso me deu forças, ter certeza de que eu conseguia. Eu já acreditava em mim, mas ter mais esse apoio foi fundamental. Por fim, desci novamente o machado, em um golpe certeiro no bracelete. Foi a tacada final. O escorpião se partiu, soltando-se do meu pulso.

No primeiro momento, foi uma dor insuportável. O ponto da picada ardeu como se um pedaço de brasa estivesse sendo prensado sobre o meu antebraço. Minha mão esquerda parecia dormente. Ela formigava, mas aos poucos foi recuperando o sentido. Olhei para os restos do bracelete no chão da sala de estar daquele homem e entendi. Uma onda quente me pegou, trazendo a consciência completamente de volta. Não tinha mais zumbidos, nem visão dourada. E eu assumi o total controle do meu corpo, para fazer o que já deveria ter feito.

Abri a mão direita e soltei o meu machado. A arma caiu no chão com um baque metálico no assoalho. Levantei as mãos para o alto, me rendendo perante as facas que a filha de Atena apontava para mim de forma ameaçadora. Então, lentamente, dei meia-volta e encarei Hera, enquanto me ajoelhava de costas para a Cachinhos Dourados. Provavelmente, o ato mais humilhante que precisei fazer na minha vida; mas me trouxe uma satisfação enorme.

Perdeu! — Sorri com o canto dos lábios, debochado, mirando o olhar da deusa. Das duas, uma: eu seria instantaneamente pulverizado naquele momento, ou ela ficaria extremamente admirada pela minha insanidade e me presentearia com outro daquele bracelete super legal que – eu a faria jurar pelo rio Estige – não tomaria controle do meu corpo nunca mais.

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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Vía Mitchell Ter Jan 31, 2023 11:18 pm

Eu sabia que provavelmente não poderia fazer muita coisa contra Logan, mas mesmo assim tentei, no intuito de não piorar as coisas… eu espero que ele saiba das minhas intenções! Éramos parceiros, eu não tive a verdadeira intenção de lascar com ele ou coisa parecida, estava apenas me defendendo e tentando manter minha meio-irmã recém conhecida ali a salvo… coisa que funcionou, mas de outra forma. Logan finalmente pode despertar do transe que estava fadado a ficar. Encarei Evanora com um semblante de alívio inclusive assim que percebi o ato do rapaz de largar seu Machado, indicando que já não estava mais sendo manipulado ou logo do tipo! Isso mesmo. Aparentemente, não era um bom dia para Hera. Bem, eu esperava que isso estivesse perto de acabar sendo bem sincera…

Segurando minhas armas sem baixar a guarda, por mais que as habilidades do rapaz fossem bem maiores que as minhas, me mantive assim nessa pose ameaçadora de não mexa comigo, até que ele se virasse de costas para mim, ficando incapacitado assim que aproveitei para me certificar de que ele não tentaria nada. Entretanto, já dava para ver que o filho de Hades estava mesmo em sã consciência. Bem, talvez nem tanto para brincar com as palavras, para cima de Hera. Cada um com suas devidas loucuras, não é mesmo? Whatever… talvez o pesadelo estivesse acabando. Eu queria mesmo levar a criança a salvo para o acampamento. Ainda mais depois de passar por todo o perrengue com os filhos de Aracne. Mas que Logan era puro deboche e ousadia, isso eu não podia negar de forma alguma.

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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Láquesis Qui Fev 02, 2023 12:04 pm

A Única Coisa Não Pensada
O bracelete voltou a se apossar do controle de Logan, mas Evanora não desistiu de provocar o seu meio-irmão de acordar da posse daquele objeto e da deusa do casamento. Mais uma vez, ela conseguiu fazer com que Logan tomasse o controle do seu corpo e, dessa vez, ele conseguiu desferir dois golpes com o seu machado, quebrando o bracelete. Os pedaços do objeto caíram no chão como se essa queda estivesse em câmera lenta. Hera observou os três semideuses com expressões impassíveis, mas o seu olhar estava severo, rancoroso, irado. - Μια συμφωνία είναι μια συμφωνία. - Ela disse, pegando a bebê e colocando nos braços de Vía, antes de assumir a sua forma divina e desaparecer, dando um último olhar para os meio-sangues que dizia claramente que eles estariam marcados na memória da deusa… E não por algo bom. O que ela disse? “Um acordo é um acordo”.

Assim que Hera retirou-se, os meio-sangues tiveram cerca de dez segundos para visualizar que Edward estava acordando, antes de, num piscar de olhos, se verem na entrada do Acampamento Meio-Sangue. Isso também fazia parte do acordo, se eles a vencessem, ganharam uma passagem facilitada de volta ao acampamento.


OFF: A narração continua no tópico “Entrada do Acampamento”, na Área Externa do Acampamento Meio-Sangue.

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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Alma Louise Ferrer Qui Mar 02, 2023 5:24 pm

O Solar

Correr pela propriedade já tinha se tornado um hábito rotineiro para Alma. E um que, ultimamente, lhe alertava sobre duas coisas essenciais. A primeira delas: Após tantos anos, o vício em nicotina enfim começara a cobrar o preço prometido, fazendo-a suportar menos quilômetros que o indicado antes que seus pulmões não dessem conta da demanda de ar. E desde quando a medicina erra, não é...? A segunda: Precisava com urgência de um novo brinquedo que a distraísse e com o qual pudesse descarregar toda a energia acumulada. Correr era bom, mas Alma precisava de mais. Precisava de algo que fosse intenso e intoxicante o suficiente para fazê-la esquecer seus pensamentos mais perturbadores, para fazê-la não pensar demais e questionar tudo em que sua vida se transformara. Algo que pudesse fazê-la, por exemplo, esquecer-se da noite anterior.

Após um banho quente e relaxante, ela se olhou uma última vez no espelho, vendo nele a imagem refletida de uma mulher com um semblante cansado, mas ainda bela, segura de si, de cabeça erguida e com toda a imponência que sua figura de autoridade naquele lugar exalava e exigia. Passou a mão pelos cabelos ruivos, dando-lhes mais volume, e vestiu os anéis, pulseira e bracelete que, além de adornos estéticos, representavam elementos visuais do poder que possuía dentro daquele clube. E sendo detentora de tal poder, existiam questões que demandavam sua atenção e as quais precisava resolver antes que se agravassem. Tudo vem com a porra de um preço…

"Jessica" Passando pela recepção, Alma parou a poucos metros do balcão, chamando pela jovem que, já há algum tempo, aceitara o cargo de recepcionista do Solar. Esperou até que o olhar da outra estivesse atento ao que diria "Se a convidada chegar, conduza-a até uma das salas de espera no segundo andar. Ela entregará uma carta com meus selos. Estarei em reunião com Dasha". Sua voz evidenciava o tom, já tão conhecido entre os membros, penetrante e autoritário, difícil de ignorar, e que exigia atenção. E mais do que somente soar como exigência de atenção, a voz de Alma tinha um som melódico, aveludado, que constantemente fazia quem a ouvia se sentir, de certa forma, intimidado e, ao mesmo tempo, atraído. Ela lançou as ordens à jovem recepcionista e não aguardou por uma resposta antes de se direcionar ao bar, à direita do grande Hall de Entrada, passando pelo Salão de Estar. Precisava de uma dose de algo que queimasse sua garganta, mas antes mesmo de chegar ao balcão, captou um cheiro que lhe era muito agradável, porém proibido em uma das áreas sociais neutras por ser desagradável a muitas outras pessoas. O respeito, dentro do Solar, apesar do que qualquer um de fora pensasse e julgasse, era algo que jamais devia ser violado. Tudo era previamente estabelecido, e para tal existiam regras.

O olhar de Alma recaiu rapidamente na infratora, e nela se fixou. Mas é claro... Ela se aproximou com uma expressão reprovadora, porém calma "Corinne...". Chamou, olhando atentamente para a tatuagem, na parte de trás do pescoço da mulher (possível de ser vista graças ao penteado que deixa sempre seus cabelos de lado), que exibia o símbolo demonstrando claramente a quem pertencia. Alma reprimiu seu desagrado pessoal ao fundador que a possuía, e aguardou que ela se virasse. O que vale para um, vale para todos, querida... Olhou fixamente para o cigarro entre os dedos dela antes de tornar a encará-la "Cigarros são proibidos em áreas neutras". Não escondeu sua satisfação ao ver a mulher abaixando o olhar diante de sua autoridade, mas precisava ser incisiva se quisesse que aquele comportamento não se repetisse "Esta é uma regra fundamental, o que significa que se eu tornar a vê-la fumando aqui, pouco me importa que seja uma Intocável e a quem pertença, tenho liberdade de puni-la e não hesitarei. Fui clara?". Acostumada a como as coisas funcionam no Solar, Corinne manteve a cabeça baixa e evitou que seu olhar entrasse em contato direto com o de Alma. Não era à toa que seu título dentro do clube e sua reputação eram conhecidos...

Alma Ferrer arrancava olhares de todos ao adentrar qualquer ambiente do Solar, mesmo que ela dificilmente distribuísse olhares entre os membros. Para muitos, era vista como uma figura quase inalcançável, envolta por uma aura de mistério e tensão que gritava a cada um que se aproximava: "Faça-o por sua conta e risco". Seu modus operandi era bem conhecido. Em noites de festa, sentava-se no trono que a pertencia como Fundadora, e como uma águia, vigiava cada um dos acontecimentos e atividades ocorrendo no Salão. Ao mínimo sinal de qualquer coisa que fosse contra as regras, era ela a primeira a se levantar e andar calmamente até os infratores, que geralmente tremiam ao perceber sua presença. As punições de Alma para regras violadas eram sempre imprevisíveis, porém executadas com frieza, de acordo com a gravidade da violação, desde que esta não fosse passível de expulsão imediata do clube. As mais leves, e que ela costumava resolver no mesmo momento, eram desfrutáveis aos olhos de qualquer um que assistisse, embora pouquíssimos se sentissem inclinados a experimentar. Alma Ferrer parecia saber com precisão a melhor maneira de ensinar a alguém desobediente uma lição que não fosse facilmente esquecida e pudesse causar uma repetição do comportamento infrator. Ela jamais passava despercebida, em qualquer um dos domínios da propriedade. E no entanto, podia-se contar nos dedos de uma mão os membros que realmente tiveram a oportunidade de conhecê-la durante o tempo em que estavam no Solar. Ser mais reservada e permanecer um mistério para a maioria era algo do qual ela nunca abrira mão. Gostava de ser um enigma a ser decifrado, pois aquilo fazia com que a olhassem com certo temor, intimidados, mas gerava uma curiosidade pelo desconhecido que frequentemente se transformava em desejo e atração. Julgava ser isso o que a fazia ser requisitada tantas vezes, principalmente no Salão de Festas, onde constantemente deparava-se com alguém de joelhos diante de si, implorando por uma cena. Alma costumava aceitar um por noite, e para somente uma cena, por pura diversão. Mas era uma chance única. Na noite seguinte, o membro em questão não ganhava sequer um olhar dela. E pouquíssimos eram os que Alma aceitava para uma relação mais séria e duradoura dentro do clube.

"Sim, senhora". Respondeu obedientemente a jovem "Ótimo. Entregue-me o cigarro, Corinne". Ferrer ordenou, estendendo uma das mãos, e a mulher o fez imediatamente, sem hesitar. Ótimo. Com um leve aceno de cabeça mostrando que estavam entendidas, Alma voltou a trilhar seu caminho até o bar, e desfez-se da bituca no percurso, jogando-a no lixo mais próximo.

Pediu uma dose de whisky antes de voltar pelo Hall de Entrada, subir a escadaria principal e encontrar Dasha aguardando-a na porta da sala de reuniões. A amiga de longa data era baixa, tinha cabelos curtos que já mesclavam entre o grisalho e a cor escolhida para pintá-los. Esta encarou Alma com um arquear de sobrancelhas e um sorriso de lado "Teve algum problema recente com os elevadores?". A pergunta fez a ruiva balançar levemente a cabeça para soltar um riso curto e muito baixo "Alguém tem que fazer uso das escadarias tão bem ornamentadas". A resposta fez a mulher mais velha à sua frente bufar com desdém, mas soltar sua costumeira gargalhada rouca que frequentemente terminava com uma crise de tosse. E por mais que o clima entre as duas fosse amistoso, existia algo muito importante a ser discutido, e a seriedade do assunto inevitavelmente tornou o clima mais pesado. Principalmente para Alma, não havia um jeito fácil de lidar com o que precisava ser lidado.

"Eu não vou correr o risco de acontecer uma segunda vez, Dasha.". Ferrer se levantou da cadeira onde antes se sentava, e olhou fixamente para a amiga, apoiando as mãos sobre a mesa, na intenção de que esta visse o quanto suas palavras eram sérias e verdadeiras "Estou sendo incisiva, e é a última vez que vou dizer isto: Ou ele sai... Ou eu destruo este lugar". Um instante de silêncio se seguiu. Exalando a fumaça e bebendo um gole da bebida em seu copo, Dasha balançou a cabeça negativamente e pensou um pouco, de sobrancelhas franzidas. As duas já estavam naquela discussão há vários minutos, sem chegar a um consenso. E a mais velha já aparentava cansaço "Você sabe que não faria isso. Nós duas lutamos muito para que isto aqui existisse. E há muito em jogo". Sem quebrar o contato visual, o rosto de Alma tornou-se ainda mais sombrio, e suas palavras saíam cada vez mais frias e arrastadas "E o que eu tenho a perder, Dasha?". Deixou que a pergunta pairasse entre as duas enquanto se encaravam, e a intensidade do momento só foi interrompida pelo repentino e estridente tocar do telefone. Com a discussão bruscamente interrompida, foi Dasha quem o atendeu. Sua voz demonstrava com muita clareza o quanto estava insatisfeita e mau humorada, o que ficou ainda mais evidente quando ela encerrou a chamada quase como se quisesse quebrar o aparelho, batendo-o com força de volta no gancho "Você tem visita". No primeiro instante, Alma sentiu-se confusa. Uma grande incógnita surgiu em suas expressões, até que ela se desse conta. E quando o fez, todo seu semblante mudou. Ela imediatamente endireitou-se, e com um olhar rápido para o relógio na parede, ajeitou o blazer, dispensando Dasha somente com um olhar antes de caminhar até a porta e esboçar um sorriso satisfeito "Para interromper esta conversa, eu espero que ela valha muito a pena, Louise...". Já com a mão na maçaneta, ouviu a amiga provocar, mas não se deu ao trabalho de se virar para responder "Eu também".

Sem qualquer pressa, Alma caminhou calmamente pelo corredor principal do primeiro andar. Tentou não raciocinar muito sobre a forma como abordaria a possível nova adição do clube, pois gostava de olhar diretamente para seu alvo e decifrar suas emoções e receios antes de dizer qualquer palavra ou realizar qualquer ação. Escolhera a dedo sua convidada. Uma jovem de rosto delicado, bela, e que ainda sentia-se intimidada pelos próprios desejos. Pelo que Alma fora capaz de observar, Amanda Simaíno tinha muitas vontades, mas não fazia ideia de como executá-las. Não fazia ideia de onde encontrar pessoas iguais a ela, e talvez tivesse receio de admitir a si mesma que seria capaz de qualquer coisa para experimentá-las. Mas, além de tudo, Amanda Simaíno não era uma pessoa comum... E convenientemente, Alma podia lhe apresentar o mundo que ela tanto almejava, oferecer-lhe o que tanto desejava, e em troca usar as habilidades dela a seu favor, a favor de Dasha, e a favor do futuro do próprio Solar. E ela não desperdiçaria a chance.

Quando enfim chegou ao segundo andar, após fazer algumas paradas pelo caminho, já deviam ter se passado aproximadamente vinte minutos desde que Jessica avisara sobre a chegada da convidada, o que significava que talvez já estivesse aguardando-lhe há cerca de meia hora. Alma considerava um tempo bom. Tempo que dera a Amanda a oportunidade de pensar muitas coisas, de criar muita expectativa, e de ter muitas dúvidas pairando por sua mente. Por que tinha sido convidada a estar ali? Quem lhe enviara a carta? Que lugar era aquele? Quem viria para atendê-la? E por que tinha tudo a ver com seus desejos mais escondidos? Alma sorriu enquanto chegava até a porta. Aquele tempo era essencial para que a curiosidade da convidada fosse ainda mais aguçada, para que suas expectativas gerassem tensão em seu corpo, e certo temor percorresse seus pensamentos. O combo que Alma considerava perfeito. E ao girar a maçaneta, a ruiva adentrou a sala de espera com um semblante calmo, amistoso, porém com a postura intimidadora e queixo erguido que deixavam muito claro quem detinha a superioridade ali dentro desde o primeiro instante.

Fechou lentamente a porta enquanto olhava fixamente para Amanda Simaíno, ainda de costas para si "Olá, Amanda". Disse o nome da jovem com ênfase, analisando a sensação de pronunciá-lo em voz alta e deixando-o pairar no ar por alguns segundos "Receio tê-la feito esperar mais do que gostaria, não é?". Quando recebeu o olhar curioso e analítico da jovem, Alma desfez o contato visual e caminhou lentamente até a pequena mesa que ficava à frente do estofado onde a convidada se sentava, no meio da sala "Espero que tenha sido bem recebida por Jessica". Somente ao terminar de dizer aquelas palavras Ferrer finalmente encarou a jovem, e esboçou um sorriso educado, porém discreto. A visão, dela estando em pé e a convidada sentada, demonstrando a hierarquia que já queria estabelecer, imediatamente a agradou. E a agradou ainda mais o fato da outra parecer não encontrar as palavras para respondê-la. Ela não pretendia aguardar que o fizesse "Sei que deve ter muitas perguntas a fazer neste momento, mas já aviso que não irei responder todas agora". Ainda com o sorriso enigmático, sua expressão tornou-se um pouco mais séria "O que precisa saber de imediato é que fui eu quem lhe enviou a carta de convite. E este lugar chama-se Solar". Alma ergueu os braços e os abriu como se mostrasse o espaço, mesmo que aquela pequena sala fosse um demonstrativo quase insignificante de tudo que a mansão tinha a oferecer "Levante-se". Ordenou com seu tom de voz ainda melódico, escondendo a intensidade daquele que era mais autoritário, e contornando a mesa, aproximou-se da jovem, parando diante dela e analisando-a antes de deixar seus lábios se curvarem em um sorriso mais pronunciado "Você sabe o que me fez convidá-la até aqui, Amanda?". A pergunta saiu em um volume mais baixo, devido a distância curta que as separava. Alma podia enxergar no olhar e expressões dela que a jovem sabia bem a resposta, afinal, ela já tinha deixado bem claro na carta que enviara. Mas a indecisão da jovem em responder em voz alta a divertiu, e Alma passou a língua pelos lábios inferiores, apertando-os enquanto balançava a cabeça soltando um risinho curto e anasalado. Aguardou alguns segundos para deixá-la conflitar com suas emoções, e então continuou "Este lugar pode lhe proporcionar tudo que seus gostos mais profundos desejam. Tudo aquilo que tanto atrai sua curiosidade nas suas buscas pela internet... Seus gostos mais profundos... Podem se tornar realidade aqui no Solar.. Alma informou, atenta a cada reação da jovem "E se estiver disposta, posso lhe apresentar tudo enquanto conversamos". Fez a oferta, e muito levemente, levou seu dedo indicador até o queixo de Amanda, fazendo-a erguer o olhar "Mas não quero ouvi-la com voz trêmula ou indecisa. Preciso que tenha certeza do que quer. E que me responda com firmeza". Disse as últimas palavras em um tom mais sério, mantendo seu olhar no dela antes de relaxar instantes depois, e se afastar em direção à porta "Se precisar de um ou dois minutos para pensar, estarei esperando do lado de fora".

Alma não pretendia dar a ela muito tempo para pensar. A verdade é que ela repentinamente se viu precisando pensar. Viu-se repentinamente impactada pela pequena interação entre as duas. Ao convidá-la através da carta, as intenções de Alma não iam muito além de somente oferecer-lhe um local que pudesse satisfazer suas vontades, para que ela e Dasha pudessem usar das habilidades especiais que a jovem possuía para o que lhes fosse conveniente. Era tudo um meio para um fim. Eram intenções puramente oportunistas. As habilidades de Amanda podiam favorecê-las a realizar certos trabalhos e resolver certos problemas envolvendo outro fundador, e em troca do uso de sua mágica as duas a deixariam aproveitar o Solar como quisesse. Mas depois de vê-la mais de perto, de não resistir ao anseio de tocá-la, ainda que muito levemente, mesmo estando em sua presença somente por poucos minutos, uma parte de Alma não queria mais deixá-la aproveitar como bem entendesse. Alma queria que Amanda aproveitasse como ela bem entendesse. Ela queria conduzi-la através das descobertas de seus desejos mais profundos. A ideia de outro alguém fazendo-o repentinamente tornou-se um pensamento incômodo, e embora aquilo acionasse um sinal de alerta, ela sentiu que precisava convencer Amanda a aceitar. E precisava convencê-la a aceitar da forma como queria.

Quando a porta enfim se abriu, revelando a convidada com um semblante mais decidido, Alma estava encostada na parede oposta, com os braços cruzados e encarando o final do corredor. Sua cabeça se virou lentamente na direção de Amanda e um sorriso se abriu em seus lábios ao ouvi-la dizer, de forma firme, que queria conhecer o Solar. A ruiva assentiu, e encarou Amanda por alguns segundos antes de retomar a postura, aproximando-se novamente e encurtando a distância entre as duas uma segunda vez "Ótimo. Creio que então seja o momento de me apresentar. Sou Alma. Uma das fundadoras do Solar". A mais velha estendeu uma das mãos, esperando que a convidada a apertasse, e quando esta o fez, segurou-a com firmeza e puxou-a em sua direção, encurtando ainda mais a distância e falando com os lábios perto de seu ouvido "Mas antes de irmos, tem algo que eu gostaria que fizesse para mim. Acha que pode fazer, Amanda?". Perguntou, afastando-se em seguida para analisar o rosto da convidada. Sorriu satisfeita ao receber uma resposta positiva, e de dentro de um dos bolsos do blazer, retirou um pequeno batom, e ergueu em frente ao olhar da jovem "Quero que vá até aquele espelho no final do corredor". Apontou com o olhar a direção "E passe este batom". Esperou que Amanda o pegasse, e assistiu com interesse genuíno a reação levemente confusa, a curiosidade, e tudo misturado com outra coisa nos olhos dela. Fez um gesto com a mão indicando que ela fosse sem aguardá-la, e seguiu-a a passos lentos, deixando que ela fizesse tudo a seu próprio tempo.

Assisti-la olhando para si mesma no espelho que preenchia toda a parede, respirando fundo, abrindo o batom com certa desconfiança foi uma imagem à qual Alma não esperava ficar tão vidrada. E um sorriso de lado, discreto, de expectativa surgiu em seus lábios quando parou a alguns metros de distância, em um ângulo que a fazia ser vista por Amanda no espelho, além da sua própria imagem. Alma permaneceu parada, com uma das mãos no bolso da calça preta que usava, combinando com o blazer também preto e destacando o vinho da blusa por baixo deste. E foi no instante em que Amanda fez uma careta de dor e soltou o batom, deixando-o cair com um baque baixo no chão, que o sorriso da ruiva se alargou. Alma estreitou os olhos, vendo a pequena gota de sangue surgir no lábio inferior da jovem, e aproximou-se enquanto ela pegava de volta o objeto caído no chão, analisando-o atentamente "Oh não...". Alma disse, quase teatralmente "Não acredito que lhe entreguei este, me desculpe". Ainda se aproximava reparando no olhar assustado de Amanda para seu lábio inferior agora com um pequeno corte e o batom, que entre sua combinação de ceras, gorduras e pigmento, possuía na ponta uma pequena lâmina cortante colocada propositalmente por Alma "Deixe-me ver". Indo até ela, a ruiva pediu que se virasse, e quando Amanda o fez, ela ergueu um de seus polegares, levando-o até a pequena gota de sangue em seu lábio, e limpando-a "Desculpe, querida. Aqui, se limpe". Alma entregou-lhe um pequeno lenço tirado do mesmo bolso onde antes estava o batom, e enquanto a jovem o fazia, discretamente levou o polegar com a gota de sangue ao bolso da calça, passando-o pelo material de prata que repousava lá dentro. É preciso usar de magia para conter alguém que também a possua. Em seguida, tirou o objeto prateado e circular do bolso e abriu-o para colocá-lo no braço de Amanda, sem se importar com o leve sobressalto da jovem e o olhar desconfiado que lhe foi lançado. Alma deu um sorriso de lado "Este é um bracelete com meu selo, que informa a todos os outros membros que você é minha convidada". Informou calmamente e estendeu seu antebraço direito para que a jovem pudesse ver o bracelete semelhante que ela também possuía, mas era dourado. Em seguida, sem se conter, passou muito levemente a parte posterior de seu indicador em uma das bochechas de Amanda, e então se virou, ficando de perfil "Vamos?". Ergueu as sobrancelhas e começou a caminhar, esperando que a jovem a acompanhasse.

"A partir de agora, pode me fazer as perguntas que quiser. Algumas eu talvez não possa responder, mas tudo fará sentido em breve". Voltou ao seu semblante mais sério, sua postura mais autoritária, e enquanto apresentava à convidada todo o segundo andar, com as salas de espera e os quartos neutros feitos somente para dormir, mostrava-lhe o Hall de Entrada, o Salão de Estar, até enfim chegar ao imponente Salão de Festas, deixou que ela observasse tudo e fizesse todas as perguntas que desejava.
Uma nova adição...
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Amanda Jafari Simaíno Qui maio 04, 2023 2:45 am

20:49
Num hotel desconhecido
S01P02
Demorou, mas enfim um outro sinal de vida além de Amanda apareceu naquela pequena sala claustrofóbica. Uma mulher ruiva adentrou. Os cabelos cor de fogo e sua altivez eram os seus traços mais marcantes. Ela tinha um ar superior, dava para notar em seus olhos que ela estava acostumada a dar ordens. Outra coisa perceptível em seu visual era a quantidade significativa de pulseiras e anéis que usava nos braços e dedos. Como um todo, ela era elegante. Comparada a como Amanda estava vestida, parecia até que ela estava errada na ocasião. Enquanto a mulher estava bem arrumada (e Amanda não duvidava em nada que as roupas dela eram de grife), Amanda se limitava uma calça jeans com boca aberta na parte de baixo, sandálias pretas e uma camiseta azul escura com diversos pontos, alguns possuindo ligações que formavam algumas das constelações mais famosas. Amanda sempre enxergou beleza no céu noturno. A mulher ruiva sabia o seu nome, pois cumprimentou-a já a chamando. Teria sido ela quem mandou a carta? Amanda teve um pressentimento que sim. Aquela era a mulher que queria atraí-la, que promoveu o encontro, mas porque? Amanda olhou para ela com curiosidade, enquanto a anfitriã comentava sobre tê-la feito esperar. A curiosidade apagava completamente a espera anterior que Amanda teve que passar, ela estava ansiosa para entender toda aquela história. Por isso, apenas ficou quieta e continuou a observar, analisar, como se fosse uma Sherlock Holmes tentando desvendar um mistério. A ruiva só lançou um olhar significativo para Amanda depois de mencionar Jessica, a recepcionista que tinha a trazido até ali. Amanda percebeu que aquela mulher gostava de olhar os outros por cima. Então, ela falou algo que Amanda gostaria de ouvir, sobre saber que ela tinha muitas perguntas… Somente para quebrar sua expectativa em dizer que não as responderia agora. Amanda não conseguiu disfarçar um pouco de decepção em suas expressões, mas tornou a se sentir levemente satisfeita ao ouvir a confirmação de que aquela mulher tinha mesmo lhe enviado a carta e que aquele lugar se chamava Solar. Tudo bem, a mulher não iria lhe dar todas as respostas agora, mas pelo menos estava começando a dar algumas. Amanda só precisava ter paciência e logo entenderia tudo o que estava acontecendo.

Ao ouvir a mulher mandando-a que se levantasse, Amanda confirmou suas predições anteriores sobre ela. Ela realmente estava acostumada a mandar, deixava isso claro em sua voz, que não mostrava qualquer dúvida ao mencionar a ordem. Amanda não tinha porque contestar, iria entrar no jogo para descobrir mais informações, então levantou-se do sofá. A mulher parecia avaliá-la de cima abaixo depois de chegar mais perto. Logo depois de sua análise, perguntou a Amanda se ela sabia porque fora convidada até o Solar. Não sei. Foi o que Amanda pensou, embora ela tivesse uma ideia. A carta deixou isso claro ao mencionar os seus gostos peculiares, então envolvia eles, mas até onde isso iria? Se Amanda mencionasse algo, deixaria claro suas possíveis expectativas a respeito desses assuntos, algo que ela não queria fazer. Por enquanto, manteria-se obediente, tímida e observadora, descobriria as coisas aos poucos, comeria pelas beiradas, como dizem. Dito e feito, as novas frases da mulher lhe deram mais respostas. Ela prometia poder proporcionais os gostos mais profundos de sua visitante… Todas as coisas que Amanda buscava na internet. Aquela mulher sabia precisamente o que Amanda queria, como se a tivesse stalkeado. Ela sabia muito bem do que estava falando. A respiração de Amanda tornou-se mais profunda, ela estava começando a ficar ansiosa com aquela possibilidade. Nunca pensou que poderia tornar-se real, achou que sempre iria ser uma mera fantasia… Mas agora toda aquela fantasia estava se tornando realidade diante de seus olhos. Assim, fácil, com apenas uma carta. A facilidade de tudo aquilo deixava Amanda desconfiada. Não podia ser só isso. Seu olhar tornou-se perdido enquanto ela pensava sobre tudo aquilo, mas voltou-se para a mulher ao sentir os dedos dela em seu queixo, levantando a sua cabeça enquanto dizia que que só iria apresentar o local a ela e aquele novo mundo se Amanda realmente quisesse, se ela pronunciasse com clareza e sem indecisão que era essa a sua vontade. Ela, inclusive, daria um tempo para Amanda pensar e deixou-a sozinha na sala, fechando a porta ao sair

Gostaria eu de dizer que Amanda logo saiu pela porta confirmando, mas não foi isso que aconteceu. Ela, de fato, tomou pelo menos um minuto para sentar-se no sofá e processar aquelas informações. Tudo ainda estava nebuloso… Ou talvez não. Poderia haver mais por trás daquilo… Ou poderia ser apenas uma fantasia se tornando realidade. Não era sobre essas coisas mesmo que ela gostava de ver? De ler? Qualquer um que fuçasse em suas coisas descobriria que ela gostaria de viver isso. Okay, não dava para negar que era estranho alguém desconhecido fuçar em suas coisas de graça para início de conversa, mesmo assim… Ela não era uma mulher indefesa. Talvez, se fosse apenas uma mortal, ficasse com medo o bastante para ir embora e não enfrentar nada… Mas ela era uma filha de Hécate, meros mortais jamais teriam chance contra ela. Foi com essa confiança que Amanda decidiu seguir com este caminho, deixando sua curiosidade e desejos falarem mais alto. Ela se levantou do sofá e foi até a porta. Dessa vez, não teve problema algum em abrí-la, indicando que antes realmente tinham a trancado no local. Amanda encontrou a mulher ruiva escorada na parede do corredor. Mesmo com a postura mais despojada, ela ainda parecia elegante e altiva, como se fosse uma rainha criada na etiqueta desde pequena. Amanda se sentia uma plebéia com muita facilidade ao se comparar com a outra. A loira deu alguns passos em direção a mulher, se aproximando, para falar em alto e claro tom. - Quero conhecer o Solar. - Não teve problemas em encarar sua anfitriã. Ela queria firmeza, então Amanda daria firmeza não apenas em sua voz, mas também na sua linguagem corporal. A mulher respondeu com um sorriso e então se apresentou, seu nome era Alma, uma das fundadoras daquele lugar. Isso explica muita coisa. Amanda pensou, agora a postura altiva e sua voz mandona faziam todo sentido. Ela realmente estava acostumada a mandar, porque ela era a dona de todo aquele lugar. Estava em seu ambiente, em seu território, Amanda era uma visitante, mas poderia se tornar uma intrusa se aquela mulher quisesse. Alma estendeu uma das mãos para concluir o cumprimento, Amanda logo fez o mesmo gesto e, quando as duas apertaram as mãos, Alma a puxou para perto. Uau, ela tinha pegada! Em segundos, elas estavam tão próximas uma da outra que seus corpos se tocavam. Amanda não pode deixar de sentir expectativa em seu corpo… Assim como também sentiu arrepios quando a mulher começou a falar no pé de seu ouvido. Teve de se controlar ao máximo para não afastar-se por reflexo. O que Alma dizia? Basicamente, se Amanda quisesse continuar com a jornada de conhecer o Solar, teria de fazer algo para ela.

- Eu faço. - Amanda respondeu. Seu olhar era notavelmente desconfiado, afinal, não é todo dia que alguém te pede para fazer algo e nem fala que algo é este, mas tudo bem… Não podia ser tão ruim, certo? Qualquer coisa, ela fugiria do hotel sem problemas com uma magia ali e outra aqui. Com certa expectativa, Amanda aguardou curiosa o que ela deveria fazer e, para sua surpresa, não era nada capcioso. Era apenas passar um batom. Amanda pegou o batom das mãos de Alma e analisou-o. Apenas um batom, nada demais. Obedecendo sua anfitriã, Amanda começou a caminhar até o final do corredor, dando uma olhada para trás para ver se Alma estava a seguindo. Vendo o sinal da mulher para que ela continuasse, ela não mais esperou pela outra e foi até o espelho, parando na frente do mesmo e analisando seu rosto. Amanda gostava de seu rosto naturalmente, então usava pouca maquiagem. Uma base com filtro solar, uma sombra marrom nas pálpebras apenas para dar um destaque, às vezes um gloss para dar um brilho nos lábios. Coisas simples. Naquele dia, não tinha passado o gloss, então realmente não teria problemas em passar o batom. Abriu o objeto, ele revelou a tintura vermelha. Interessante. Foram poucas as vezes que Amanda se aventurou no batom vermelho, seria legal tentar novamente. Deveras inocente, ela começou a apertar a maquiagem contra os lábios, mas assim que o fez, sentiu uma dor incômoda no mesmo segundo. A dor vinha do batom, era óbvio, então por puro reflexo ela deixou o objeto cair no chão enquanto, observando o espelho, examinava os seus lábios. O inferior, agora, estava com um corte. Sangue saia facilmente, ainda que fosse um corte pequeno. A boca… Sangra demais. Vai por mim, essa que vos narra tem experiência própria em cortes de boca. Os olhos de Amanda, então, foram para Alma, olhando-a através do espelho. Ela fez aquilo, foi proposital, e a atuação dela pedindo desculpas pelo ocorrido foi extremamente canastrona. Com um semblante de pessoa que foi traída de alguma forma, Amanda virou-se para Alma, deixando-a ver o corte, já que era de sua vontade. A mulher fez questão de enxugar o sangue que escorreu com um dos dedos, em seguida entregou um lenço para Amanda se limpar. Tudo bem, foi proposital, mas a gentileza dela também estava sendo proposital. Amanda ficou num conflito de sentimentos entre a traição de ser enganada com algo tão banal quanto um batom e a satisfação de ter sido cuidada depois disso. Ela voltou a se olhar no espelho para limpar e pressionar um pouco o ferimento da boca, querendo estancar o sangue… Porém, as surpresas estavam bem longe de terminar.

Ocupada em cuidar do seu lábio no espelho, Amanda tomou um susto quando Alma subitamente colocou um bracelete em seu braço. Isso, por si só, já era o suficiente para deixar qualquer pessoa desconfiada, mas Amanda ficou bem mais do que desconfiada, ela ficou com medo. Seus olhos se arregalaram no momento em que ela sentiu aquele bracelete em si, porque ela tinha certeza que não era um adorno comum, ele era mágico. Ao sentir o bracelete em seu braço, ela também sentiu como se o objeto a envolvesse por completo com uma rede protetora. Amanda sentia que a rede não deixaria sua magia extravasar para fora, ela ficaria ali, dentro dela. Na prática: Amanda não podia usar a sua magia. Provavelmente também não iria conseguir tirar o bracelete por livre e espontânea vontade. Depois de olhar de forma arregalada para o adorno em seu braço, ela olhou para Alma, que estava com um sorriso de lado no rosto. Ela não precisou perguntar o que era o bracelete, Alma explicou que se tratava de uma identificação, informaria à todos do Solar que Amanda era uma convidada de Alma. Inclusive, a anfitriã mostrou que ela usava um bracelete similar, porém, apesar de conter o mesmo desenho, era dourado. O de Amanda era prateado e foi fácil visualizar a hierarquia. Agora sim, finalmente Alma a chamava para conhecer o Solar. Claramente ela não tinha falado tudo, havia alguma coisa por trás, porque aquele bracelete não era apenas um adorno de identificação, ela tinha certeza.

A partir daquele momento, quando as duas mulheres começaram a andar pelo local, Amanda poderia fazer perguntas, embora talvez nem todas fossem ser respondidas. Novidade. Ela pensou com ironia, considerando que não era a primeira vez que ouvia tal sentença. Nos primeiros minutos, Amanda ficou em silêncio, apenas observando com atenção o Solar. Tudo ali era muito rico, luxuoso e fino. Com certeza algo distante da realidade de Amanda, que era de classe média. Era impossível para ela disfarçar suas expressões ao visualizar os lugares, a sua curiosidade em cada canto, pois nunca tinha entrado num lugar como aquele antes. Às vezes, ela também olhava com a testa franzida, não entendendo certos gostos ou necessidades dos mais ricos, como algumas coisas que atendiam por comando de voz. As mulheres passaram por vários quartos, por salas de espera (algumas parecidas com a que Amanda ficou esperando), o Hall de Entrada, que era bem impressionante (não tinha como entrar nele sem sentir que parecia a entrada de um palácio), então chegaram, por fim, no Salão de Festas. Ele conseguia ser ainda maior e mais imponente do que o Hall de Entrada. Amanda se sentia num conto de fadas, onde as princesas acabam indo para um castelo onde o teto é mega alto e o espaço é grande para bailes onde várias pessoas dançam com seus pares. Claro, Amanda sabia que isso não aconteceria ali, mas o que somos nós sem nossas crianças interiores, não é mesmo? Foi, em meio aquele grande salão, que Amanda virou-se para Alma. Durante o caminho, ela tinha pensado nas coisas que perguntaria, no que diria. Não vou negar, foi bem difícil. Ao mesmo tempo que queria saber, não queria deixar claro o quanto gostaria de saber. Ela não queria deixar que Alma entrasse em sua mente tão fácil, dando a ela armas em forma de palavras. Seja como fosse, haviam duas coisas que Amanda mais gostaria de saber: como Alma sabia sobre a magia e… O que tudo aquilo tinha a ver de verdade com seus gostos mais profundos. Não me entenda mal, tudo até agora estava parecendo mesmo uma fantasia realizada, mas… Ainda faltava. Ela resolveu perguntar sobre isso primeiro. Se perguntasse sobre a magia, deixaria claro que, até o momento, foi a segurança nela que a fez avançar naquele caminho. Amanda não queria deixar tão claro que estava consideravelmente mais fraca sem seu poder. - Eu quero saber… - Por um momento, ela pensou em como poderia deixar claro o que queria, então continuou. - Quero saber onde está o outro lado deste lugar. O lado de verdade. - Por favor, estava claro que o Solar era muito mais do que aquelas áreas que pareciam muito bem um hotel de luxo comum. - Você viu minhas pesquisas. - Amanda falou, tentando evitar ficar envergonhada, mas seu rosto corou um pouco. - Conseguirá me satisfazer mesmo? - Sim, foi uma pergunta muito soberba, especialmente quando direcionada para a dona do lugar, mas foi a melhor forma de Amanda demonstrar que não era indefesa. Fora que… Ela realmente estava curiosa sobre essa pergunta, foi sincero, ela queria saber… Era tudo apenas uma promessa… Ou… Realmente haveria o que ela sempre quis?
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Evanora K. Volkova Sáb Jun 03, 2023 10:47 pm


O Tesouro do Oceano
08 - O Velho maluco de pijama
Evanora lutou contra o próprio sono enquanto Betsy Ross dormia. As duas tinham conseguido pegar o ônibus da madrugada de Los Angeles a São Francisco, e de certa forma foi reconfortante para a filha de Hades saber que a loira conseguira dormir rápido mesmo depois do que vira. Antes que elas embarcassem, uma certa preocupação atormentava a mente de Evanora. Ross talvez não tivesse assistido detalhe por detalhe o que ela fizera a Crusto, até pela posição a qual ainda estava restrita na cama, mas logo após ver o estrago saíra às pressas da loja. Talvez fosse por conta do sangue... Evanora já entendera que a filha de Hermes agia com certo nervosismo e aflição perante situações que envolviam sangue, mas o que realmente a estava atormentando era imaginar o que a loira estaria pensando após testemunhar um relance de sua parte mais sombria. Um relance do quanto a satisfazia estar no controle de uma situação, e o quanto a satisfazia ser cruel. Crusto não era uma pessoa boa, não era sequer uma pessoa. Mas aquilo não fazia muita diferença para Evanora. Ela sentia que seria perfeitamente capaz de fazer algo parecido a uma pessoa sem sequer se importar. Mas será que aquilo teria assustado Betsy Ross? Será que aquilo teria feito Betsy Ross querer, enfim, afastá-la? Aquilo a teria feito enxergar, de verdade, o que Evanora sempre a alertara sobre si mesma? Aquilo poderia tê-la feito perceber que não eram ameaças vazias ou algum tipo de brincadeira feita apenas no intuito de provocar?

Após uma respiração mais profunda, Evanora tentou relaxar no assento do ônibus. Guardou as mãos no bolso da moletom preta que vestia e tentou pensar em outras coisas, mas era impossível. Apesar de continuar relutando em aceitar, a cada dia que passava ficava mais perceptível que, mesmo sendo uma péssima “mãe”, Tatiana a conhecia melhor do que Evanora um dia admitiria a si mesma. Existia, de fato, algo obscuro nela. Por muito tempo recusou-se a acreditar que estivesse lá desde seus primeiros anos de infância, desde seus cinco ou seis anos. Sempre julgou-se apenas indiferente a tudo, uma criança que não tinha interesse em nada… Mas e se realmente fosse… ? E se sentisse prazer em ser má a quem a irritava? Isso esteve nela desde sempre? Não teria sido apenas consequência da maternidade questionável de Tatiana? Não teria nascido de uma necessidade em criar uma defesa, mas já lhe era intrínseco?

As pálpebras de Evanora começaram a pesar. O que a impedia de dormir era a preocupação de vigiar enquanto Ross estivesse adormecida. E a angústia de não saber se, dali em diante, a loira passaria a olhá-la de forma diferente, se enfim buscaria um afastamento. Por que sentia-se incomodada com a possibilidade? Outra vez a bagunça que a filha de Hermes fazia em sua cabeça. Mesmo sem sequer estar consciente na ocasião…

Em algum momento, vencida pelo cansaço, Evanora enfim dormiu. Ao acordar, percebeu que a seu lado a loira também já estava acordada. Nenhuma das duas disse uma única palavra, porém. Nem mesmo quando desceram do ônibus, e a filha de Hades passou a guiar o caminho. Nos dias anteriores, enquanto ainda estavam de carona com o filho de Hefesto, o qual só de lembrar irritava Evanora, elas tinham discutido sobre o que fariam quando enfim chegassem a São Francisco. Apesar de não conhecer a cidade como a palma de sua mão, Evanora já estivera ali, então ficou decidido que seria ela a guiar. Mas para onde? Bem, se aquele que procuravam era conhecido como "velho do mar" e um deus menor dos oceanos, certamente o encontrariam em algum porto, ou píer. Antes de seguirem para o local, porém, pararam para um breve almoço. Almoço este pouquíssimo regado a palavras. Sequer um comentário sobre o que acontecera, sobre o que viria, nada. Ross estava tão silenciosa quanto Evanora, o que aumentava a inquietação da filha de Hades. Queria ao menos um sinal, um mínimo sinal que lhe mostrasse que Ross não tinha se assustado. Algo que lhe garantisse que a relação das duas continuava normal, se é que tal palavra seria adequada. Mas não obteve sinal algum, e também não pediria. Assim como Andrei, se fosse da escolha de Betsy Ross "partir", ela nada faria.

Quando chegaram ao píer de São Francisco, felizmente foi a filha de Hermes quem tomou a frente para perguntar sobre um possível velho estranho que os marinheiros pudessem conhecer, ou já ter visto várias vezes. E eles de fato o conheciam. Chamavam-no de "aquele velho maluco de pijama". Já tinha passado pela mente de Evanora a possibilidade da aparência dele ser a de um maluco, ou o que a maior parte das pessoas julgava como maluco. Na opinião da filha de Hades, alguém tão sábio e que tenha tanto conhecimento e respostas, só pode ser maluco. Ninguém que sabe tanto pode ser muito são. Mas os pijamas a surpreenderam. E foi a informação na qual elas focaram para enfim encontrá-lo, minutos depois. Era de fato um velho, mas nada comparado à imagem que tinham visto no livro. Evanora quis responder que a filha de Hermes tirara as palavras de sua boca ao fazer um comentário justamente sobre isso, mas viu-se surpresa em enfim vê-la comentando algo, enfim puxando conversa, acalmando parte da inquietação de Evanora. E a aparência de Nereu pessoalmente era realmente muito diferente da retratada no livro. Ali, poucos metros à frente delas, não estava um velho musculoso, de barba bem feita. Ao invés disso, sua barba era enorme, aparentando não ser feita há muito tempo, suja e com vários fios escurecidos pela sujeira. Totalmente o oposto de musculoso, Nereu era gordo, mas ao menos na descrição dita pelos marinheiros ele se encaixava perfeitamente. Ao redor dele, as pessoas que passavam lançavam olhares pouco amigáveis em sua direção. Olhares de julgamento, de repulsa, de nojo. E Evanora imaginou que talvez fosse justamente a intenção dele… Manter curiosos afastados. Ela mesma usava de técnicas parecidas para dar um recado simples às pessoas: Fique longe. Portanto, não seria ela a julgá-lo "É ele". Foram as duas curtas palavras que saíram de sua boca ao perceber o olhar de Ross, que a encarava como se perguntasse se aquele realmente seria quem procuravam. Em seguida, foi a vez da filha de Hades encarar a loira, como se dissesse "É você quem vai perguntar". E Betsy Ross estava se tornando uma grande especialista em entender seus olhares, pois imediatamente lançou um de seus comentários afiados sobre Evanora precisar melhorar suas habilidades sociais. Aquilo fez a filha de Hades dar um sorriso muito discreto. Ali estava de novo a Ross que conhecia, de língua afiada, sua ostryy yazik. E um comentário simples, mas carregado de significado, foi o suficiente para acalmar a inquietação que tanto vinha incomodando-a. Restava, então, que falassem com o velho sábio do mar.
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Mary Betsy Ross Dom Jun 04, 2023 7:05 pm

Dia 5 - 11:45
Píer de São Francisco
S08P08
Mary e Evanora pegaram o ônibus da madrugada de Los Angeles para São Francisco. A filha de Hermes acreditou que, depois do que passou na loja de Crusto, ela não iria pegar no sono, porém, em menos de uma hora de viagem ela acabou adormecendo, se aproveitando da penumbra de poucas luzes instalada no ônibus noturno e no balançar que o mesmo fazia junto a estrada. No dia seguinte, Mary acordou ainda no ônibus. Este, felizmente, não estava sendo caçado por lestrigões. Evanora estava ao lado dela já acordada. Mary sentiu tentação de perguntar se ela sequer tinha dormido, mas achou que não seria uma pergunta decente para fazer de sua parte. Quer dizer, quantas pessoas devem achar que filhos de Hades são, literalmente, mortos vivos que não precisam dormir? Melhor não, Mary sabe qual é o momento em que não deve falar. Além disso, Mary também não queria conversar. Ao acordar, seus pensamentos não demoraram a sintonizar em tudo o que tinha acontecido no dia anterior, principalmente o que tinha acontecido no Palácio de Camas D'Água do Crusto. Agora, mais calma, sem sangue por perto, ela conseguia pensar melhor nos detalhes daquela situação. O que mais se lembrava era de Evanora observando-a amarrada na cama de água. O que aquela garota tinha com cordas? Primeiro tinha prendido as mãos dela no Arsenal, depois ficou olhando-a amarrada na cama de água de Crusto. E o que você tem com cordas, Betsy Ross? Ela acabou se perguntando. No Arsenal, sentiu-se à vontade com as cordas. Não foi diferente na cama de água de Crusto, somente ficou desesperada ao notar que elas cordas esticavam, fora isso, ela conseguiu se acalmar quando precisou ficar parada para que elas não apertassem mais. Intrusivamente, ela se lembrou dos longos olhares que recebeu de Evanora e, dessa vez, sentiu que estava ficando com as bochechas coradas. Na ocasião, tendo seus membros puxados, não houve espaço para a vergonha, mas agora tinha. Aquilo tudo estava muito… Muito errado. Então porque, em sua mente, parecia tão certo? Lá no fundo, ela estava se imaginando sendo amarrada numa cama por Evanora.

Quando, finalmente, chegaram a São Francisco, foi Evanora quem começou a guiar em vez de Mary. A filha de Hades já tinha estado ali antes em outra missão, então era mais prudente que ela guiasse. Nos dias anteriores, principalmente quando paravam nos hotéis de beira de estrada, elas conversavam no que fariam quando chegassem a São Francisco. Foi o que fez com que o filho de Hefesto soubesse o porquê delas estarem indo para a cidade, ainda assim, os planos serviam para o momento atual. Como achariam Nereu? Elas não sabiam, mas tinham uma ideia de que ele deveria estar perto do mar, já que era um deus marinho. Sendo assim, elas decidiram que o primeiro lugar a procurar seria o pier de São Francisco. Como tinham chegado em São Francisco perto da hora do almoço, antes pararam para comer, então seguiram até o pier. Lá, Mary começou a perguntar informações para qualquer marinheiro recorrente no local. Ela perguntou para mais de uma pessoa e ambas concordaram em saber onde fica “ah, o Nereu, aquele velho maluco de pijama”. Sendo assim, não havia dúvidas, parecia que o Nereu que elas procuravam realmente ficava naquele pier e parecia um velho maluco que usa pijama. Seguindo as indicações das pessoas que Mary perguntava, elas enfim encontraram Nereu. - Ele é muito diferente de como é retratado nos livros do acampamento. - Mary comentou para Evanora, as duas ainda estando distantes do velho, mas podiam vê-lo com clareza. Ele não parecia em nada com o velho musculoso de barba bem feita que estava retratada na gravura do livro, pelo contrário, ele era um velho gordo com barba enorme por fazer, suja a ponto dos fios brancos virarem amarelos. Ele, de fato, estava usando pijama, o que deixava a cena super esquisita. Em sua mão, ele segurava uma garrafa de cerveja, bebia ela e olhava para o mar, totalmente alheio aos vários mortais que o olhavam com olhos surpresos e atravessados. Quando as duas se aproximaram dele, o velho deu um super arroto. Já não basta o cheiro ruim que ele exalava por si próprio, o arroto conseguiu poluir ainda mais o ambiente. Mary olhou para Evanora, perguntando com os olhos se aquele realmente era o Nereu das histórias, o “velho homem do mar que a tudo conhece”. No fim das contas, não tinha alternativa a não ser falar com ele… E pelo olhar de Evanora, estava claro que Mary quem iria fazer as honras. - Você tem que melhorar essas suas habilidades sociais. - Mary comentou, contrariada, então seguiu na direção do velho, dessa vez indo de fato falar com ele.
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Drew Hunter Baudelaire Dom Jun 11, 2023 3:48 am

Proving the opposite for a daughter of Aphrodite
- Tudo bem, eu vou falar com ela, ok? – àquela altura, eu e Astoria já estávamos discutindo por um motivo bobo. Não que minha irmã fosse um tema irrelevante, mas eu também não sabia explicar a razão de ainda estarmos falando sobre ela. Era como se estivéssemos arrumando algo para debater sobre, embora fosse mais por conta da loira do que por mim. Era sempre ela que se irritava - Pode ficar tranquila, princesa. Eu vou te deixar em paz – dei as costas, começando a tomar rumo para sair da área de combate. No entanto, algo me fez parar. O silêncio finalmente dominou e eu me virei para vê-la dando meia-volta para o lado contrário. Parte de mim se incomodou pelo fato de ela ter aceitado minhas palavras e não insistir - Até nunca mais – foi mais forte do que eu. Para ser sincero, foi mais rápido. Eu nem sequer pensei antes de dizer aquilo, mas assim que ela se virou para retrucar, eu senti um sorriso no canto dos meus lábios - Patricinha – a rotulei, recebendo um “melhor do que ser um ladrãozinho barato" de volta - Egocêntrica – uma batalha de ofensas se iniciou à medida que também voltávamos a nos aproximar um do outro - Fútil – mas assim que ela respondeu de volta, eu notei um movimento pela visão periférica. Estava distante, mas se eu não tivesse desviado o rosto por curiosidade, o pior poderia acontecer. Uma flecha voou rápido na nossa direção, no que eu senti Astoria me empurrar na mesma hora. Involuntariamente, eu acabei a puxando pela cintura a fim de protegê-la. Foi um ato completamente inconsciente, o tipo de situação que ocorria sem que pudéssemos ser racionais. Era instintivo. Eu logo estava colado a ela e voltando a sentir sua respiração no meu rosto outra vez. Eu não consegui tirar os olhos dos seus. Minha pele se arrepiou em contato com a sua e todo o clima de antes se dissipou. Por tudo ter acontecido muito rápido, agora estávamos ofegantes, mas apreensivos com o resultado das atitudes de defesa. Com dificuldade de fazer qualquer outra coisa, eu precisei me forçar para encontrar o autor daquele disparo. Apolo? A senti se desvencilhar e eu me afastei ainda mais - O que ele está fazendo aqui? – intrigado, me voltei para a mulher, antes de enfim nos dirigirmos até a divindade. Me lembrava de ter feito algumas poucas missões para ele quando mais novo. Dificilmente ele resolvia requisitar meus serviços na vida.

Após mencionar Héstia e a pressa em que estava para sair do acampamento, o deus retirou três flechas iluminadas de sua aljava e as entregou para a instrutora. Com um olhar carregado de urgência, se tornando muito mais sério, ele relatou sobre uma vila nos arredores de São Francisco que havia sido alvo de uma maldição ou feitiço. Uma doença se alastrou entre os moradores do local como uma epidemia, na qual os sintomas eram bem preocupantes. Embora ainda existissem alguns infectados em estados mais brandos, também haviam aqueles os quais estavam sofrendo com comportamentos agressivos. A forma de contato ainda parecia desconhecida e, por isso, era necessário cautela. Eu ouvia as palavras do deus com atenção, mas vez ou outra, desviava os olhos para as flechas nas mãos de Astoria. Foi então que ouvimos que naquelas armas, se encontrava o poder de cura - Espera, só três? – quis me certificar de que a quantidade estava certa. Eram muitas vítimas daquela doença para serem curadas com apenas três flechas. Contudo, Apolo afirmou que uma luz cintilante envolveria os mais próximos, maximizando o efeito. Com algumas últimas instruções sobre como agir, ele logo se virou para mim ao adicionar uma informação. Para aquela missão, alguém seria enviado para roubar a cura e era aí que eu entrava. Eu forcei um sorriso de canto ao ouvir seu comentário sobre um ladrão reconhecer outro. A questão é que foi a partir dali que a ficha caiu. Eu iria numa missão com Astoria? Não sabia muito o que pensar, mas assim que me permiti dirigir um olhar mais significativo a mulher, acreditei que o mesmo acontecia com ela. Por um momento, ainda quando Apolo persistia falando, foi como se já começássemos a discutir por uma troca de olhares. Era muito claro o que ela estava pensando, Astoria não conseguia disfarçar. Então, eu senti o deus se afastar e logo desaparecer. Um silêncio se seguiu depois disso, como se nenhum dos dois quisesse dizer alguma coisa ou tivesse coragem. Estávamos apenas processando o tanto de informações, porém, vendo-a começar a se estressar, ou ao menos, era o que eu acreditava que fosse ocorrer, eu decidi dizer algo - Olha, eu não vou desobedecer um deus. Eu já fiz isso e não foi legal – levantei as mãos como se estivesse me rendendo de alguma forma e logo as descansei na cintura.

No fundo, eu esperei que a mulher fosse ser contra. Eu a vi travar uma luta interna, talvez estivesse tomando ciência dos fatos e planejando algo consigo mesma. Mas quando eu esperei que ela fosse se conformar e simplesmente aceitar, foi quando eu a ouvi rebater minhas palavras ao mencionar meu passado com Hera - É sério que você quer falar sobre isso? Quanta maturidade, Astoria – perder o posto de herói da deusa foi o que causou a minha má reputação. De certa forma, ainda era de se admirar que Apolo surgisse para me requisitar para uma missão. Foi depois de ser expulso pela deusa, que missões se tornaram algo muito distante para mim. Fazia tempo que eu não via algum olimpiano surgir por vontade própria na minha frente - Por mim, se você se recusar a ir, não tem problema nenhum. Eu consigo muito bem fazer isso sozinho – me aproximei rapidamente, tomando as flechas de suas mãos. Acontece que ela foi relutante em me deixar pegar as armas. Encarando-a pelo que pareceu um longo tempo, finalmente a ouvi dizer que estaria me esperando no dia seguinte para seguirmos rumo a São Francisco. Minha atenção desceu até seus lábios automaticamente e eu sorri, voltando-a para a imensidão azul que eram seus olhos. Ergui as mãos em sinal de paz e me afastei - Sim, senhora – lentamente, comecei a recuar - E vê se toma cuidado com essa lança, você vai matar alguém assim. Tem crianças no acampamento – gesticulei com o indicador, uma vez que eu percebi sua mão segurando o objeto com tamanha força. Com um sorriso mais largo, finalmente dei meia-volta e me retirei do local.

[ARREDORES DE SÃO FRANCISCO – VILA RURAL]

Não foi muito difícil chegar à vila, considerando que São Francisco não era uma cidade tão grande assim. Já haviam algumas notícias envolvendo uma doença espalhada pelos arredores, o que facilitou na comunicação na hora de chegarmos ao nosso destino. No meio disso tudo, eu e Astoria nem sequer falávamos um com o outro. Pegamos um avião até a cidade no outro lado do país como se fôssemos realmente parceiros profissionais. Ainda era um pouco difícil de acreditar que eu tinha uma missão para realizar na sua companhia. Eu me pegava a observando vez ou outra, mas incrivelmente, não havíamos batido boca em nenhum momento - Deveria ser ali – toquei minha faca no bolso da calça, me assegurando de que minhas armas ainda estavam comigo. A mulher estava na posse das flechas e eu havia preparado a Alithís para aquele tipo de serviço. Se iríamos nos esbarrar com algum ladrão, precisávamos que ele tivesse seus segredos revelados. Eu estava pronto para qualquer tipo de artimanha. Logo, assim que nos aproximamos de um grupo de pessoas que pareciam enfermas, Astoria as abordou com algumas perguntas para que tivéssemos certeza de com quem estávamos lidando. Bastou apenas três segundos para confirmarmos que estávamos realmente no lugar certo e eu senti alguém vir correndo na minha direção. Era um homem quase sem cabelos, de pele pálida e trajado com uma daquelas roupas de hospital. Gritos ecoaram e pessoas saíram da frente. Eu consegui ouvir alguém me avisar para tomar cuidado, mas não tive tempo de fazer muita coisa, a não ser dar um passo para o lado e ver o homem pular e cair no solo terroso daquele local. Eu me virei para a loira ao meu lado, que por sua vez, arregalava os olhos na minha direção, como se eu tivesse feito algo errado - O cara ia me atacar – eu tinha feito o que qualquer um faria, no entanto, resolvi dar a atenção ao rapaz caído. Mas quando fiz menção de ajudá-lo a se levantar, senti meu braço ser pressionado com força. Ele abriu a boca como se fosse me morder e sem nem pensar duas vezes, saquei minha faca como defesa. Eu ouvi meu nome soar da garganta de Fournier como uma repreensão - VOCÊ QUER QUE ELE ME MORDA?! – agora era eu arregalando os olhos em sua direção. O homem aparentava estar claramente infectado com a doença - Ele faz parte de um dos agravados! – meu braço se encontrava trêmulo, enquanto eu fazia esforço para controlá-lo de seguir adiante com o comportamento.

Eu percebi a loira ficar meio ansiosa sobre o que fazer, mas então ela se mexeu e me pediu para que a ajudasse a organizar os adoecidos em grupos - É, quero ver como que eu vou fazer isso – sussurrei entredentes, finalmente voltando a encarar o amarelo dos olhos daquele homem ainda no chão. Sem ter muito o que fazer e tomando cuidado para não machucá-lo, o chutei de supetão e me afastei depressa até onde Astoria havia ido. Rapidamente, tentamos organizar aqueles que ainda pareciam estar em sã consciência e calmos o suficiente para nos ouvir. Nenhum pareceu reclamar ou contestar, o que facilitou o processo. Nesse meio tempo, eu também cuidava para dispersar um quarteto de violentos que também queria se aproximar. Apontar minha arma na direção deles parecia ser a chave, visto que eles apenas se juntavam em bando e não avançavam com medo - SERÁ QUE DÁ PARA ANDAR MAIS RÁPIDO?! – estava de costas para a filha de Afrodite, que segurava uma das flechas e pedia tranquilidade para aquela pessoa que seria seu alvo. As que estivessem próximas seriam envolvidas pela aura da cura - Vocês não vão querer se aproximar – disse baixo, como se aquilo pudesse ser capaz de fazer os adoecidos a minha frente se esquivarem. Era como se eu estivesse fazendo uma barreira para Astoria atuar e curar os demais atrás de mim. No entanto, tínhamos que ser rápidos, eu estava sozinho naquilo. Não sabia dizer se algum deles se arriscaria a me atacar, mas conforme a quantidade foi aumentando e se juntando, finalmente aquilo ocorreu. Eu senti um deles me pegar pelo braço e uma força extraordinária me fez perder o senso de tudo. Eu só torci para que a contaminação daquela doença não fosse pelo ar, afinal, eu agora estava muito próximo de um dos infectados. Tentei me desvencilhar, mas eu estava travando uma luta com alguém com o dobro da minha força. Eu nem tive tempo para pensar, ele agia com muita impulsividade - Astoria, uma ajudinha aqui ia ser perfeito – mas ela nem pareceu me escutar, ainda estava concentrada em flechar outros grupos - ASTORIA! – e finalmente ela agiu.

Quando eu me senti liberto, me desviei vendo os infectados que agora avançavam em direção à mulher e guardei minha faca - Você sabe o que fazer – meu olhar já dizia muito e ela tinha captado. Como uma nata filha de Afrodite, ela usou da persuasão para seduzir cada um dos violentos. Eu busquei por uma das flechas na aljava que ela carregava e contornando-a numa pirueta, abusei do meu poder de velocidade para cravar a arma em cada um dos seduzidos pelo charme dela. Tudo aconteceu tão depressa, que assim que eu flechei o último, senti uma energia me invadir. Eu me endireitei, fechando os olhos ao passo que meu corpo relaxava. Assim que os abri, encontrei uma Astoria diferente a minha frente. Ela emanava uma aura mais convidativa e... bonita. Seus cabelos brilhavam, sua pele reluzia em contraste com o sol, seu sorriso parecia mais genuíno e seu olhar era magnético. Porém, duas vozes adiante, que antes estavam abafadas, me chamaram atenção e assim que a filha de Afrodite se virou em direção ao som, a sensação foi outra. Era como se eu tivesse acabado de ser tirado de um transe, no qual eu precisei de um tempo para entender o que havia acontecido. Mas meu nome foi soado e eu nem tive muito o que processar, visto que um homem vinha na minha direção sem cerimônia. Eu bloqueei sua mão assim que ele tentou desferir um golpe - Quem é você? – contudo, não obtive resposta. Ele tratou de usar seu outro punho, no que eu fui ágil o suficiente para me agachar e desviar. Assim que me levantei, busquei por aquele braço vago e o imobilizei por completo. Nesse momento, me permiti olhar para trás para encontrar Astoria lutando com uma mulher - Ah, vocês são os ladrõezinhos – era até engraçado tachar alguém com aquelas palavras, uma vez que eu também “vestia aquela camisa”.

Com o inimigo preso, seus braços cruzando seu corpo como se estivesse numa espécie de camisa de força, ele aproveitou para me pegar desprevenido. Se curvando e fazendo força, eu senti meu corpo ser içado até dar um mortal e cair no chão a sua frente. Eu logo rolei pela terra, gemendo de dor pelo baque, o que foi sincero. No entanto, usufruí disso para dar o troco assim que vi o homem se agachar para pegar minha arma. Ser filho de Hermes também era ter domínio de todos os tipos de mentira. Fingir vulnerabilidade para que o oponente baixasse a guarda era quase como uma assinatura minha. Eu tirei a faca do meu bolso e cortei seu tornozelo, me levantando no momento em que ele se ajoelhou involuntariamente - Quem mandou vocês dois? – sofrendo pela dor, ele ainda não tinha se dado por vencido. Sua ira fez com que tentasse algo a mais, mas com a agilidade de uma boa cria do meu pai, passei a lâmina pelo seu ombro, cortando mais um pedaço da sua pele - Quem mandou vocês? – ignorei seu grito, falando ao pé do seu ouvido, enquanto ele ainda estava de costas. Então, a oponente de Astoria surgiu caindo ao lado de seu parceiro e eu me afastei - Mais uma chance. Quem mandou vocês? – eles se entreolharam e eu fiz o mesmo com a filha de Afrodite, que subitamente retirou seu colar e o expôs aos dois - O que você está fazendo? – era um item dado por sua mãe. O efeito era simples: os desejos de seu alvo iriam ser transparecidos - Eles querem as flechas. Apolo disse que alguém apareceria para roubá-las – a lembrei com uma leve impaciência. Era mais do que claro, entretanto, Astoria estava persistente. Ela acreditava na possibilidade de haver algo a mais. Um segundo se passou. Cinco segundos, dez segundos, quinze segundos e nada aconteceu. Os dois pareciam imóveis e hipnotizados de alguma maneira - Por que não está funcionando? – levou um tempo para que a loira respondesse, mas assim que ela revirou os olhos, eu fiquei mais curioso - O quê?! – finalmente, ela tornou a me olhar com uma expressão de poucos amigos. Eu tentei lê-la e a ficha começou a cair.

Sem dizer nada, eu me aproximei do homem e o desferi um soco no rosto. A força foi tanta que eu acabei sentindo o nó dos meus dedos latejarem. Chacoalhando a mão, eu me afastei para ouvir uma provocação da loira sobre eu ter tomado aquela atitude por ciúme. Eu a fitei com os olhos serenos e um sorriso já anunciando uma risada em seguida - Nem tudo gira em torno de você, Fournier – o colar dos desejos não aparentava estar fazendo efeito, pois o desejo do homem estava bem ali na sua frente. Astoria era o objeto de sua querência e, convenhamos, não se tratava de ciúme. Eu só não poderia deixar com que uma mulher fosse faltada com respeito, certo? Mas tão logo, algo aconteceu para nos fazer voltar ao presente. Naquele momento, os dois se levantaram, mas eu nem me agitei. Tirando a Alithís do outro bolso, eu a lancei contra a perna do rapaz, fazendo-o gritar novamente. A sua companheira se levantou para tentar algo, mas Astoria foi bem habilidosa ao impedi-la - Quem mandou vocês? – agora não tinha como mentir, não havia como eles escaparem mais daquelas perguntas. O rapaz até tentou tirar a arma de sua coxa, mas eu logo me aproximei para afundá-la ainda mais e rodá-la como uma tortura. Astoria aproveitou da situação para perguntar quem eles eram. Filhos de Ares. Eu me virei para constatar a instrutora revirando os olhos àquela resposta. Chegava até ser clichê um filho do deus da guerra se encantar por uma filha deusa do amor. Eu girei a pequena faca ainda mais no músculo dele - Quem mandou vocês? – um herói de Hera. Não procurei aprofundar o assunto, afinal, não era interesse meu. Além do mais, eu já havia sido um e poderia compreender os desejos aleatórios da deusa. Era por isso que eu tinha decidido ir contra a mulher de Zeus. Ela não possuía princípios e era basicamente movida pelo seu ciúme exacerbado. Não tinha certeza do motivo de Apolo estar envolvido com aquilo, mas também não tive vontade de saber.

- Dois filhos de Ares que não sabem lutar? – arqueei uma das sobrancelhas. De perto, eu os encarei por um momento, especialmente pelo silêncio que se seguiu. Levou apenas uma fração de segundos para eu captar a mentira ali. Eu tinha conhecimento de leitura corporal, sabia exatamente quando alguém escondia algo, mas confesso que não compreendi a razão de um fingimento. Era uma estratégia? - Por que- - mas eu nem consegui completar. Com uma rasteira abrupta vinda da mulher, eu perdi o equilíbrio, dando oportunidade para o homem tirar a Alithís da sua perna e montar sobre mim. De relance, Astoria foi pega de surpresa pela outra, que tirava uma arma de um pequeno colar de pingentes. Tudo aconteceu muito rápido. Senti meu pescoço ser tomado, no que eu tentei fazer força para retirar a mão do indivíduo. Seus dedos forçaram mais um pouco e eu gritei em automático, revirando os olhos para as minhas duas facas que haviam caído. Ele pareceu perceber e as chutou para longe. Esse era o problema de duelar com um filho de Ares. Eu havia tido poucas experiências com eles, mas confesso que sempre preferia despistá-los do que travar uma luta. Combate costumava ser o ponto forte deles - Vamos... fazer um acordo – tentei falar em meio a minha respiração começando a se tornar falha. Foi aí que ele se sentiu ainda mais irado, mas por instinto, eu movi uma das pernas e o chutei em seu ponto fraco. Ele finalmente me soltou e eu o rolei para o lado, socando-o algumas vezes. Sangue começou a escorrer de seu nariz, mas subitamente, eu percebi seus olhos se tornarem vermelhos. Seu peito subiu, como se ele estivesse prestes a juntar fôlego para fazer algo. Um grito. Foi tudo para me fazer desmontá-lo e girar para o lado num mecanismo de defesa. Eu levei as mãos aos ouvidos, sentindo um longo e intenso zumbido a partir dali. A potência do berro me fez ficar zonzo e perder um pouco dos sentidos. Eu senti que ficaria surdo. Quando eu finalmente pressenti que ele havia cessado com aquilo, precisei de um tempo para me recobrar por completo, mas assim que destampei meus ouvidos, senti algo úmido por entre meus dedos: sangue.

Eu tentei me levantar, mesmo que com dificuldade. Meus olhos seguiram até onde algumas vozes ainda abafadas ecoavam. Era Astoria lutando, mas ela parecia se esforçar demais. Cansada, ela tentava desviar de golpes, mas a filha de Ares estava claramente a vencendo cada vez mais. Já próximo a mim, eu senti um movimento e assim que me virei, o que não foi tão rápido pela minha tonteira ainda presente, vi meu oponente tentar me golpear. Eu até consegui me desviar e correr atrás da minha arma. Recuperando-a, eu a joguei sem muita expectativa. A ponta da lâmina cravou na lateral do corpo do homem, o que me ajudou, já que ele ficou um pouco lento por ter sido acertado. Eu corri em sua direção, mas não esperei ver uma potência em seu olhar. Foi inesperado, como se ele não sentisse mais nada, ignorando qualquer dor que sentisse. De súbito, ele partiu para cima de mim como um animal. Eu tentei ser ágil para fugir de alguma maneira, mas um soco no chão me impediu. Foi um abalo sísmico, o suficiente para ele conseguir avançar e me interceptar. Eu fui praticamente jogado contra uma parede de uma das pequenas casas daquela vila. Meus olhos rumaram até Astoria. Ela se encontrava na mesma situação. Uma tensão subiu e mesmo que estivéssemos distantes um do outro, eu a olhei com afinco. Eu queria que uma conexão se criasse entre nós dois, queria que ela captasse minha intenção. Eu não precisei dizer nada, mas desejei que ela confiasse em mim. O filho de Ares me tomou pelo pescoço mais uma vez e eu desviei minha atenção para ele, mas eu agora não iria mais lutar - Bandeira branca! – ergui as mãos em sinal de rendição, mas ele não pareceu me levar tão a sério de primeira - Eu tenho o que vocês querem, ninguém precisa gastar energia lutando – o encarei com uma certa perseverança, após ter quase me atropelado nas minhas próprias palavras. Eu precisava persuadi-lo e, portanto, juntei forças para utilizar daquele poder - As flechas são suas e todo mundo sai vivo – ouvi Astoria gritar para que eu não fizesse aquilo.

O filho de Ares logo demonstrou dúvida, mas eu sabia que tinha mudado de ideia quanto a luta. Ele se afastou lentamente, me dando mais liberdade para enfim respirar. Seu olhar ainda era bastante sério, mas ele logo se virou para a sua irmã numa tentativa de buscar por sua opinião - Isso aqui é uma vila, as pessoas estão olhando – disse baixo, enquanto o via subir os olhos para notar a população assustada ao nosso redor - Você não vai querer matar alguém com gente olhando. São testemunhas – continuei a convencê-lo. Crias do deus da guerra costumavam ser brutamontes e dificilmente captavam alguma coisa que estivessem nas entrelinhas. Obviamente que eu estava utilizando meu poder de persuasão, mas cá entre nós, nem era necessário se esforçar tanto numa comunicação com eles. Ele tão logo se afastou e me encarou feio, se aproximando de sua irmã e de Astoria, uma vez que a última estava com as flechas. Eu o segui, fixando minha atenção na aljava que finalmente era pega por ele. Dali, um contato visual se fez entre nós dois, enquanto eu também me atentava ao fato de que ele seguia segurando a bolsa. As armas de cura ainda estavam dentro dela. Ele se virou para se retirar com a sua irmã, mas eu quis chamar sua atenção pela última vez - Mande lembranças para o seu herói de Hera gracejei com o semblante ainda bem sério. Ele se voltou para mim, mas eu ainda precisava forçar um pouco mais - Vê se melhora no treinamento! Precisa aprender a usar seu lado esquerdo – pronto, foi o que o fez se irritar para se aproximar novamente. Assim que o fez, eu percebi a filha de Ares agindo com muito mais sensatez. Com tantas experiências de vida, eu aprendi a notar como dois parceiros se comportavam diante das situações. Enquanto um teria o gênio forte, sempre existiria o outro para ser o racional e impedi-lo de fazer algo que não fosse valer a pena. Nesse momento, aproveitando de que as atenções estavam todas em nós, eu levei minha mão até a ponta das flechas dentro da aljava. Com agilidade, mas tomando cuidado para continuar desapercebido, eu escondi as armas dentro da minha calça na parte traseira. Entende por que filhos de Ares eram burros? Dificilmente eles percebiam o que acontecia ao redor deles.

Acalmando seu irmão, a mulher o afastou dali e ambos deram meia-volta para seguirem seu rumo. Enquanto eu persistia atento, esperando que eles logo se tornassem pontinhos pequenos no horizonte, foi quando eu ouvi a voz imponente de Astoria. De cabeça quente, ela reclamava sobre eu ter sugerido dar as flechas de Apolo de mão beijada. Com um suspiro pesado, eu me virei até ela e continuei calado e paciente, ouvindo seu sermão... até o assunto pender para o passado. Anos atrás, eu havia tido o desprazer de ir em uma missão ao seu lado junto com outros semideuses, mas o resultado não tinha sido um dos melhores. Na época, acabamos voltando para o acampamento com dois feridos gravemente e a culpa tinha caído sobre mim. Eu nunca tive problema em admitir erros, mas Astoria era a primeira a jogar para os quatro ventos a minha falta de responsabilidade naquela missão. Agora, ali, naquele momento, ela fazia o mesmo - Por que você está trazendo isso agora? – tentei manter a calma, embora ela tivesse pisado no calo - EU JÁ DISSE QUE A CULPA FOI MINHA, EU NÃO TENHO PROBLEMA NENHUM EM DIZER ISSO! – minha voz prontamente se elevou conforme a sua - Mas não use esse argumento para justificar outra coisa – agarrei seu braço para fazê-la se virar para mim, uma vez que ela dava as costas com indignação - Foi culpa minha aquele dia, eu reconheço isso – nossos olhares se encontraram, mas eu estava bem decidido em fazê-la me ouvir, mesmo que começasse a ouvir suas palavras atropelando as minhas - Mas você devia parar de jogar a culpa nos outros desse jeito, isso só te faz ser arrogante. Você não é melhor do que ninguém, Astoria. Sempre me escolheu para ser seu alvo de reclamações... – ao final da frase, foi quando eu percebi que já estava perto demais dela. Mais uma vez, quase como de costume, eu senti meus olhos descerem até seus lábios. Era algo tão automático e inconsciente, que eu só percebia segundos depois. Minha voz se tornou mais sussurrada e um incômodo cresceu dentro de mim. Era o tipo de sensação que eu odiava, porque me deixava claramente fraco, como se eu fosse incapaz de me controlar. Na maioria das vezes, eu tomava aquela atitude propositalmente para provocá-la, mas agora tinha sido diferente.

Eu engoli em seco, sentindo seu perfume doce invadir minhas narinas - Sempre me escolheu para ser seu alvo de reclamações e até hoje eu nunca entendi o porquê – eu comecei a recear. O clima que se instalou ali foi muito claro, mas eu agora estava realmente incomodado, principalmente porque comecei a sentir falta do meu autocontrole. Eu mal notei que estava mais próximo do que antes, mas como sair daquela situação? Eu não queria que ela interpretasse alguma coisa daquilo - O que foi, isso é nervosismo? – eu não sorri, mas enfatizei o tom da minha voz para demonstrar provocação. Aquilo claramente a desconcertou e tão rápido quanto eu pensei, ela me empurrou, dando um tapa forte em meu ombro - Ei – a chamei assim que ela começou a se afastar consideravelmente. Ao vê-la se virar, eu retirei as flechas da parte de trás da roupa e as ergui levemente. Claro que a loira esperava uma explicação de como eu tinha conseguido aquele feito e, caminhando em sua direção, pronto para cruzá-la, eu esperei até estar perto o suficiente para murmurar - Um ladrãozinho barato nunca revela seus segredos – sorri com os olhos, entregando-a as flechas. A lição havia sido dada. Por um momento, imaginei se para ela, eu ainda continuaria a ser o causador de problemas. Logo, eu voltei a me dirigir até a população da vila. Os grupos que havíamos separados já se encontravam em um estado melhor, especialmente aqueles que antes haviam sido agressivos. A cura de Apolo havia ocorrido de imediato, ainda que boa parte precisasse de repouso.
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Drew Hunter Baudelaire
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Astoria Fournier Dom Jun 11, 2023 11:58 pm

Promise I'll always be there. Promise I'll be the cure
missão one-post de Apolo com Drew Baudelaire
Apoiava uma mão na cintura enquanto escutava Drew dizer que falaria com Carrie. Era absolutamente impossível para qualquer um de nós dois ficarmos perto sem gerar algum tipo de atrito, mas aquela discussão toda já estava durando tempo suficiente para que até mesmo eu já me esquecesse o rumo que estávamos levando. — Obrigada. — Respondi no momento em que ele disse que me deixaria em paz, e então revirei os olhos. Era sempre a mesma história, mas quando ele finalmente se virou e estava pronto para ir, foi difícil não fitá-lo enquanto caminhava, sentindo certa estranheza na ação. Ele não ia mesmo… Soltei uma risada abafada ao escutar seu “até nunca mais”. É claro, ele sempre tinha que tentar ser o último a falar alguma coisa.Bon voiage. — Rebati em modo automático, olhando em sua direção enquanto mais um “insulto” seguia. Patricinha? — Melhor do que ser um ladrãozinho barato. — Devolvi. Eu costumava o chamar dessa forma desde que éramos crianças. Ladrãozinho e todos os outros adjetivos semelhantes. — Trombadinha. — Nós voltamos a ficar mais próximos, embora eu não soubesse se havia sido apenas um de nós ou ambos que fizemos o movimento. Fiz menção em responder novamente, mas algo tomou minha atenção. Algo se movimentou ao nosso lado, e eu só tive tempo de virar meu rosto na direção e ver uma flecha vindo em nossa direção. No automático, minha primeira reação foi a de empurrar Drew para fora da mira da arma, para que ele não fosse acertado, mas ao mesmo tempo em que tomei a atitude, senti meu corpo sendo puxado na mesma direção em que o empurrei. Ele havia me puxado pela cintura, e agora eu me via sobre o Baudelaire.  Perto demais… Podia sentir sua respiração contra meu rosto ao mesmo tempo em que meus olhos estavam vidrados nos dele. Ofegante e desconcertada, ao mesmo tempo, demorei para conseguir tomar alguma atitude, mas acabei me virando para o lado sem falar muito. Tratei de me levantar, então arqueei a sobrancelha diante da visão de frente para nós dois. Apolo. Por quê ele havia nos atacado?

Apolo então começou a falar, deixando claro, inclusive, que nem mesmo Héstia estava ciente daquele contato. Claro que não, do contrário seria um semideus campista que poderia acabar sendo designado para a função. Passei meus olhos para sua mão, que acabara de retirar de sua aljava três flechas que aos poucos foram parecendo mais translúcidas, com símbolos relacionados com a cura. Sorri com a visão. Apolo sempre foi um deus de muito bom gosto, de fato, e julgava se não fosse por Afrodite, ele muito provavelmente seria o deus da beleza. Balancei a cabeça em afirmativa, pegando as flechas da mão do deus, tentando decifrar o motivo pelo qual eu deveria tê-las comigo. De acordo com o que dizia, ao norte de São Francisco havia uma comunidade agrícola onde a população vivia mais isolada, sem muito contato com a cidade grande e que, por alguma razão, estava passando por uma situação complicada diante de uma doença misteriosa e perturbadora que se alastrava. Uma espécie de epidemia. A maneira como Apolo descrevia aquela doença, me fazia pensar nos filmes de zumbis que muitas vezes assisti quando era mais nova. Possivelmente essa seria a inspiração. Além de toda a explicação referente aos cuidados com a nossa aproximação, nós deveríamos reunir os doentes para curá-los, mas sem misturar o nível de gravidade de cada um. Seria uma espécie de triagem. Foi quando Drew perguntou a respeito da quantidade de flechas, algo que até então eu não havia me importado muito… De fato, se era uma boa quantidade de pessoas, como conseguiríamos curá-las com apenas três flechas?

Depois das últimas explicações sobre essa parte da missão, Apolo se dirigiu para Drew. Revirei os olhos ao perceber que seu papel na missão seria lidar com outros que viriam tentar roubar as flechas. O mais engraçado em tudo isso, é que Apolo havia percebido o quão bem nos dávamos. Na verdade, os deuses deveriam saber não é? Não é como se fôssemos recém conhecidos, afinal. Um pouco contrariada com a ideia de trabalhar com o filho de Hermes, apenas assenti enquanto trocava olhares com Drew e, mais uma vez, travamos uma discussão mesmo que em silêncio. Eu não entregaria aquelas flechas para ele, e ele parecia ter entendido isso. Apolo foi embora depois disso, e tudo o que nos restou foi o silêncio. Um silêncio que eu não queria quebrar, porque sabia o que viria a seguir. Dito e feito, Drew logo começou a falar que não desobedeceria nenhum deus e eu apenas ri. Não respondi nada de imediato, apenas refletia sobre toda aquela missão e o quanto nós precisávamos ser rápidos. Não haveria tempo para discussões idiotas. — Claro claro… Falou o ex-queridinho de Hera. — Corrigindo, não haveria tempo para discussões idiotas quando começássemos a missão, naquele momento, porém, havia tempo de sobra. Ou ao menos foi o que o meu subconsciente pensava. Ele logo tentou pegar as flechas da minha mão, dizendo que poderia fazer aquilo sozinho caso eu me recusasse, mas eu as mantive em minhas mãos, segurando com fora. — Até parece que eu vou deixar um ladrãozinho ir embora com as flechas. — Rebati. — Estarei te esperando amanhã para seguirmos até São Francisco. — Foi tudo o que disse a seguir, enquanto minha outra mão segurava minha lança. Sequer percebi o quanto a apertava com força até que Drew me alertou, dizendo para que eu tomasse cuidado com ela enquanto ele mesmo se afastava.

[São Francisco - Região Norte, Vila Rural]
As flechas estavam em uma aljava que trouxe comigo única e exclusivamente por causa delas, já que meu forte mesmo eram armas longas. Minha lança estava comigo, e eu também tinha em meu pescoço o colar do desejo, presente de Afrodite. Nós já estávamos na região agrícola de São Francisco, e quando finalmente chegamos até a vila rural, tratei de iniciar algumas perguntas ao pessoal que vivia por ali, tentando descobrir se eles eram os enfermos. Confesso ter sentido um arrepio na espinha ao perceber como aquele lugar era estranho, e como as pessoas pareciam se comportar. Troquei olhares com Drew vez ou outra, me certificando de que ele também havia percebido ou estranhado alguma coisa, algo que foi confirmado instantes depois, quando um homem pálido e com camisola de hospital se apresentou diante de nós, causando certo alvoroço ao redor. Olhei em volta, tentando entender, até que me lembrei das palavras de Apolo… “Cuidado para não misturar aqueles que ainda estão nos estágios iniciais dos sintomas com os agressivos”. Agressivos. Não deu muito tempo de fazer nada em seguida, porque tudo foi muito rápido. O homem investiu contra Drew que desviou, fazendo com que o homem caísse. Encarei o filho de Hermes naquele momento, repreendendo-o pela atitude, afinal, estávamos ali para curá-los e não para causar mais problemas. E foi pensando nisso que comecei a analisar cada uma das pessoas por ali. Não estavam todas juntas, mas também não estavam propriamente distantes umas das outras, como um caso de epidemia deveria ser. — Certo, vou ter que fazer alguma coisa sobre isso. — Pensei em voz alta, mas já matutando algum plano na cabeça. Drew ainda tentava se manter afastado do homem, mas quando o olhei novamente, vi que ele segurava sua faca.

— O QUE É QUE VOCÊ TÁ FAZENDO, BAUDELAIRE? — Berrei com ele, indignada sobre aquela arma apontada para um enfermo. Ele me respondeu com outra pergunta, questionando se eu queria que ele o mordesse. — Não me parece uma má ideia. Anda, me ajuda a fazer a triagem e separá-los em grupos. — Pedi de uma vez. Era o único jeito de resolvermos aquela situação de uma vez por todas. Então, me afastei de Drew e comecei a conversar com os enfermos, ao menos com aqueles que ainda eram capazes de conversar e seguir aquilo que eu dizia. Aproveitei para deixar minha voz bem suave e melodiosa, sugestiva para aqueles que a escutassem fazerem o que eu estava pedindo. Parte de mim desejava terminar aquilo logo, mas com todos ali naquele lugar estando doentes, eu entendia que dependia do tempo deles, que buscavam ajudar entre si para que enfim se organizassem. Drew fazia o mesmo, separando um outro grupo de pessoas doentes ao mesmo tempo em que tentava nos afastar dos mais violentos. Não dava para que nós dois cuidássemos dos doentes mais agressivos porque precisávamos distribuir nossa atenção, e eu estava com as flechas. Assim que meu grupo finalmente se manteve mais unido, eu puxei uma flecha da aljava, seria para os casos mais leves. — Preciso que confiem em mim, e que fiquem tranquilos. — Me virei para aquele paciente que seria em quem eu atiraria, transferindo a cura para quem estivesse em volta. Ele vestia uma camisa com um detalhe amarelo ao centro, perfeito para usar de alvo. — Tenha calma, está bem? Essa flecha não irá te machucar. — Disse.  Enquanto isso, Drew gritava para que eu me apressasse, mas eu não podia simplesmente me desconcentrar. Assim, com a flecha em mãos, a ergui como se a prendesse em um arco inexistente, tal como Apolo havia explicado, e mirando na direção do alvo, atirei. Não soube o que aconteceria à partir dali, mas não consegui esperar para ver, atirando mais uma flecha em outro grupo.

Puxei minha lança presa nas minhas costas no momento em que Drew gritou pedindo ajuda, e com a parte do cabo, empurrei os enfermos mais agressivos para longe. O problema disso é que eles começaram a vir para cima de mim, e com o aval de Drew para que eu pudesse agir com meus poderes natos, agi. — Vocês não vão querer me atacar, vão? Ah, vamos lá… Pensei que poderíamos ser amigos. — Falei enquanto esboçava um sorriso alargado. Tentava mostrar todo o meu charme enquanto minha voz, tão atrativa quanto poderia, os acalmava. Eles ainda vinham em minha direção com a intenção de atacar, mas agora eram mais lentos, menos diretos, e isso ganhou tempo para que Drew os acertasse com uma das flechas que havia retirado do meu coldre. Naquele momento, porém, meus olhos encontraram os do filho de Hermes, e sem nem perceber que ainda me mantinha sob uso dos meus poderes, estranhei suas feições e a forma como ele me olhava. Havíamos nos aproximado novamente, mas então algo impediu que essa proximidade aumentasse. Um barulho. Vozes. — Só pode ser brincadeira. — Disse no instante em que avistei quem eram. Eu conhecia aqueles dois, eram irmãos, filhos de Ares. Mais uma vez nenhum de nós teve chance de fazer nada a não ser nos defender. Enquanto Drew lutava com um, a mulher veio em minha direção, tentando me golpear de forma tão sutil quanto um elefante, obrigando que eu desviasse rapidamente. Puxei minha lança comigo, dando uma rasteira e fazendo com que a lança batesse em seus calcanhares, derrubando-a e a lançando até onde já estava o outro, caído. Eles eram bons lutadores, mas por algum motivo, não agiam como tal.

Drew queria saber quem os havia mandado, e repetiu isso tantas vezes que eu sinceramente queria mandá-lo calar a boca, mas ao invés disso, apenas tirei do pescoço o colar do desejo, apontando para o homem. Eu o conhecia e já tinha uma vaga ideia do que poderia acontecer, mas não me importei. — Cala a boca, Drew. Tem algo a mais e nós vamos descobrir. — Retruquei com meu companheiro de missão, agora me concentrando no outro, esperando até que o colar fizesse efeito. Não havia aparecido nenhuma miragem, e eu sabia o motivo. Mas Drew pareceu não entender, pelo menos não de início, porque desembestou a falar. Revirei os olhos, irritada com sua lentidão, e então o encarei, buscando conversar com ele através do olhar, até que suas expressões mudaram, indicando que ele havia entendido. Eu era o objeto de desejo do filho de Ares, algo que eu sempre soube, afinal… Bom, já havíamos compartilhado o mesmo acampamento, não é? Num ato completamente impulsivo e que eu jamais poderia ter previsto, Drew avançou contra o homem, desferindo-lhe um soco com tanta força, que o vi respingar sangue. — Só pode ser brincadeira, né garoto? Crise de ciúme uma hora dessas? — Não resisti em provocá-lo. Mas a coisa toda voltou a ficar caótica, com Drew ainda insistindo naquela coisa de querer saber quem eles eram. Não era óbvio? Aliás, todos convivemos juntos, pelo amor dos deuses. — Quem vocês são? — Perguntei, mesmo sabendo a resposta. Fiz questão de fazê-lo usando meus poderes natos, apenas para que Drew os visse me responder, e eu assim pudesse sorrir vitoriosa. Dessa vez, porém, Drew conseguiu arrancar deles a informação mais importante: um herói de Hera os havia mandado. — Só pode ser brincadeira. — Resmunguei.

Aquela altura, eles haviam cansado de fingir serem fracos, porque agora partiam para o ataque de uma forma que tudo o que eu conseguia fazer era desviar e não ser pega, porque eu sabia, se acontecesse, eu possivelmente estaria perdida. Usei minha lança para tentar afastar e impedir os ataques da filha de Ares, com quem nunca tive um contato maior. — Qual é a sensação de ser a mais fraca dos filhos de Ares? Já lutei com pessoas bem melhores.  — Sorri em sua direção, tentando investir a lâmina da minha lança em seu tronco durante a provocação, mas não conseguindo fazer isso. Então um chute nas minhas costas, e um soco no meu estômago em seguida. Soltei todo o ar dos meus pulmões ao sentir aquilo. Não podia deixar que ela continuasse com aquilo, eu precisava atacar. Investi contra ela e continuei fazendo isso várias vezes, acertando alguns chutes e socos, já que a lança não estava nos ajudando em nada. Eu já estava acabada, e por isso busquei Drew com o olhar, torcendo para que pudéssemos ter algum plano de última hora. Mas, para a minha surpresa, ele pediu bandeira branca. O quarteto, comigo inclusa, ficou se encarando, e então apenas decidi confiar em Drew, por mais relutante que eu estivesse. Assisti a gracinha do Baudelaire com extrema irritabilidade, até ele dizer que entregaria as flechas para eles. — VOCÊ NÃO É LOUCO DE ENTREGAR PRA ELES. — Gritei, já deixando a raiva tomar conta.

[...] No fim das contas, Drew não havia entregado a arma para os filhos de Ares, só usou do seus poderes como filho de Hermes para ser convincente o suficiente ao mesmo tempo que surrupiava novamente a arma deles. Maldito. — Você não pode ficar fazendo isso, sendo irresponsável desse jeito... Sabe quais as chances de dar errado? Estou de saco cheio dessa sua falta de responsabilidade com as missões, a última vez foi catastrófica. Queria repetir, é? — Agora foi minha vez de desembestar a falar, mas aquela discussão toda acabou tomando um outro rumo. Drew dessa vez pareceu extremamente zangado, porque começou a jogar algumas coisas na minha cara e até mesmo a gritar comigo. Me virei, pronta para deixá-lo falando sozinho, mas ele logo me puxou pelo braço, fazendo com que eu o encarasse de volta. Ele falava como eu o escolhia como alvo de reclamações, mas àquela altura, eu deixei de prestar atenção no que ele dizia. Sua proximidade estava realmente me deixando afetada, e eu não sabia o porque sempre era assim. Eu sempre ficava irritada em sua presença, o meu corpo fervia. Passei a língua pelos meus lábios, olhando profundamente para ele e sentindo minha respiração ficar mais ofegante. Isso fez com que me questionasse sobre eu estar nervosa, e então eu apenas o empurrei para longe, por mais difícil que tivesse sido. E então, ele apenas retirou as flechas de dentro da sua roupa. — Como você fez isso? — Perguntei, por fim, cansada de brigar. Ao redor, a cura de Apolo parecia ter funcionado, mas minha mente já estava bastante longe desse assunto.
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Angelina Schuyler Sáb Ago 05, 2023 9:19 pm

Fantasmas Do Passado
Vários lugares
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PS02
Parte 1: Papai {Dia 1 - 14:44 - Sala do Trono de Hades}

- Eu não gosto dele chamando a gente. - Angelina falou para Thora. As duas estavam se aprontando, tinham sido convocadas para uma “audiência com Hades” há vinte minutos atrás. Pelo menos, foi assim que um esqueleto disse, esqueleto este que simplesmente entrou na casa onde as duas estavam residindo até então para falar isso e, segundos depois, quebrar-se por completo até virar pó e se esvair no chão. Thora respondeu que Hades poderia estar com saudade. - Engraçadinha você. - Disse Angelina revirando os olhos. Não a agradava ter outro deus a chamando, por mais que fosse seu pai. O último que a chamou a enviou para dentro de um vulcão com gigantes de fogo para resgatar uma chama divina. Só fogo… E foi um terror. A vontade real de Angelina era simplesmente ignorar o senhor dos mortos, mas havia uma parte dela que gostaria de saber o que o seu pai poderia querer com ela e sua irmã… O seu pai. Isso ainda soava estranho, porque no outro mundo, no mundo criado pela névoa, ela tinha um pai morto. Seria melhor ter um pai morto do que ter um pai que é um deus? A resposta para essa pergunta Angelina ainda estava descobrindo, não tinha como ela afirmar com certeza enquanto não tivesse todas as suas plenas memórias sobre o mundo real. - Pronta? - Angelina perguntou para Thora, não demorando em receber a confirmação. - Então vamos. - Angelina estendeu a mão, recebendo a de Thora em troca. Ela estava agradecida pela irmã não tê-la apenas rejeitado. Owen atirou coisas nela e quase a matou (para variar), Gaia estava desaparecida, mas Thora… Ela estava ali. Apesar de tudo, ela ainda estava ali. Como ela poderia ainda estar ali depois de tudo? Angelina sentia que em algum momento as duas conversariam sobre isso, mas não seria agora. Angelina caminhou até a sombra produzida por uma das janelas e carregou Thora para dentro da escuridão, seus pensamentos voltados para o Mundo Inferior, para a Sala do Trono de Hades.

Em segundos, as duas apareceram nas sombras da Sala do Trono de Hades. - Tudo bem? - Angelina perguntou para Thora. Uma viagem das sombras pode ser bem desagradável para muitos, mas Thora afirmou que estava tudo bem com ela. Apesar de agora ser uma ninfa, sua essência ainda estava em ser uma filha de Hades. Logo depois, a voz de Hades retumbou pelo espaço, chamando atenção das duas. Ali, sentado em seu trono, estava o senhor dos mortos. Meu pai. Ela pensou, o encarando. Ele, por sua vez, também encarava as duas enquanto elas se aproximavam. Hades era… Estranho aos olhos de Angelina. Era seu pai, mas ele parecia um estranho, um estranho muito poderoso e inalcançável. Era como se ele estivesse em cima de um pedestal que Angelina jamais alcançaria. Como aquele homem poderia ser o seu pai? Pais não deveriam ser presentes? Aquele nunca esteve, mesmo que Angelina não se lembrasse de tudo da sua vida real, ele nunca esteve. O cumprimento dele foi dizer o nome delas, e Angelina surpreendeu-se ao ver Thora chamá-lo por “papai”. Como você consegue? Ela pensou, lançando um olhar bem inquisidor para Thora. Sua irmã, por sua vez, não demonstrou nada, era como se para ela Hades não fosse o cara em cima do pedestal, mas sim… Um cara qualquer. Angelina ainda não entendia como ela conseguia pensar desse jeito. Ao menos, Hades agradecia pela presença delas, já era um sinal de educação pouco visto nos deuses. Passado este momento inicial, Hades começou a falar o porquê de sua convocação, e era óbvio que seria uma missão. É pra isso que os deuses chamam os seus filhos, até mesmo os adultos: dar missões. Sinto falta de passar missões em vez de realizar elas. Angelina pensou, mas ao mesmo tempo, sentiu-se incomodada com si própria. Ela não gostava de realizar as missões, mas tornou-se uma líder de mercenários onde ela passava as missões. Ela era parecida com o seu pai mais do que gostaria de admitir. Olha para ele, sentado naquele trono. Ela não tinha feito um trono para si própria? Um trono de rosas vermelhas? Aliás, ela não teve o seu próprio palácio, embora ele estivesse mais para uma mansão em construção? Aquilo tudo tinha sido verdade… E essas verdades ela manteve no mundo da névoa, demonstrando o quanto ela gostava do seu próprio poder, de brincar de deusa. Detestável.

A missão, segundo as explicações de Hades, era recuperar uma obsidiana mágica. A obsidiana era uma jóia encantada para atrair e canalizar a energia dos mortos, sendo capaz de manipular as sombras e criar ilusões. Hades tinha mandado que a obsidiana fosse destruída, mas por algum motivo, o trabalho não foi bem feito, pois a pedra acabou caindo nas mãos de uma espécie de seita chamada “Discípulos das Sombras”, cuja sede ficava em um túnel subterrâneo no norte de São Francisco. Segundo Hades, os membros da seita não deveriam ser um problema, mas aquele que estivesse portando a jóia seria perigoso, fora a presença de alguns Eidolons. Angelina sentiu uma pontada de dor de cabeça, algo que já estava se acostumando, considerando que acontecia toda vez que ela se lembrava de algo que não pertencia ao mundo da névoa que ela criou. Ao ouvir a palavra “Eidolons”, ela se lembrou sobre ter lido sobre eles em algum momento de sua vida. Eidolons eram espíritos possuidores, originários de pessoas mortas. Resumindo: fantasmas. No fim das contas, a missão era recuperar a obsidiana mágica e a destruir de vez, tendo por detalhe o fato de que para destruir a jóia seria necessário o sacrifício de um ser vivo, algo que Hades informou não ser um problema, olhando claramente para Angelina. Pelo visto meu pai sabe a carreira que eu decidi tomar para a minha vida, que coisa. Angelina pensou, não sabendo o que sentir sobre isso. Ao mesmo tempo que ela sentia bom saber que não era completamente ignorada por Hades, também não se contentaria com migalhas da parte dele ou de qualquer outro deus. Ela ainda preferia um mundo sem deuses, isso não tinha mudado. Quem sabe fosse mesmo melhor ter um pai morto do que um pai deus.

Angelina e Thora saíram da Sala de Trono assim que a “audiência” terminou. - Não incomoda você que ele tenha nos chamado apenas para nos dar um trabalho? - Angelina perguntou para Thora assim que as duas se viram do lado de fora do Palácio de Hades. O Mundo Inferior não era bonito, mas Angelina se sentia à vontade ali de uma forma que ela não sabia explicar. Era como se pudesse, por um momento, esquecer-se dos problemas da superfície. Que bom que eu vi ele antes de vir para cá. Ela pensou em Owen. Angelina sabia onde ele estava, tirava parte de cada um de seus dias para ir ver sua situação, mesmo que fizesse isso de forma escondida. Saber que ele estava bem a deixava aliviada, embora sempre fosse doloroso saber que ele não queria estar com ela. Como de costume, Thora surpreendeu Angelina com sua resposta. Segundo ela, as coisas eram assim desde sempre, Angelina já deveria ter se acostumado. - Sistra, você não existe. - Ela falou, caminhando na direção dos Muros de Erebos, dando as costas para Thora e não esperando uma resposta da parte dela. Thora realmente não existia, como ela conseguia ser tão condescendente com tudo? Tão… Boa? Desde sempre ela foi assim. Angelina torna-se uma assassina? Tudo bem, ela aceitou. Angelina inventa uma realidade alternativa com névoa? Tudo bem, Thora não tinha falado nada sobre isso e estava ali ao lado dela, a única que restou ao lado de Angelina. Hades a chama apenas para dar missões? Ah, tudo bem, foi sempre assim. Como? Como ela conseguia? Thora era realmente… Iluminada. Esse mundo não te merece. Angelina pensou… E secretamente desejou colocar Thora num mundo falso novamente onde ela não tivesse que lidar com missões de deuses. Onde ela pudesse ser… Tudo o que ela quisesse sem outros problemas.

Parte 2: Os Discípulos das Sombras {Dia 2 - 00:23 - Cemitério ao Norte de São Francisco}

A viagem para São Francisco demorou cerca de oito horas. Primeiro, Thora e Angelina saíram do Mundo Inferior através do barco de Caronte, indo parar nos Estúdios MAC em Los Angeles. Dali, pegaram um ônibus para São Francisco e chegaram na cidade de madrugada. Apesar de já ter passado da meia noite, isso não era nada que atrapalhasse a missão, é um horário perfeito para seitas se reunirem… E acredite se quiser, um esqueleto estava esperando as duas no terminal rodoviário segundo um papel que dizia “filhas de Hades”. Angelina achou aquilo deveras sugestivo. - Pelo visto o “papai” quer ajudar. - Angelina comentou para Thora, utilizando a palavra “papai” com bastante ênfase, lembrando de como ela tinha chamado Hades na Sala do Trono. A partir de então, as duas seguiram o esqueleto pelas ruas de São Francisco. Mesmo de madrugada, a cidade ainda tinha uma certa vida… E as pessoas olhavam com estranheza para o esqueleto que conduzia as irmãs. Angelina se perguntava o que os mortais deveriam estar vendo através da névoa. O esqueleto as levou até o norte da cidade, como esperado, e as conduziu até um cemitério. - Típico lugar para uma seita. - Angelina comentou com bom humor. Ainda seguindo o esqueleto, o mesmo as levou até um dos mausoléus em específico antes de, como o primeiro esqueleto, quebrar-se inteiro, virar pó e se esvair no chão. As irmãs se olharam, então Angelina abriu a porta do mausoléu e encontrou ali dentro um túmulo, mas também a entrada de um alçapão logo ao lado. - Não é muito escondido, mas também quem precisa esconder algo dentro de um mausoléu. - Ela deu os ombros e abriu o alçapão, revelando uma escada vertical, lembrando escadas de esgoto. Não era muito longa, as duas desceram em poucos minutos e encontraram-se no túnel subterrâneo que antes Hades tinha mencionado. De fato, aquela seita deveria se achar muito aterrorizante, um túnel subterrâneo que era acessado apenas por um mausoléu dentro de um cemitério que levava até uma seita secreta. Interessante. As duas passaram a caminhar pelo túnel, que se estendia metros à frente, sendo iluminado por algumas luzes que lembravam luzes de emergência.

O final do túnel levava até uma porta parecida com a de um bunker. Quem sabe, aquele lugar realmente fosse um bunker no passado antes de ter virado ponto de encontro de seita. Ao abrirem o bunker, o cenário encontrado era… Pitoresco, no mínimo. Diante dos olhos delas estava uma sala com vários sofás e mesas com quitutes. Pessoas andavam para lá e para cá, conversando umas com as outras como se estivessem em um encontro legal. Algumas até carregavam taças com vinho dentro. A única coisa que incomodou Angelina foi que a iluminação era totalmente feita à luz de velas, e haviam alguns altares estranhos cheios delas e também com alguns incensos. Porque tinha que ter fogo? Fora isso, as pessoas não pareciam cultistas, elas pareciam até que bem normais, tirando o lugar onde elas se encontravam. Não demorou para um homem vir até as duas, mas ele não parecia incomodado com a presença delas. - Nunca as vi aqui antes, são novas? - Ele perguntou. Usava um terno verde musgo que Angelina até achou legal, mas devo dizer que a tendência de Angelina gostar de roupas coloridas é bem duvidosa em termos de moda. Thora respondeu pelas duas, informando que sim, elas eram novas. Angelina deixou sua irmã fazer o trabalho da fala, ela sabia ser bem mais simpática. - Oh, sejam bem-vindas, entrem. - O homem as conduziu para dentro e fechou a porta do bunker. Apesar de estar desconfiada, Angelina não sentia que aquilo era uma armadilha. Na verdade, nenhuma daquelas pessoas pareciam que dariam algum trabalho. - Vamos realizar a invocação em alguns minutos, bom que vocês chegaram bem na hora. Enquanto isso, aproveitem. Os bolinhos de chocolate estão ótimos. - O homem do terno verde se afastou, indo conversar com outros cultistas. Angelina olhou para Thora segurando uma risada. - Uma seita com bolinhos de chocolate! Eles são uns amores. - Ela comentou sussurrando. - Vamos nos misturar, ver se descobrimos alguma coisa sobre a obsidiana. - Ela disse. Não se importou com o fato de que se separaria da irmã, isso porque o bunker era fechado e não muito grande, elas não se perderiam uma da outra.

Angelina foi até a mesa dos quitutes, encontrando os tais bolinhos de chocolate. Ao seu lado, uma senhora usando um colete malhado em tons rubros parou. - Minha jovem. É a primeira vez que a vejo por aqui. Como descobriu? - A velhinha não parecia desconfiada, apenas queria puxar conversa. Felizmente, Angelina já viveu no mundo do crime o bastante para saber como seitas funcionam. - Da mesma forma que todo mundo. Conheci alguém, que conheceu alguém, que conheceu outro alguém que frequentava os Discípulos das Sombras. - Ela disse o nome da seita para deixar sua resposta mais convincente. A velhinha deu uma risada. - É verdade. Quem você perdeu? - Okay, essa pergunta Angelina não soube responder de cara. Do que a velhinha estava falando? Ela esperava que Angelina tivesse perdido uma pessoa. - Meu… Noivo. - A resposta veio no automático. Ela sentia que tinha perdido Owen de alguma forma. A tristeza veio verdadeira em seus olhos e a velha senhora percebeu isso, passando uma das mãos sobre os ombros dela. - Eu sinto muito. Eu perdi meu Ferdinando, meu marido. Ataque cardíaco. Eu nunca fui tão triste em toda a minha vida… Mas eu descobri os Discípulos e agora posso conversar com ele durante as invocações. Seu noivo também vai aparecer, pode demorar alguns dias, mas todos sempre encontram os seus entes de volta aqui. - Os olhos de Angelina se arregalaram. As peças iam se juntando em sua mente ao mesmo tempo em que uma voz masculina anunciava que os preparativos para a invocação deveriam começar. Era o homem do terno verde, ele trazia consigo uma espécie de caldeira. Uma pontada de dor de cabeça atingiu Angelina, uma nova lembrança invadiu sua mente. Ela já tinha visto algo parecido… No chalé de Hades no Acampamento Meio-Sangue. Era utilizado para se comunicar com os mortos, tinha um desses no chalé 13. Angelina rapidamente procurou Thora na multidão que começava a se formar ao redor da caldeira, que era prostrada no altar cheio de velas e incensos pelo homem do terno verde. - Eles vão invocar… Eidolons. - Angelina falou assim que se juntou com Thora. A tal cerimônia de invocação começou, o homem do terno verde falou várias palavras para o altar, palavras essas que eram bem clichês de seitas. Enquanto isso, Thora sussurrou no ouvido de sua irmã suas descobertas, o homem do terno verde era o líder e era ele quem portava a obsidiana. Os cultistas se referiam a pedra como “a resposta” e não tinham problemas em falar sobre ela, não era um segredo. Angelina ainda não sabia o que a obsidiana tinha a ver com todas aquelas pessoas, mas ao ver os Eidolons surgirem da caldeira, ela teve a confirmação que tinha montado parte do quebra-cabeças.

Não é todo mundo que consegue ver os Eidolons, mas os filhos de Hades assim podem. Eles se parecem com uma forma humanoide formada através de fios escuros de fumaça. Vários surgiram e começaram a entrar nos corpos daquelas pessoas… E elas em si não estavam nem um pouco assombradas com estarem invocando espíritos que iriam às possuir. Não, elas esperavam por isso… Esperavam por isso porque aqueles Eidolons antes foram seus entes queridos. Isso era os Discípulos das Sombras… Eram apenas mortais que, de alguma forma, descobriram como invocar espíritos e começaram a invocar Eidolons, que os possuíam durante as reuniões… E isso tudo tinha alguma coisa a ver com a obsidiana mágica, algo que Angelina ainda não tinha captado o motivo. - O senhor dos mortos finalmente enviou alguém para recuperar a sua jóia, irmãos. - Disse o homem do terno verde, mas agora a sua voz estava mais monótona e seus olhos brilhavam em dourado. Não era o homem do terno verde que estava falando, era o Eidolon dentro dele. - Nós já esperávamos por vocês, sinto que são descendentes dele. Nossas cascas não as reconheceram como ameaças, mas nós podemos sentir que no sangue corre algo diferente. - Ao redor delas, todas as pessoas começaram a cercá-las, todas exibindo olhos dourados. - Nós não podemos deixar que vocês duas destruam a nossa única chance de voltar a vida. - As pessoas estavam cada vez mais encurralando as duas. - Essa pedra canaliza a energia dos mortos, ela pode nos tirar da morte… Nós queremos usá-la para nos dar de volta a nossa vida. Ela é a nossa resposta. Nós estamos perto de descobrir como usá-la para tal propósito. Há anos atrás, eu possui aquele que foi designado para destruir essa obsidiana e desde então estou a mantendo em segurança, a estudando, e também fundei esta seita para que meus irmãos também conseguissem seus corpos. - E foi aí que a ficha de Angelina caiu para outro fato: aqueles Eidolons não eram os entes queridos daquelas pessoas, apenas fingiam ser. Um Eidolon, ao possuir alguém, facilmente aprende sobre a vida dessa pessoa. Não seria difícil fingir ser o ente querido delas após a primeira possessão. - Vocês Eidolons… Sempre querendo voltar da morte. - Angelina disse sacando o seu arco e flecha e apontando contra as pessoas que se aproximavam. De verdade, ela não sabia porque certas almas viram Eidolons e outras não… Mas talvez fosse por isso, porque certas almas querem sempre voltar a viver, mesmo que a vida delas já tenha passado. Quem era Angelina para julgar? Ela vendeu seus serviços à Perséfone só para não deixar Thora morrer. E se Thora realmente morresse… Ou Owen morresse… Ela não faria de tudo para os trazer de volta? Sim, ela faria. Ela também roubaria aquela obsidiana ao invés de destruí-la, a estudaria para descobrir como trazer certas almas de volta à vida. A diferença entre ela e os Eidolons… É que eles eram meros egoístas. Angelina salvaria os seus, mas eles queriam salvar apenas a si próprios, não se importando em utilizar alguns mortais, enganá-los.

Angelina suspirou e olhou para Thora. Havia uma certa raiva em seus olhos. - Eu detesto… - Ela começou, voltando seus olhos para as pessoas possuídas por Eidolons. - Quando eu não posso simplesmente matar. - Dito isso, ela atirou uma flecha na direção da perna de uma daquelas pessoas. As demais começaram a ir contra as duas. - Vamos escurecer as coisas. - Ao redor de si e de sua irmã, Angelina começou a invocar uma profunda escuridão que saia ao redor de seu corpo e ia se emancipando cada vez, tomando todo o bunker que ficou no mais completo breu. Ninguém estava enxergando ninguém, nem mesmo Thora e Angelina. O que era para ser um ataque bem orquestrado dos Eidolons, que já tinham se colocado ao redor das semideusas, tornou-se um verdadeiro fiasco onde ninguém mais sabia onde cada pessoa estava. Angelina ainda sabia onde Thora estava, tinha pego na mão dela no momento em que invocou a escuridão e, mesmo sem enxergar, mudou de posição junto de sua irmã antes de começar a dispersar a escuridão que tinha criado aos poucos, partindo delas para os demais, devolvendo primeiro a visão delas antes da visão dos possuídos. Foi assim que as duas começaram a combater, um a um, as pessoas possuídas pelos Eidolons. Elas saiam da escuridão e logo eram recebidas por uma das flechas de Thora ou de Angelina. As que chegavam mais perto recebiam um golpe corpo a corpo, seja com o próprio arco ou com um chute ou soco. As duas se complementavam, protegiam as costas uma da outra e confiavam perfeitamente uma na outra. Como numa dança, elas giravam juntas ao redor de um eixo imaginário, lançavam flechas em alvos diferentes como se tivessem lutado juntas por toda uma vida, sabendo com precisão qual era o oponente de uma e qual era o de outra. Bom, digamos que isso não era mentira, quantos treinos elas realizaram juntas? Quantas missões? Angelina sentiu algumas dores de cabeça ao se lembrar desses momentos, mas mesmo que fosse doloroso para ela, ela ficou feliz em ter tais memórias novamente. Em alguns minutos, como se tivessem derrubando uma série de zumbis, os possuídos pelos Eidolons se tornaram corpos jogados no chão, machucados ou desacordados. Alguns tentavam rastejar, mas não eram grandes ameaças. Nenhuma daquelas pessoas estavam mortas. As flechas foram em lugares não letais, nas pernas para atrasar, nos ombros para machucar, mas nenhum em lugar letal. Thora havia entendido o recado, não que ela realmente precisasse de um. Angelina detestava não poder matar… É verdade, ela gosta de uma violência. Porém, não iria matar aqueles mortais, eles eram apenas pessoas inocentes tentando aplacar a dor da perda de alguma forma. Eram mortais que estavam sendo enganados por alguns espíritos que queriam voltar à vida. Essas pessoas não mereciam morrer por esses Eidolons. O único que sobrou ainda sem ferimentos foi o homem do terno verde. Como um covarde, ele tinha se escondido atrás de seus irmãos Eidolons, mas agora todos eles estavam caídos. - É realmente uma pena que eu não possa matar o que já está morto. - Angelina falou apontando o arco na direção do mesmo. Eidolons já estão mortos. Era realmente uma pena não poder matá-los.

Parte 3: Ásura {Dia 2 - 01:39 - Bunker dos Discípulos das Sombras}

- Você já perdeu. Nos dê a obsidiana. - O homem de terno verde, inicialmente, colocou as mãos para o alto. - Tudo bem, vocês venceram. Não duvido da capacidade de vocês depois de terem inutilizado as cascas de todos os meus irmãos. Deixe-me pegá-la. - Com certo cuidado, o Eidolon abaixou uma das mãos e a levou até um dos bolsos de seu terno. Dali, ele tirou uma pequena pedra que parecia negra, mas que numa inspeção mais detalhada, mostrava na verdade os seus tons de roxo escuro. Ali estava a obsidiana. Porém, o Eidolon não entregou a mesma, ao invés disso, falou algumas palavras em grego antigo e antes que as irmãs pudessem fazer alguma coisa, elas já tinham sido pegas na armadilha. Angelina lembrou-se de Hades falando para elas tomarem cuidado com o portador da jóia. Engraçado como os covardes são justo aqueles que surpreendem sendo os mais esguios e ardilosos. O cenário ao redor delas começou a mudar completamente. O que antes era um bunker bem diante dos olhos das duas foi se transformando em um campo aberto. Grama rala preenchia o chão, acima das cabeças delas o céu noturno cheio de estrelas podia ser visto. Era uma noite bonita. No horizonte, havia algumas árvores e, alguns metros à frente, encontrava-se às margens de um lago. De início, Angelina não reconheceu o lugar, mas uma dor mais forte em sua cabeça a acometeu. Ela foi obrigada a colocar uma das mãos na mesma enquanto se lembrava do que deveria ser aquele lugar. - Não. - Ela falou. Não podia ser. - Não, isso não. - A dor de cabeça foi passando e ela abriu os olhos, vendo que Thora estava ao seu lado, a amparando. - Eu estou bem. Isso acontece desde que… - Angelina não precisou falar o “desde que eu acordei de um falso mundo que eu mesma criei”. Porém, Angelina não estava bem, não naquele lugar. Ela rapidamente olhou em volta, avistando uma figura parada próxima às margens do lago. Thora ainda não tinha percebido, ficou ocupada preocupada com Angelina para notar. - Sistra… - Ela chamou a atenção de Thora, querendo evitar que sua irmã olhasse para o lago, mas a voz da figura chamou a atenção dela. Era uma voz que Thora jamais iria ignorar. - Mãe. - Lá estava ela, próxima do lago. Uma jovem adulta de cabelos ruivos encaracolados bem volumosos, segurando uma espada em uma das mãos. Thora falou o nome dela, a reconhecendo. Ásura. - Não vai lá. - Angelina falou, segurando Thora. - É uma ilusão. É só uma ilusão. - O desespero estava proeminente em sua voz. - Mãe, eu consegui. - Disse Ásura, ainda na margem do lago, olhando para as águas. - Thora, confia em mim. É só uma ilusão. Você não quer viver ela. Por favor, não vá falar com ela. - Angelina pediu, mas ao olhar para Thora… Ela percebeu que sua irmã sabia que havia algo ali mais que uma ilusão.

O que Angelina poderia esperar? É claro que Thora deu as costas para ela e começou a andar até Ásura. Angelina estava para gritar um “não”, mas para a sua surpresa, ramos brotaram da terra. Dois deles seguraram suas pernas e a obrigaram a ajoelhar no chão, enquanto outros dois pegavam seus braços e um quinto enrolava-se em torno da sua boca, impedindo que ela falasse qualquer coisa. Angelina sabia que aquilo tudo não passava de uma ilusão, mas ela também sabia muito bem como as ilusões funcionam depois de ter criado uma ela mesma. Quanto mais você se envolve, mais você está nela, mais tudo que está nela parece real, por mais que não seja. Angelina já estava envolvida demais com aquela ilusão no momento em que percebeu do que se tratava, e por mais que ela soubesse que tudo não passava de uma mera magia daquela obsidiana, ela estava desesperada demais para raciocinar e conseguir livrar-se daqueles ramos da forma correta. Pelo contrário, ela tentava forçar-se para se soltar, tentava forçar a ilusão como se ela fosse verdade, dando ainda mais veracidade para a mesma, dando-a mais força. Enquanto isso, Thora tinha se aproximado de Ásura, estava agora nas margens do lago junto com a sua filha. Ela não merece isso. EU TIREI ISSO DELA! Angelina gritava em seus pensamentos e soltava altos resmungos através de sua boca fechada pelos ramos, mas não estava alcançando Thora. - Eu consegui, mãe, olha. - Ásura apontou para o lago com a espada. Angelina não conseguia ver da posição onde estava, mas sabia perfeitamente o que estava dentro daquela lago, nadando graciosamente. Era uma criatura meio vaca meio serpente. Angelina não estava presente naquela memória, mas Thora contou tudo para ela. Elas nunca tiveram segredos uma com a outra. - Esse é o Ofiotauro. Só existe um deles no mundo inteiro… E eu consegui capturá-lo. Coloquei neste lago. - Dizia uma orgulhosa Ásura, mostrando para a sua mãe a sua conquista. Como esse Eidolon sabe disso? Angelina se perguntou, ainda resmungando e tentando forçar os ramos inutilmente, assistindo toda a cena. Mesmo de longe, Angelina conseguia perceber as emoções nas expressões de Thora, o quanto rever sua filha viva e falando mexia com ela, por mais que fosse tudo provido de uma ilusão. Porém, ao mesmo tempo, mais coisas estavam brotando em sua mente, ela estava, aos poucos, reconhecendo que aquela ilusão não era apenas uma simples ilusão, mas sim uma memória sua do passado. Era daí que surgia a dúvida de Angelina… Como o Eidolon sabia daquela história? Como ele sabia daquela memória para conseguir recriá-la de uma maneira tão fidedigna? - Quem mata o Ofiotauro e queima as suas entranhas consegue o poder de derrubar deuses. Ele foi usado na Titanomaquia… E agora eu vou usá-lo para acabar com o Olimpo. - Os olhos de Ásura brilhavam com o seu plano… E ela olhou para Thora buscando sua aprovação. - Eu vou acabar com essa história de semideuses mãe, eu vou refazer o mundo. Ninguém mais irá sofrer não conhecendo o seu pai ou sua mãe e tendo que viver uma vida fugindo ou lutando com monstros. Eu vou acabar com isso. Vou fazer um mundo melhor. - As expressões de Ásura eram de pura conquista. Apesar de sua moral distorcida, no fundo aquilo não era sobre justiça, mas sim sobre vingança. Ásura foi a filha que Thora adotou, filha esta que era uma semideusa e que viveu todos os anos de sua vida sem ser reclamada. Ela nunca soube quem foi o seu pai ou sua mãe divinos… E por conta disso, cresceu amarga.

Como naquela memória, Thora tentou conversar com sua filha. Tentou mostrar para ela que aquilo não era necessário, que aquele não era o caminho certo. Tentou dizer que as consequências de derrubar o Olimpo não seriam boas, porque os deuses são mais do que apenas os pais de alguns semideuses, mas sim aspectos da própria natureza, eles são parte do universo, eles o mantêm, faz parte do equilíbrio da vida. Com que direito você tem de devolver isso a ela? Angelina perguntou em seus pensamentos olhando para o Eidolon que assumia a aparência de Ásura. Era uma pergunta interessante, porque que direito Angelina teve de, inicialmente, retirar aquela memória de Thora e por uma nova no lugar? Porque foi exatamente o que ela tinha feito. No mundo que Angelina criou com a névoa, Thora não tinha matado sua filha porque ela acabou sequestrando uma criatura que poderia derrubar os deuses do Olimpo, tinha matado ela porque uma outra pessoa ruim tinha a possuído, e Thora não teve escolha. Na ilusão que Angelina criou, Ásura nunca tinha ido para o caminho errado, foi culpa de um terceiro. Porém, a realidade estava sendo atirada na cara de Thora naquele momento enquanto ela revivia aquela memória. Estava tudo acontecendo conforme Thora tinha a contado anos atrás. Ásura a chamou, mostrou para ela o Ofiotauro no lago, falou sobre o seu plano, esperou sua aprovação, mas não a recebeu, isso porque Thora já sabia de tudo aquilo, ela tinha sido convocada pelos deuses para parar a sua filha antes que esta concretizasse o seu plano. E ali estava Thora, tentando parar sua filha, tentando convencê-la a não fazer isso… Mas não importava os argumentos utilizados, não importava se Thora estivesse tentando utilizar outros argumentos agora porque estava tendo uma segunda chance de salvar sua filha por meio da ilusão, não importava, porque Ásura estava decidida. Então, as duas começaram a lutar. Ásura brandiu sua espada contra Thora, ela desviou e começou a disparar flechas contra sua filha. Angelina sequer percebeu o momento em que começou a chorar. Eu tirei isso dela. Era para continuar assim. Como? Ela tinha até parado de tentar se soltar dos ramos, tentando entender como o Eidolon estava recriando aquela memória. Melhor, porque ele estava recriando aquela memória? O que ele ganhava com isso? Se queria se salvar, deveria ter tentado outra ilusão, porque naquela memória Ásura terminava morta. Porque? Porque? A palavra martelava em seu cérebro. A luta continuava. Ásura era boa na espada, mas Thora estava vencendo e, com uma rasteira não esperada pela mais jovem, Thora conseguiu derrubá-la. Antes de Ásura conseguir erguer sua espada, Thora chutou a mão dela e a arma voou longe. Em seguida, ela engatilhou uma flecha no arco e apontou contra a sua filha, que continuou deitada no chão, derrotada. Me deixe fazer isso. Não precisa ser você. Pensava Angelina, mas ainda estava presa nos ramos. - Você vai me matar de novo, mamãe? - Disse o Eidolon no chão e, brevemente, os olhos de Ásura brilharam em dourado. Foi neste momento que a ficha de Angelina caiu e ela finalmente entendeu o porquê. Como aquele Eidolon sabia de tudo? Como ele conhecia aquela história? Simples, ele a viveu. Eidolons são almas que morreram. Almas que um dia viveram. Aquele Eidolon… Era a alma de Ásura.

Tal como Angelina, Thora também percebeu tudo. Diante de seus olhos, a ilusão era apenas o cenário e a aparência de Ásura, porque ali estava realmente a alma de sua filha. Ela estendeu a mão, ela quis tocar na sua filha… E Ásura não impediu. Por mais que ela tivesse se tornado a “vilã da história”, ela ainda amava sua mãe de criação. Thora abaixou o seu arco e ajudou Ásura a levantar. Por um momento, as duas se olharam. Um encontro inesperado… Não é todo dia que você encontra um ente que morreu, ainda mais uma filha. - Isso mamãe. Sou eu. - Ásura falou. - Eu morri, mas eu estou aqui. Eu não entendi muito bem como aconteceu, mas quando eu percebi, eu tinha me tornado um novo ser, aquilo que chamam de Eidolon. Então, eu viajei pela Terra e além dela, tentando encontrar uma forma de me restaurar. Demorou, mas eu finalmente encontrei alguma coisa promissora. A obsidiana que Hades mandou destruir. Eu fui atrás daquele designado para destruir a pedra, possui seu corpo, o homem que você viu, do terno verde, um semideus. Fiquei com a jóia e passei a estudá-la. Eu estou perto mãe. - Mais uma vez, Ásura estava com aquele olhar de antes. O olhar de quem busca aprovação, de quem está orgulhosa de suas próprias conquistas, de quem tem planos para o futuro… Planos não muito justos, mas sim vingativos. - Estou perto de voltar. Eu posso voltar a viver. Eu posso voltar… - Ela não completou, mas o olhar dela dizia para o que ela gostaria de voltar. Ela queria voltar para o mesmo propósito de antes, ela queria mudar o mundo. - Me ajude, mãe. Nós podemos ficar juntas. - Ela disse. Thora, por um momento, observou. Angelina ficou quieta, aguardando. Apesar disso, não havia expectativa pela resposta de Thora dentro de si, ela sabia o que sua irmã escolheria, por mais que lhe doesse. Nós fomos ensinadas bem sobre o ciclo das coisas. Angelina pensou. Crescer junto aos ciganos fez isso com elas. Mesmo sendo filhas da mitologia grega, elas conheceram muitas crenças. Através dos olhos de muitos, elas aprenderam que o mundo não é preto e branco, mas cinza, mesmo para a própria mitologia. Naquele momento, a história começou a se repetir. Thora começou a conversar com Ásura sobre como aquilo não era correto, sobre como ela deveria seguir em frente e aceitar seu julgamento. Ela afirmou que não deixaria Ásura sozinha, faria com ela toda a travessia pelo Mundo Inferior, a ajudaria a enfrentar as consequências pelas suas escolhas. - Mamãe… - Ásura falou com a voz um pouco embargada. - O mundo nunca foi justo comigo. Porque o meu julgamento seria? - Ela perguntou, se aproximando de Thora. - Os deuses sequer me reconheceram como sua filha. Eu já morri, já me tornei um novo ser, uma criatura, um monstro… E mesmo assim, eu ainda não sei quem foi meu progenitor. - Frente a frente, mãe e filha se encaravam. - Porque meu julgamento seria justo? Eles entenderiam porque eu fiz o que fiz? - Ásura parecia… Arrependida, mas com medo. - Eles me perdoariam? - Ela perguntou… Então sacou uma adaga escondida em seu corpo e cravou na cintura de Thora sem piedade. Angelina remexeu-se completamente em seus ramos, gritou através daquele que amordaçava a sua boca, seu sangue esquentou em suas veias enquanto ela sentia o desespero aflorar completamente dentro de si. Ásura começou a rir. - Desculpa mamãe, eu não quero viver sobre as regras dos deuses, eu nunca quis. - Ela riu ainda mais. - Achei que você iria querer me ver viva de novo. - Ela parou com sua risada e olhou para Thora com uma certa tristeza, mas o seu papo de antes… Foi fingimento. Ela nunca se arrependeu de ter tentado destruir o Olimpo.

Mais do que tudo agora, Angelina queria levar Thora para algum hospital, mas ela se lembrou de uma coisa que a deixou levemente aliviada. Thora não era uma semideusa mais, ela era uma ninfa. Sua vida estava atrelada à uma árvore, enquanto a árvore vivesse, ela também viveria, por mais que recebesse uma facada na cintura. Os olhos de Angelina então voltaram para Ásura. Aquela fedelha desgraçada. Se não fossem os ramos, Angelina possivelmente teria voado nela, mas ela ainda estava envolvida demais na ilusão. Ela não conseguia fazer nada se não assistir. Thora cambaleou para frente, tirando a adaga de sua cintura e a jogando longe. Mesmo sabendo da condição de ninfa de sua irmã, assistir Thora machucada era quase insuportável para Angelina. Ela forçou tanto aqueles ramos que sentiu a sua energia ir se esvaindo de tanto esforço que estava fazendo. Certamente seus braços, pernas e os arredores de sua boca deveriam estar arranhados pelos ramos. Thora começou a falar com Ásura, dizendo que tinha buscado incansavelmente a filiação de sua filha depois dela ter partido. Ela tinha descoberto porque Ásura não foi reclamada. A verdade era que Ásura era muito parecida com a sua mãe biológica, mas que as escolhas que ela tinha tomado na vida a impediram de ter sido reclamada, isso porque sua escolha de vingança iria acabar destruindo o equilíbrio das coisas. Ásura ainda seguia por este caminho naquele momento, escolhendo ir contra a natureza, contra o equilíbrio da vida, ainda estava buscando uma coisa que já não deveria mais buscar. Tudo isso continuava impedindo que a mãe de Ásura a reconhecesse. Ásura não era reclamada por esquecimento, mas sim por escolha de sua mãe deusa em não fazê-lo. Nêmesis. Angelina pensou, entendendo tudo. Mais importante para a deusa da vingança não é a vingança em si, mas sim manter o equilíbrio. Ásura poderia ser muito parecida com sua mãe no quesito da vingança, mas Nêmesis não assumiria uma filha que escolhe destruir o equilíbrio da existência. Em seguida, Thora se aproximou novamente de Ásura, dizendo que deixou ela tomar suas próprias escolhas e estava orgulhosa de sua filha ser tão engenhosa em seus planos. Angelina soltou gritos abafados de seus ramos, não querendo que Thora se aproximasse mais uma vez da garota que tinha acabado de esfaqueá-la. Porém, mesmo que Thora pudesse ouvir Angelina, ela por acaso obedeceria? É claro que não, ela ainda tinha palavras para Ásura. No fim das contas, aquela era a sua filha do coração, e ela sentia muito em ter que fazer o que estava por fazer. Surpreendendo Ásura, Thora a puxou em um abraço… E junto dele, deu uma flechada. No último instante, Thora pegou uma flecha reserva junto ao seu corpo e, na mão mesmo, a utilizou para matar sua filha mais uma vez. Mesmo com aquele gesto, ela continuou abraçando Ásura, que se debateu um pouco antes de aceitar aquilo. Ao seu redor, o corpo de Ásura começou a brilhar em um tom vermelho quase parecido com o ruivo vivo de seus cabelos. Mãe e filha perceberam isso, observando aquela estranha aura, então olharam para cima. Enquanto os olhos brilhando em dourado de Ásura iam aos poucos perdendo a cor, o símbolo de uma espada vermelha com duas asas juntas da lâmina surgiu ali, acima de suas cabeças. Olhando para sua filha, Thora falou as tão clássicas palavras de uma reclamação. “Deusa da vingança, justiça e equilíbrio. Salve Ásura Schuyler, filha de Nêmesis”.

Parte 4: Essências Destruídas {Dia 2 - 02:04 - Bunker dos Discípulos das Sombras}

Depois desse momento, a ilusão começou a se desfazer na forma de retalhos. Era como se o mundo ilusório fosse se despedaçando diante dos olhos de Angelina, dando lugar novamente ao bunker cheio de pessoas possuídas por eidolons que rastejavam ou se queixavam. Aparentemente, eles estavam assistindo a tudo o que acontecia com o seu líder, ou no caso, sua líder. Thora mantinha-se abraçada ao homem do terno verde, imagem que, a princípio, causou muita estranheza a Angelina, mas logo ela percebeu que Thora apenas ainda não tinha notado que a ilusão se desfez. Somente na ilusão que aquele homem tinha a aparência real de Ásura… E a vida dele acabou sendo o sacrifício necessário para destruir a obsidiana. A jóia, por sinal, não passava de um amontoado de pó perolado roxo escuro aglomerado em um montinho ao lado do corpo inerte do homem de terno verde, ainda segurado por Thora no abraço. Quanto aos ramos de Angelina… Eles tinham sumido completamente. Ela estava livre, então levantou-se da posição de joelhos e foi até Thora. - Eu sinto muito. - Ela disse ao se aproximar de Thora, pegando nos ombros dela de forma delicada e, aos poucos, fazendo ela soltar-se do homem de terno verde e perceber que ali já não havia mais qualquer sinal de sua filha. - Sinto muito por isso e por ter trocado a sua memória. - Ela disse, ainda segurando a irmã, transmitindo forças para ela. - Mas não me arrependo do que fiz. Você nunca mereceu passar por nada disso, eu quis tirar essa experiência ruim de você. - Ela se justificou. Sem segredos entre as irmãs, era algo que elas sempre iriam preservar. Mas no fim das contas, tudo aquilo que você tentou fugir ou mudar acabou voltando, Angelina. Disse sua voz mental, a repreendendo. Tudo bem, ela sabia disso… E já estava lidando com as inúmeras consequências. Ao menos, Thora a perdoava, naquele momento mesmo dizia que entendia, mas também pedia para que Angelina nunca mais fizesse algo do gênero sem antes ter um aviso, uma conversa. - Justo, Sistra. Justo. - Foi o que Angelina respondeu.

- Nossa irmã… Se foi. A essência dela foi levada, destruída. - Disse a monótona voz de um dos possuídos. - Nêmesis fez mais do que reclamar Ásura, ela também fez com que a sua flecha fosse capaz de matar um Eidolon. - Concluiu Angelina. Ásura, agora, realmente estava morta. Ela não era mais um Eidolon… Vai saber para onde sua alma foi. - Se importa de recolher isso de alguma forma? - Disse Angelina, apontando o olhar para o pó perolado. - É melhor levarmos para Hades. Vai que tenha sobrado algum resquício de magia nisso. Eu vou… Dar um jeito no resto desses Eidolons. - Alguns dos Eidolons deram risada através dos corpos de seus mortais possuídos. Claro, o que uma semideusa poderia fazer com eles? Eles não poderiam ser mortos, Ásura morreu mais pela ajuda de Nêmesis, pois matar a pessoa que um Eidolon possui não significa necessariamente matá-lo também. Angelina colocou a mão dentro de sua blusa e dali de dentro tirou um amuleto que vinha preso junto a um cordão escondido ao redor de seu pescoço. Aquele era o Despotikó Fylachtó, o item que ela tinha ganhado de Zeus após ter realizado a missão para ele no vulcão. Aquele amuleto era um controlador de mentes. Angelina imaginava que Eidolons tem uma boa força mental, afinal, eles são possuidores, ainda sim, aquele item iria garantir a ela que pelo menos uma ordem sua fosse ser respeitada por aquele que ela usasse de sua influência. Dessa forma, Angelina caminhou até o Eidolon que tinha falado sobre a essência de Ásura ter sido destruída. Ela tocou no amuleto, o acionando, então olhou nos olhos dourados do Eidolon. - Destrua unicamente a essência de cada Eidolon que está nessa sala. - Tão rápido quanto ela deu a ordem, o Eidolon saiu do corpo daquele mortal e foi em outro corpo. Segundos depois, dois Eidolons saíram daquele corpo e pularam para o próximo… E assim continuou até que todos os Eidolons tivessem saído dos corpos e iniciassem uma estranha perseguição que atravessou as paredes do bunker. Para onde eles foram? Angelina não sabia, mas ela sabia que um deles iria caçar os demais para os destruir, para os matar, mesmo que eles já estivessem, em teoria, mortos. Eles teriam o mesmo destino de Ásura. Todos os mortais possuídos ficaram desacordados. Eles acordariam com vários machucados, alguns com flechadas pelo corpo, mas Angelina não via qualquer problema nisso. Eles eram cultistas, não iriam fazer qualquer denúncia, poderiam colocar em risco a seita, suas imagens. A última coisa que Angelina fez naquele bunker foi destruir a caldeira utilizada para invocar os Eidolons. Aqueles mortais não sabiam com o que tinham se metido… E era melhor que não se metessem mais. - Vamos Sistra… Vamos embora daqui. - E assim, elas foram.
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Thora Schuyler Sex Ago 11, 2023 11:59 pm

I'll love you forever, I'll like you for always, as long as I'm living, my baby you'll be.
And history repeats itself
O
fato de Hades estar querendo falar conosco era curioso, mas Angelina parecia bastante incomodada com isso, a ponto de dizer que não gostava de ele ter nos chamado. — Ah, vai que ele está com saudade? — Dei de ombros. Era uma probabilidade bem tola, realmente, mas não impossível. Angelina claramente não viu graça na opção dada por mim, mas eu esbocei um meio sorriso enquanto continuamos avançando pelo mundo inferior. Deveríamos ir até a Sala do Trono para a tal audiência com nosso pai, e balancei a cabeça em afirmativa para a pergunta sobre eu estar pronta. Não devolvi o questionamento, sabia que minha gêmea não estava nada confortável com aquilo, mas mesmo assim segurei sua mão, sabendo que ela usaria os poderes que tinha por ser filha de Hades - e que eu, por me tornar uma ninfa, acabei abrindo mão. Não demorou muito para que viajássemos através das sombras até a sala do trono. Sorri para Angelina com o questionamento se eu estava bem. — Sim, Anja. Tá tudo bem. — Confirmei. Eu ainda era filha de Hades, afinal, era capaz de lidar com os poderes herdados pelos filhos dele, mesmo que eu mesma já não os tivesse mais. Depois desse breve diálogo, meus olhos passearam por aquele lugar que há tanto tempo não visitava. Desde que Angelina nos levou para um mundo diferente, ao menos em consciência, era esquisito pensar sobre eu ainda ter um pai vivo e sem estar queimado em um trailer por não seguir os costumes familiares. Na verdade, foi praticamente impossível não esboçar um largo sorriso ao olhar para Hades ali, sentado em seu trono. Minha irmã poderia até desaprovar, mas não importava muito naquele momento.

— Oi, papai. — Disse com um sorriso, percebendo as expressões de Angelina diante da minha fala. Resolvi ignorar, mantendo meu olhar em Hades. Sabia que ela tinha um pensamento bastante diferente do meu em relação aos deuses num geral, mas principalmente sobre nosso lado paternal. Ela não encarava como se o cara ali na nossa frente fosse nosso pai, ele parecia mais um cara em cima de um pedestal para ela, enquanto eu tratava isso com naturalidade. Não entenda errado, eu sei que deuses tem milhares de defeitos, mas isso não significa que também não possuam qualidades. Mas aquela audiência não era nenhum encontro familiar, e enquanto Hades falava sobre, minha mente acabou viajando para memórias de um tempo que sequer existiu. Os tais “discípulos das sombras” me lembraram de outro grupo... Seria a partir disso que Angelina tirou criatividade para criar os sombras da morte? Tentando voltar a prestar atenção, Hades explicava sobre o roubo de uma joia importante, chamada de obsidiana. Ela funcionava para canalizar e atrair energias dos mortos. Horcruxes. A palavra surgiu em minha mente de forma involuntária, e então consegui compreender que demoraria até que eu desvinculasse as coisas do mundo da névoa com o mundo real. Respirei profundamente, buscando por concentração, e pude captar a informação de que agora o objeto estava com alguns arruaceiros irresponsáveis que sequer sabiam usá-la. Eidolons… Esse nome não me é estranho. Pensei comigo, olhando diretamente para Hades segundos depois, absorvendo a informação de que seria necessário o sacrifício de um ser vivo para destruir a pedra. Olhei para Angelina rapidamente, mas nada disse, escolhendo ficar em silêncio.

Quando nós deixamos a sala do trono, Angelina estava incomodada (tal como ficou desde o momento em que vimos o esqueleto), e então me perguntou se eu não me incomodava Hades ter nos chamado apenas para nos dar um trabalho. Apenas dei de ombros. — Eu não sei porque você ainda se incomoda com isso, pra falar a verdade. — Fui sincera, caminhando pelo palácio até chegarmos ao lado de fora. — As coisas sempre foram assim, desde sempre. Você já devia ter se acostumado com isso. — Não era a intenção parecer grosseira, era apenas uma realidade a qual eu sempre fui conformada, ao contrário de Angelina. Nós duas éramos irmãs gêmeas, compartilhamos a mesma aparência física, exatamente a mesma aparência, mas diferente de mim ela era mais familiarizada com as trevas enquanto eu com a luz. Uma filha de Hades que prefere a luz do que a escuridão? Chegava a ser cômico, mas era o que era. Ao contrário de tantos de nós, filhos do deus dos mortos, eu não conseguia simplesmente escurecer minha essência, mesmo que fosse para camuflar meus sentimentos. Já perto da saída do mundo inferior, questionei a respeito dos Eidolons. Por mais lúcida que eu estivesse quanto ao mundo real, com deuses, espíritos, criaturas… Ainda não conseguia lembrar de cada um deles com tanta facilidade, e como Angelina nada questionou no momento em que a missão foi passada, imaginei que ela soubesse de que se tratava. Pelo visto, Eidolons eram espíritos capazes de fazer possessão, e se originaram daqueles que já estavam mortos. Estremeci com a informação, já imaginando a complicação de trabalharmos daquela forma.
[...]

Hades havia decidido nos dar uma ajuda assim que chegamos em São Francisco, e eu resolvi ignorar a provocação de Angelina sobre a forma que eu o tratava. Sabia que se eu desse corda, aquilo perduraria por muito mais tempo. Assim, com meu arco e flechas devidamente “camuflado” sobre o sobretudo que eu vestia, segui o esqueleto ao lado de minha irmã pelas ruas da cidade, um tanto receosa em acabar encontrando criaturas por ali. Chegamos em um cemitério, lugar perfeito para encontros de uma seita, ainda mais durante a madrugada, e então balancei a cabeça para Angelina, mostrando que compreendia a necessidade de continuar avançando. Chegando em um dos mausoléus, o esqueleto quebrou-se, logo virando pó, o que deixava claro uma coisa: chegamos. — Acho que esse é o objetivo. Não se esconder o suficiente para parecer suspeito. — Dei de ombros, abrindo espaço para que Angelina abrisse o alçapão, onde as escadas apareceram. Descemos degrau por degrau, até chegarmos ao túnel subterrâneo. Cheguei a soltar uma risadinha abafada, sem som, apenas ar saindo da boca. Aquele caminho parecia criado como cenário para algum filme de terror dos anos 80. — Nem Hades é tão melodramático nesse ponto. — Comentei em sussurros, ainda vendo comicidade naquele caminho que se estendeu por metros. Algum tempo depois, porém, finalmente chegamos até a porta que dava acesso a um bunker. Arqueei a sobrancelha, curiosa, totalmente surpresa com aquilo que encontramos ao adentrar o espaço. — Isso é piada, né? — Foi impossível não pensar. Haviam comes, bebes e iluminação à luz de velas. Parecia mais um encontro romântico do que um culto. Mas isso não era realmente importante.

Ainda assim, um homem bem apessoado se aproximou de nós com simpatia, perguntando se éramos novas. De início, o encarei de maneira curiosa, mas depois relaxei as expressões, balançando a cabeça positivamente. — Sim, é nossa primeira vez aqui. — Falei com um sorriso no rosto, tentando seguir suas expressões. Naquele momento, talvez fosse melhor que eu me comunicasse por nós duas, e aparentemente Angelina pensava igual. O homem que nos recebeu, nos deu boas-vindas e nos deixou avançar mais para dentro, fechando a porta. — Muito obrigada! Espero não ter chegado tarde… — Falei, na intenção de chegar em algum lugar com aquela frase vaga. Caminhando ao lado do homem de terno verde musgo e de Angelina, ele comentava que a invocação começaria em alguns minutos, nos oferecendo até mesmo bolinhos de chocolate. Ri do comentário de Angelina quando ele se afastou, e logo concordei em nos misturarmos. Enquanto ela seguia para a mesa dos quitutes, eu caminhava pelo local em busca de qualquer atividade suspeita, mas preferi ficar na retaguarda, escutando as conversas dos demais e observando com atenção. Passava por todos ali, começando a ficar incomodada com o ambiente mais escurecido. Por mais familiarizada com coisas mórbidas que eu fosse, eu ainda precisava estar perto de coisas vivas. Da natureza, de preferência. Ter me tornado uma ninfa, no fim das contas, havia mexido com essa parte minha. Sendo assim, sentindo-me um tanto quanto sufocada, resolvi retornar para perto de Angelina enquanto o ritual estava prestes a começar. A multidão de membros da seita estavam de pé agora, se unindo, mas logo encontrei Angelina, que rapidamente mencionou sobre a intenção de invocar Eidolons. Arregalei os olhos e logo dei um suspiro, nervosa. — O carinha simpático de terno verde é o líder… Está com ele, Anja. — Referia-me à obsidiana. Durante minha caminhada, escutei um casal comentando algo envolvendo uma joia com ele e… Bom, não era necessário ser filha de Atena para saber fazer dois mais dois.

O ritual havia começado e não demorou muito até que fôssemos capazes de enxergar os Eidolons. Aquilo era complicado, e estava começando a ficar novamente com aquela sensação de sufocamento. Precisava me concentrar e lutar contra tudo e todos para impedir que me possuíssem também, mas a visão daqueles espíritos entrando nos corpos daquelas pessoas, que aceitavam aquilo de bom grado, me fez manter os olhos arregalados, em estado de choque. Saí do transe no momento em que escutei a voz do cara de terno verde, o líder. Ele estava possuído por um Eidolon, e aquilo que ele falava de repente começou a me deixar ansiosa. Ele estava falando… Sobre nós? Era o que parecia, porque ele dizia sobre não sermos “normais” e que não podíamos deixar que destruíssemos a chance que eles tinham de voltar à vida. Aos poucos, os outros possuídos começaram a nos cercar, e isso me incomodou, mesmo que eu não soubesse o que fazer. No entanto, ele começou a falar sobre a o obsidiana, e como ela poderia ajudar a trazê-los de volta por canalizar a energia dos mortos. Apertando minhas mãos e sentindo as pontas das minhas unhas contra a minha pele, esperava que Angelina encontrasse alguma solução para aquilo, e rápido. Mas então ela só comentou sobre detestar quando não conseguia matar. Bom, Eidolons eram espíritos, né… Não é como se fossem capazes de morrer, mas ainda precisávamos fazer algo. E então Angelina teve uma ideia brilhante… Ou melhor, escura.

Utilizando um de seus poderes, a mulher invocou a profunda escuridão ao nosso redor, impedindo que os Eidolons enxergassem. Aliás, nem mesmo nós duas. Foi aí que puxei meu arco anteriormente escondido pelo sobretudo e puxei uma flecha da aljava, lançando contra um dos Eidolons. Tínhamos que enfrentá-los de alguma forma, e esse foi o modo como íamos conseguindo. Ficamos uma de costas para a outra, avançando contra os Eidolons através de nossas flechas. Seria hipocrisia dizer que não sentia falta de missões ao lado de Angelina, como quando éramos campistas. Treinamos arquearia juntas, aprimoramos nossas técnicas juntas, mas não tínhamos os mesmos objetivos. Mesmo assim, ali não tínhamos a intenção de causar nenhum tipo de dano permanente nos mortais, apenas impedir que os Eidolons seguissem. Num dado momento, Angelina apontou a flecha na direção do líder, enquanto eu continuava ali, combatendo os demais, e quando eles foram contidos, ela alertava que ele havia perdido.

[...]

Minha mente naquele momento foi um borrão. Num momento ele estava pegando a jóia e no outro estávamos em um campo aberto. Meu coração começou a acelerar, como se eu soubesse o que estava por vir, mesmo não querendo acreditar naquela possibilidade. Sobre um céu noturno, eu me encontrava nas margens do lago, com Angelina ao meu lado. Naquele instante, Angelina começou a parecer nervosa, inclinando-se com a mão na cabeça. — Anjo, o que foi? — Perguntei, preocupada, mas não prestei muita atenção em suas palavras, analisando-a e tentando descobrir o que havia de errado, quando simplesmente meu coração para, o mundo inteiro fica vazio, oco, e somente uma voz ecoando em minha mente. De olhos arregalados, me viro na direção da voz, avistando aquela que há muito não via. Foi impossível conter as lágrimas ao vê-la, e simplesmente caminhei em sua direção. — Ásura. — Disse com ternura e surpresa. Angelina tentava me convencer a não me aproximar, mas aquilo não era apenas uma ilusão. Eu sabia que aquela era Ásura. Minha filhinha. A filha que eu… Suspirei, me aproximando da margem do lago e não tirando os olhos dela nem por um segundo. Ásura dizia que havia conseguido, segurando uma espada enquanto apontava para o lago. Aquela lembrança começou a surgir na minha mente como flashbacks. Angelina tinha apagado isso de mim da vida paralela que criou, mas como eu esqueceria? Não. Eu sabia onde estávamos e o que estava relembrando. O Ofiotauro estava ali nadando, só existia um deles no mundo e Ásura havia o capturado. Tentei esboçar um sorriso, mas não consegui. ”Quem mata o Ofiotauro e queima suas entranhas consegue o poder de derrubar deuses. Ele foi usado na Titanomaquia… E agora eu vou usá-lo para acabar com o Olimpo.” Eu era capaz de recitar cada palavra que saía de sua boca, mas ao invés disso, respirei profundamente. — Esse não é o caminho certo, querida. Você sabe disso. — Falei, tentando convencê-la.

— Nós não precisamos dessa vingança… Não precisamos destruir os deuses. Você pode ser feliz, minha querida. E eu posso ajudá-la a alcançar sua felicidade. — Tudo o que eu queria, do fundo do meu coração, era conseguir salvar Ásura do destino que havia lhe arrancado a vida. Aquela era uma ilusão, mas e se ainda assim fosse possível, ao menos salvá-la em espírito? Não houve tempo para mais nada, porque ela desferiu um ataque contra mim, o qual desviei por pouco, puxando algumas flechas e lançando contra ela. Ela não morreria tão rápido, aquela ainda era uma lembrança, afinal. Por mais experiente na espada que ela fosse, eu tinha mais experiência em batalhas, mas desisti de usar meu arco, me abaixando e passando-lhe uma rasteira, que fez com que ela caísse no chão. Rapidamente, chutei sua mão, jogandolonge sua espada. Ao puxar a flecha e colocá-la no arco, apontei para Ásura e as palavras que se seguiram fizeram com que, mais uma vez, meu coração errasse a batida. “Você vai me matar de novo, mamãe?” Senti minhas mãos tremerem um pouco, mas mantive a guarda. E então meus olhos voltaram a se arregalar. O Eidolon era ela. Era minha Ásura. Abaixando a arma, tentei me aproximar dela, tocá-la, e quando consegui, puxei de volta a ficar de pé. Meus olhos estavam marejados, era mesmo minha menina. ”Eu morri, mas eu estou aqui. Eu não entendi muito bem como aconteceu, mas quando eu percebi, eu tinha me tornado um novo ser, aquilo que chamam de Eidolon. Então, eu viajei pela Terra e além dela, tentando encontrar uma forma de me restaurar. Demorou, mas eu finalmente encontrei alguma coisa promissora. A obsidiana que Hades mandou destruir. Eu fui atrás daquele designado para destruir a pedra, possui seu corpo, o homem que você viu, do terno verde, um semideus. Fiquei com a jóia e passei a estudá-la. Eu estou perto mãe.” Aquelas palavras e o argumento que se seguiu realmente tocaram meu coração, e eu realmente queria que existisse uma forma de ela voltar a viver, mas eu sabia que… Suspirei. — Você precisa seguir em frente, querida. Aceitar seu julgamento. É a ordem natural das coisas… Mas eu… Eu não vou te deixar sozinha, sabe? — Sorri, com compaixão. — Farei com você toda a travessia… A ajudarei a enfrentar as consequências pelas suas escolhas.

Algumas lágrimas começaram a escorrer, mas as palavras de Ásura eram determinadas. Por mais arrependida que parecesse, não ter sido reclamada por sua mãe divina a havia deixado daquela forma, com sede de vingança e não pararia por nada. E eu estava tão focada em manter meus olhos sobre os dela que só fui capaz de sentir a dor aguda de algo gravado contra a minha pele instantes depois, me fazendo curvar o corpo enquanto chorava, não pela dor física, mas emocional. Existia dor sim, mas como uma ninfa, minha alma não estava atrelada à minha árvore, ao galho que trazia comigo e nunca falava para ninguém. Eu não morreria. Com um pouco de dificuldade, porém, comecei a falar, ainda sem tirar os olhos de minha filha. — Depois que você… se foi… Busquei incansavelmente sua filiação e descobri a razão pela qual você nunca foi reclamada. — Aquilo pareceu atrair a atenção de Ásura, que agora me olhava. — Você é parecida demais com sua mãe biológica… Mas suas escolhas impediram que fosse reclamada, afinal, sua escolha de vingança acabaria destruindo o equilíbrio das coisas e… Bom, você está buscando se livrar do equilibrio, do ciclo natural das coisas, algo que você não deveria mais buscar. — Suspirei. — Sua mãe escolheu não te reclamar, porque a deusa da vingança prefere manter o equilíbrio das coisas do que a vingança. — Me levantei com certa dificuldade, mas me aproximei de Ásura. — Deixei que você tomasse suas próprias escolhas e estou orgulhosa de quem você se tornou. Você é engenhosa. — Puxei minha filha para um abraço forte, segurando-a contra o meu corpo e fechando os olhos. Naquele momento, ao mesmo tempo em que uma lágrima silenciosa escorria, desci da manga do sobretudo uma flecha reserva, escondida, e cravei em Ásura, dando-lhe uma flechada. Ela se debateu, mas finalmente se rendeu, devolvendo o abraço com a mesma força. Ela havia aceitado seu destino, afinal de contas.

Para a minha surpresa, porém, seu corpo começou a brilhar num tom vermelho. Ao olhar para cima, o simbolo de uma espada vermelha com duas asas juntas surgia. — Deusa da vingança, justiça e equilíbrio. Salve, Ásura Schuyler, filha de Nêmesis. — Bradei com orgulho, olhando novamente para seu rosto e então percebendo algo diferente: o brilho dourado de seus olhos havia desaparecido. No momento em que Ásura abraçou o seu destino e desistiu de sua vingança, desistiu daquela atitude covarde de continuar com aquilo, Nêmesis decidiu reconhecê-la. — Obrigada. — Disse num sussurro, acariciando o rosto de minha filha antes de voltar a abraçá-la. Fiquei assim por muito tempo, amparando minha filha e a embalando, mas de olhos fechados. Não queria vê-la partir, tampouco queria ver aquela ilusão acabar. Meu rosto estava molhado, mas eu seguia ali. Algum tempo depois, ou talvez muito tempo depois, Angelina me despertou do momento com Ásura, que já não estava mais ali, dando lugar ao homem de terno verde. Minha irmã me ajudou a levantar, e pedia perdão por ter trocado minha memória. Eu havia matado Ásura uma vez... E ao que parecia, matei uma vez mais. — Eu te perdoo, é claro que perdoo… Mas nunca mais faça algo assim sem conversar comigo antes. — Avisei. Ao que parecia, Nêmesis havia destruido o Eidolon que possuía Ásura, mas eu não fui capaz de entender mais nada além daquilo. Emocionalmente exausta, deixei que minha irmã cuidasse do resto, até que estivéssemos prontas para voltar pra casa.
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Re: Ruas de São Francisco

Mensagem por Dylan Maverick Qui Set 07, 2023 6:53 pm

ENCERRANDO UM FESTIVAL
A PAZ NÃO É UMA OPÇÃO
Ares apareceu no chalé, como costumava fazer de tempos em tempos, em busca de um de seus filhos disponíveis. Naquela tarde, o olhar sombrio e penetrante de meu pai divino recaiu sobre mim. Não houve saudações calorosas nem sorrisos afetuosos. Era como se eu fosse apenas mais um soldado em seu exército divino, e eu estava pronto para receber minhas ordens, como deveria ser feito. Ele acenou com a mão, indicando que eu me aproximasse, e obedeci prontamente, sem nem pensar duas vezes. Minha postura era rígida, como a de um soldado diante de seu comandante. Ares não perdeu tempo com formalidades, e sua voz era firme e decidida enquanto começava a falar sobre o motivo de sua visita. Ele expressou seu descontentamento com um novo festival que estava ocorrendo em São Francisco, onde os participantes adotavam a ideia de "fim da guerra". Sua raiva era palpável, e eu sabia que algo grande estava prestes a acontecer. Ares não toleraria nenhuma ameaça à sua autoridade como deus da guerra.

Enquanto ele prosseguia, explicando que eu tinha a missão de invadir o local do festival e mostrar a todos que apenas a linguagem da guerra era eficaz, eu mantive meu rosto impassível. Não havia espaço para questionamentos ou hesitações. Ares era meu pai, e eu era seu filho, destinado a cumprir suas ordens. Quando ele disse que não se importava com os meios e instruiu-me a acabar com o festival e qualquer pessoa que cruzasse meu caminho, eu simplesmente assenti com determinação. Meu pai desapareceu em um rastro de fogo, deixando-me com a responsabilidade dessa missão. Fiquei ali por um momento, absorvendo suas palavras. Não podia decepcioná-lo de forma alguma. Era hora de mostrar que eu era verdadeiramente um filho de Ares, um guerreiro implacável, disposto a cumprir qualquer tarefa que meu pai me designasse. Era mais uma missão, e eu estava pronto para o combate, como sempre estive. Após receber as instruções de Ares, não perdi tempo. Sabia que precisava me preparar rapidamente para a missão iminente em São Francisco. Caminhei de volta ao meu chalé com passos decididos, minha mente já traçando planos enquanto o peso das ordens do deus da guerra pesava sobre meus ombros. Eu não era nem de longe o semideus mais inteligente, porém, eu era bom em instaurar guerra, nasci para isso.

Ao chegar ao chalé, entrei e fui direto para o meu pequeno espaço pessoal. Primeiro, tomei um banho rápido para me livrar da poeira do treinamento e me sentir renovado. A água quente escorria pelo meu corpo, mas não consegui relaxar completamente, pois o pensamento da missão ocupava minha mente. Após sair do chuveiro, vesti uma roupa leve. Peguei minha mochila e comecei a preparar os itens necessários. Meu Dákrya Aímatos, um machado de batalha com lâmina afiada, estava entre os primeiros a serem colocados na mochila. Além disso, coloquei a areia da soneca, um pequeno frasco que continha um punhado de areia mágica. A areia da soneca poderia ser uma vantagem tática, caso eu precisasse desacelerar meus oponentes. Juntei também outros itens banais, como comida de viagem, água e algumas outras coisas. Cada detalhe era importante, e eu estava determinado a estar preparado para qualquer situação. Antes de partir, decidi falar rapidamente com minha irmã, Spark, que estava no chalé e parecendo um Espantalho, pois havia acabado de acordar. Ela era uma das poucas pessoas com quem eu tinha algum vínculo forte no acampamento, já que também éramos irmãos da mesma mãe. Com minha mochila pronta, saí do chalé diretamente em direção a São Francisco.

O trajeto até São Francisco se deu principalmente em um ônibus comum, misturado entre os passageiros mundanos que não faziam ideia do que estava acontecendo ao meu redor. A viagem começou tranquila, e eu permaneci sentado, mantendo-me discreto e observando o movimento lá fora. No meio do caminho, o ônibus fez uma parada em uma pequena estação de descanso à beira da estrada. Os passageiros desembarcaram, ansiosos para fazer uma refeição rápida e esticar as pernas. No entanto, eu sabia que não podia relaxar. Minha missão era clara, e a ameaça iminente pairava sobre mim. Enquanto a maioria dos passageiros se dirigia ao restaurante da estação de descanso, eu permaneci no ônibus, observando atentamente o ambiente ao meu redor. Foi então que aconteceu. Uma harpia, com suas asas negras e garras afiadas, invadiu o ônibus, pronta para atacar. Era apenas eu e o monstro dentro do veículo, e os outros passageiros estavam alheios ao perigo que se desenrolava ali.

Rapidamente, peguei meu Dákrya Aímatos, o machado de batalha que eu carregava comigo, e me preparei para o combate. A harpia avançou em minha direção, suas garras afiadas buscando ferir-me. Eu estava atento e possivelmente iria impedir que isso acontecesse. O confronto foi intenso e silencioso, pois os outros passageiros estavam ocupados lanchando e não faziam ideia do que estava acontecendo a bordo. Eu bloqueava os ataques da harpia com meu machado e contra-atacava com golpes precisos. Trocamos golpes ferozes no apertado espaço do ônibus, o som do metal contra as garras da criatura ecoando pelo veículo em alguns momentos. Finalmente, depois de uma luta nada demorada, consegui atingir a harpia com um golpe fatal em seu pescoço. A criatura se desfez em pó dourado, e o ônibus voltou à sua tranquilidade anterior. Sem perder tempo, guardei meu machado e voltei para meu assento. As coisas estavam começando a ficarem feias, e eu precisava que esse ônibus chegasse logo ao meu destino. Os passageiros retornaram de sua pausa para lanches, alheios ao perigo que tinha se manifestado e agora já tinha sido superado. Eu permaneci alerta, consciente de que minha missão estava longe de terminar, mas por enquanto, a calmaria prevaleceu.

A paisagem passava rapidamente pela janela do ônibus enquanto nos aproximávamos de São Francisco. O sol se punha no horizonte, lançando uma luz dourada sobre a cidade quando finalmente chegamos ao destino. Assim que desembarquei, não foi difícil encontrar o festival que era o alvo de minha missão. Um outdoor gigante, exibindo em letras chamativas "Gibborim: Um lugar de paz", dominava a avenida principal da cidade. Era uma afronta direta ao princípio de guerra e poder que Ares representava. Sem perder tempo, saí do terminal de ônibus. O sol se punha lentamente no céu, lançando uma atmosfera surreal sobre a cidade. À medida que me aproximava do local do festival, podia sentir a energia no ar, uma mistura de excitação e expectativa. As pessoas se reuniam para celebrar a paz e a harmonia, alheias ao fato de que o deus da guerra estava prestes a se fazer presente de uma maneira muito diferente. Finalmente, após uma curta caminhada, encontrei um ponto onde era possível pegar um táxi até o "Gibborim: Um lugar de paz". Entrei no táxi e dei ao motorista as coordenadas exatas do local do festival. O motorista, um homem simpático, acelerou pelas ruas movimentadas de São Francisco, enquanto eu me preparava mentalmente para a missão que estava prestes a cumprir. O festival estava a poucos minutos de distância, e a tensão estava no ar. Eu sabia que, assim que chegasse lá, precisaria mostrar a todos que só a linguagem da guerra funcionava e que Ares era o único deus da guerra. Minha determinação estava mais forte do que nunca, e eu estava pronto para enfrentar o desafio que me aguardava no "Gibborim: Um lugar de paz".

Ao me aproximar do "Gibborim: Um lugar de paz", a atmosfera de tranquilidade e harmonia era palpável. A cidade estava agitada, e as pessoas se reuniam em um espírito de comunhão e paz. A ideologia que Ares tanto abominava estava em pleno vigor, e eu sabia que minha missão era pôr um fim nisso. Mas então, quando cheguei mais perto do festival, um dilema moral me atingiu como um soco. As palavras de Ares ecoaram em minha mente, lembrando-me da importância de cumprir sua ordem direta. Enquanto ideologias de paz existissem, Ares era enfraquecido de alguma forma, e apenas a violência poderia dar-lhe força. Era um pensamento brutal, impiedoso, mas era a natureza do deus da Guerra. No entanto, ao mesmo tempo, eu não podia deixar de observar as pessoas ao meu redor. Elas agiam pacificamente, compartilhando sorrisos e abraços, acreditando sinceramente que a paz era a resposta para os problemas do mundo. Eu via em seus olhos a esperança de um futuro melhor, mesmo que fosse um conceito vago e idealista. O dilema era agonizante. Eu sabia que poderia encontrar pessoas corruptas no meio daquele festival, e poderia lidar com elas de acordo com as ordens de Ares. Mas a maioria das pessoas ali presente era formada por indivíduos bem-intencionados, pelo menos aparentemente, cujo único crime era acreditar em um mundo mais pacífico. No final, porém, o peso da ordem de meu pai divino pesou mais do que qualquer dilema moral. Ares tinha sido claro em suas instruções, e sua vontade era inquestionável. Eu não podia permitir que ideologias de paz continuassem a minar seu poder. Seguia firme no meu propósito, e eu estava disposto a cumprir a ordem de Ares, custasse o que custasse. Com passos decididos, continuei a avançar em direção ao "Gibborim: Um lugar de paz", determinado a mostrar que só a linguagem da guerra funcionava e a paz não era uma opção. Minha missão era clara, e eu não permitiria que dilemas morais a enfraquecessem. A vontade de meu pai era a única coisa que importava.

Ao adentrar no festival, vi todas aquelas pessoas vestidas de branco, e fui imediatamente cercado por um mar delas, sorridentes e acolhedoras. Elas se aproximaram de mim com entusiasmo, estendendo as mãos e oferecendo abraços calorosos. Era um gesto comum naquele ambiente de harmonia e amor. Minha mente estava focada na missão que Ares me havia confiado, e eu não queria desviar meu foco em momento algum. No entanto, a atmosfera pacífica ao meu redor começou a afetar até mesmo a minha própria disposição. Eu estava acostumado com a dureza do treinamento e das batalhas no acampamento, e aquele excesso de bondade e afeto me deixou desconfortável. As pessoas continuavam a se aproximar, dando-me abraços apertados e palavras de boas-vindas. Eu não sabia como reagir a tudo aquilo, pois a paz era um conceito estranho para mim, um filho de Ares. A cada abraço Fraternal, eu sentia a influência da ideologia de paz, e isso me incomodava profundamente.

Em certo momento, um grupo de pessoas bem-intencionadas se aproximou, decididas a me envolver em um abraço coletivo. Eles se juntaram ao meu redor, estendendo os braços e sorrindo. No entanto, eu não podia permitir que aquele gesto me enfraquecesse. Com uma reação instintiva, me esquivei, afastando-me do grupo com um olhar de desconfiança. — Credo, saiam daqui! — Exclamei involuntariamente, minha voz soando áspera no meio daquela atmosfera de paz. As pessoas ficaram surpresas e um pouco chocadas com minha reação, mas eu não podia permitir que a paz deles me afetasse. A missão de Ares era minha prioridade, e eu estava disposto a agir com firmeza, mesmo que aquilo significasse ser rude com pessoas que acreditavam sinceramente em um mundo melhor. Com minha determinação renovada, continuei minha jornada pelo festival, tentando saber como iria reagir para criar caos ali. Escolhi pessoas aleatórias, misturando-me entre a multidão e agindo com uma aparência de inocência, enquanto secretamente minava a tranquilidade que prevalecia no festival. Com cuidado e discrição, aproximei-me da barraca de arte onde um balde de tinta repousava. Era uma tapeçaria imensa que celebrava a paz mundial, uma obra-prima de cores vivas e imagens inspiradoras. Olhando ao redor para garantir que ninguém estivesse observando, peguei o balde de tinta e, com um movimento deliberado, derramei-o sobre a tapeçaria.

A tinta escorreu rapidamente pelas fibras da obra de arte, transformando as cores vivas em manchas dissonantes. O vermelho, o azul e o verde se misturaram em um caos de cores, destoando do tema pacífico que o festival buscava promover. A tapeçaria que antes irradiava harmonia e esperança estava agora maculada por meu ato de vandalismo. As pessoas ainda não perceberam, e quando fossem perceber, eu já não estaria mais ali. Em seguida, minha atenção se voltou para um gerador de energia temporário que abastecia várias áreas do festival. Sem fazer alarde, aproximei-me do gerador e, com um movimento rápido, derramei água sobre seus componentes elétricos delicados. Um chiado repentino ecoou pelo local, seguido por um apagão repentino. As luzes suaves que iluminavam o festival se apagaram, mergulhando as áreas afetadas na escuridão. A música suave que ecoava no ambiente silenciou abruptamente, criando uma sensação de desconforto entre os presentes. — Achei que a estrutura desse lugar fosse melhor. — Comentei com pessoas próximas. As pessoas começaram a murmurar e a se movimentar inquietas, enquanto tentavam entender o que estava acontecendo. A combinação das manchas de tinta na tapeçaria e a falta de eletricidade criou um clima de confusão e desordem no festival. As pessoas olhavam umas para as outras, incertas sobre como reagir à súbita interrupção da paz que até então prevalecia. Minha missão de causar caos estava se desenrolando conforme o planejado. O caos era o primeiro passo para destravar uma possível guerra.

À medida que as pessoas presentes no festival se uniram para resolver os problemas que eu havia causado, a paz começou a retornar gradualmente ao "Gibborim: Um lugar de paz". A tapeçaria manchada de tinta foi removida e levada para ser restaurada, e os técnicos trabalharam rapidamente para restaurar a eletricidade, trazendo de volta as luzes suaves e a música que preenchia o ambiente. Minhas tentativas subsequentes de causar mais caos foram em vão. As pessoas estavam determinadas a manter a paz e a harmonia que o festival representava, e qualquer outra ação perturbadora que eu tentasse era rapidamente contida. O tempo passava e eu via minha missão fracassar diante dos olhos, um sentimento de desesperança começou a me dominar. A vontade do meu pai estava clara, mas a realidade da situação era avassaladora. As pessoas ao meu redor acreditavam sinceramente na paz, e eu estava cada vez mais isolado em meu papel de agente do caos. Por um momento, me senti como um estranho em um mundo que não compreendia, e a dúvida começou a pairar sobre mim. Será que eu estava fazendo a coisa certa? Será que a violência realmente era a única resposta? Minha lealdade a Ares estava sendo testada de maneira profunda e dolorosa.

Mesmo que eu não tenha conseguido atingir meus objetivos, uma coisa estava clara: o festival estava decidido a perseverar em sua busca pela paz. Eu permaneci ali, desanimado e perplexo sobre como proceder, enquanto as pessoas ao meu redor continuavam a celebrar a ideologia que tanto abalava meu próprio senso de propósito. Diante da desesperança que me envolveu, minha mente começou a buscar soluções. Foi então que me lembrei da deusa do caos, Éris. Ela era conhecida por sua inclinação para a discórdia e o tumulto, algo que se alinhava perfeitamente com a missão que meu pai Ares me havia dado. Resolvi tomar uma medida drástica. Não era o melhor e mais inteligente, como eu já havia dito, mas eu tinha decorado um ritual para invocar alguns tipos de deuses menores, e talvez ele fosse suficiente para trazer Éris até aqui. Encontrei um local isolado, afastado dos olhares curiosos, e comecei a realizar o ritual. Com gestos precisos e palavras antigas, invoquei a presença de Éris. O ar ao meu redor pareceu vibrar com uma energia caótica, e uma figura etérea começou a tomar forma diante de mim. Pareceu até mesmo um Espírito Era a deusa, com um sorriso malicioso dançando em seus lábios. "O que você deseja, filho de Ares?" sua voz era como um sussurro em minha mente, carregada com a promessa de tumulto. Expliquei-lhe toda a situação, desde as ordens de Ares até meus próprios dilemas e fracassos. Eu estava desesperado por uma solução que me permitisse cumprir a vontade de meu pai e mostrar que apenas a linguagem da guerra era verdadeira. Éris ouviu atentamente, seus olhos brilhando com malícia. "Você quer caos, jovem semideus? Isso é o que eu ofereço", ela murmurou. Éris disse que não ajudaria com tudo, mas iria tornar as pessoas mais sugestivas aos meus estímulos. — Não entendi. — E ela nem sequer se deu ao trabalho de explicar, apenas estalou os dedos e sumiu, dizendo que iria me cobrar esse favor futuramente.

Eu poderia ficar nervoso com isso, mas tinha um trabalho a ser feito, e foi aí que comecei. Após a visita de Éris, a atmosfera no "Gibborim: Um lugar de paz" começou a mudar rapidamente. As pessoas, antes tão unidas em sua busca pela harmonia, começaram a ficar mais sugestivas ao caos que começava a se espalhar sutilmente pelo festival. Determinado a cumprir minha missão, comecei a instigar discussões entre os presentes. Sutilmente, levantei questões controversas e opiniões divergentes, provocando debates acalorados entre os participantes. — Ele te chamou de Ínfimo. Vai deixar? — Eu nem sequer sabia o que aquela palavra significava, mas ela já foi o suficiente para iniciar uma briga entre dois caras. A harmonia que antes reinava estava se desfazendo, substituída pela discordância e pelo desacordo. Além disso, iniciei algumas brigas físicas também, escolhendo aleatoriamente pessoas que pareciam mais inclinadas à violência. Empurrões e socos irromperam, criando uma sensação de tensão no festival. — Ihhh, foi ele aqui. — Apontei para um cara aleatório depois de puxar os cabelos loiros de uma bela moça. Movida pelo ódio e se sentindo, ela esbofeteou o rosto do homem. Como não quis brigar por ser contra uma mulher, a esposa do cara que foi Violado chegou na voadora, partindo para cima da loirinha. A paz estava desmoronando, e eu estava cumprindo a vontade de Ares. Toda aquela guerra que ia se formando me arrancou sinceras risadas, e depois de me sentir extremamente desconfortável, agora eu estava muito de boa.

Em um momento de oportunidade, derramei bebidas em um grupo de homens, agindo como se fosse um acidente. A situação rapidamente escalou à medida que as palavras começaram a ser trocadas, xingamentos foram proferidos e socos começaram a ser desferidos. O grupo que antes celebrava a paz agora se envolvia em uma briga confusa e caótica. Soquei um cara bem forte que tentou me dar um chute. — Briga com os outros. Comigo não. — Gritei. Os seguranças se aproximaram, e eu me fingi de sonso totalmente. — Segurança, aqui ó. Esses dois estão se matando. — Apontei, segurando o riso. Eu observava tudo com um sentimento de realização cômico. O caos estava tomando conta do festival, e a harmonia estava desaparecendo rapidamente. Minha missão estava sendo cumprida, e o poder de Ares estava sendo restaurado naquele lugar outrora sem graça. Enquanto as brigas e as discussões se intensificavam, mais seguranças foram chamados para restaurar a ordem. Eles se lançaram na multidão, separando os grupos envolvidos em confrontos físicos e tentando conter a crescente desordem. No palco, os organizadores do evento perceberam a crescente turbulência que estava tomando conta do festival. Com expressões de preocupação, eles subiram ao microfone e anunciaram que o evento estava sendo cancelado. A multidão começou a murmurar e protestar, mas a decisão já estava tomada. A paz que o festival buscava promover havia sido completamente minada pelo caos que eu tinha desencadeado. Eu assistia à cena com um sentimento misto de realização e pesar. Minha missão estava cumprida, e o poder de Ares havia sido restaurado, mas o preço disso era a desilusão e o desapontamento das pessoas que acreditavam sinceramente na busca pela paz. O festival que antes era um símbolo de esperança agora era apenas um reflexo da discórdia que residia em todos nós.

Eu parti do "Gibborim: Um lugar de paz" enquanto a confusão e o desapontamento cresciam ao meu redor. Embora eu tenha cumprido as ordens de meu pai Ares e restaurado seu poder, não pude evitar sentir uma mistura de emoções enquanto me afastava do local. A sensação de dever cumprido estava lá, mas também havia apreensão em relação ao favor que eu agora devia a Éris, a deusa do caos. Ela havia me ajudado a instigar o tumulto, mas a dívida que eu tinha com ela pairava como uma sombra sobre minha mente. Além disso, o dilema da paz continuava a me atormentar. Aquele festival representava uma busca sincera pela harmonia e pelo entendimento, e eu havia causado sua desintegração. Embora eu soubesse que estava seguindo as ordens de Ares, a questão da moralidade e da justiça ainda pesava em minha consciência. Enquanto eu seguia em frente, uma mistura de sentimentos me acompanhava. O dilema da paz e a apreensão em relação a Éris me lembravam que, mesmo como semideus, as escolhas que eu fazia tinham consequências profundas e complexas. E outra, talvez eu não fosse tão burro assim e sem sentimentos assim. Ou talvez seja. Fica no ar.
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